Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 6
Capítulo 6




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Pacificadores, surgem de todos os lados impedindo a visualização do cadáver do idoso. Katniss se recusa a sair de lá, fazendo meu esforço de arrastá-la ser quase em vão. Um grupo deles vem ao nosso encontro, nos empurrando para porta, enquanto os outros, mantém armas apontadas para a multidão totalmente apavorada. Um pacificador corpulento, começa a pressionar Katniss que insiste em se mover lentamente. Eu o empurro para impedir que ele a machuque, e por sua vez, ele me olha furioso.

— Estamos indo! – grito, me pondo entre ele e Katniss. - Entendemos, certo? Vamos, Katniss.

Katniss finalmente reage, enquanto eu a envolvo e voltamos para dentro do velho Edifício da justiça. Os pacificadores nos seguem mais alguns metros, e depois voltam para conter a multidão. Haymitch, Effie, Portia e Cinna parecem aliviados quando chegamos.

— O que aconteceu? — Effie logo pergunta. — Nós perdemos a refeição depois do belo discurso, e então Haymitch disse que pensou ter ouvido um tiro, e eu disse que era ridículo, mas quem sabe? Há lunáticos em todos os lugares!

— Nada aconteceu, Effie. Um velho truque de fogos de artifício — digo, para evitar que Effie faça um escândalo. Acho que isso não fazia parte dos seus planos para a turnê. Mal termino de falar, mais dois tiram estouram lá fora. Estremeço. Quem pode ser agora? Katniss fica pálida, e eu olho imediatamente para Haymitch, sem entender o que está acontecendo.

— Vocês dois. Comigo — ele diz, como se compreendesse que eu preciso de respostas, de ajuda.

Katniss e eu o seguimos imediatamente. Passamos por alguns pacificadores, que nos olham sem interesse, já que pelo jeito o caos lá fora é mais interessante. Haymitch nos guia por uma esplendorosa escada e logo chegamos a um cômodo enorme cheio de flores, com um teto extremamente alto, com flores, frutas, e anjos entalhados. Haymitch habilmente arranca nossos microfones e os enfia dentro das almofadas de um velho sofá. Ele olha ao redor e recomeça a andar, nos levando por escadas torcidas e gastas pelo tempo, corredores estreitos e portas trancadas cheias de pó. Me pergunto se ele sabe onde está nos levando, e se sim, como ele sabe. Alcançamos uma pequena escada que leva até um alçapão, que quando empurramos para o lado, vemos imediatamente que estamos na cúpula do Edifício da Justiça. Como tudo nesse distrito, e um lugar grande cheio de coisas velhas, desde livros, móveis, até armas. Haymitch fecha o alçapão, suspira e se vira para nós.

— O que aconteceu? — ele pergunta.

Como Katniss não faz menção em falar, eu começo a contar o ocorrido na praça, atropelando as palavras, deixando transparecer o quanto estou assustado com tudo isso. Quando termino meu relato, percebo que estou todo suado, e tremendo. Haymitch balança a cabeça varias vezes, mas permanece em silêncio.

— O que está acontecendo, Haymitch? – suplico, enquanto ele olha fixamente para Katniss.

— É melhor você responder — ele diz se dirigindo a ela.

Então eu estava certo. Ela sabe de algo que eu não sei. Pelo visto Haymitch também. Todos devem saber, menos eu. Tento me acalmar, quando Katniss finalmente começa a falar, com a cabeça baixa, e a voz trêmula. Ela me conta, sobre a visita do presidente Snow, sobre uma iminente rebelião de alguns distritos, e sobre o beijo com Gale. Sinto o sangue explodir em minhas veias, e me viro para uma janela imunda, fingindo observar a rua, numa tentativa de esconder as lágrimas que queimam em meus olhos. Não sei ao certo, o porquê dessas lágrimas quererem a todo custo sair. Se é por saber, que graças a toda aquela encenação na arena, que eu comecei, e por causa das amoras, a vida de Katniss agora corre perigo, ou se é por ouvir da boca dela, algo que eu sempre temi acontecer. Ela e Gale juntos.

— Eu deveria consertar as coisas nesse tour. Fazer todos que duvidaram acreditar que agi por amor. Acalmar as coisas. Mas obviamente, tudo que fiz hoje foi conseguir que três pessoas fossem mortas, e agora todo mundo na praça vai ser punido - Katniss diz, depois de um silêncio cortante. Ela se senta em um sofá velho com molas expostas, e enfia a cabeça nas mãos.

— Então eu piorei as coisas, também. Dando o dinheiro – digo, sentindo de repente uma raiva imensa, de tudo isso, até mesmo de Katniss por ter escondido coisas tão importantes de mim. Por ter escondido a relação dela com Gale, me fazendo todo esse tempo ter um pouco de esperança. Pego uma lâmpada em cima de uma caixa olho para o objeto, me sentindo tão tolo, me sentindo usado. Com toda a minha força jogo a lâmpada contra a parede. Me viro abruptamente e encaro Katniss.

