Perseus: A guerra contra o Princípio escrita por Naylliw Freecs


Capítulo 13
A queda da rainha


Notas iniciais do capítulo

Sim, sim. Vocês querem me matar, mas eu juro que eu tento postar rápido, mas não consigo, vou tentar ser um autor melhor daqui pra frente. A desculpa dessa vez? Vestibular seriado da UPE. Não vou ficar enrolando vocês, boa leitura!! LEIAM AS NOTAS FINAIS



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POV Terceira Pessoa

O calor era infernal. Magma líquido escorria pelos dutos de rocha no interior da montanha, as paredes eram incandescentes, brilhando numa coloração alaranjada e ardendo como brasa. Os olhos da deusa semicerraram-se quando avistou no final do largo corredor uma porta de ferro, o suor já lhe ensopava as vestes e escorria pelo rosto, seus dentes trincaram quando tentou empurrar a porta e a mesma não se moveu centímetro algum, como tudo naquele lugar, encostar as mãos no ferro foi como enfiar as mãos numa fogueira, mas o que procurava estava lá e não iria desistir. Usando o peso de seu próprio corpo, se atirou contra o que bloqueava seu caminho, usando os ombros para exercer maior força, pode sentir o movimento antes das dobradiças estalarem e o metal derrapar sobre o solo rochoso com barulho ensurdecedor. Parecia ter chego no coração de um vulcão, onde um poço de lava se estendia em todas as direções, estalactites pendiam no teto, como uma armadilha mortal, prontas para despencar sobre qualquer intruso, todavia, ao olhar para o centro do lago de magma borbulhante, viu o que procurava, grande e deformado, não parecia ser afetado pelo calor, movimentava uma bigorna enquanto criava uma nova arma, imerso em seu trabalho estava Hefestos, o senhor das forjas.

O deus não pareceu notar a visitante, seu cabelo castanho batia na altura de seus ombros, no peito desnudo se espalhavam diversas cicatrizes, algumas resultantes de seu trabalho, outras, da queda que sofrera ao seu pai lhe atirar do topo do monte Olimpo, um avental de couro de harpias lhe cobria as partes íntimas e da sua patela para baixo, só havia lava. Parou de martelar por um minuto, e ergueu a lâmina que parecia se alimentar do calor ao seu redor, Hefestos deu alguns passos em direção de uma elevação de rochas dentro do lago, onde uma fonte de água escaldante borbulhava, enfiou a espada lá dentro, a fazendo chiar e liberar uma pequena nuvem de fumaça acizentada, quando voltou a erguê-la a mesma brilhava em bronze celestial, com um movimento rápido e preciso, o deus atirou a espada por cima da cabeça em direção a Atena que não se manifestara desde o momento em que chegara. Uma lança de dois metros se solidificou nas mãos da deusa no exato momento em que a espada lhe alcançou, com um simples movimento desviou a trajetória da arma, a fazendo se enterrar profundamente em uma das rochas ao seu lado.

—O que você quer, Atena?- perguntou Hefestos antes mesmo de se virar, de sua barba quadrada pingavam algumas gotas de magma e seus olhos castanhos, apesar de demonstrarem calma e serenidade, escondiam uma fúria devastadora.

—Eu preciso de um favor. - respondeu firme e autoritária- preciso de uma arma que seja capaz de selar a mais horrenda entre as criaturas, uma arma que uma vez utilizada não possa mais ser aberta, algo mais seguro de que o próprio Tártaro!

O deus se manteve em silêncio por alguns segundos, como se esperasse que sua irmã admitisse que estava lhe pregando uma peça e começasse a rir da sua cara, mas Atena permaneceu impassível, e por fim quando percebeu que não se tratava de uma brincadeira ele riu. A risada estrondosa percorreu por todos os cantos do local e algumas estalactites se desprenderam do teto, atingido o chão e explodindo numa chuva de pequenas pedras.

—Isso é impossível, nada neste mundo é mais seguro que o Tártaro, vá embora e me deixe em paz.

—Não ouse virar as costas contra mim deus ferreiro! Conheço suas habilidades e sei que tens a competência de fazer o que eu lhe peço.

—Não ouse você levantar a voz contra mim Atena! Sim, talvez eu pudesse até criar o que me pedes, mas o que eu ganharia em troca? O que você tem que eu não possuo? O que você pode me dar?

