Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 1
Covardia




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Ela lembrava de ser uma criança da primeira vez que foram para a cama. Acontece que às vezes crianças têm idéias perigosas que ficam martelando, martelando... são como diabinhos sentados em seu ombro e sussurrando em seu ouvido.

Sirius tinha muito desses e, naquela idade, tinha também mania de dar ouvidos a todos. O problema dos garotos como Sirius era que eles eram curiosos. Arteiros. Desafiadores. Até vingativos.

Garotos de férias.

– Eu aposto que você não tem coragem de ficar nua na minha frente. – ele tinha dito para Bellatrix e ela não se esquecera. Fora uma semana atrás, enquanto ela estava catando raízes do jardim para o dever de casa de Poções e eles tinham discutido por causa de uma revista de mulher pelada que Sirius a mostrara. Ela lhe dissera que aquelas mulheres eram todas umas vadias sem vergonha que não tinham nada melhor para fazer e ficavam mostrando as 'coisas' para ganhar um dinheiro. Ai ele a tinha desafiado.

– Não é questão e coragem. Eu não ficaria mesmo nua na sua frente, porque isso é coisa que meretrizes fazem.

– Sua mentirosa. Você não fica nua pra eu ver porque sabe que não é tão bonita quanto essas mulheres e tem vergonha.

Ele tinha botado o dedo na ferida e cutucado com força. Desafiara a beleza de Bellatrix, logo a sua qualidade mais incontestável.

– Eu sou mais bonita que qualquer uma delas. - retrucou ultrajada.

– Então prove.

Acontece que seu corpo de doze anos estava longe de ter curvas como as das mulheres adultas da revista de Sirius, disso ela sabia. Não era burra de cair naquela armadilha.

– Não seja ridículo.

– Voce é covarde, Bella. É isso que você é.

–BD-

Ela já provara outras vezes para Sirius que tinha coragem. Como quanto subira no telhado de casa para pegar a boneca de Andrômeda que ele mesmo jogara ou quando ela mergulhou no poço e provou que conseguia segurar a respiração mais tempo do que ele. Acontece que não conseguia se passar por covarde para Sirius, era um jogo onde ambos viviam se desafiando – para ver quem era mais forte, mais rápido, mais bonito, ou mais corajoso.

Percebeu que já estava no corredor, e tinha a maçaneta do quarto dele sob suas mãos geladas. Ela não pensava direito quando o primo deixava um desafio no ar – uma mania pouco louvável e que já lhe rendera muitas encrencas. Não fosse seu enorme poder de persuasão e a preferência que os tios tinham por ela, a garota com certeza ficaria de castigo a maior parte das férias.

Não era tão tarde – julgava que Sirius estava acordado porque era noite de lua nova, quando o céu ficava muito estrelado e ele costumava admirar as constelações, sentado na janela. Ela sabia por que tinha o mesmo costume.

Sirius – disse assim que entrou no quarto e obteve a atenção. Seu jovem primo tinha o cabelo negro caindo displicente sobre o rosto e estava sem camisa – ainda era meio magrela, mas já era mais alto e tinha os ombros mais largos que a maioria dos colegas de seu ano.

– Bella? Você não devia estar no meu quarto uma hora dessas. – ele deu seu típico sorrisinho maldoso de canto de lábio – se o seu pai lhe achar aqui, vai pensar que estávamos fazendo alguma coisa errada.

– Tipo nas férias passadas, quando estávamos criando aquela samambaia carnívora no seu guarda-roupa? – lembrou-se.

– Ou algo pior. – ele sugeriu. Bella ruborizou, porque se lembrou o motivo de estar ali. Ele inclinou a cabeça, intrigado – E eu posso saber por que não está dormindo?

– Vim lhe dizer uma coisa. – ela respirou fundo antes de completar. – Eu não sou covarde.

Ela puxou o laço da cintura, a única coisa que amarrava a camisola ao corpo, e esta caiu. Um vento frio avisou à pele de Bellatrix que agora tudo estava exposto – suas curvas suaves de menina, seus seios pequenos, o quadril estreito largo, as coxas longas e pálidas.

Por um momento os primos se encararam, Sirius paralisado em seu lugar da janela, Bella tremendo um pouco de frio. O coração da menina batia na garganta, ela tinha certeza de que aquela fora uma idéia muito ruim, agora. A cara e Sirius era completamente pasma, até mesmo o queixo caíra diante do ato da garota. Ele franziu o cenho. Engoliu em seco. E então...

