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Juro que a primeira coisa que pensei foi isso, mas foi só por 0,000002 segundos. Juro. Depois eu meio que lembrei quem é que estava ali na minha frente e, logo após, o que passou pela minha cabeça foi algo mais do tipo:

Nossa, sério? Que burro, é tão óbvio

Dai eu olhei pra a carinha dele, para seus olhos, e me derreti. Refleti mais profundamente sobre aquela pergunta e logo me senti culpada por esses sentimentos inseguros nele.

Faz algum tempo em que Jared não desperta mais as mesmas coisas em mim, na verdade, desde o acidente, quando ele veio me visitar.

Estávamos eu e Ian dividindo um pote de sorvete enquanto assistíamos um filme na sala. A família de Melanie toda ia me visitar toda hora, tia Jane praticamente vivia lá. A Mel sempre vinha também mas preferia ficar na companhia de Jared.

Minha mãe e Tia Jane sempre ficavam discutindo sobre a loja e coisas muito complicadas pra eu entender. A única coisa que precisava saber era que tudo estava indo tudo bem e a loja só fazia crescer cada vez mais. E isso me deixava muito feliz, porque nem minha mãe – nem a tia Jane, pensariam que a ideia maluca de abrir uma loja de roupas, em plena crise financeira, daria certo. Mas deu, tudo por causa das relações que meu pai mantinha e as relações que a família da Mel tem com a fama- pouca mas o suficiente, do pai dela e tudo o mais, A Moonlight Clothes cresceu mais do que as expectativas.

Bem, foi logo depois de eu chegar em casa, no domingo, já era noite e eu estava agradecida por estar novamente no conforto da minha casa. Mel e Jared chegaram pra me visitar e quando eu o vi eu senti.... nada.

Vergonha na verdade, mas isso é o comum de todas as pessoas que eu conheço, então seria o óbvio eu ficar vermelha perto dele.

Ele perguntou como eu estava, me pediu desculpas também, por ter feito aquela cena com a Mel, ele realmente estava se desculpando por estar se agarrando com a namorada na minha frente. Disse que não precisaria mais da minha ajuda para a redação e que se eu quisesse ler quando estivesse pronto ele daria de bom grado. Agradeci e depois mamãe nos chamou para a janta.

E... sei lá, não tenho mais pensado em ninguém daquele jeito desde o acidente, eu... to legal.

Não, mentira tenho sim. E ele ta aqui esperando a resposta de uma pergunta importante para ele e eu to pensando em bosta.

Balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos confusos e na pergunta realmente,

– Bem, - disse segurando suas mãos e o arrastando para o banco – você tem cumprido todas as cláusulas das nossas condições...

– sim...

– e tem cuidado tanto de mim como a minha mãe – eu disse andando de um lado para o outro, um pouco de mal jeito, enquanto ele me acompanhava com o olhar no banco

– sim...

– e, graças a você eu nunca mais me senti sozinha ou tive lapsos depressivos.

– hm...

– em outras palavras.... você me deixa feliz.

– deixo?

– deixa

– ah

–é. E... sabe. Pra mim, é bem óbvio a resposta dessa pergunta.

– é? – ele falou franzindo as sobrancelhas e olhando pra baixo

Eu comecei a rir alto e segurei seu rosto me sentando em sua perna

– acho que as coisas começaram a realmente despertar no dia do jogo... E, quando eu vi as flores, e vi você lá no hospital, e bem, tudo o mais...

– então... – ele disse sorrindo

– então o que? – eu disse olhando em seus olhos um pouco vermelha e ele levantou uma sobrancelha esperando.

Arregalei os olhos, logo desviando, mudando um pouco de posição, acho que agora parecia um pimentão.

– não vai responder minha pergunta, senhora “ você tem que responder tudo que eu perguntar” - ele disse afinando a voz me imitando e fiz um biquinho ainda vermelha

– não vou falar primeiro. – cruzei os braços

– o que? – ele disse rindo e beijando meu maxilar

– Ele está ali, Ian! – ouvimos vozes e passos vindo e nossa direção e nos afastamos.

Brandt vinha à frente e parou os meninos enquanto vinha

– Ian, precisamos conversar – Ele nos olhou e nos levantamos- hm... – ele olhou pra mim, se importa?

Corei

–hm, ah...

– pode dizer na frente dela – ele apertou minha mão e Brandt franziu o cenho

–é sobre o Carl... – Ele falou olhando pra mim

Gelei.

Nunca mais tinha pensado nele, e, tenho que admitir, me senti terrivelmente mal naquela hora. Sim, ele teria sido o causador do meu acidente, porém agora está morto e a única coisa que fiz em luto a ele foi... nada.

– A família dele vai fazer um encontro de luto por duas semanas de sua morte e eles estão pedindo para que os amigos dele façam um discurso

– Um discurso...? -

– é

– pede pra os amigos mais próximos dele então, ué. – Ian disse

– então... esse é problema, ele não tinha amigos próximos, na verdade ele andava meio que como uma sombra perto da gente

– hm...

