— É totalmente saudável. — Clarke protestou amarrando o pedaço de tecido ao galho da árvore. Todos os campistas haviam tirado o dia de folga, e um grupo havia se reunido para jogar uma espécie de Caça à Bandeira, mas Bellamy não havia deixado a namorada jogar com medo que isso fizesse mal a ela ou ao bebê.

O moreno arqueou as sobrancelhas ainda duvidando.

— Vem cá, a médica aqui sou eu ou você?

— Desculpa, doutora, não sabia que era proibido ficar preocupado.

— Nem é proibido jogar. — ela rebateu e depois apontou para a própria barriga — Olha aqui, quase não dá para ver minha barriga, isso não me impede de jogar. Como eu disse, esportes são saudáveis. — a loira reafirmou enquanto amarrava o outro pedaço de tecido em outro galho.

— Certeza?

— Pela terceira vez, é acho, que tenho. Garanto que minha mãe quando estava grávida também saia fazendo uns polichinelos pela Arca.

— Se é assim... Que vença o melhor, meu amor. — ele disse com um sorriso torto pegando uma das bandeiras da mão dela.

Ela deu um sorriso e os dois caminharam em direção a saída da cabana e foram ao encontro do grupo que os esperava para jogar.

— Preparados para a Caça à Bandeira? — Bellamy perguntou erguendo sua bandeira, um pedaço de pano azul.

Todos confirmaram com gritos de comemoração.

— Clarke vai também? — uma garota com cabelos ruivos trançados, Emily, perguntou.

— Claro que vou! Você que eu deixaria esses daí ganharem? — ela respondeu brincando apontando para Bellamy e o grupo de meninos.

— Ih, sinto muito meninos, mas vocês perderam! — Octavia provocou, seguida por comemorações das meninas.

— Okay, okay, não cantem vitória tão cedo. As regras são simples, nada de violência, o objetivo é achar e roubar a bandeira do outro grupo, as meninas com a bandeira vermelha e os meninos com a azul, lembrando que só vale o perímetro no raio de cinco metros do acampamento, não vão muito longe, tenham cuidado, se precisarem de ajuda ou encontrarem algo no caminho, é só gritar. Cada grupo tem cinco minutos para sua estratégia, começando a contar a partir de agora, então chequem seus relógios. É isso aí, bom jogo galera! — o Blake disse levantando sua bandeira no final.

— Vamos lá ganhar dessas maricas, meninas! — Clarke declarou levantando sua bandeira também.

Os dois grupos iam adentrando na floresta, dentro dos limites demarcados pela regra — as árvores limites eram marcadas com um grande X vermelho — quando Bellamy segurou Clarke pelo braço.

— Tenha cuidado, sim?

— Sempre. Com medo de perder, Bell?

— Nunca. — ele respondeu com um sorriso no canto dos lábios e os dois seguiram os seus grupos na floresta.

As meninas se reuniram em torno de uma pedra para bolar a estratégia delas. Clarke tomou as rédeas:

— Emily, você e eu ficamos guardando a bandeira, Octavia e Felicia vão procurar pelo lado direito, Charlie e Sam, vocês duas pelo lado esquerdo, Tamara, Claire e Mel, fiquem na área central e revezando a guarda. Todas de acordo?

— Aonde vamos esconder a bandeira? — Felicia, uma garota de cabelos negros e pele cor de oliva, perguntou.

— Pode ser na pedra perto do riacho, é escondido e nunca colocamos a bandeira lá. — Octavia sugeriu.

— Lá está ótimo. — Clarke confirmou e checou a hora no relógio, faltavam alguns segundos para começar o jogo — Ok, o jogo vai começar! Todas prontas?

— Prontas! — elas exclamaram.

Cada uma tomou sua posição e Clarke seguiu com Emily, a garota ruiva, para o riacho que ficava perto do acampamento. A loira cravou o galho no chão de cascalho ao lado da pedra e sentou-se junto com Emily na pedra. As duas ficaram conversando um pouco, com o ouvido atento para ver se alguém estava chegando. Geralmente, até que alguém se aproximasse, guardar a bandeira era uma tarefa bem fácil. E parada.

Fazia mais ou menos meia hora desde que elas estavam ali quando ouviu barulhos de passou vindo da direção delas. As duas se levantaram de prontidão, prontas para defender a bandeira. Ouviram mais passos e tiveram a certeza que era alguém que tinha achado a localização delas. Clarke sorriu ao ver Bellamy surgir correndo dentre as árvores do outro lado do riacho.

— Tinha que ser você! — ela gritou quando viu Felicia e Sam correndo atrás dele também.