Então, Sirius Black começou a rir.

Rir como se estivesse ouvindo uma piada muito, muito engraçada. E a cada segundo que ele ria – enquanto seu rosto ficava todo vermelho e ele começava a lacrimejar – um ódio surdo e letal foi surgindo em Bellatrix, vindo não se sabe de onde e tomando todo o seu corpo gelado pelo vento noturno de verão. Ela apertou os punhos e mordeu os lábios, com força. Estava se controlando demais para não pular no pescoço de Sirius Black e matá-lo com socos.

Por que enfim, aquela não tinha sido só uma idéia ruim. Tinha sido idiota. Incrivelmente estúpida, algo absolutamente... ridículo da sua parte. Isso, é claro, não diminuía seu ódio pelo primo.

– Sirius... Black... – ela pronunciou bem devagar, cuspindo as palavras com raiva – do que... você... está rindo?

Ele não esboçou nenhuma intenção de lhe responder. Ela deu um passo a frente, irada.

– FALA!

– É que você... – ele engasgou com o próprio riso – você é tão... tão...

– Tão... – ela estava decidida a jogar nele a primeira coisa pesada e pesada que encontrasse.

– Tão magrela, Bella!

Era muito raro ver Bellatrix corar. Não era só vergonha, era raiva, e além de raiva dele, era raiva por estar com vergonha! Ela pegou a camisola, cobrindo o corpo rapidamente. Pela primeira vez em muito tempo, não sabia o que responder.

– Sirius, seu idiota. – disse friamente enquanto saia do quarto – Nunca mais olhe na minha cara, seu cretino.

– Não Bella, espera!

Ela bateu a porta com força, ainda podia ouvi-lo rindo do outro lado. Se jogou na cama com a certeza de que nunca mais, nunca mais falaria com Sirius na vida.

É claro que a maior parte da raiva não durou muito, mas ninguém entendeu porque, de uma hora pra outra, Bella passou a ignorar Sirius solenemente, não respondendo quando ele lhe perguntava algo e saindo dos lugares quando ele chegava. Por mais vontade que estivesse de participar das brincadeiras com ele, seu orgulho era muito maior e ela se recusou pelo fim das férias.

Ignorá-lo em Hogwarts não era muito difícil, uma vez que serem de casas arqui-rivais e serem de anos diferentes tornavam os encontros muito esparsos. No entanto, as férias de Natal daquele ano se aproximavam e ela teria que conviver na mesma casa com Sirius novamente.

–BD-

Estava congelaste em Grimmauld Place. O Profeta dizia que era o inverno mais frio dos últimos dez anos, e nem mesmo os feitiços de aquecimento que Monstro renovava todos os dias podiam manter aquela casa enorme aquecida. Bellatrix tinha com inveja de Sirius, porque ele contrabandeara do colégio uma chama portátil dentro de um pote de vidro que além de nunca apagar, esquentava suas mãos ou podia ser colocado debaixo das cobertas a noite. Se eles estivessem às boas, ela não estaria passando tanto frio.

Mas durante aqueles meses, Sirius desistira de fazer as pazes com ela. E no fim, ele tinha passado tanto tempo com seus amigos de Casa que a companhia de Bella já não fazia tanta falta. Era incrível como em apenas poucos meses ele estava tão diferente. Havia uma coisa diferente em sua postura. Bella podia jurar que ele crescera uns dez centímetros. Além do mais, ele se recusava a cortar o cabelo e obtivera a mania de olhar os acontecimentos da casa com um silencio enigmático, depois baixava suas pálpebras e balançava a cabeça, como se soubesse de coisas que ninguém mais sabia.

Na noite de Natal nevava horrivelmente. Bella preferiu ignorar a empolgação das irmãs em torno da ceia e se enfiara em seu quarto, dentro de casacos, olhando a neve cair pela janela. No entanto, algo lhe chamou atenção no jardim. Algo azul brilhava no meio da imensidão branca, entre as árvores. E bem do lado, Sirius.

