Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 41
Capítulo 41




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Gaios. São pássaros que tem a habilidade de reproduzir o que ouvem. Katniss pega seu arco, e atira neles numa velocidade impressionante. Ela está totalmente transtornada. As veias em suas têmporas estão tão saltadas que parecem estar a beira de uma explosão. Cada vez que Katniss acerta um gaio, parece que mais 10 chegam ao lugar. Fico ajoelhado, observando o sofrimento de Katniss e Finnick. Quando ela percebe que não tem como matar a todos, e que terá que esperar durante uma hora até isso acabar, ela simplesmente se encolhe no chão e leva as mãos aos ouvidos.

– Temos que fazer alguma coisa – gemo.

– Não há nada que possamos fazer. A não ser pensar em algo para falar para eles, quando isso acabar – Johanna diz.

– Como assim? – pergunto.

– Como assim? Peeta, seja lá o que for que esses pássaros estão gritando, é sobre as pessoas que esses dois amam. Pode ser que eles estejam torturando a doce irmãzinha de Katniss, pode ser que não. Isso vai abalar eles. Pode ter certeza. Eu sei como é isso.

Dizendo isto, ela se ajoelha ao meu lado e olha com tristeza para Finnick.

– Eu sei como é ver as pessoas que você ama sofrendo, e não poder fazer nada para ajuda-las. Pelo contrário, tudo o que você faz, só machuca-las ainda mais – ela diz, olhando para o chão.

– Johanna... – começo, compadecido por descobrir esse lado sensível dela.

Mas em resposta, ela coloca um dedo em meus lábios e balança a cabeça.

– Não quero que você sinta pena de mim. E eu tenho certeza de que Prim não está sofrendo, ou morta, pelo menos – ela diz, e se levanta abruptamente.

– Quando os jogos estão próximos ao fim, as famílias viram quase celebridades. Tem as entrevistas todas aquelas bobagens – ela continua.

– Onde você quer chegar com isso? – pergunto, voltando meu olhar para Katniss rolando no chão, em total desespero.

– Como eles iriam entrevistar a família de Katniss, ou Finnick se eles estivessem mortos? – ela grita, e levanta as mãos num gesto impaciente.

– É claro, é claro. Obrigado por me lembrar disso. Espero ser o suficiente para acalmar eles – digo, me sentindo angustiado. O tempo parece não passar.

– Acho que não será, mas é o que temos – ela diz, e se senta de costas para a cena de Finnick sangrando e com as mãos tapando os ouvidos.

Permaneço com as mãos no muro que me separa de Katniss, os olhos fixos nela, desejando de alguma forma poupá-la desse sofrimento.

Depois do que parece ser uma eternidade, meu corpo cai por terra, e eu percebo que o muro invisível se foi. Juntamente com os malditos pássaros que voam das árvores e somem antes de alcançar o céu. Johanna corre até Finnick, e eu engatinho até Katniss. Alcanço seu corpo com uma urgência desconhecida por mim. De repente tudo o que eu quero, é tirá-la daqui. Ignoro minha falta de ar, a dor latejante em minhas costas, e a pego no colo, quase correndo para fora da selva. Não me importo se Johanna e os outros estão me acompanhando, apenas caminho para longe dali. Katniss permanece de punhos cerrados, as mãos em volta dos ouvidos, todo seu corpo treme. Meus olhos ardem, enquanto eu vejo a pessoa que mais amo, tendo de passar por coisas assim. Não posso chorar, pois este é o momento em que tenho de ser forte, para dar o apoio que ela precisa. Eu não vou chorar. Não agora.

Engulo o nó em minha garganta.

Katniss finalmente abre os olhos e tira as mãos dos ouvidos. Quando seus olhos cinzentos encontram os meus, o pavor neles se dissolve um pouco, em alívio.

— Está tudo bem, Katniss — sussurro.

— Você não os ouviu — ela responde, a voz fraca.

— Eu ouvi Prim. Logo no início. Mas não era ela — digo, confiante. — Foi um gaio.

— Foi ela. Em algum lugar. O gaio apenas gravou sua voz – e quando ela diz isso, sufoca um soluço.

— Não – grito. - Isso é o que eles querem que você pense. Da mesma forma que eu me perguntava se os olhos de Glimmer estavam na mutação no ano passado. Mas aqueles não eram os olhos dela. E isso não era a voz de Prim. Ou se era, eles tomaram de uma entrevista ou algo assim e distorceram o som. Fazendo isso parecer o que ela estava dizendo.

