Eu nunca pensei que me sentiria feliz novamente. Mas desde que passei a dormir no quarto de Katniss, esse sentimento me tomou por completo. Eu achei que seria apenas aquela noite, mas como num pacto mudo, quando anoitece, ou quando voltamos de algum jantar ela me olha, e eu simplesmente vou para o seu quarto ao invés de ir para o meu. Não dizemos uma só palavra. Ela apenas se agarra ao meu corpo, e em questão de minutos, adormece. Um sorriso idiota não sai do meu rosto, enquanto afago seus cabelos, e sinto sua respiração tão calma. Ela não tem mais pesadelos. Não precisa mais tomar remédios para dormir. Já eu, tenho que pedir a Effie remédios para me manter acordado durante o dia, pois minhas noites tem um propósito agora. Aproveitar cada segundo ao lado de Katniss, e isso se resume, a observá-la dormir. Pois eu não sei o que vai acontecer quando essa turnê acabar. Eu posso acabar sendo enxotado de sua vida novamente, então eu pelo menos teria mais coisas boas para relembrar durante meus dias sem sentido. Enquanto o trem se move tão rápido com destino ao distrito 2 e 1, decido não me deixar abalar. Será difícil pois eu me aliei a estes tributos e, de certo modo, tenho participação na morte de Cato. Para Katniss será ainda mais difícil, pois ela está diretamente ligada a morte de cada um deles.

Quando finalmente alcançamos a capital, sinto que podemos respirar. Aqui não temos que convencer ninguém do nosso amor, pois essas aberrações, que no fundo são apenas pessoas, compraram essa ideia, e nada vai tirar da cabeça delas, que estamos infinitamente apaixonados. Mas como não ficar apreensivo, sabendo que nenhum beijo, nenhuma declaração, nada do que fizemos foi o suficiente para acalmar as coisas nos distritos? A prova disso, foi nossas aparições finais nos distritos 1 e 2, onde tivemos que sair escoltados, em meio a um grande tumulto. Não temos o que fazer. Apenas sorrir, e nos beijarmos perante a capital, torcendo para que a revolução tão temida, nunca comece.

Ficamos instalados em nossos antigos quartos no centro de treinamento. Esse lugar não me traz boas lembranças, e torço para que a minha presença seja o suficiente para Katniss dormir bem. Depois de uma bela refeição, Katniss convida a mim, e a Haymitch em tom casual para ir até o telhado. Assentimos, e a seguimos, eu já sabendo que algo não está certo. Quando chegamos ao telhado, olhamos em volta a procura das câmeras, e ficamos em um lugar onde achamos que teremos alguma privacidade. Olho para Katniss ansioso, e ela, sem pestanejar dispara:

– Estive pensando, e acho que devemos nos casar.

Olho para ela, e depois para Haymitch e vejo que ele não sabia desses planos, pois está tão surpreso quanto eu.

– Katniss – começo, torcendo para que ela não esteja falando sério. – As coisas não são assim. Temos apenas que continuar fingindo. Algum dia nos veremos livre disso, não podemos simplesmente...

– Espere.... – Haymitch me interrompe. – Até que você teve uma boa ideia docinho. As pessoas daqui ficarão eufóricas com essa notícia, e seria uma confirmação da veracidade do amor de vocês para os distritos.

– Haymitch, você não pode concordar com isso – digo, e minha voz falha.

Katniss me encara.

– Um dia isso terá que acontecer Peeta, acorde. Por que não agora? – ela pergunta, com a tristeza estampada em seu olhar.

– Certo. Então, vamos nos casar – digo, e volto para o meu quarto sem olhar para trás.

Me jogo na cama, num misto de choque e tristeza. Percebo que temos que tomar cuidado com o que desejamos. Passei toda a minha vida desejando me casar com Katniss um dia, e agora isso está acontecendo. Mas eu me esqueci, de desejar que fosse algo verdadeiro da parte dela também. Como se casar com a pessoa que você ama, sabendo que na verdade não é você que ela quer? Dessa vez, o conselho de Haymitch, não vai ser de grande ajuda. Pois como poderei fingir que é real, vendo toda aquela tristeza no olhar de Katniss? São em momentos como esse, que desejo ardentemente ter feito as coisas diferente. Por que eu não comi aquelas malditas amoras? Enquanto as lágrimas, minhas tão fiéis companheiras, fluem livremente por meu rosto, me pergunto até quando aguentarei isso. Até quando, aguentarei colocar um sorriso no rosto, e fingir que está tudo bem, diante de pessoas que não se importam nem um pouco comigo ou com Katniss. Eu poderia passar o resto da minha vida sofrendo, eu não me importaria com isso, se soubesse que Katniss está livre, e feliz com quem quer que fosse a pessoa que ela escolheu amar. O que me machuca, profundamente, é saber que isso não vai acontecer, pois ela está presa a mim, talvez para sempre. Enquanto tento aceitar o fato de que realmente vou me casar com ela, sinto a tristeza me engolindo, numa situação que devia fazer de mim, a pessoa mais feliz do mundo.