Mas algo estava errado. Ele estava estendido na neve e dava pra ver que os olhos estavam fechados. Ela ficou olhando por muitos minutos e Sirius não se mexeu. Sua zanga com o primo deu lugar a uma preocupação – e se ele tivesse congelado e morrido e ninguém tivesse percebido? Ela desceu correndo as escadas e foi para fora sem ser vista – o que não era difícil, pois as irmãs e Regulus estavam na cozinha azucrinando Monstro, e seus tios tinham saído de manhã.

– Sirius – Bella cutucou Sirius com o pé. Não estava com a mínima vontade de se abaixar na neve e sujar o vestido. Nada. – Sirius, que brincadeira mais idiota, você vai ficar doente!

Ela reparou como os lábios dele estavam roxos de frio. Praguejou mentalmente. Ao se abaixar do lado da chama do pote de vidro, percebeu que esse não fazia muito efeito no meio de tanta neve. Ela limpou o gelo do rosto do primo e testou sua respiração.

– Eu espero que esteja morto, pra eu não querer matar você por eu ter sido idiota em vim ver se estava vivo.

Os lábios roxos dele se curvaram num sorriso, Sirius não abriu os olhos para falar:

– Então faça isso logo porque estou morto há um tempão aqui.

– Babaca. – ela sentou na neve, esquecendo o vestido.

– Ok, eu estou vivo. Mas não posso sentir meus lábios. É sério, Bella, vão se partir, vão sangrar e eu posso até perdê-los.

– E o que eu tenho haver com isso?

– Eu sei que gosta dos meus lábios.

– Eu não gosto dos seus lábios.

– Por favor, Bella.

Ela esfregou as mãos enluvadas uma na outra até ficarem quentes e pôs sobre o rosto dele. Sirius fez uma careta.

– Quanta incompetência.

– Vai a merda, Sirius, eu não vou fazer mais do que isso. – ela praguejou com impaciência.

– Sopre hálito quente que vai aquecê-los, oras.

– O que eu vou ganhar em troca, mesmo? - ela esperava que fosse algo que realmente valesse pelo sacrifício.

– Eu lhe empresto o pote de vidro e você fica com ela em seu quarto até o fim do recesso.

Ela bufou impaciente e se curvou sobre ele, deixando as bocas na mesma direção da dele. Estava mantendo uma distância segura para ir longe no menor movimento que ele fizesse. Acontece que o batedor do time de quadribol da grifinória estava acostumado a ter que agir mais rápido que um balaço, de modo que quando ela percebeu, já estava contra a neve e sob corpo dele, bem presa, incapaz de se mover.

Ele a beijou de uma forma completamente inesperada e Bellatrix tentou mesmo empurrá-lo mais quanto mais o fazia, mais afundava na neve. Parou de se debater evitando afundar no gelo fofo e tentou morder a boca de Sirius – o que também não funcionou, porque ele se mostrou um exímio beijador plenamente capaz de evitar os dentes dela em seu trabalho.

Bellatrix só teve uma opção – usar o joelho direito.

– AI, SUA...!

Ela, tão logo se viu livre dele, ficou de pé, observando o primo se contorcer na imensidão branca. Ele parecia com muita dor entre as pernas e ela ficou orgulhosa disso. Ouviu Monstro chamar para o chá de dentro de casa, e deu as costas – esquecendo o pagamento do seu favor.

–BD-

Ela se deu conta do esquecimento assim que e acomodou na cama e não conseguiu dormir. Os lençóis, travesseiro, a cama, ela própria, tudo frio demais para propiciar seu sono. O quarto era grande e a lareira acesa nunca dera realmente conta de aquecê-lo – isso e o elfo incompetente, que, segundo a opinião de Bella, já devia ter tido há muito tempo a cabeça decepada e pendurada na parede.

Foi inevitável. Ela novamente se viu indo para o quarto de Sirius no meio da noite. Ao menos dessa vez ela tinha um objetivo nobre - pelo menos foi o que disse a si mesma.

– Sirius. – chamou ao abrir a porta.

Dessa vez Sirius estava deitado na cama, porque não havia estrelas a serem vislumbradas através da tempestade de neve. O quarto todo estava numa temperatura confortável, e em tons azuis devido à chama que repousava em cima da mesa de cabeceira.

Assim que a viu, ele se sentou, de cara feia para ela. Vestia só a calça do pijama, e ela vu que toda aquela obsessão pelo quadribol estava moldando seu torax, ainda que sutilmente. Os braços também estavam notavelmente mais fortes, mas Bellatrix fingiu que não notou nada disso.

