Zahira e Cam escrita por Bia Medeiros


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Povo sem nome




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Existiu, ou ainda pode existir, um lugar que nunca foi alcançado pela mente dos habitantes do plano mortal. A terra do povo sem nome, ou a Ilha da Névoa Densa, propositalmente escondida dos olhos humanos por causa do seu enorme poder. Poder grande o suficiente para controlar os seres místicos, mas não grande o bastante para interferir com as vida dos mortais.

O povo sem nome é antigo, mais antigo do que o próprio universo, e sempre adotou a posição de mediador entre deuses opostos, anjos e anjos caídos, seres habitantes do paraíso e do mundo inferior, sendo neutros a qualquer bem ou mal e sendo justos antes de tudo. A Ilha sempre interferiu nos conflitos entre os seres que retêm grande quantidade de poder, pois sempre que ela vira as costas para esses grandes conflitos, o resultado é catastrófico para o mundo mortal. As criaturas que falam pela luz quase sempre são incapazes de relevar pequenas faltas e as outras criaturas, as que vivem no submundo e são julgadas pelos seres da luz, são quase sempre incapazes de produzir algo de bom que não afete aos seus próprios interesses. É justamente nessa ambientação que nossa história se inicia. Não existe uma contagem de tempo como a de nós, humanos, para o povo sem nome, portanto não será possível definir em anos mortais quando essa história aconteceu, mas posso garantir que foi há muito tempo atrás.

Chilon, líder do povo sem nome, estava seu nongentésimo sétimo ano de mandato, tendo sido eleito na sua ducentésima Lua. O líder mais novo da história da Ilha da Névoa Densa. O grande mestre gerou nove filhos, dos nove sete lhes deram netos. Isso quer dizer que Chilon tinha vários descendentes, mas a predileta dele era a criança chamada Zahira Xigmad, a mais sábia de todas, a que fez o filho de Lúcifer se apaixonar perdidamente. Não irei adiantar a história, no entanto.

Zahira Xigmad cresceu cercada pelo amor de seus irmãos, pais e avô. Filha mais nova do filho mais novo de Chilon, a dama de mente brilhante era sábia e dedicada, além de ter o incrível poder da empatia e leitura de sentimentos, um poder muito invejado e perigoso se caísse em mãos erradas. Zahira sempre se interessou por questões políticas e começou a trabalhar com seu avô muito nova, antes mesmo de chegar a maturidade. Era invejada por muitas crianças do povo sem nome, pois conseguia dançar lindamente e a dança era uma atividade muito importante para todos da Ilha, uma ação ritualística e bela. Costumava-se dizer que um bebê do povo sem nome saía dançando do ventre de sua mãe, pois os bebês aprendiam a dançar antes mesmo de aprenderem a andar ou a falar.

Zahira estava em sua pequena saleta lendo um livro antigo que explicava como se comunicar com deuses egípcios. Na nova era eles não estavam com muita credibilidade com os mortais, eram vistos como deuses antigos, históricos, mas como Chilon havia explicado para ela, esses mesmos deus poderiam voltar com outros nomes. Em tese, a forma de conversar com eles era a mesma, por isso ela se interessava tanto por livros que explicassem esses pontos de vista. Ela ouviu o som de vozes alteradas na saleta de seu avó, que ficava ao lado da sua própria, a distraindo da leitura. A curiosidade era algo incontrolável, então, silenciosamente, Zahira Xigmad levantou, caminhou até a porta da saleta de Chilon e abriu uma pequena fresta para poder escutar melhor ou até mesmo ver alguma coisa.

Um homem alto com asas acinzentadas e roupas incrivelmente ricas falava em um tom de extrema agressividade:

"Grande Mestre Chilon, eu compreendo o fato de você não querer tomar partidos ou lados, mas entregar a habitante Sem Nome para o anjo é um tapa na minha face! Permitir que isso aconteça é uma difamação, uma vergonha."

Zahira viu que Chilon estava impassível e seu semblante refletia obstinação.

"O que você quer, Lúcifer?" perguntou.

