Zahira e Cam escrita por Bia Medeiros


Capítulo 2
Conflito entre seres


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Ufa! Espero que vocês gostem. Peço desculpa desde já se não conseguir manter uma frequência bacana, mas a faculdade tira toda minha vida. xD
Obrigada por lerem!

Bia.



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As flores de cerejeira caem pouco tempo depois de desabrocharem e, mesmo caídas, continuam sendo as flores mais belas da Ilha da Névoa Densa. Pequenas e delicadas, Zahira cresceu admirando as pétalas rosa e brancas dessas flores que, quando nas árvores, pareciam nuvens mágicas.

Era uma manhã fresca, as flores de cerejeira estavam espalhadas por todos os lados do jardim particular de Zahira Xigmad deixando tudo em um tom rosa muito vivo. Os girassóis por pouco não foram cobertos, mas as pequenas violetas não tiveram a mesma sorte. Zahira caminhava descalça pela grama e entre as plantas para sentir o poder que emanava da terra, o poder do Povo Sem Nome. Ela havia amadurecido por completo há dois ciclos do grande astro e podia sentir o poder que era o de ter se tornado uma mulher. Um poder muito grande que indicava que, naquele momento ela já poderia gerar uma criança em si.

Uma leve brisa tocou os longos cabelos avermelhados fazendo-a inspirar profundamente. Ela ouviu a porta de sua varanda abrir.

"Zahira Xigmad." Zahira virou e se deparar com Kaolin, sua dama de companhia "O Grande Mestre está pedindo sua presença em uma reunião."

"Obrigada, Kaolin, entrarei em um minuto."

Antes de voltar para o quarto, Zahira foi até a fonte de água sagrada que tinha em seu jardim. Esse é um tipo especial de água circula na Ilha da Névoa Densa abastecendo o povo sem nome, matando a sede e permitindo que os Visionários do Espelho D'água pudessem observar a situação de todos os planos. As águas sagradas são poderosas e têm um grande valor para o Povo Sem Nome, Zahira tinha conhecimento desse poder e de que ele ajudava na concentração e a calma de espírito. O que era de extrema importância, tendo em vista a runião com seres como aqueles que a esperavam.

A saleta de Chilon estava com as portas da varanda aberta. A luz calma da tarde entrava banhando tudo em dourado e uma brisa leve aliviava um pouco a tensão do lugar, ainda assim, o clima era muito pesado. Zahira bateu a porta antes de entrar na saleta, a atmosfera do lugar a fez arrepiar.

Haviam seis pessoas ali dentro naquele momento, todas estavam mudas e se encaravam com muita intensidade. De certa forma, a presença da neta do Grande Mestre parecia bem vinda. Ela pode sentir o alívio de alguns corações.

"Grande Mestre Chilon, peço sua permissão para participar deste encontro." Zahira se ajoelhou formalmente e seu avó se levantou, fazendo com que todas as outras pessoas o acompanhassem no movimento.

"Entre, minha neta." ele falou a segurando por um braço e a levando até a única cadeira vazia daquela saleta "Suponho que não precise apresentar a você todos os presentes, não é mesmo?"

Zahira Xigmad olhou para as cinco pessoas na sala. Um ser alto, de aparência andrógina e roupas brancas reluzentes. Estava acompanhado de uma anja de luz negra e belíssima. Este era o ser conhecido como o Novo Deus, ou Três Entidades, acompanhado de Acaiah, chefe da guarda dos portões celestiais. O terceiro ser parecia ser uma ninfa híbrida. Majestosa, mas com roupas simples, bordadas com fibra de plantas, musgo e flores silvestres. Seus cabelos eram da cor dos rios barrentos e desciam pelas suas costas leves como o vento. A Deusa Mãe, guardiã da Terra, Zahira lembrou que ela possuía vários nomes, tantos que era difícil de memorizar todos. Os últimos dois seres eram claramente do submundo. Roupas vermelho sangue, bordadas com fios de ouro. Grandes asas acizentadas e a malícia e astúcia eram possíveis de se observar no ser mais velho. O mais novo tinha os cabelos até o meio das costas, não tinha asas, mas apresentava a mesma malícia e astúcia. Eram Lúcifer e um de seus filhos.