Os olhos cinza tempestuosos da deusa brilharam, sua boca se contraiu num pequeno sorriso e quando falou, a temperatura pareceu se elevar além do normal, enquanto seu irmão se virava lentamente, não sabia se de incredulidade ou se apenas pelo falo de ser aleijado.

—Não fale algo que não pode cumprir, não cairei nas suas mentiras!

—Eu não minto seu idiota! O que poderia ser mais generoso do que oferecer a mão da deusa do amor em casamento? O que mais justo do que em troca de me ajudar, ter a deusa mais bela do Olimpo ao seu lado?- A senhora da sabedoria sentiu o gosto amargo em sua língua ao elogiar a filha de Urano, mas precisava da ajuda do ferreiro e faria o que fosse preciso para obtê-la.

—Você mente- concluiu com convicção Hefestos, seus olhos castanhos brilhando e ardendo com a chama de mil forjas. 

—Eu, Atena, deusa da sabedoria e da estratégia em batalha, juro em nome do rio estige cumprir com minha parte do acordo, desde que Hefestos se disponha a me ajudar.

Um trovão retumbou no céu selando o juramento, pela primeira vez em meses o deus saiu do lago de lava, tinha quase o dobro de altura da deusa, magma respingava por suas pernas, coçou a barba fazendo faíscas de fogo serem geradas espontaneamente, agora podia-se ver mais nitidamente que um de seus ombros era mais alto de que o outro e que uma de suas pernas era mais curta e atrofiada, algo semelhante a uma tala de ferro o ajudava a ficar em pé, suas mãos eram enormes e marcadas pelo árduo trabalho.

—Espero que saiba o que está fazendo irmãzinha- zombou o deus ferreiro, os olhos estreitos e tomadas por uma felicidade não admitida- Vou precisar de alguns materiais, meio dia para encontrá-los e mais uma dia para a arma ficar pronta.

Um sorriso se abriu nos lábios de Atena após Hefestos deixar o local, mas o tempo não estava ao seu favor, levara quase meio dia para encontrar e convencer Hefestos a ajudá-la e oferecer seus favores a Poseidon na guerra submarina, enquanto trilhava o caminho inverso, em busca de alguma saída, a deusa cantarolava.

—Atena sempre sabe o que faz...

                            

Os olhos prateados da senhora das florestas se estreitaram, o arco pendia inerte sobre suas pernas, aparentava ter apenas oito anos de idade, e o cabelo ruivo caia em cascatas nas suas costas.

—O que você disse?

—Preciso de sua ajuda, o mar está em guerra e Poseidon não pode vencê-la sozinho. Zeus se recusa a descer de seu trono para ajudar o irmão, tentei ir até Hades, mas os portões do inferno estão fechados para mim, Hera é arrogante e prepotente assim como seu marido, Deméter está desaparecida há dias e Héstia se demonstra passiva demais para se intrometer numa guerra- repetiu Atena, já sem paciência, os olhos cinza nublados, como numa manhã tempestuosa. 

—Não entendo por que precisa de minha ajuda, você e Hesfesto, juntamente com Poseidon e seu exército, não são suficientes para dar conta de seja lá o que for que esteja causando problemas ao oceano? Em nome do Tártaro irmã! O que é tão poderoso que um dos três grandes se mostra incapaz de derrotar?- Os ombros da deusa da sabedoria penderam como se não gostasse da resposta, seu rosto foi recoberto por uma máscara férrea, sem demonstrar sentimento algum, o olhar distante, de repente, as várias peles de animais ou até mesmo o cervo de estimação dentro da tenda da irmã não pareciam lhe impressionar tanto.

—Tenho minhas duvidas, mas talvez seja a mesma criatura que quase levou Quione ao esquecimento...

—Impossível! Eu mesmo ajudei a dar fim aquela criatura horrenda, algo como aquilo não sairia do Tártaro tão rapidamente!- praticamente berrou Ártemis, os dedos se fechando com força ao redor de seu arco.

—Não é como se fosse a mesma coisa entende? Não possui a mesma aparência, nem os mesmos poderes, mas em seu olhar consigo sentir o mesmo desprezo a vida, a mesma ausência de emoções e seu nível de poder... É assombroso.