– Vim buscar o que me prometeu.

– Desculpe, Bella, mas como pode ver eu estou muito ocupado no momento. – ele disse irônico.

– Bem, como eu ia dizendo, eu só vim pegar o que é meu. – ela avançou para a mesa de cabeceira, mas Sirius a segurou pelo braço, impedindo-a.

– Não vai não. Você não cumpriu sua parte do acordo.

– Porque você não deixou. Eu estava disposta a cumprir, você impediu, então eu tenho direito a ficar com ela de qualquer jeito.

– Quem me garante que você cumpriria?

Outra perderia a paciência, mas Bellatrix simplesmente respirou fundo e olhou severamente para ele.

– Um Black honra com a sua palavra.

– Não me venha com suas histórias sobre Black, Bella! O Black não pisca, o Black não respira, o Black dorme com um olho aberto e o outro fechado, o Black não cag...

– Como você é patético. – ela desdenhou, avançando para a chama e tomando-a nas mãos. – Eu simplesmente vou pegar isso e sair daqui e você não precisa mais ver a minha cara hoje, ok?

Ele levantou num movimento rápido, e a prendeu de costas para si, com o rosto contra a parede. Bella deixou cair o pote de vidro que, para o seu alívio, não se partiu em pedaços.

– Esse é o problema. Você acha que eu não quero, mas eu quero. – ele disse perto da nuca dela. Bella sentiu um calafrio que com certeza era parte do frio e não tinha nada haver com o hálito quente dele contra a sua pele.

– Do que você está falando?

– Eu quero te ver essa noite.

– Me deixe lhe contar um segredo, você já está fazendo isso.

– Não, Bella. Eu digo, como da última vez que você esteve aqui.

Ela conseguiu se virar de frente e ficar cara a cara com ele. O problema é que Sirius estava... perto demais.

– Por que você ia querer ver... uma "magrela", hein?. Com tantas mulheres cheias de peito nas suas paredes. – ela disse desafiante, indicando as garotas de biquíni, nos pôsteres.

Não que estivesse em posição de desafiar o que quer que fosse do jeito que ele estava lhe segurando, mas, bem, ainda era uma Black.

– Você não entende, não é – ele disse meio aborrecido – Você foi a primeira mulher nua que eu vi na vida.

– Não fique repetindo isso. – ela rangeu os dentes, com raiva de si mesma por aquilo. - Já está mais que certo que, se depender de mim, vai ser a última vez também.

– Eu fiquei sem saber o que dizer. – ele completou, parecendo sincero apesar do seu meio sorriso maroto.

– Ai você riu. Parabéns, você optou pela mais idiota das ações. Bem a sua cara. Me largue.

Para sua surpresa, ele obedeceu. E ela não se mexeu do lugar.

– Eu não te acho magrela, Bella.

Ela ergueu uma sobrancelha, esperando o próximo comentário.

– E também, não te acho mais covarde. Foi muito corajoso da sua parte.

– Não foi não, foi estúpido da minha parte. Você fez aquilo pra me humilhar.

– Eu não teria coragem de fazer algo assim no seu lugar.

Ela o olhou, buscando algum indicio do óbvio – de que ele estava tirando sarro da cara dela. Porque era típico de Sirius tirar sarro da cara das pessoas – mas daquela vez ele não estava. Então, ela se viu obrigada a falar:

– Você está piorando as coisas.

Sirius se aproximou, ela reparou que ele estava com a respiração um pouco acelerada. Ele começou a beijá-la da mesma forma que mais cedo, mas sem nem ao menos segurá-la, e Bellatrix correspondeu ao beijo automaticamente, meio que pensando, no entanto, que aquele era o seu primeiro beijo oficial. O fato de que ele estava beijando mas não lhe tocando começou a lhe incomodavar. Ele se afastou.

– Me deixe te ver novamente. – havia um brilho malicioso nos olhos dele. Não era uma suplica, era um pedido que parecia bem plausível. – eu vou me comportar.

– Eu não acredito em você. – ela retrucou, sua respiração começando a acelerar também.

– Um Black honra a sua palavra. - parafraseou a prima, só o canto esquerdo de sua boca subindo, os olhos escuros cintilando de antecipação.