"Posso dispensar apresentações, Grande Mestre." Zahira sentou-se, por fim, olhando nos olhos de cada criatura mística naquela sala "Deusa Mãe, para você estar aqui algo deve ter acontecido no planeta principal dos mortais."

A majestade da Deusa Mãe era quase esmagadora. Além de ser guardiã do planeta Terra, ela representava a época de prosperidade e a fertilidade feminina. Zahira Xigmad, recém tornada mulher podia sentir todo o poder com uma força tão grande que ela pode sentir seu ventre se contrair.

"Sim, Conselheira. Tenho que lidar novamente com a imprudência desses dois amantes de mortais." a fúria da deusa ecoou pela sala "Perseguiram meus seguidores por tanto tempo, quase os extinguiram, mas parece que isso não foi o suficiente. Agora eles estão matando uns aos outros. Grande Mestre, Conselheira Zahira, eu imploro para que convençam a esses lunáticos a persuadirem os seguidores deles. O plano mortal está um caos, não consigo mais interferir em nada profundamente. Três Entidades fecha os olhos para o que os seguidores dele provocam e Lúcifer gosta apenas de ver tudo se transformando em uma grande bagunça. E o nosso acordo?"

"Eu não fecho os meus olhos." a voz do Novo Deus soava como três vozes de tons completamente diferentes "Eu concedi aos meus seguidores a liberdade de escolher o que fazer com suas vidas. Desde que eles não se debandeiem para o lado de Lúcifer, podem entrar no Paraíso. Este foi o meu combinado!"

"Livre arbítrio... Ora, não é mesmo uma graça? Meus seguidores apenas agem em nome de alguns seguidores de Três Entidades apenas fazendo serviços que eles não conseguem fazer por medo. O meu combinado é nunca condenar aqueles que agem em favor de si mesmos. Desde que não prejudiquem outros mortais..." Lúcifer sorria o tempo inteiro. Um sorriso sábio e ácido.

"Não me importa o combinado que vocês dois fizeram! Não quero que acabem com um lugar o qual foi designado a mim! Um lugar que cuidei por tanto tempo. Minha casa e minha fonte de sobrevivência!"

Logo, a saleta encheu-se de vozes. Zahira Xigmad fechou os olhos e se concentrou no coração e na mente de cada um dos três naquela sala. Quando se sentiu sintonizada com todos, esvaziou todas as tensões superficiais. Ela sabia que nunca deveria controlar os sentimentos profundos das criaturas místicas, o resultado poderia ser catastrófico para ela e para outras coisas no universo.

"Agradeço, Zahira Xigmad." Chilon sorriu "Agora que todos estão mais tranquilos, por favor, me escutem. Não se sobreponham uns aos outros, ninguém irá se entender dessa forma."

"Ninguém compreende a dor que eu sinto, Grande Mestre! Exijo que esses dois aficionados sejam impedidos de controlar os mortais."

"Deusa Mãe, vocês vieram aqui para uma conferência comigo. Vieram pedir ajuda pra que o mundo mortal não sofra as consequências das suas imparcialidades. Pois bem, irei cumprir este papel, mas apenas se vocês permitirem que eu o faça. Lembrem-se que os seres humanos são a fonte de existência de vocês. Eles acabam com a crença e vocês deixam de existir."

Os seres ficaram quietos, por fim, e os corações silenciaram. Zahira podia sentir a calma que era quebrada por eventuais lapsos de ansiedade da Deusa Mãe, impaciência de Lúcifer e indiferença de Três Entidades. Ela havia se esquecido, no entanto, dos acompanhantes. E eles se manifestaram na primeira oportunidade.

"Grande Mestre Chilon, o Senhor Deus não o informou sobre a invasão das criaturas de Lúcifer. É isso que gera um grande mal estar no meu Senhor." a anja negra deu um passo a frente, Zahira ouviu seu coração pulsar por medo e inferioridade.

"Acalme-se, Acaiah." Zahira Xigmad não queria interferir com os sentimentos da guardiã, não enquanto ela estava irrequieta por estar ali "Ninguém irá te diminuir ou desprezar neste ambiente. Explique esta invasão para o Grande Mestre."

A súbita mudança de Acaiah não surpreendeu Zahira. Anjos têm a tendência de gostar de criaturas que falam com respeito e bondade. A simpatia é imediata, principalmente se a criatura for bela. São seres de mente bem simples.

