(MÚSICA)

(...)

Quando você me disse que iria embora
Eu senti que não podia respirar
Meu corpo dolorido caiu no chão

(...)

Se perguntasse, ele jamais saberia quantas vezes soluçou ou gritou, eram incontáveis. Mesmo depois de tudo o mesmo ainda segurava a mão esquerda pequenina da garota entre as suas mãos grandes e geladas, ainda olhava para o tórax dela esperando um mínimo movimento sequer. Ele ainda estava ali por ela. Não sabia quantas vezes era preciso respirar fundo para que seu pulmão parasse de arder e aquela dor sufocante dissipasse.

Doía. Doía exatamente onde Loki jamais pensou que sentiria na sua vida imortal. Doía na alma.

Uma mão quente e calejada segurou firme no seu ombro esquerdo, Loki não se assustou ou ao menos se deu o trabalho de se virar, pois ele sabia que era seu irmão pelo seu toque caloroso. Queria gritar um xingamento ou até mesmo machucar alguém, mas não tinha forças nem para se pôr de pé. Um deus fraco. Ele se sentia assim, um deus sem forças e totalmente esgotado, porém no momento ser taxado assim era a sua menor preocupação.

— Loki. — a voz áspera e reconfortante do seu irmão lhe chamou pelo nome, o homem levantou os olhos verdes alcançando as íris azuladas trovejantes do irmão.
— Você precisa soltá-la, ela está morta irmão.
Com dor Loki fechou os olhos com força, sentiu a mão gelada dela em contraste com a sua e sentiu falta da temperatura. Tornou a abrir os olhos e negou sentindo seu rosto se banhar novamente de lagrimas.

— Não posso. — disse por fim roucamente.

O loiro não entendeu, fez-se uma expressão confusa no rosto. Loki respirou fundo novamente sentindo o peito arder e se virou para o irmão, olhou fundo nos olhos dele e falou:

— Estou com medo, irmão.

Era a segunda vez que Thor ouvia aquela frase vinda de seu irmão, a primeira vez fora quando eram apenas crianças. Lembrava exatamente quando eles brincavam no jardim de Asgard, sua mãe quando viva ria pegando as diversas flores os quais os garotos lhe traziam. A mulher tentava relaxar e tentava não pensar que seu marido estava lutando contra elfos negros, tentava tranquilizar seus filhos com brincadeiras os quais lhe tomassem o tempo e a mente, no momento parecia ter dado certo até o pequeno e franzino Loki sentar-se no chão e chorar copiosamente — era raro, pois ele não chorava muito, apenas algumas vezes Frigga se recordava.

A rainha correu até seu pequeno e se ajoelhou, pegou o rosto pequenino e gelado entre as mãos. Olhou nos olhos verdes com calma e o abraçou forte. Eram raras as vezes as quais Loki permitia afeto seja por parte da sua mãe ou do seu irmão, geralmente ele odiava contatos.

— O que houve, meu filho? — perguntou ela docemente.

— Eu es-estou preocupado com o papai. — admitiu o menino.

— Ele vai ficar bem, meu filho. Seu pai é o homem mais forte de todos os reinos.

— Calma, nada vai acontecer com nosso pai. - tranquilizou Thor segurando a mão esquerda do irmão.

– Estou com medo, irmão.

Aquela era uma lembrança em parte boa, mas outra angustiante. Entretanto era uma das lembranças à qual Thor guardava com amor.
Loki tornou a levar os olhos para a garota, seus olhos escorregavam captando cada detalhe desde seus cabelos negros até seu rosto branco sem vida; se recordava perfeitamente do quanto ela era mais bonita quando viva. Lembrava-se de sentir seu peito se aquecer quando a mesma lhe olhava com aqueles olhos chocolates, lembrava-se de se sentir vivo com o sentimento o qual lhe tomava cada vez que a abraçava sentindo o calor humano dela se espalhando por seu corpo.

— Ela não vai voltar. — murmurou parando de chorar, secou o rosto e por fim soltou a mão dela.

Seu corpo se ergueu do chão se levantando, seguiu em passos largos se afastando dos escombros e do corpo, todavia estacou no lugar e se virou olhando para seu irmão parado.

— O que vão fazer com o corpo dela?

— O pai dela está sendo informado, logo ele virá para recolher o corpo. — respondeu Thor com pesar.

– Certo.

Desde o inicio fora estranho para Loki ajudar os vingadores, no entanto depois da morte da sua mãe e ter sido perdoado por Odin por ter salvado Thor e a humana dele, o mesmo não podia negar ajudar aqueles que tanto tinham prejudicado. Ele não tinha mudado, continuava a odiar profundamente aquela raça inferior e só o fazia por causa de Thor, devia isso a ele. Além disso, Odin alegara que, se ele ajudasse os migardianos, ele deixaria que Loki tomasse aquilo que era seu por direito. O trono de Jotunheim, não era de total gosto dele, não obstante saber que reinaria perante algo já dava total prazer e satisfação.

Ao chegar em Midgard pronto para ajudar os vingadores Loki nunca se sentiu tão humilhado perante aqueles seres inferiores, passava dia a dia com os xingamentos e maus tratos do arqueiro e da vadia ruiva, apesar de tudo ele finalmente fora aceito após salvar a mulher do homem de lata.

A inteligência dele finalmente fora reconhecida, conseguiu ajudar os vingadores com a busca de derrotar o tal homem o qual tentava derrubar a SHIELD, um homem da tal HIDRA a qual Loki jamais ouvira falar. O tempo passava e ele só ajudava, apesar de não deixar para trás seu humor e muito menos de ser o deus da travessura e desordem.