— É claro, meu amor! — ele respondeu parando na beira do riacho, pronto para atravessá-lo e ganhar o jogo.

— Come to mama, Bell. — ela disse com as mãos esticadas, com um sorriso malicioso.

Bellamy começou a correr em direção a pedra quando mas alguém entrou correndo na área que estavam.

— Bellamy! Clarke! — o grito de Theo chamou a atenção de todos — Caramba, foi difícil de achar vocês!

O menino de cabelos castanhos encaracolados tomou um segundo para recuperar o fôlego e disse:

— Acho melhor vocês virem comigo. — ele disse.

Bellamy deu uma rápida olhada para a bandeira, ainda intacta ao lado de Clarke. Estava tão perto de ganhar...

— Agora, Blake. — ele reforçou.

— O que foi?

— É sobre o Lincoln. — ele adiantou. — Ele foi ferido.

— Vamos logo, Bell. — Clarke pediu séria, saindo de seu posto e caminhando até Theo. Blake acabou cedendo e fez o mesmo.

— Meninas, — ela ordenou para Emily e Sam — continuem de guarda. E Felicia? Ache Octavia e mande ela nos encontrar na base da nave. Agora.

Os três, Theo, Bellamy e Clarke seguiram a trilha de volta para o acampamento em silêncio, Theo indo na frente e os dois atrás.

— Eu ia ganhar, princesa. — Bellamy brincou, passando um braço em torno do ombro dela e depositando um beijo em sua testa.

— Haha. — ela fingiu uma risada — O que você acha que aconteceu com o Lincoln?

— Eu não sei. — ele admitiu em voz baixa — Mas não creio que foi algum dos terra-firme. Eles não nos atacaram mais durante esses anos. Talvez tenha sido algum animal, ou algo do tipo.

— É, espero que sim.

Dois anos atrás, quando finalmente a paz fora estabelecida e eles estavam conseguindo um pouco de estabilidade, Octavia chegou com o pedido de que Lincoln ficasse no acampamento com eles, sob a promessa de ajudar o acampamento a se reerguer. Não foi uma oferta muito bonita aos olhos de Bellamy, mas Lincoln não representava uma ameaça tão grande visto que já tinha provado sua lealdade, e as súplicas de Octavia o haviam convencido.

E como prova de sua lealdade, Lincoln havia saído, cerca de oito semanas atrás, para conseguir suprimentos que os homens do mar tinham e que o acampamento necessitava, tais como remédios e até mesmo temperos.

Quando chegaram ao acampamento, na entrada da nave, havia um aglomerado de pessoas, Theo abriu espaço e eles passaram. Lincoln estava deitado sobre uma maca improvisada, soltando alguns múrmuros de dor. Um garoto de cabelos negros e olhos azuis, Jimmy, que ajudava Clarke na área médica, limpava um enorme corte que ele tinha na região do antebraço.

— O que temos aqui, Jimmy? — ela perguntou assim que entrou no cômodo.

— Ele foi ferido enquanto lutava com algum animal, Clarke, tem uns cortes superficiais de garra. Mas o pior é esse daqui — ele apontou para o corte que limpava — Foi causado pela lâmina dele, provavelmente em um deslize enquanto ele desviava do animal. O problema não é nem o tamanho e sim... Você sabe que as lâminas do Lincoln sempre tinham...

— Veneno. — ela completou.

Antes mesmo que alguém pudesse dizer algo a mais, eles ouviram a voz de Octavia se aproximando.

— Bell, Clarke? Felicia disse que vocês estavam me chamando. Eu espero que tenha sido importante, porque eu tava quase achando a bandeira... — ela começou mas parou de repente, ao perceber do que se tratava — Ai meu Deus, Lincoln!

A garota exclamou preocupada e saiu correndo em direção a maca, segurando o rosto dele em suas mãos e o chamando incessantemente, mas o mesmo estava desacordado.

— O que aconteceu? O que houve? — ela perguntou olhando desesperada para o irmão.

— Ele foi ferido enquanto lutava com um animal no caminho de volta. — Bellamy respondeu, a abraçando — O, vai ficar tudo bem. Clarke vai cuidar dele. Ok?

— Sim, eu vou. — a loira reafirmou e se virou para Jimmy — Preciso de uma agulha e fio para fechar os cortes, e preciso dos antídotos que Lincoln conseguiu.

Ela começou a lavar a mão com uma espécie de álcool e se virou para Octavia.

— O, você sabe o tipo de veneno – e seu antídoto – que ele usa?

— S-sim, sei. — ela disse soluçando por causa do seu pranto — É o-o frasco da tam-tampa vermelha.

Jimmy pegou a bolsa do moreno e procurou, achando um frasco de vidro com um líquido dentro.