"Se me permite," a anja começou limpando a garganta "faz algumas contagens de astros que fomos atacados por criaturas do submundo. Eles tentaram roubar o fruto da Árvore da Ciência, tivemos muitos problemas nos portões por causa disso. Nosso povo está com medo de encontrar com os seres horríveis do Inferno, eles não deveriam querer entrar nos Céus. São criaturas do submundo impuro!"

"Isto é verdade, Lúcifer?" o Grande Mestre parecia bravo.

"Sinto que devo desculpas por este acontecido." quem se pronunciou foi o filho de Lúcifer, um que Zahira não conhecia "Estes... Dissidentes fazem parte de um motim contra o meu pai. O líder da rebelião já foi capturado e está sendo punido em nossas masmorras. Vocês mantém nossas criaturas como reféns, gostaria que as entregasse para que sofram as leis do Inferno."

"Temo que isso não irá acontecer, Kamal Simas." Três Entidades entoou sua voz múltipla "Os três ladrões ficarão presos nas jaulas celestiais como uma lição para os súditos de seu pai. Ninguém entra pelos portões dos Paraíso sem a permissão de Deus."

"Vejo que é isto que está causando o grande mal entre vocês e prejudicando a Deusa Mãe. De uma forma ou de outra, vocês precisam resolver suas diferenças sem que prejudiquem os mortais." Chilon aparentava calma, mas estava furioso. Todos os problemas entre os seres místicos que exerciam controle sob os humanos acarretava em catástrofes e dores de cabeça para o Líder do Povo Sem Nome "A guerra entre vocês existe desde o início de sua adoração, não estão cansados? Não está na hora de unir forças ao invés de dividir o mundo?"

"Unir-me? Com Três Entidades? Grande Mestre, o seu senso de igualdade me diverte." Lúcifer riu maléficamente "Liberte meus criados, Três Entidades, e tudo será resolvido!"

"Não o irei, e se o for, irei lhe entregar as cabeças! Me unir com o Diabo... Nem mesmo se eu tiver que renunciar ao meu poder isso irá acontecer." Três Entidades era uma das criaturas mais irredutíveis dos planos astrais. Isso era óbvio em seu porte, suas vozes e seu semblante obstinado.

O egoísmo, a teimosia e a agressividade estavam deixando Zahira exausta. Era muito difícil manter o controle das sensações superficiais quando, claramente, havia uma profunda rixa entre ambas as entidades. Rixa que conseguia atingir até mesmo o mundo mortal.

"Eu nunca mantive um celestial preso em minhas masmorras, Três Entidades. Nunca o faria, pare de ser tão intransigente."

"E você não o fará nunca, pois meu povo me segue. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Nenhum deles irá se rebelar contra mim!"

"Ora, tem certeza disso, Santíssima Trindade?!" Lúcifer estava repleto de ironia "Eu, Lúcifer, o Anjo Caído, já fui um de seus melhores guerreiros. Onde estamos agora, não é mesmo?"

"Deveria nunca ter perdoado esta sua ação!"

"E ficar com a fama no mundo mortal de Deus da punição? Você odeia demais essa nomenclatura pra voltar a usá-la, não é mesmo."

A briga foi interrompida por batidas na porta da saleta, para a alegria de Zahira. A cabeça dela explodia como nunca antes, parecia que suas forças vitais estavam sendo sugadas. Kaolin apareceu informando que um mensageiro havia chegado do submundo com palavras para Lúcifer. Chilon levantou-se.

"Vocês devem conversar e chegar a conclusão de melhor grado para a real vítima, a Deusa Mãe. Lúcifer e Três Entidades não poderão sair dessa sala até que isso se concretize. Aqui é o terreno mais seguro de todos os planos, portanto, Kaolin..." Chilon olhou para sua neta e viu em seu rosto a exaustão "Não... Zahira Xigmad, fale essas palavras para o mensageiro de Lúcifer e volte com o recado que ele deseja dar. Eu mediarei esta discussão maluca sozinho."

"Grande Mestre..."

"Não se preocupe, minha neta. Tudo se encaixará."

Zahira saiu da sala, parcialmente grata, em companhia de Kaolin. Sentia-se trêmula e fraca. Controlar-se, muitas vezes, era pior do que utilizar a maior quantidade de poder possível.


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