Descanso escrita por Pokie


Capítulo 1
Único




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"Você e Al só dividirão o quarto se um dia eu quiser ter a casa demolida." Harry Potter e as Relíquias da Morte.

***

Não deu muito tempo do James aproveitar as vantagens de ser filho único.

Quando nasceu, Teddy já era parte da família. Alguns diriam que Ginevra nunca mimaria seus filhos de sangue, mas todas as mães de primeira viagem mordem a língua com o que prometem quando estão grávidas. E como não amar aquela coisinha mais fofa do mundo? Os primeiros anos de um filho são os mais importantes dos pais. Quando Ginny comemorou seu primeiro aniversário de mãe, já sabia que comemoraria o segundo e que, nele, teria mais um na família.

Ah, sim. O Albus. Quando ele chegou ao mundo, Harry pressentiu que seria um bruxo de dar orgulho. Não só pelos nomes que herdou, nem mesmo pela aparência do pai, ou dos olhos sensacionalmente verdes da avó. Ele chegou ao mundo com coragem. Quase que Ginny não consegue tê-lo... quase que algo terrível acontece. Mas quando Albus nasceu, foi um alívio para a família inteira. Mereceu herdar os nomes dos bruxos mais corajosos que Harry conheceu em vida. Albus Severus. Nasceu saudável, nasceu berrando, nasceu louco para se juntar ao James nas inúmeras e incansáveis maneiras de tirar a paciência de Ginny – e de Harry! – nos próximos anos da vida deles.

Ela também prometeu que seria a mãe mais legal de todas. Dizia ao Harry que ela não ia ser uma versão mais nova de sua própria mãe, Molly. Ninguém podia culpar a sra. Weasley por até hoje puxar as orelhas dos filhos. Ginny também tirava a satisfação de que daria conta. Se a mãe dela conseguiu dar conta de sete filhos, ela daria conta de dois.

Não tinha nem o que reclamar, então.

Mas parece que James e Albus nasceram com todas as qualidades necessárias para dar orgulho ao pai de Harry, ao falecido avô que eles nunca chegaram a conhecer, e também ao Fred. Eles não davam a Ginny nenhum descanso. Ela sacrificou sua carreira nas Harpias – do mesmo modo que faria com sua vida – pelos dois filhos, sem arrependimento algum. Não tinha como viajar pelo mundo nas ligas de Quadribol sabendo que a qualquer momento James roubaria a varinha do Harry para tentar explodir a casa. Ou o próprio irmão.

Acredite, ele já tentou fazer isso. Claro que ainda era novo demais para saber usar magia, mas costumavam brincar, James usava a varinha e Albus fazia a bagunça quebrando os enfeites da casa, explicando que eles apenas estavam “brincando de leviosa”. Sim, foi fácil perder a paciência com eles e prometeu a si mesma que se a próxima gravidez trouxesse um garoto – “não, Harry, não vamos colocar o nome dele de Rubeo!” – ela iria ter que apelar para algumas poções para não ter mais nenhum sono.

Então a pequena e doce Lily surgiu ao mundo com o intuito de botar ordem na casa dos Potter. Não porque ela já apareceu mandando nos irmãos mais velhos, mas James se viu na responsabilidade de irmão protegê-la do mal que a cercava. Não que houvesse muitos naquela época graças aos pais e tios, mas James e Albus eram os guarda-costas da irmãzinha. Não deixava ninguém mexer com ela.

Mas era um pensamento muito ingênuo achar que agora os dois começariam a se comportar.

Tudo, então, triplicou.

– James, solte a sua irmã, você vai derrubá-la!

James era confiante suficiente para achar que ele podia aguentar o pesinho de um ano da irmã, mesmo ele tendo apenas três. Tentava com muita boa intenção ajudar a mãe levando a Lily para o banho, mas acabava causando um certo pânico ao segurá-la pela barriga e correr com a pequenina pela casa. Lily dava risada, era divertida e, como diziam, uma Maria-vai-com-as-outras. No caso, com-os-irmãos.

Eu não vou ficar de fora não, a pequena Lily pensava.