"Justiça! Quero que você entregue alguém para um de meus filhos. É o mínimo que você pode fazer, Chilon!"

"Justiça, você me pede? Justiça que é o que lhe falta, Lúcifer. Justiça e benevolência. Como eu poderia apenas entregar um dos meus cidadãos em suas mãos? Condenar um homem ou uma mulher ao sofrimento da solidão em seu plano. O Plano Infernal?"

"Não sou tão ruim como você pensa, Grande Mestre." o anjo caído ajeitou o cabelo em um movimento de nervosismo.

"Lúcifer, você quer justiça." Chilon levantou-se e se aproximou do grande ser. Mesmo sendo mais baixo, sua soberania naquele momento era evidente. Um dos poderes do povo sem nome, a soberania "Farei justiça e contarei tudo o que aconteceu. Sandala apaixonou-se pela criatura do Novo Deus, Nabi, e me pediu permissão para ir até o Paraíso e proclamar seu coração. Aconteceu que os sentimentos dela foram respondidos. Eu não determino o destino dos integrantes do meu povo, Lúcifer, os únicos que podem fazê-lo são eles mesmos. Eu lhes dou a liberdade de ir e vir sempre que desejarem."

Lúcifer sentou-se no suntuoso sofá e Zahira viu que havia mais alguém na sala, um rapaz que deveria ter a idade do seu irmão mais velho. Era um garoto bonito, com feições delicadas, quase femininas. Ele também usava roupas riquíssimas e estava quieto em um canto da saleta.

"Você não poderá fugir do destino, Grande Mestre Chilon." Lúcifer falou em uma voz cansada "Se um de seus cidadãos se apaixonar por uma de minhas criaturas. Você irá se negar a ceder? Como você fez com meu quinto filho no início do seu mandato?"

"Seu quinto filho desejava o uma mulher prometida! E ela não o desejava."

"Ora, faça me o favor..."

"Tudo bem, Lúcifer." Chilon cortou a lamúria "Se, e apenas se, um de meus cidadãos decidir seguir uma de suas criaturas até o fim do mundo, eu o permitirei. Nada a mais, nada a menos."

Lúcifer levantou-se do sofá com um semblante de satisfação.

"Não se esqueça de sua promessa, Grande Mestre. Eu não me esquecerei."

"Vá em paz, não provoque o meu povo enquanto estiver saindo." Chilon voltou a sentar-se em sua mesa e abriu um grande pergaminho.

Zahira Xigmad esqueceu que não deveria estar ali, ouvindo aquela conversa. O Rei dos Infernos quase descobriu sua espionagem, mas antes que ele chegasse a porta, ela se afastou e fingiu estar indo para outro lugar. Ainda assim, a criança cruzou com Lúcifer e seu filho, fazendo uma pequena menção a passar por eles. Antes de voltar para própria sala ouviu um pequeno chamado às suas costas. O rapaz que não deveria ser mais velho que seu irmão, estava a olhando inquisitivamente.

"Pois não?" ela falou com um pequeno sorriso voluntário.

"Eu vi que você estava bisbilhotando." ele falou com a voz pequena de quem ainda não havia amadurecido "Você não deveria ter feito isso."

"Ora, não vai ser você que irá me delatar, não é mesmo, pequeno lorde?" ela sabia que não deveria atiçar o filho do Senhor do Inferno, mas aquele menino a estava incomodando.

"Disso eu não tenho certeza." os olhos cinzentos como o caos do rapaz refletiram um riso sádico. Zahira pode jurar que ouviu uma risada sarcástica em sua cabeça.

Ela apenas se virou e entrou em sua sala, fechando bem a porta atrás de si, ainda ouvindo a risada maquiavélica na sua cabeça. Este foi o primeiro contato que Zahira Xigmad teve com Cam Azai, o décimo filho de Lúcifer.


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Notas finais do capítulo

Lançado!
E aí, o que acharam, meus caros? Espero realmente que tenham curtido, eu vou tentar manter um periódico bacana, então acompanhem!

@_bea3



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