Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 45
Capítulo 45




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Meus olhos demoram para se acostumar a claridade desse lugar. As coisas ao meu redor parecem girar. Elas giram sem parar me deixando enjoado. Não faço ideia de onde estou. Ou do que está acontecendo. Ao meu lado, tem um armário. Ele é branco, assim como as paredes. E as luzes. Tudo é muito branco. Com muita dificuldade consigo virar minha cabeça para o outro lado. Há uma porta enorme, toda branca também. Mas sua maçaneta é dourada. Também brilha. Acho que é ouro. Um pouco acima de mim, tem um monitor. Ele faz um barulho estranho. Um bipe constante. É devagar e compassado. Acho que é o meu coração que está batendo. Mas não deveria. Eu não consigo me lembrar do que aconteceu. Ou do que está acontecendo. Onde está Katniss? Será que ela está aqui? Decido que está na hora de levantar. Mas tudo ainda gira, e eu estou um pouco hipnotizado com os bipes deste monitor. Me traz uma serenidade. Mas não, preciso achar Katniss. Quando tento me levantar, é que tomo conhecimento da dor que me acomete toda vez que eu tento mexer um musculo que seja. Meus olhos estão lacrimejando. Dói demais. Mas eu não posso ficar aqui. Tento gritar. Mas tem algo em minha garganta que me impede de falar. O bipe do monitor está se acelerando. Tento mais uma vez me levantar, mas desta vez um grito de dor escapa de minha garganta, mesmo com essa coisa dentro dela. Ouço o som de passos. Katniss está vindo. Ela vai me dizer o que aconteceu. E tudo vai ficar bem. Talvez seja apenas um sonho ruim. A porta se escancara, e para minha tristeza não é Katniss. Uma mulher alta, com um macacão branco, adentra a sala que estou. Uma moça da pele negra, vestida de branco também entra atrás dela.

Quero muito falar com elas, mas com essa coisa em minha garganta é impossível.

A mulher alta me olha demoradamente e em seguida sorri. Ela é muito bonita. Seu cabelo está preso num rabo de cavalo, e as pontas dele são rosa. Não. Ninguém dos distritos usaria um cabelo com as pontas rosas. Isso é coisa de gente da capital. Mas o que eu estaria fazendo na capital? O que Katniss estaria fazendo na capital?

O bipe do monitor está ainda mais acelerado.

– Sr. Peeta Mellark, meu nome é Moira, e eu sou a médica que está cuidando do seu caso – a mulher com dentes impecavelmente brancos me diz.

Solto uns grunhidos na tentativa de falar, mas é impossível. Ela parece perceber meu desespero.

– Crissi, desentube o paciente – a mulher diz, olhando na direção da moça negra.

A moça, primeiro vai até o armário e retira de lá uma seringa. Em seguida a introduz em meu braço. Instantaneamente sinto um formigamento em minha garganta. Minhas pálpebras ficam mais pesadas.

– Está sentindo algo diferente, Peeta Mellark? Algo como, um formigar em sua garganta? – Moira pergunta, gentilmente.

Eu apenas assinto, por não conseguir falar.

– Certo. Ótimo. Então faça, Crissi – ela diz, sorrindo.

Crissi, a moça negra, segura a máscara de meu rosto, e lentamente vai removendo o que está em minha garganta. Sinto náuseas. Mas consigo me controlar. Quando ela retira o que eu vejo ser um tubo, por completo, sinto uma falta de ar enorme, mas disfarço por medo de ela querer colocar aquilo em mim de novo. Pois eu preciso falar.

– Katniss está aqui? – consigo dizer, bem baixinho.

Moira estende sua mão e pega a minha.

– Você se lembra o que aconteceu, Peeta? – ela pergunta, cautelosamente.

– Não – sussurro.

– Peeta – ela diz, assumindo uma expressão sombria. – Você estava no massacre quaternário, se lembra?

Massacre? Acho que ela está enganada pois... pois... Oh, não. Não... O massacre. Vinte e quatro vencedores. A cabeça de Chaff cortada de seu corpo. Onde está Joanna? Finnick? Onde está Katniss?