Lily aprendeu a correr antes de andar. Era o que qualquer um faria no lugar dela para entrar no ritmo dos irmãos. Por que ela também não seria como eles? Por que ela também não daria trabalho? Mas Lily pelo menos tinha mais senso que os irmãos, porém isso não era algo tão bom assim. Ela tinha um jeitinho muito sorrateiro... enquanto Albus e James descaradamente davam trabalho, Lily era discretamente marota.

– Quem quebrou o vaso do Ministro? Quero saber agora.

– Eu vi a Lily brincando ali perto, foi ela!

– Lily? Pode se explicar?

– Foi o James!

– Foi a Lily!

– Foi o Al!

Era um ciclo sem fim. Um culpava o outro – era impossível descobrir.

Do mesmo modo que a casa era infestada de brigas, gritaria, correria, também era infestada de diversão. Quando o papai voltava para a casa só querendo despencar na cama para relaxar do estressante dia que teve no Quartel-General, apareciam três pares de mãozinhas puxando-o pelas vestes, mãos e, se deixasse, a Lily agarrada a perna dele. Uma vez ela sentiu tanta falta do pai – ficou dois dias fora, dois dias! – Harry teve que andar com ela em sua perna, como um bicho-preguiça. Não se desgrudava por nada do papai.

– Brinca com a gente, papai! Brinca, brinca!

– Queridos, ele chegou agora do trabalho. Esperem um pouco, deixem seu pai respirar.

Não adiantava Ginny dizer aquilo. Se para uma criança almoçar e jantar era perder tempo, imagine para três crianças esperarem o pai tomar banho? Era o fim do mundo.

Mas Harry enfrentou tantas coisas na vida, até parece que três crianças doidinhas o fariam cansar. De fato, Harry reunia forças e energias para brincar de chazinho com a Lily.

– Hum, o chá está uma delícia – ele dizia sorrindo, fingindo experimentar o chá inexistente da canequinha.

– Não é chá, pai! – ela disse toda zangada. O pai não podia, era proibido, não saber brincar com ela. – É cerveja amanteigada!

– Então está mais delicioso ainda!

Enquanto brincava, James e Albus faziam de tudo para atrapalhar a brincadeira. Roubavam as canequinhas, apareciam de supetão para assustar a Lily, derrubavam a mesa, faziam Harry correr atrás deles... Lily berrava de raiva pelos irmãos – finalmente quando o papai quer brincar comigo, idiotas!

Harry não era um típico pai, é claro. Salvou o mundo, era uma celebridade, morreu uma vez. Mas ele tinha uma vida tão normal dentro de casa. Uma vida que ele sempre desejou ter, não só para ele, mas para seus filhos, mesmo que nunca tivesse pensando “quero ter essa vida”. Afinal, era o que ele precisava depois de tantos problemas que enfrentou na adolescência. Brincar, correr atrás, chamar atenção, experimentar cerveja amanteigada de mentira para agradar a filhinha... ah, ele chamaria isso de descanso. O descanso que ele sempre mereceu ter.

Acordava exausto com a casa aos avessos, a cabecinha de Lily no seu ombro, James babando no sofá, Albus sem um par das meias e o joelho ralado – isso porque eles nem estavam n’A Toca, com seus outros primos.

Chegaram a uma idade que os três se achavam independentes. Lily não queria mais saber de colinho, queria é correr pelo Beco Diagonal para dentro da primeira loja aberta que encontrava e fazia amizade com todo mundo, tagarelando. James era o protetor da casa, destemido demais, o primeiro a querer se arriscar pelos outros. Um grifinório, sem sombra de dúvidas. Um pouco arrogante, mas com razão. Ele era bom em tudo.

Albus se tornou o mais quietinho. Sorria divertido, feliz, mas era um garoto de poucas palavras. Sábio até, pois dizia umas coisas que impressionavam adultos. Era todo misterioso, ficava com seus problemas para ele mesmo. Altruísta, bondoso, igual a avó. Talvez por ser o filho do meio, dividido pela atenção dos pais? Nunca se sabe. Apesar de entrar na brincadeira dos primos, era todo bonzinho, o que tornava bem fácil a amizade dele com a inteligente e madura Rose, filha dos pés ao cérebro da Hermione, que não se desgrudava de um entretido livro e morria de ciúmes do Hugo, o Weasley mais novo. Al e Rose tinham a mesma idade, entrariam em Hogwarts no mesmo ano, viviam só falando disso. Ninguém da família era da Sonserina, isso só podia significar que a casa não era, de jeito algum, boa. Mas Harry não se importaria com o resultado disso. Albus era um bom garoto, enfeitado de boas qualidades, que aprendia as coisas rapidamente. Daria um bom e diferente sonserino.