Então ele a conheceu. Era uma garota pequena, cabelos negros cortados até a linha do queixo, lábios pequenos e avermelhados os quais chamara a atenção do deus no instante o qual ele a viu; e seus olhos. Ah, os olhos! Ele não podia negar, os mesmos o prendiam a cada vez que o olhava. Era um tom castanho chocolate, simples aos olhos humanos, todavia Loki jamais tinha visto tal coloração em Asgard, eram comuns os tons verdes, azuis e pretos, mas jamais os castanhos chocolates da garota. O temperamento era ácido, era totalmente ao contrário da sua aparência delicada e pequena. Tinha uma garra a qual fez o deus a admirar, tinha a coragem de um leão a qual Loki jamais teve e uma astúcia tão grande quanto a sua.

Primeiro a odiou e depois se apaixonou, não se segurou a amar a humana como jamais tinha amado qualquer mulher tirando sua mãe. Era errado e totalmente dissimulado investir em tal relacionamento, mesmo ele se afastando e a tratando mal, a garota não o deixava ir. Ela o amou como um homem, lhe fez sentir único e amado. Loki não se sentia digno de tal sentimento, porém ele ainda era egoísta e não se permitiu abandonar aquela garota a qual lhe fazia sentir um turbilhão de coisas boas.

Tudo que ele queria o mesmo tinha, então ele a conseguiu.

Amou-a de todas as formas possíveis que uma mulher deve ser amada e foi recíproco.

Loki jamais sentiu vontade de construir algo, entretanto com ela tudo era diferente. Ele queria tudo com ela, queria uma família com ela. Por algum tempo ele conseguiu.

Então ele a perdeu. Perdeu os dois. Perdeu as duas pessoas as quais mais amava de uma vez, uma ele amou imensamente do minuto o qual a olhou até depois do minuto o qual seus olhos perderam o brilho da vida e a outra pessoa.. Bem ele jamais teve a oportunidade de conhecer.

— Qual vai ser o nome dele ? — sua voz doce lhe acalmou, Loki sorriu de lado e fitou os olhos dela.

— Não sei, vai ser um nome de Midgard ?

— Não, eu quero algo de onde você veio. Algo único como Loki. — sorriu abertamente para ela.

Virou-se e a olhou, seus olhos o cobriam de amor e o fazia sentir o peito se aquecer. Levou a mão direita até o rosto da garota e acariciou sua pele macia, a mesma fechou os olhos se deleitando com o carinho gelado na bochecha. Aproximou-se embalado com a respiração da mesma e seus lábios se tocaram com ternura, passou os braços pela cintura dela e a puxou vagarosamente com cuidado, mesmo com a barriga apenas um pouco volumosa e nada chamativa Loki ainda tinha todo o cuidado, abraçou seu corpo e a colou junto com ele. Seus lábios se mexiam juntos, assim que o ar da garota acabou e ofegou, o deus se afastou vagarosamente, encostou a testa e respirou fundo sentindo o aroma doce e cítrico da garota lhe imundar os sentidos.

— Eu te amo. — seu tom doce e tranquilo lhe tocou, sentiu ainda com os olhos fechados as mãos quentes e macias lhe tocar o rosto e suas respirações se entrelaçarem.

Ele abriu os olhos e se afundou nas íris quentes cor chocolate de sua amada, sentiu o coração bater desenfreado e sua mente girar. Pela primeira vez o deus não sabia o que falar, ou sabia, mas não tinha coragem o suficiente para falar.

— Eu..

— Você não precisa falar. — falou ela sorrindo.

— Mas eu devo, eu sinto.

— Sei disso, meu amor seus olhos dizem isso.

Ele respirou fundo sentindo o cheiro dela lhe encher os pulmões, estendeu a mão esquerda até o rosto e a trouxe novamente para perto lhe beijando com amor. No instante o qual se afastaram, ele se deitou novamente olhando para o céu escuro, sentiu-a se deitar no seu peito e passou os braços sobre o corpo da mesma.

— Eu te amo. — declarou ele de olhos fechados.

Ele sentia o olhar de todos sobre o mesmo, queria gritar para pararem, no entanto não podia. Seu olhar caiu sobre a caixa de madeira a qual estava o corpo dela, não sabia muito sobre como era tratado um enterro em Midgard, entretanto certamente preferia que seu corpo não fosse enterrado embaixo de uma terra imunda, contudo o pai da garota preferiu assim e ele sequer teve coragem de pedir de outro jeito.

Seu olhar caiu sobre Tony Stark, o homem segurava a mão da mulher ruiva ao seu lado e tinha a expressão sofrida e caída. Nunca gostou muito do homem de lata nem mesmo quando se apaixonou pela filha do mesmo, mas naquele momento pôde ver a dor cruciante do homem e sentiu-se culpado.

O sol quente de Midgard esquentava a todo canto, ainda assim Loki sentia um interminável frio o qual lhe causava dor por todo o corpo. Nem mesmo pisando em solo Jotunheim o deus da travessura sentira tanto frio.

Segundo algumas pessoas, Loki era frio, não sentia nada, contudo estavam enganados. Diziam ser feito de gelo, então como ele conseguia sentir tamanho frio?

Aquele frio era como se não houvesse mais nada, porque na verdade não havia. Quando alguém perde a alma se torna oco e o frio, a escuridão toma o lugar onde tinha a sua alma; o lugar o qual ele antes sentia calor agora só havia frio.

Ele estava com tanto frio.