Ártemis suspirou enquanto guardava seus pertences numa sacola de couro, as caçadoras desmontavam o acampamento em formato de meia-lua rapidamente, odiava ter de deixá-las sozinhas, mas não tinha outra escolha. Observou quando sua tenente se aproximou de si, o cabelo negro preso num coque apertado, a tiara prateada em sua cabeça, além dos olhos cor de ônix lhe davam um ar sério demais para uma garota de dezesseis anos, olhou ao redor e viu que todas a observavam, prontas para partir, esperando apenas suas ordens.

—Não enfrentem nada que se mostre perigoso demais, evitem os vilarejos, os homens que lá vivem são repugnantes. Sei que às vezes pode ser difícil seguir o rastro de alguma criatura, mas tenho fé em suas capacidades e sei que conseguirão fazer qualquer coisa que acreditem. Se estão comigo são merecedoras de seu posto, partilhamos um sentimento em comum. Não se esqueçam do seu propósito, não se esqueçam do motivo de estarem aqui e não se esqueçam, que independente de quem foram em suas vidas passadas, o passado está morto, hoje vocês são as minhas filhas. As caçadoras de Ártemis.

Como se planejado e em perfeita sincronia as caçadoras correram daquela clareira se aprofundado no coração da floresta, deixando ambas as deusas para trás.

—Vamos irmã. - disse firme a senhora das florestas, os olhos prateados como a lua carregados por determinação, aquela fera hedionda havia ferido uma donzela e aquele era um pecado que não poderia perdoar- temos uma guerra para ganhar.

Os olhos de Atena se estreitaram para o que viu nas mãos de Hefestos. Se encontraram nos limites da floresta que se encaminhava a sua forja, o mar rodeava o norte do local, sendo separado deles apenas por um enorme penhasco. Esperava algo grandioso, algo digno de ter sido feito pelo deus ferreiro. Era minúsculo. Possuía o tamanho de um pequeno pássaro. E definitivamente a deusa não esperava ver um bule de chá, porém sem o buraco que permitia que o conteúdo escorresse para fora.

—Você está brincando comigo?- sussurrou estagnada, os olhos cinza tempestuosos carregados de raiva e descrença.

—Não, por que?- perguntou Hefestos, a dúvida estampada em seu rosto, sem saber o que havia feito de errado.

—Eu lhe pedi uma prisão! Algo mas seguro que o Tártaro! Pelos deuses Hefestos, por que em nome de Hades você vem até mim com um Bule! Nunca em toda minha imortalidade presenciei tamanha incompetência!- rosnou irritada, fazendo o ferreiro recuar alguns passos de forma desajeitada, as engrenagens nos seus aparatos de sua perna estalando e soltando algumas faíscas. 

—Cale-se Atena!- Bradou Ártemis irritada, fazendo a irmã se voltar para ela incrédula- Explique-se Hefestos!

—Esse objeto foi fabricado a partir de diversos materiais e paradoxos mágicos, como por exemplo o dente de um dragão banguela, uma maçã de ouro da árvore de Ládon, um sorriso de Hades, a arrogância de Héstia e também um bom poema feito por Apólo. Juntando tudo isso construi algo como a caixa de pandora, selará não o físico, mas sim a essência, aquilo que nós somos internamente e sem tal essência não somos nada. Mas ao contrário da caixa de pandora, uma vez utilizado, o bule de Hefestos não pode mais ser aberto, aquilo que aqui for preso, não possui chance alguma de escapatória. - sussurrou o deus, os olhos em chama líquida quando falou encarando diretamente a senhora da sabedoria- Estou terrivelmente tentado a fazer um teste em você irmãzinha .

Os olhos dos filhos de Zeus se encontraram e faíscas pareceram saltar de ambos, a tensão palpável. Atena não daria o braço a torcer, enquanto Hefestos havia tido seu orgulho ferido. A troca de olhares poderia ter durado séculos, se uma explosão prateada não fizesse ambos os deuses serem arremessados para lados opostos. Atena voou pela borda do penhasco, os braços abertos como se procurasse algo para agarrar, mas não havia nada e a mesma caiu em direção do mar, enquanto Hefestos voou em direção à floresta partindo diversas árvores ao meio no processo, até que por fim atingiu uma rocha, a mesma rachou mas freou o deus em movimento. Num lampejo de luz cinza surgiu a deusa da sabedoria, as roupas completamente encharcadas e os olhos ainda arregalados pela incredulidade. Estalos contínuos e erráticos indicaram o movimento do ferreiro. A temperatura pareceu se elevar além do normal, a caçadora estava cercada.