Lily parecia tão lufana. Amiga e divertida, leal de todas as formas, não tinha intrigas com ninguém. Ela tinha na cabeça que Teddy era seu melhor amigo, embora o garoto fosse muito mais velho e não tivesse a intenção de se vestir de mulher para brincar de “cerveja amanteigada” com ela. Lily sonhava em tê-lo na família. Vivia pedindo para Victoire casar com ele, o que deixava a linda filha da Fleur incapacitada de decepcionar a pequena. Como dizia Rita Skeeter em suas inúmeras colunas de fofocas, os adolescentes achavam uma maneira de respirar pelos ouvidos – a única explicação para ainda estarem respirando depois de tantas sessões de amassos.

Lily foi a que mais sentiu com a ausência do James no primeiro ano dele. Ginny era acostumada a acordar com um barulho da cozinha quando James inventava de fazer a própria comida, agora acordava com a figura baixinha de Lily no buraco da porta do quarto deles, mordendo ansiosa a manga da blusinha do pijama.

– Mamãe, o James está bem?

– Ele ainda não respondeu a carta. Você quer escrever uma para ele?

– Não – ela disse depressa. – Ele vai tirar sarro de mim.

– Tirar sarro porque a irmã dele está com saudades? Ele vai é ficar feliz, querida.

Quando foi a vez de Albus entrar em Hogwarts, Albus e Rose, Lily não aguentou mais. Ela queria ir para Hogwarts também! De todo o jeito! Mas ainda teriam mais dois anos! DOIS ANOS! Como conseguiria esperar? Foram os dois anos mais longos de sua vida.

Harry estava ansioso por ela, mas quando o dia que a filha finalmente comprou suas primeiras vestes de Hogwarts... Harry achou que ia chorar. Sério mesmo. Sua garotinha tinha crescido, não estaria mais com ele o tempo todo brincando de cerveja amanteigada. Em alguns anos ela estaria de fato tomando cerveja amanteigada de verdade. Aprenda a tirar as asas dos filhos, mas eles ainda eram tão novos, tão crianças...

– Não sou mais criança, pai! – Lily erguia o queixo indignada, quando Harry fazia questão de apontar que ela ainda era muito novinha para certas coisas. – Já tenho onze anos!

Só restava sorrir. Sentiria tanta falta dela, assim com sentia falta de James e Al todos os dias. Desde quando a casa começou a ficar tão... vazia?

– Quer ter mais um? – Ginny perguntou uma vez, aos risos, quando viu o marido cabisbaixo. As crianças não viam a hora de ficarem o mais longe dos pais, mas para os pais... era bem difícil ter os filhos longe. Uma contradição de saudade e alegria por vê-los direcionados finalmente a Hogwarts. Todos. Sabia que eles estavam em um lugar seguro, mas nem por isso deixava de pensar.

– Terei que deixá-los enfrentar os perigos sozinhos.

– Eles nunca estarão sozinhos – garantiu Ginny. – Assim como você também nunca esteve. Al e James estarão com ela.

– E ela estará pelos dois.

– São bons irmãos – sorriu. – Mas acho que o maior perigo que a Lily vai enfrentar por lá são os garotos correndo atrás dela.

Ginny gargalhou com a expressão aterrorizada de Harry.

– Você realmente não quer me ver tranquilo, não é?

Eles observaram suas crianças crescer com orgulho, e o modo como a presença deles trouxe vida e alegria para depois de tantos anos de medo e aflição que as consequências da guerra deixaram a eles, as suas memórias.

Seria um final feliz, mas não seria um final. De jeito algum.

Era só o começo.

O mundo agora está melhor para eles.


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Notas finais do capítulo

Seria preciso de uma loooooonga fanfic para passar toda a minha imaginação sobre a família Potter/Weasley. Mas, por enquanto, vai apenas essa one-shot! Espero que tenham curtido. Se sim, deixem aí um recadinho!