– Moira, certo? Por favor, só me mostre Katniss. Eu preciso vê-la – imploro. Começo a tossir compulsivamente. Moira espera pacientemente até a tosse cessar. A outra moça, Crissi, sumiu do meu campo de vista. Tudo continua girando.

– Primeiro você tem que cooperar. Depois você poderá ver Katniss. Pode ser? – ela pergunta, apertando com afeto minha mão.

– Pode. – digo, engolindo a saliva com dificuldade. - Haymitch está aqui também?

Moira olha para baixo.

– Sim. Agora me diga, você se lembra, que você estava no Massacre Quaternário?

Assinto. Pois me sinto cansado de falar.

– Você se lembra o que aconteceu nos seus últimos minutos na arena?

Começo a pensar. Está tudo tão confuso. Eu me lembro de tudo desabar. Chaff. Ele está morto. Brutus havia me matado. Eu matei Brutus. Assinto.

– Peeta, você sofreu danos bem graves, quando Katniss Everdeen explodiu a arena. Quando te trouxeram até o hospital, você estava, praticamente morto.

– Mas e Katniss, ela fez o que com a arena? Ela está bem? E Johanna e Finnick?

Moira olha para o chão mais uma vez.

– Estão todos ótimos. – ela responde.

– Quando eu vou sair daqui? – pergunto.

Moira suspira.

– Escute Peeta. Como eu disse, seu caso não é tão fácil. Você sofreu traumatismo craniano. Seus dois braços estão quebrados. Sua clavícula também. O osso de sua perna está trincado. E tivemos que operar seu coração, devido ao contato que você teve com um campo de força algumas de suas veias, estouraram.

Olho para ela perplexo, tentando processar todas essas informações. Katniss explodiu a arena. Isso deve ter deixado os idealizadores, incluindo o Presidente Snow furiosos. Tenho que me certificar de que ela está bem.

– Digamos que você irá demorar um pouco para se recuperar. E ainda não posso afirmar que a cirurgia em seu coração foi cem por cento satisfatória – ela continua.

– Quanto... – gaguejo – quanto tempo faz que eu estou aqui?

– Fazem 12 dias que você está internado aqui – ela responde, olhando o monitor acima de mim. O bipe voltou a aumentar seu ritmo.

– Onde exatamente eu estou?

– Você está num hospital, Peeta. Na capital.

– Quero ver Katniss agora.

– Peeta, me desculpe mas agora não será possível – ela começa.

– Eu quero vê-la agora – grito. Moira não diz nada.

– Ela está mesmo aqui? - pergunto, sentindo meus olhos arderem.

O bipe do monitor está muito acelerado agora.

– Crissi! – Moira grita. – Entube o paciente novamente. Triplique a dose dos sedativos.

Ela faz menção em se levantar, quando eu consigo agarrar sua mão.

– Você disse que eu iria vê-la – grito, desesperado. As náuseas se tornam mais fortes. Eu mal posso respirar. – Você mentiu para mim.

Crissi injeta algo em meu braço. Tento a todo custo me mexer. Quero correr para longe daqui. Quero encontrar Katniss. Sinto meu rosto molhado por lágrimas. Minha visão vai se embaçando. Moira se livra da minha mão. Sinto um tubo sendo inserido em minha garganta. Sinto alguém enxugando minhas lágrimas. Tudo escurece. O que resta é o bipe do monitor, ficando devagar novamente.

Quando meus olhos se abrem novamente, tudo vem em uma velocidade impressionante em minha mente. Escuto o bipe familiar ao meu lado. Tudo ainda é branco. Estou num hospital. Na capital. Eu preciso ver Katniss. Com muito esforço, consigo mexer meu braço. E este revela um punhado de agulhas inseridas nele. Percebo que montes de tubos saem de meu corpo e se conectam a bolsas com líquidos transparentes, amarelados, esverdeados... Eu não posso mais ficar aqui. Aquele tubo está enfiado em minha garganta novamente. Eu mesmo vou tirá-lo. Começo por tirar as agulhas do meu braço. Estou tirando a quarta, quando uma voz me surpreende.