— Isso tem de parar. Agora. Esse... esse... jogo que vocês dois jogam, no qual vocês contam segredos um ao outro, mas os guardam de mim como se eu fosse inconsequente ou estúpido, ou fraco para lidar com eles – digo, tentando controlar minha raiva, que só cresce.

— Não é assim, Peeta... — ela começa.

— É exatamente assim! — eu explodo. — Eu tenho pessoas com quem me importo, também, Katniss! Família e amigos no Distrito Doze que vão ser mortos se nós não consertarmos as coisas. Então, depois de tudo que passamos na arena, eu não tenho nem a sua confiança?

— Você é sempre de confiança, Peeta — diz Haymitch, colocando a mão em meu ombro. — E tão esperto em como se apresentar ante as câmeras. Eu não quis interromper aquilo.

— Bem, você me superestimou. Porque eu realmente ferrei tudo hoje. O que você acha que vai acontecer às famílias de Rue e Thresh? Você acha que eles vão conseguir suas partes do nosso prêmio? Você acha que eu lhes dei um futuro brilhante? Porque eu acho que eles terão sorte se conseguirem sobreviver a mais um dia!

Pensar nisso faz eu ter ainda mais raiva de mim. De Katniss. Pego outro objeto, uma estátua e arremesso longe.

— Ele está certo, Haymitch — Katniss diz, parecendo arrependida. — Estávamos errados em não contar a ele. Até na Capital.

— Até na arena, vocês dois tinham um tipo de plano, não tinham? Algo do qual eu não era parte.

— Não. Não oficialmente. Eu podia dizer o que Haymitch queria que eu fizesse pelo que ele me mandava, ou não mandava.

— Bem, eu nunca tive essa oportunidade. Porque ele nunca me mandou nada até você aparecer — digo com amargura. Mas estou sendo injusto, pois Haymitch só estava fazendo o que eu pedi. Mantendo-a viva.

— Olhe, garoto... — Haymitch começa.

— Não se incomode, Haymitch – digo, o interrompendo, para que ele não conte sobre como eu pedi para ele salvá-la, como eu lhe contei que a amava. Mais calmo, vejo que minha reação não foi justa, afinal eu também escondi coisas de Katniss. — Eu sei que você escolheu um de nós. E eu quis que fosse ela. Mas isso é diferente. Há pessoas morrendo fora daqui. Mais irão morrer a menos que nós sejamos muito bons. Sou melhor que Katniss diante das câmeras. Ninguém precisa me ensinar o que dizer. Mas eu tenho de saber onde estou pisando.

— De agora em diante, você será completamente informado — Haymitch promete.

— É melhor que eu seja — digo, antes de empurrar o alçapão e sair do cômodo deixando apenas um rastro de poeira para trás.

Volto perturbado para baixo, e um pacificador, nada gentil, me leva para o que será meu quarto, hoje. Não me assusta o fato de o quarto não ser tão exuberante. Não tem como ser aqui no distrito 11. Mas, em comparação com tudo o que vi aqui, é com certeza muito requintado. Não há cama, apenas um espaçoso sofá, um telão, flores, e um armário. Ao lado um banheiro. Me deito no sofá e levo as duas mãos a cabeça. O que eu vou fazer? Como continuar a enganar distritos que estão ávidos por guerra? Como mostrar ao presidente Snow que comer as amoras era nossa única opção? Essas perguntas fazem minha cabeça doer. Mas o que mais me entristece, que faz minha alma doer, é pensar em como conseguirei continuar essa viagem, dando todo meu amor a Katniss, sabendo que nunca foi real da parte dela? Sabendo que seus lábios se entregaram a Gale, sem farsa alguma? Sabendo que se eu fraquejar, quem vai pagar é Katniss?

Escuto uma batina na porta, e institivamente sei quem é.

– Entre Haymitch – digo, grato por sua companhia. Ele entra, fecha a porta atrás de si.

– Eu vim te pedir desculpas, garoto.

– Olha, não precisa, de verdade – me sento no sofá, dando espaço para ele sentar também. - Eu que tenho que pedir desculpas. É que, se eu soubesse de tudo... – minha voz começa a embargar.

Haymitch se senta e aperta meu braço.

– Hey, calma. Você não tem que pedir desculpas, não para mim. Você não devia ter gritado com ela, eu pedi para que ela não te contasse.

– Você acha que ela poderia me amar? Digo, se não existisse o Gale?

– Ora, porque você diz isso? Ela ainda pode te amar algum dia, com ou sem Gale.

– Por que você acha isso Haymitch? – pergunto olhando em seus olhos.

Ele não responde.

– Por que Haymitch? – insisto.

– Ela arriscou a vida para pegar a droga de um remédio para você. Ela preferiu morrer com você a ter que te matar. Quer mais que isso?

– Isso foi na arena. E depois? E quando voltamos para casa? Tem alguma coisa que faça você achar isso? – pergunto, num sussurro.

– Não.

Suspiro.

– Se ela chegou alguma vez a te amar lá na arena, você acha que esse amor acabou assim que vocês desceram do trem?

Haymitch sai, deixando a pergunta no ar.

Volto a me afundar no sofá, com ainda mais perguntas na mente. Essa é a questão. Ela chegou algum dia a me amar?


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