—Como ousa?!

—Como ousa?!

—Vocês brigam como crianças e não venham me dizer que não, porque sei bem como é conviver com elas! Enquanto vocês têm sua discussão fútil, enquanto nenhum dos dois quer dar o braço a torcer, Lorde Poseidon trava sua batalha e em quanto ele luta contra aquela escória que quase leva Quione ao esquecimento, o mar é envenenado, vocês não sentem? Pois eu sim. A ligação entre a lua e as marés... Posso sentir como numa ligação direta que tem algo errado, algo está afetando o equilíbrio natural das coisas. - A deusa da lua parou para pensar como explicar o que viria a seguir, buscando o meio mais simples de demonstrar aos dois deuses aos seus lados- Atena, imagine como se a partir desse momento todas as guerras fossem travadas ao vento, pelo puro prazer do sangue e sem estratégia alguma e você Hefestos, imagine como se a partir de agora tudo que você criou começasse a quebrar como um brinquedo defeituoso, agora juntem isso numa proporção de algo como o oceano, é assustador não é mesmo? Enquanto vocês brigam como crianças, o mar ruge pelo seu senhor, mas também ruge de dor. Eu ordeno que se abracem e ajam como uma família! O que estão esperando? Vão! Vão agora mesmo!

Hefestos e Atena trocaram um rápido abraço ao mesmo tempo que murmuravam um quase que inaudível "desculpe". As palavras da deusa da lua lhes atingira como diversos tapas em seus rostos. Atena queimava de vergonha por ter deixado sua razão de lado, mesmo que lhe ferisse o orgulho admitir, havia sido dura demais com o ferreiro, este por sua vez não se sentia envergonhado, mas sentira o pesar das palavras da deusa sobre seus ombros, obrigando-se a engolir seu orgulho, perdoou a irmã pelas duras palavras.

—Então...- começou o deus numa tentativa de amenizar o pesado clima que havia se instaurado no local. - Como vamos chegar até Poseidon?

Como se não fosse preciso resposta alguma, algo saltou da água do mar abaixo do penhasco, apenas para em seguida cair novamente numa explosão de pequenas gotas de água. Quando voltou a emergir os deuses se surpreenderam com tamanha beleza. A criatura era metade cavalo, possuía escamas no lugar dos pelos, além de guelras e barbatanas; onde deviam existir patas, haviam nadadeiras longas e esguias. Sua coloração era diversa, assim como num arco-íris. Mas seus olhos estavam carregados de preocupação, num pedido silencioso, que alguém fosse em socorro de seu mestre. Não foi preciso muito tempo para que todos se acomodasse no dorso do Hipocampo, era grande o suficiente para pelo menos mais dois indivíduos. Rápido como um raio submergiu, nadando a uma velocidade incrível enquanto os deuses procuravam algo para se segurar. A viajem não foi tranquila. 

O que restara da bela e majestosa Atlântida, agora se encontrava em ruínas, mesmo ao longe podiam ver a pilha de destroços que se tornara o local. Fogo grego se alastrava até onde suas vistas alcançavam.

—Tudo isso... Em dois dias- sussurrou Atena, por um momento esqueceu que não possuía necessidades humanas, como o ato de respirar e tentou tragar o ar, fazendo a água invadir seus pulmões.

O hipocampo acelerou ainda mais o ritmo, pegando carona numa corrente submarina, e por incrível que pareça, ele não foi o único a sentir que havia algo errado. Aquela sensação penetrou a mente de todos. E quando por fim alcançaram os limites da cidade, avistaram o inimigo. Estava enroscado em torno de algo, uma das cabeças desceu, mas rapidamente o tridente do deus do mar surgiu, obrigando-o a desviar, mas outra cabeça desceu, o tridente retornou para as mãos de seu mestre e mais uma vez a fera conseguiu desviar. Mas então a terceira cabeça desceu e não havia mais tempo. Os olhos de Atena se arregalaram, uma lança se solidificando em suas mãos ao mesmo tempo que Hefestos erguia o martelo. No entanto foi um flash prateado que atravessou a distância e se fincou num dos olhos da fera que atirou sua presa para um canto qualquer. Poseidon se virou e seus olhos se encontraram com os da senhora da sabedoria. O sorriso foi inevitável. 