Quem conseguia dizer não para Sirius Black quando ele lançava aquele olhar? Àquela altura de sua vida a sua prima mais nova não desenvolvera tal habilidade. Bella, num impulso quase que hipnotizado, foi tirando o casaco, a blusa, a calça, as meias, a calcinha e o sutiã e revelando novamente seu corpo para a curiosidade de Sirius.

Sem a determinação de provar sua coragem como da outra vez, tudo que ela sentia era apreensão e um pouco de vergonha. Não estava frio, então porque cada pelo do seu corpo estava arrepiado? Por que seus músculos internos ficavam se apertando daquele jeito agoniado? Sirius a observava com meticulosidade quase cientifica. Ele olhou para os mamilos rosados e pequenos dela, que estavam túrgidos. Era uma das raras vezes que o sorriso maldoso estava ausente de seu rosto.

A curva da cintura de Bella se acentuara nos últimos meses, assim como os quadris tinham se alargado. Mudanças sutis, mas que não passaram desapercebidas por ele. Sua pele branco-pálido deixava ver, em alguns lugares, finas ramificações azuis onde palpitava um sangue excitado – ele ficou encantado em observá-las nos seios dela, no pescoço, nos pulsos e têmporas... por onde mais estariam?

Ele olhou para o rosto da prima, e ela cruzou os braços sobre si, aparentando impaciência.

– O que foi? – ele franziu o cenho.

– Quero saber o que vai fazer agora. – Ele definitivamente não conhecia aquele tom. Mas foi um convite para o avanço – Sirius deu um passo à frente e pegou a mão delicada de Bellatrix, levando ao meio de suas pernas. Sobre o pano, a garota sentiu o que já estava vendo – uma ereção consideravelmente volumosa e quente.

– Toque...

Ela experimentou com os dedos, de repente abandonara a expressão impaciente e estava ansiosa, respirando tão rápido quanto ele e sentindo, no baixo ventre, um peso, algo parecido com a sensação que tinha quando sabia que estava fazendo algo muito, muito errado.

– Somos primos – ela sussurrou ao impedir que sua mão, intermediada pela dele, fosse levada para o interior de sua calça de moletom – Somos primos, Sirius.

– É proibido. – ele deu aquele sorriso maroto de quem brinca com coisas mortais – Eu sei.

E ela soube porque sempre se metia em encrencas quando ele estava por perto, e tinha haver com o tal do sorriso. Ela como se ele fosse o demônio que era suposto a sentar em seu ombro e lhe levar para o mal caminho.

Será que era só com ela ou todo mundo ficava com a conduta um pouco menos louvável na presença dele? Ela não soube, porque as mãos dele estavam encostando em sua barriga agora, era a primeira vez que alguém a tocava daquele jeito e as sensações era explosiva e incrível.

Sirius já tinha tocado em meninas por debaixo da blusa em Hogwarts, mas ele nunca se sentia tão nervoso. Não como se tivesse eletricidade nas pontas de seus dedos e na pele dela. Seu pensamento estava todo estranho, acelerado mais confuso, como se quisesse fazer um milhão de coisas e continuar parado no mesmo lugar. Reparou que ela vibrava levemente quando sua mão se movia sobre a pele dela, e como ela cerrou os olhos no momento em que ele foi subindo em direção aos seios pequenos.

Um barulho no corredor do lado de fora assustou os dois, que deram cada um um salto para trás, e ela olhou para a porta preocupada.

– Deve ser meu pai de novo. Aquele estúpido velho bêbado. - ele disse com raiva, percebendo que ela estava colocando suas roupas de volta com pressa.

– É melhor eu ir para meu quarto. - ofegou, enfiando o casaco pelo avesso, sem olhar para ele. Numa situação normal, ela teria brigado pelo modo como ele se referira ao seu tio, mas Bella sentia que se falasse muito o coração ia saltar pela boca.

– Bella, espera! - ele correu até a porta quando ela já estava com um pé no corredor. A prima se virou afobada.

– Você desistiu de brigar pela chama?

Ela olhou de relance para o fogo azul, e depois para ele, dizendo numa respiração.

– Amanha eu volto. A gente negocia.

Ela voltou nas noites do recesso seguinte, mas aquela negociação nunca chegou a ser finalizada. Eles teriam estado em apuros se os encontros fossem descobertos, mas nunca foram. O fato de serem primos era a dupla armadilha: não só deixava tudo mais emocionante como funcionava como a justificativa perfeita para a sua estranha proximidade.