– O Sr. não deveria fazer tal coisa.

Congelo. Olho para o lado, e lá está, no canto do cômodo o homem de cabelos brancos. Sentado em uma cadeira branca. Lá está, o presidente Snow.

– Peeta Mellark. Tenho que admitir que admitir, é muito impressionante sua vontade de viver – Snow diz, se levanta e se aproxima da minha cama.

Me retraio.

– Deduzo, que há várias perguntas ainda sem respostas em sua mente. Vou tentar te ajudar. O sr. foi submetido a outra cirurgia cardíaca. Parece que todo o amor nutrido pelo srta Everdeen não fez muito bem ao seu coração.

Meu corpo se arrepia.

– Vejamos. Ah, lhe submeteram a um coma induzido, para sua recuperação ser melhor. Pois aqui, todos nós queremos apenas o seu bem. Então o sr. ficou mais alguns dias, vamos dizer, dormindo.

O bipe do monitor está se acelerando novamente.

– Eu sei que está querendo desesperadamente ver a srta Katniss Everdeen. Mas crei que isso não será possível – Snow diz, seriamente, com uma expressão de lamentosa.

O bipe do monitor está ficando cada vez mais acelerado. Eu não quero ouvir o que este homem tem para falar.

– É com pesar, que lhe informo, que Katniss Everdeen, está morta.

Sinto um liquido quente subindo por meu estomago. Ao mesmo tempo que sinto lágrimas em meus olhos. Meu corpo começa a se chacoalhar violentamente, enquanto eu começo a me engasgar com meu próprio vômito. Olho para Snow. Há um brilho impassível em seus olhos.

– Enfermeiras – ele grita – o paciente está convulsionando.

Ele está mentindo. Katniss não está morta.

Pessoas entram correndo pela sala. Eu vejo Moira. Ela vai trazer Katniss aqui, ela disse que iria trazê-la. O bipe do monitor está extremamente acelerado.

Katniss não está morta. Não pode estar. Meu corpo chacoalha ainda mais. Estou sem ar.

O bipe do monitor parou.

– Vamos reanimar ele – Moira grita.

Uma mulher rasga a roupa em meu peito. Katniss não pode estar morta.

– 1, 2, 3, vai – Moira grita, e a mulher pressiona duas coisas contra meu peito e a sensação é mesma que bater num campo de força.

Por favor, me deixem morrer, é tudo que penso. Meus olhos ainda estão vidrados no presidente Snow.

– Mais uma vez – grita Moira – 1, 2, 3, vai!

Outro choque, uma dor ainda mais aguda. O bipe voltou.

– Sr. presidente, com todo o respeito, eu lhe disse que o paciente ainda estava frágil para notícias... assim – Moira esbraveja.

– Me desculpe doutora. Mas ele tinha que saber, que a garota pela qual ele estava disposto a dar a vida, está morta.

Alguém está injetando algo em meu braço. Crissi está limpando o vômito do meu rosto.

– Troquem o tubo e os lençóis – Moira ordena e abandona a sala.

O presidente se aproxima ainda mais da minha cama.

– Sinto muito. Mas ela realmente está morta – ele diz e se encaminha para a porta.

Meus olhos vão se fechando, mas eu ainda tenho um último vislumbre do presidente Snow se virando para me olhar. E mesmo com minha visão embaçada pelas lágrimas, e pelos remédios, consigo ver o sorriso em seus lábios. Um sorriso de plena satisfação por enfim ter conseguido por fim a vida de Katniss. Me sinto sem propósito algum. Sem rumo, sem motivos para viver. Mas enquanto minha mente vai se entorpecendo, uma ideia me acomete. Eu vou me recuperar. E quando sair daqui a primeira e última coisa que farei, será matar Snow com minhas próprias mãos.

Eu irei vingar a morte de Katniss.

FIM!!!


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos os leitores da fic, a todos os comentários e recomendações! O apoio de vocês foi maravilhoso! Espero ter feito um bom trabalho! Espero ter agradado á todos! Logo logo começo A esperança pela visão do Peeta, conto com vocês para continuarem me apoiando! Beijinhos!