 

Anfitrite recuou cansada. Os olhos se estreitando para a legião a sua frente. De seu braço direito, onde um profundo corte repousava, escorria icor dourado. Todo seu corpo tremia pelo esforço, a batalha já seguia em seu terceiro dia e seu estado estava deplorável, tanto física como mentalmente, a deusa estava acabada. No entanto parecera ter dado fim ao último dos monstros, havia cumprido seu papel, os cidadãos estavam a salvo e não falhara com o seu povo.

Permitiu que seus olhos se fechassem por um segundo. Um segundo. Foi o tempo necessário para que sentisse a dor lancinante que atravessou seu abdômen. Os olhos se arregalaram, as lágrimas brotando, encharcando seu rosto e inconscientemente ergueu a lança que carregava em sua mão esquerda, sentiu a arma atravessar algo e finalmente conseguiu focar no rosto a sua frente, lhe era tremendamente familiar. Tinha o corpo totalmente recoberto por conchas, como se sua própria pele houvesse se fundido junto às pequenas pedras. O cabelo curto e castanho escuro, assim como o seu, se esvoaçou quando o homem a sua frente ergueu o braço, sua mão fora arrancada pela lança da senhora do mar, todavia o mesmo não emitiu som algum, nem mesmo um grito. Ergueu a espada banhada com o sangue dourado da deusa e a abaixou, dúzias de monstros surgiram cercando ambos, telquines, serpentes marinhas e Leviatãs se agruparam, esperando apenas uma ordem.

A senhora do mar recuou mais alguns passos e sua ferida pareceu pulsar, o sangue se mesclando a água ao seu redor, seus dentes trincaram e firmou a lança no chão, como uma bengala de apoio, quando falou, sua voz parecia rachada e quebradiça.

—Por que... Nérites?

—Irmã...- sussurrou o homem, antes de com um movimento da mão ordenar o ataque. - Eu sinto tanto...

Ao seu redor tudo pareceu congelar, a surpresa pela traição ainda estampada em sua face, mil pensamentos rondando sua mente quando por fim tomou uma atitude. Largou a lança e suas mãos voaram para seu ferimento, fora profundo demais e sabia disso, sabia que não possuía chances, mas seus súditos sim, e essa chance lhes seria dada. As mãos começaram a brilhar assim que abriu mais a ferida, os dedos adentrando a pele e se aproximando do coração, uma luz azulada partia de dentro de seu corpo sendo expelida pelos olhos e boca, alguns monstros recuaram, outros corajosos tiveram a audácia de seguir em frente. Mas quando o primeiro deles encostou na deusa uma única lágrima dourada escorreu pelo seu rosto e seu corpo explodiu numa supernova de energia divina. Tudo num raio de meio quilômetro foi dizimado, as proteções mágicas do castelo sacudiram com a intensidade do golpe e começaram a ruir. Por um breve momento pôde ser visto um espírito transparente de forma afeminada vagar pelo local, para então simplesmente desaparecer, como num ato de mágica.

Ao longe uma figura entristecida e masculina observava, sangue escorrendo de onde sua mão fora decepada, os olhos azuis estavam tristes e carregados de remorso, mas totalmente sem lágrimas, num pequeno turbilhão de algas marinhas o mesmo desapareceu, sem ter a ousadia de olhar para trás.

Da esposa de Poseidon. Da rainha do mar. Só restou a coroa.

Os quatro deuses se prostraram à frente do último inimigo, a enorme serpente marinha sibilou e suas três cabeças se ergueram, como se quisesse demonstrar que não possuía medo algum e que acabaria com todas as divindades a sua frente.

—Eu preciso que a distraiam, irei preparar o bule e selarei sua essência, apenas me deem um pouco de tempo- explicou o deus das forjas para seus companheiros, que assentiram, investindo contra a fera.