Eles nunca falaram sobre fidelidade. Sirius tivera mais namoradas em Hogwarts no seu quarto e quinto ano do que seus dedos das mãos e dos pés podiam contar e ela tivera uns poucos – amigos íntimos, nunca namorados, até conhecer Rodolphos. Ele era dois anos mais velho e agradava muitíssimo Walburga Black:

Soube que Rodolphos Lestrange anda lhe paquerando, Bellatrix. – ela assentiu, ocultando o fato de que talvez ela e sua tia tivessem uma definição diferente de 'paquera'.

– Isso é bom. Se encaixa perfeitamente nos planos.

– Planos? – Bellatrix repetiu cuidadosamente, evitando fazer uma careta cínica.

– Sim – seu tio assentiu, ele era o rei dos “planos”, ela já devia saber de onde toda aquela conversa tinha vindo – Com Narcissa de casamento marcado e Andrômeda noiva, você já pode ir firmando-se com um pretendente também.

Bellatrix não esboçou reação. Sirius esboçou.

– Também estou "paquerando" uma moça, pai. – ele sorriu abertamente – ela é meio-sangue e vamos nos casar.

Walburga Black engasgou, mas Bella simplesmente zombou, enquanto acudia a tia.

– Você paquera qualquer coisa que lhe passe pela frente, Sirius. Se fosse casar com todas, lhe faltariam os dedos para colocar tantas alianças.

Bella andava falando cada vez menos com o primo desde que ele começara a se relacionar abertamente – e a defender – uma porção de grifinórios de sangue mestiço e imundo, filhos de trouxas e de traidores de sangue. A gota d'água aconteceu no Natal daquele ano – Sirius preparou cuidadosamente o momento do seu espetáculo final de decepção familiar. Esperou que a mãe e o pai chegassem com seus tios, esperou até mesmo o fim da ceia, e quando estavam todos aos redor da mesa, anunciou, cheio de orgulho, que estava indo embora.

Foi tudo muito rápido. Quase dava para pensar que a cena tinha sido ensaiada antes. Walburga deixou bem claro que ele jamais retornaria para aquela casa e queimou seu nome da tapeçaria da família. E enquanto o resto da platéia do desertor assistia – Andrômeda petrificada de horror, Narcissa indiferente e Regulus com um brilho inteligível no olhar, Orion Black abriu a porta para o filho, sem olhar nos seus olhos uma ultima vez, e sem hesitar em bater a porta às suas costas.

E Sirius foi embora – sem levar nada dos Black, nem mesmo o grão de poeira sob as solas (que limpou, cheio de insolência, no tapete do hall) e o ronco da sua odiosa moto voadora foi sumindo no silencio da noite de Grimmauld Place.

– Não se preocupe mãe, ele vai pagar por isso.

Regulus não possuía o dom de consolar as pessoas, no entanto, seu olhar feroz indicava que as palavras eram menos para aliviar a ira da Sra. Black e mais para expressar a sua própria em relação ao irmão mais velho. Não era o único a estar furioso com Sirius. Orion bateu o punho contra a mesa, sua face velha e consistente contorcida.

– Eu nunca tive dúvidas de que esse garoto nos desonraria! Primeiro entrar na Grifinória e depois a má influencia desses sangue-ruins! O que mais se podia esperar? A culpa é sua, Walburga! Você acobertou demais esse menino. Se tivesse me deixado ir até Hogwarts dar uma surra nele depois da noite de seleção…

Bellatrix viu Andrômeda abaixar o rosto, ela que odiava qualquer espécie de discussão familiar. Pelo canto do olho a mais nova também viu surgir uma apreensão em Narcissa, e procurou manter sua própria face soerguida de indiferença.

Walburga, a quem era injusto acusar de ter protegido Sirius a não ser quando precisava poupar a família de humilhações públicas, entrou numa argumentação feroz com o marido. A mulher parecia não conseguir enxergar Regulus, que tinha ido para perto dos dois tentar acalmar os ânimos.