– Eles vão fazer uma homenagem a ele e nem sequer falaram comigo? – Perguntei

Brandt deu de ombros

– Sei lá, enfim.

Ian assentiu e olhou para os meninos atrás nos encarando

– só isso?

– hmm, bem, não.

Ian esperou e ele continuou:

– nós fizemos uma reunião e queremos você de volta

– hã?

– a andar com a gente, nós tipo “ te perdoamos” – ele falou colocando as aspas no ar

– me perdoaram? – Ian disse perplexo

– é. Mas temos uma condição

– condição?

– é. Você... bem... hm... tipo... sem ela

– sem ela? – Ian aumentou um pouco um tom de voz e eu encolhi- e o que ela tem a ver com isso?

– ela é tipo Yoko, mano.

– Que?

– foi mal- ele disse olhando pra mim com pena- mas você é uma distração e a sua frequência nos treinos diminuiu e meio que precisamos de você em nosso meio

– distração? – Ian disse já irritado e Brandt deu de ombros de novo olhando para os meninos atrás e Ian suspirou- olha, Brandt, você é a pessoa mais próximos de mim nessa escola toda, e por isso tenho uma grande consideração por você, mas se você tivesse um pingo de noção do que acabou de falar ia ficar com uma puta vergonha. Você não conhece a Peg e não, ela não é a Yoko que separou os Beatles. E sobre o tal do “perdão” – Ian rolou os olhos- Pensa mais sobre quem deveria ter perdoado quem, ta bom?

– m-mas, Ian... e-e, se o Kyle tentasse conversar com você...?

– o Kyle é outro irracional nessa história. E porque vocês não implicaram com a Sunny, a final?

– bem, ela nem estudar aqui estuda.

– Ian... – eu finalmente tentei falar alguma coisa

– Vocês nem conhecem a Peg. – Ian acusou

– é, mas meninas só atrapalham

– Você ta parecendo menino do maternal. E a Melanie?

– Ian... – tentei de novo

– O Jared próximo semestre nem vai mais estar aqui, por isso precisamos muito de você, e ele nem anda com a gente e ela nem incomoda.

Ian bufou

– Não, sério mesmo que você ta falando essa bosta?

– que horas vocês vão precisar da presença de Ian? – eu disse desistindo de ser educada e os dois olharam pra mim- quando precisarem dele ficarei grata em dividir meu tempo com ele com vocês

– hm? – Ian e Brandt disseram ao mesmo tempo

– vou ficar quietinha no meu canto na hora do almoço, sem um piu. E na hora do treino nem aparecerei, ficarei sã e salva na biblioteca estudando. Se precisarem de mais tempo com ele, cederei de bom grado.

– que? Peg...

– olha, isso é realmente algo a se considerar.

– então, está feito - eu disse estendendo a mão e Brandt a apertou sorrindo

– Não, espera...

– gostei de você, loira, qualquer dia desses a gente se conhece melhor – Brandt disse piscando e virou – Ta tudo ok rapaziada!- gritou

– o que? Não! – Ian tentou discordar mas ninguém ouviu por causa do barulho que os meninos fizeram ao se aproximar fazendo uma algazarra e pulando em volta dele, caí na gargalhada.

– UH, UH, UH- os meninos gritavam enquanto pulavam e eu os comparava a macacos internamente enquanto ria, Ian tentava fazer uma cara séria mais logo cedeu e se juntou a bagunça.

Sentei enquanto ria e observava. É, parece que ele realmente gosta desse pessoal todo a pesar do que diz para mim. Ele não admite, mas adora isso tudo e sei que sentiu falta, por isso cedi. Ainda não gosto de nenhum deles, até agora, mas a cada dia que os observo mais e mais percebo a amizade incubada. Os ciúmes, as brigas, as zoações, as brincadeiras.... mas logo meus pensamentos se voltaram para o que Brandt disse mais cedo.

Carl.

Não tinha ouvido nada sobre o enterro dele, nada. Nada sobre como ele morreu, como a família dele estava, sobre o que aconteceu... este fato ainda não tinha me incomodado tanto quanto agora.

– ei mocinha... – Ian disse me tirando dos devaneios e percebi que todos já tinham ido embora e estávamos a sós de novo- o que está pensando?- ele disse se sentando do meu lado

– nada importante

– ainda precisamos conversar sobre eu dividir meu tempo com você

– você precisa de um tempo com seus amigos, eu entendo

– mas eles nem são meus amigos, eu nem gosto de andar com eles direito

– aham

– não acredita em mim?

– acredito que você se sente um pouco chateado com os acontecimentos recentes.

– hm... ainda não sei sobre passar menos tempo com você – Ele disse voltando ao tópico inicial

– assim torna tudo mais... excitante

– como assim?

– saudades.

– hm...- ele disse com um sorrisinho- e a cláusula que diz para nunca te deixar sozinha, senhora a vida é uma droga?

– posso me virar.

– tem certeza?

Não

– absoluta – sorri um pouco nervosa- vamos voltar para festa? – perguntei olhando para dentro do edifício e Ian se levantou segurando minhas mãos me ajudando a levantar

– como desejas

E assim a noite continuou.