Rápido como um raio o monstro se esquivou dos ataques dos três deuses, o tridente de Poseidon atravessou a fenda entre seus pescoços esguios, a flecha de Ártemis foi abocanhada por uma das cabeças, sendo destruída com uma única mordida. Atena se afastou um pouco, mantendo-se a frente de seu irmão, pronta para protege-lo se algo viesse em sua direção. Sua lança, um pouco maior que seu corpo se materializou em suas mãos quando a fera se impulsionou para frente, atirando Ártemis e Poseidon para lados opostos, as três mandíbulas abertas tentaram arrancar-lhe a cabeça, mas com um movimento gracioso a deusa se esquivou fincando sua lança o mais profundo que podia no dorso da criatura.

Afastado da batalha Hefestos mexia furiosamente em minúsculas engrenagens de seu bule, uma das mãos brilhava em energia amarelada enquanto o senhor das forjas punha sua própria magia na sua criação. Algumas criaturas tentavam se aproximar do deus, mas de sua cintura, onde um cinto de ferramentas de encontrava, partiam braços mecânicos, portando monstruosas adagas que destruíam tudo que aproximasse do ferreiro.

Ártemis se ergueu de uma pilha de entulhos confusa, o mundo girava ao seu redor. Estreitou os olhos e se obrigou a voltar para a luta, estavam com sérios problemas e perguntava a si mesma como Poseidon conseguira segurar tal batalha sozinho e por tanto tempo. Puxou uma flecha de sua aljava, e mirou numa das cabeças da fera, quando disparou a água ferveu ao seu redor e a flecha brilhou em prateado, atingiria em cheio a cabeça central, então ela se dividiu, literalmente. Os três pescoços partiram em direções diferentes ao mesmo tempo que um monstro se tornara três. E apesar de serem menores, a deusa da caça tinha certeza que eram mais velozes e talvez se enfrentados separadamente, infinitamente mais perigosos. O ataque direto de um deles a arrancou de seus devaneios. Empunhando duas facas de caça tão longas quanto seus braços, a senhora das florestas se atracou com a fera.

A lança de Atena desceu mais uma vez sobre o seu oponente, desde que se separara em três, havia ficado mais rápido e mais perigoso. Xingava mentalmente seu irmão pela demora que estava levando para ativar o bule. Ergueu o escudo quando o monstro tentou lhe arrancar um dos braços, o bronze celestial se chocou contra os olhos de seu oponente num impacto tão forte que inconscientemente largou o escudo, estava indefesa, a mandíbula aberta mais uma vez veio em sua direção, ergueu a lança que emitiu um brilho acizentado, a arma perfurou o a parte superior da boca da criatura, todavia ela não parou o ataque. Se preparou para o impacto, mas ele não veio. Quando abriu os olhos viu Poseidon a sua frente, segurando seu oponente pelo rabo e como um chicote fez os dois monstros se chocarem, se enroscando entre si.

—Você está...- tentou falar o deus, mas foi interrompido pelo grito do senhor das forjas.

—Preciso que as três partes se unam novamente! Só temos uma chance para isso! Apenas uma chance para a vitória! Façam com que elas se aproximem o máximo... Deve ser o suficiente!

—Como se fosse fácil!- berrou Ártemis no momento em que atingiu seu inimigo com uma flecha explosiva, fazendo o mesmo ser atirado contra as outras duas serpentes marinhas, metade de seu corpo havia desaparecido juntamente com a explosão. 

O enviado do Principio não era tolo, e as três partes partiram nadando em direções diferentes, se afastando o máximo possível dos deuses. Não adiantou muito. Poseidon ergueu o tridente que brilhou em energia verde, a água ferveu ao seu redor quando o deus explodiu em energia divina com um último aviso.

—Quando minha magia acabar, estarei totalmente indefeso e precisarei de sua proteção.

—Hm...- sussurrou Atena em deboche. - Parece que o velho barba de cracas não consegue se defender sozinho. 