Bellatrix tinha deixado a sala sorrateiramente. Ela queria se poupar da cena cada vez mais decorrente naquela casa, onde os membros da família tentavam decidir se a inaptidão de Sirius era resultado de pouca punição, má influencia ou que ele nascera essencialmente errado, um fruto podre, como Orion costumava dizer. Um barulho estrangulado indicou que Walburga estava tendo mais um dos seus ataques histéricos e Druella correu para acudi-la.

Narcissa, vá pegar uma poção reestabelecedora para a sua tia, rápido!

Bella ouviu vagamente mais gritaria na sala, do corredor superior. Ela não estava surpresa, não realmente. Ela adivinhara que as coisas caminhavam para aquele desfecho. O primo nunca pertencera - nem merecera - estar sob aquele teto.

"Você não vai ter que me ver todos os dias, Bella, e vai poder me odiar em paz, muito em breve.”

Praguejou qualquer coisa sobre aquela frase que ouvira dele numa de trocas de farpas, virando o corredor que levava aos quartos. Pretendia ler alguma coisa, talvez o livro de astronomia do novo ano letivo, até que pudessem esquecer a existência de Black e aceitarem que a família estava melhor sem ele e toda a má conduta e desobediência que vinha no pacote.

Quase chegara na porta do seu quarto quando uma corrente de ar lhe atingiu a nuca, e ela virou-se, vendo, ao fim do corredor, a porta entreaberta do quarto do primo. Pensou por duas vezes. Na primeira, disse para si mesma que aquilo era a sua obrigação, procurar alguma pista de onde Sirius poderia ter ido. Na segunda, teve o raciocínio interrompido pelo cheiro que a corrente de ar trouxera.

O cheiro dele.

O quarto de Sirius não combinava com o resto da casa casa. Era uma explosão de vermelho e flâmulas da Grifinória o odioso pôster da garota trouxa de biquíni. O conteúdo de todas as gavetas do guarda-roupa tinha sido esvaziado em cima da cama, numa confusão de roupas, revistas e quinquilharias que Sirius colecionava. Ela viu um taco de quadribol e um mapa astral gigante que o próprio primo desenhara com a posição das suas constelações preferidas. Marcas de fita adesiva na porta do armário indicavam que ele levara consigo todas as fotos, provavelmente enfiadas em sua jaqueta preta de motoqueiro.

Seu olhar correu para a escrivaninha, uma raridade de família que Sirius arruinara rabiscando-a toda com sua letra deitada. Quisera tê-lo matado quando tinha visto aquela afronta ao patrimônio da família, e talvez agora que ele estava longe ela pudesse dar um jeito de recuperar a peça. Reparou que as gavetas também tinham sido reviradas às pressas. Havia uma que Sirius vivia reclamando, porque ela se recusava a abrir para ele. “Como você espera que as relíquias da família respeitem você, se você não mostra qualquer consideração?”, Bella tinha lhe dito, recebendo um muxoxo entediado dele em retribuição.

Mas na verdade, havia uma senha para abrí-la, listada em em "Black: Compêndio Familiar Ancestral", o seu atual livro de cabeceira, mas que Sirius nunca se dignara a ler. Olhou decepcionada para o conteúdo – um baralho estragado, penas quebradas, um envelope velho e pardo que já se confundia com a madeira do fundo. A única coisa que valia a pena era um velho punhal de prata com um brasão de família desconhecido, mas cuja lâmina de quatro fios lhe agradou. “Não é como se ele fosse dar falta disso”, pensou, dando de ombros.

Admirava sua nova aquisição quando alguém entrar no quarto, ao que ela se virou escondendo em suas costas. Mas era só sua irmã mais velha.

– O que quer, Narcissa? - inquiriu a irmã com mau humor.

– Eu me pergunto como você pode fingir tão bem que não se importa com ele indo embora desse jeito.

– Mas eu me importo – protestou – mais um borrão na Árvore Genealógica da família... é muito anti-estético.

Narcissa ficou lhe observando e esperando alguma coisa sincera vinda da irmã. Olhando para o passado, ela perceberia que o mais incontestável indicio de que Bella se importava era ela estar ali no quarto do primo.

– Eu vou ver se a tia Walburga está melhor.

Bella esperou Narcissa se virar, e o cabelo brilhante acompanhar seu giro determinado.

Esperou a mais velha chegar ao corredor para comentar, aborrecida.


– Parece que eu sou a única nessa casa que está se incomodando em dar ao fato a importância merecida.