Coloco-a no chão, e me ajoelho ao seu lado. Envolvo meus braços ao seu redor. Ouço passos, e me viro a tempo de ver Johanna amparando Finnick, e Beetee andando na frente, parecendo bem recuperado.

— Não, eles estavam torturando-a — Katniss responde fracamente. — Ela provavelmente está morta.

— Katniss, Prim não está morta. Como eles poderiam matar Prim? Estamos quase no final, oito de nós. E o que acontece então?

— Mais sete de nós morrem — ela responde, sem esperanças.

— Não, em casa. O que acontece quando chegam ao final oito tributos nos Jogos?

Levanto seu queixo delicadamente, forçando-a a me encarar. Seus olhos correm de um lado para o outro, em total desespero. Tenho que controlar ainda mais minha vontade de cair em lágrimas. Porque estão fazendo isso á ela? Porque?

— O que acontece? Nos oito finais? – digo mais uma vez, mantendo firme o tom da minha voz.

— Nos oito finais? — ela repete, confusa. — Eles entrevistam a sua família e os amigos em casa.

— Isso mesmo — digo. — Eles entrevistam sua família e amigos. E eles podem fazer isso se eles já mataram todos eles?

— Não? — ela pergunta, incerta.

— Não. É assim que sabemos que Prim está viva. Ela vai ser a primeira que eles entrevistarão, não vai?

Ela precisa acreditar em mim, mesmo que nem eu mesmo acredite totalmente.

— Primeiro Prim. Então, sua mãe. Seu primo, Gale. Madge — continuo, vendo a esperança florescer em sua expressão. — Foi um truque, Katniss. Um horrível. Mas nós somos os únicos que podemos ser feridos por eles. Somos os únicos nos Jogos. Não eles.

O silêncio paira no ar. Finnick se deixa cair no chão. Johanna aperta seu ombro gentilmente. Beetee brinca com sua bobina.

— Você realmente acredita nisso? – Katniss sussurra, por fim.

— Realmente — Digo, e afago seus cabelos, enquanto ela repousa sua cabeça em meu peito.

— Você acredita nisso, Finnick? — ela pergunta. Me sinto um pouco magoado por ela não acreditar apenas em mim.

— Isso poderia ser verdade. Eu não sei — ele diz. Esta é a segunda vez que vejo Finnick vulnerável de uma maneira que eu nunca desejaria ver. Ele ficou assim quando Mags se foi. E agora, quando alguém que ele ama, gritou por ele. — Eles poderiam fazer isso, Beetee? Pegar a voz normal de alguém e torná-la...

— Oh, sim. Não é mesmo tão difícil, Finnick. Nossas crianças aprendem uma técnica semelhante na escola — Beetee confirma. Para meu alívio. Todo esse trabalho, se Beetee me desmentisse, eu mesmo o mataria.

— É claro que Peeta está certo. O país inteiro adora a irmãzinha de Katniss. Se eles realmente a matassem assim, eles provavelmente teriam uma revolta em suas mãos —Johanna diz, triunfante. — Não queremos isso, não é? — Ela joga a cabeça para trás e grita: — Todo o país em rebelião? Não queremos nada disso!

Quase me levanto para tampar sua boca. Mas, essa é Johanna Mason. Faz o que quer, fala o que quer. E que mal faz falar algumas verdades, quando todos vamos morrer mesmo?

Em seguida, Johanna pega a cavilha, e algumas cascas.

— Estou pegando água — ela anuncia.

Katniss se agita, e se estica, agarrando a mão dela.

— Não vá lá. Os pássaros... – Katniss diz, se desesperando novamente.

— Eles não podem me machucar. Eu não sou como o resto de vocês. Não há mais ninguém que eu amo — Johanna diz, olha para mim, e caminha decididamente em direção a selva.

Enquanto Katniss se aninha novamente em meu corpo, fico imaginando como seria se todas as pessoas que eu amo fossem tiradas de mim. Dou um beijo na testa de Katniss, que ainda treme, e me sinto grato por tê-la comigo. A capital não terá esse prazer de tirá-la de mim. Só estremeço ao pensar em como ela ficará quando me tirarem dela.


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