— Esse?

— Sim, e-esse.

— Ok. Vamos lá, Jimmy! — Clarke disse se aproximando de Lincoln, mas no momento que ela viu o sangue que cobria todos os seus cortes seu estômago embrulhou e ela sentiu uma ânsia de vômito.

A Griffin fechou os olhos e curvou a cabeça, respirando fundo, pedindo para o enjoo passar.

— Clarke, está tudo bem? — Bellamy perguntou.

Ela respirou fundo mais algumas vezes e falou baixinho:

— Escute bem, eu quero trabalhar aqui, porque tem uma pessoa que depende de mim e que eu faça meu trabalho — demorou um segundo para o Blake perceber que ela falava com a própria barriga. Ele abriria um sorriso se não estivesse muito preocupado — Então, se acalme, e se acostume com esse cheiro, porque mamãe tem que trabalhar. Ok?

Ela esperou mais um instante como se realmente procurasse uma resposta, respirou fundo e percebeu que o enjoo estava passando.

— Ok. — ela disse e voltou sua atenção para Lincoln — Jimmy, me passe a pinça e gaze, junto com o antisséptico... — ela começou a dar as ordens e tomar a dianteira das suturas de Lincoln.

— Ele vai ficar bem, não é? — Octavia perguntou para a cunhada.

Já haviam algumas horas desde que ele havia saído da cirurgia improvisada, mas ainda estava desacordado, porém, tudo havia corrido bem e Clarke achava que ele ia se recuperar logo.

— Sim, O, ele vai. Acho que em breve acordará.

— Obrigada, Clarke. — ela agradeceu com um meio sorriso enquanto segurava a mão de Lincoln.

— Não precisa agradecer, O. — ela respondeu e puxou uma cadeira para sentar-se ao lado dela.

Instantes depois Bellamy entrou no cômodo segurando dois pratos de comida, o jantar havia sido servido.

— Aqui, vocês não comeram nada o dia todo. — ele disse entregando um prato para cada.

— Não tô com fome. — Octavia se ateve a dizer, mas Clarke insistiu para que ela comesse e a morena prometeu comer um pouco depois.

Bellamy sentou-se ao lado de Clarke e ficou a observando enquanto a loira comia.

— Como você tá? — ele perguntou.

— Estou bem. Ainda não me acostumei aos enjoos. — ela disse rindo.

— Ei, não dê trabalho a sua mãe não, viu? — ele disse tocando a barriga dela e Clarke soltou uma risada.

— Foi bem engraçado quando você começou a falar com sua barriga hoje mais cedo. Apesar de eu achar no começo que você estivesse esclerosando. — ele brincou e os dois riram.

Ficaram em silêncio por um instante, Clarke com a cabeça encostada no ombro de Bellamy e segurando a mão do mesmo. Depois de mais ou menos uma hora, eles ouviram um pigarro, e na mesma os três deram um pulo em direção a cama de Lincoln.

— Hey, O. — ele disse com a voz fraca — Que susto, em?

— Aham, foi um susto muito grande, mocinho. — ela disse com um sorriso de felicidade e alívio e os olhos mareados — Não se atreva a fazer isso de novo.

— Prometo. — ele respondeu enquanto ela se aproximava dele para dar um beijo em seu rosto.

— Como você está se sentindo? — Clarke perguntou, desenrolando a bandagem do braço dele para ver como estava o corte.

Porém, antes mesmo que ele pudesse responder, assim que a loira viu o corte no braço dele de novo, o enjoo voltou e ela saiu correndo em disparada para fora na nave, vomitando todo o seu jantar. Ela ouviu os passos de alguém se aproximando e limpou a boca com a manga da blusa.

— Não se acostumou mesmo com essa história de enjoo, né? — Bellamy brincou colocando uma mão nas costas dela.

— Não mesmo. — ela respondeu ainda curvada, com as mãos apoiadas nos joelhos.

Os dois voltaram para onde Lincoln e Octavia estavam e ele perguntou:

— Está tudo bem, Clarke? O que aconteceu?

— Ah, aquilo? Apenas um prejuízo de estar grávida.

— Você está... Você e o Bellamy vão... — ele começou surpreso.

— Ter um bebê? Sim, nós vamos. — ela confirmou rindo.

— Uau, parabéns. — ele disse.

— Mas e você, como está? — Clarke voltou a perguntar e os quatro passaram a noite ali, Lincoln revezando entre cochilos e pequenas conversas com Octavia e Clarke e Bellamy sentados no canto, Clarke abraçada a ele e com a cabeça em seu ombro. Passaram a noite juntos como há dois meses eles não passavam.