O tridente foi erguido acima da cabeça de seu mestre e em seguida começou a ser girado, a água se curvou para o seu senhor, repetindo os movimentos de Poseidon e criando um gigantesco redemoinho subaquático, as tresleras foram pegas no raio de alcance do ataque e não conseguiram escapar, se aproximando cada vez mais do centro de poder, onde Poseidon, Atena, Ártemis e Hefestos não pareciam ser afetados. As criaturas utilizavam de toda sua força para tentar escapar da correnteza, mas vez ou outra, flechas explosivas voavam em suas direções, as obrigando a recuar cada vez mais até o centro. O fluxo da correnteza se tornou cada vez mais lento, até que Poseidon tombou sobre seus joelhos fincando seu tridente no solo em busca de apoio. As três feras sibilaram e atacaram como um, abocanhando a lança da deusa da sabedoria e a atirando por cima dos destroços quando a mesma tentou defender Poseidon, voltaram-se para Ártemis e tentaram abocanha-la, a deusa pulou e rodopiou se esquivando dos ataques, a água ao seu redor deixando seus movimentos mais lentos. Teria sofrido um corte profundo no peito se sua irmã não tivesse atirado sua arma que se fincou na cabeça de uma das criaturas, mas não profundo o suficiente para fazê-la morrer.

Quando as três se prepararam para rasgar ao meio a deusa da caça, o senhor das forjas se meteu entre os oponentes, o bule sem tampa brilhava com alguns escritos em grego antigo, os olhos das bestas se arregalaram quando sentiram seu corpo se dissolver na água oceânica, que se tornava turva e era absorvida para dentro do bule, as criaturas se debatiam uma nas outras, sibilando nas mentes de seus oponentes.

NÃOOO, MALDITOSS!! MEU MESTRE NÃO ME PERDOARÁ...- a voz da criatura se mostrou presente pela primeira vez, desde que os aliados de Atlântida chegaram, perfurando a mente de todos os presentes até que se perdeu entre o mar de rosnados, quando por fim cessou totalmente, os últimos resquícios de sua essência sendo absorvida pelo bule, quando por fim não havia mais nada além de destroços da cidade à frente do deus, ele tampou sua arma, selando aquilo que causara tanta destruição até o fim dos tempos. 

—Está terminado...- sussurrou Hefestos.

O rei de Atlântida mal teve tempo de se erguer. A explosão abalou tudo o que restara da cidade e antes mesmo de ver, ele pode sentir, aquilo só podia ser causado pela real morte de um ser imortal. Quando sua energia divina é perdida para o ambiente, num contato imediato de algo tão puro como a imortalidade e algo tão impuro quanto os elementos da natureza, a interação entre ambos ocasiona numa reação tão catastrófica que destrói tudo o que toca. Naquele momento não importava os ferimentos de seu filho, não importava o sofrimento de seu general, não importava o agradecimento aqueles que se dispuseram a lhe ajudar, nada importava. Ele perdera sua deusa, perdera sua rainha, a dor era imensa, sentia seu peito arder como se queimasse na mais quente forja de Hefestos, seu coração estava dilacerado, pois mesmo antes de ver, sentiu sua partida.

—Não...- sussurrou Poseidon- Não... Não... NÃOOO...

O deus rugiu. Nenhum outro se atreveu a lhe dar uma palavra, também haviam sentido a partida de rainha dos mares. Atena se aproximou e encostou as mãos nos ombros do antigo rival, se pudesse ser possível ver as lágrimas de alguém que chora embaixo da água, tinha certeza que veria as de seu tio, afinal, ele a amava. Amava tanto que chegara a doer. Então ela simplesmente sorriu, pura e sinceramente. Todavia o coração de Poseidon fora tomado pela dor e escuridão.

 

E por dias, toda a humanidade, sentiu a dor do deus do mar.


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Notas finais do capítulo

Bom, bom. Sei que prometi o Percy nesse capítulo, mas não deu pra encaixar, então ele vai aparecer no próximo de certeza!! Esse capitulo encerra o primeiro arco da história, a morte de Anfitrite é algo que eu realmente nunca havia pensado ou testado, ou sequer lido em algum lugar, assim como trabalhar o amor verdadeiro entre ela e Poseidon, não foi fácil... Então, o próximo cap. vai ser de ligação, ou seja, vai ligar dois arcos dessa história então não vai ser tão grande como esse
Preciso que lembrem em votar para o par do Percy, a votação vai encerrar em breve e Nix está na frente com Ártemis em segundo, por tanto votem!!
Também temos Quione, Héstia, Calipso... Etc!
Ps: Nérites realmente existe e é o irmão de Anfitrite!
Espero que tenham realmente gostado do cap e nos vemos no prox!
E então?? Comentários??
Ahh sim! Feliz Natal pessoal! E um ótimo 2017!!