–BD-

Um choque ainda pior se abateu sobre a família Black no fim daquele ano letivo. Ao fazer 17 anos, Andrômeda anunciou que estava abandonando a família para se casar com um nascido trouxa. Um sangue-ruim qualquer que ganhava a vida fazendo móveis para trouxas. Marceneiro, ela tinha dito. Quase matara tia Walburga do coração.

Narcissa ficou doente por dias – seu apego à irmã do meio era mais intenso do que a mãe ou à Bellatrix.


Bella estava preocupada com os rumos da família Black. Regulus, o último herdeiro homem que sobrara, era um pirralho sem ambição, cujo maior objetivo da vida parecia ser ganhar elogios de Orion Black. O que lhe consolava era que ao menos ele dava valor ao sangue de suas veias, mesmo que parecesse fazê-lo mais para impressionar os pai do que por consciência da importância.

Diante do desmantelamento da família naquele ano, Bella viu-se sozinha em seu sexto ano em Hogwarts. Não que se importasse, ela preferia estar só a mal acompanhada. Naquele mesmo período, algo negro e poderoso se insinuava no submundo das artes das trevas para colocar no lugar os sangue ruins, os mestiços e os traidores de sangue. Ela não demorou a enxergar no ser que se intitulava Lord Voldemort uma salvação para a desonra em que o mundo bruxo vinha a mergulhar-se.

Através de Rodolphos, ela soube que o tal bruxo estava interessado em recrutar seguidores que o ajudasse em seus ideais. Bella ficou encantada com a possibilidade de contribuir pessoalmente com a retirada das impurezas que insistiam em sujar o mundo da magia, mas não foi até conhecer Lord Voldemort pessoalmente que ela se sentiu completamente conquistada.

Ao olhar nos olhos de Voldemort, pela primeira vez, Bella viu o Poder. E se apaixonou por ele.

A vida de Bella ganhou um sentido totalmente novo. Ela dormia e acordava lembrando o modo com o qual o Lord se fazia obedecer e temer, o modo como tinham tanto medo dele que nem mesmo seu nome gostavam de pronunciar. Ele era o que o mundo mágico estava precisando, um pulso firme e uma habilidade para abrir os olhos da população mágica e lhes levar até a verdade.

Ela sentia em seu intimo que ela precisava fazer sua parte.

– Eu quero ser comensal da morte. – disse assim que encontrou Lucius Malfoy, que ela sabia já ser um dos homens de Voldemort. Ele riu da sua cara.

– Você não passa de uma pirralha, Bellatrix. Você nunca azarou ninguém.

Bella levantou a varinha e bradou "Cruccio!". Ela tinha estudado a maldição por meses, de um livro roubado da biblioteca do tio, aguardando um momento como aquele. Estava preparada.

Depois de sentir uma maldição imperdoável advinda de sua cunhada, Lucius Malfoy nunca mais a chamou de pirralha.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

[Nota atualizada] Olá pessoas!

Um aviso para quem está começando a ler Dossiê agora: eu sempre checo as atualizações e respondo TODOS os comentários que recebo. Mesmo que a história esteja terminada, me deixaria muito feliz saber as suas impressões a respeito de cada capítulo, pois cada um exigiu dedicação e gerou expectativas em mim sobre a opinião de vocês.

No universo dessa fanfic, a ordem de nascimento é Narcissa - Andrômeda - Bellatrix, com uma diferença de dois anos entre a primeira e a segunda e de um ano entre Andie e Bella. A razão disso é que o plot da série foi idealizado antes da divulgação da árvore genealógica dos Black.

Essa fanfic faz parte de uma série em idealização, mas isso não é nada com o que vocês tenham que se preocupar agora, só tenham em mente que há continuação. Um agradecimento especial para Fabri Malfoy. Dossiê Bellatrix foi publicada pela primeira vez em 2009, quando ela era a beta oficial.

Algumas correções estão/serão feitas para essa segunda edição, mas a história permanecerá a mesma.

Obrigada também à Grazi: ela me acompanha esses anos todos e nunca deixou de ter fé na fic, me azucrinar por capítulos e torcer pelo plot. E me atura até hoje quando eu surjo com ideias e querendo discutir pormenores, uma linda da vida.

Enfim é isso, boa leitura, prepara o coração que a minha Bella é louca, descontrolada e perigosa ;)



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