Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 40
Capítulo 40




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Meus dedos não suportam mais segurar nas rochas. Penso que é aqui, e agora que vamos todos morrer, dessa maneira patética. Não que eu esperasse morrer como um herói, mas... Tudo o que passamos, para morrermos assim? E como num passe de mágica, tudo para de rodar. Focalizo minha visão e vejo Johanna e Finnick também pendurados, e por fim, vejo Katniss. Quero correr até ela, mas estou tonto, e enjoado. Me sento e tusso expelindo saliva com areia. Os outros estão ofegantes e tossindo também. Então percebo que Beetee não está entre nós.

— Onde está Parafuso? — Johanna pergunta, enquanto cospe areia.

Olhamos para os lados, e por mais que eu tente me controlar, uma sensação estranha me atinge. Aflição, preocupação. Mas Finnick o localiza, e o resgata. Mais um pouco, ele teria se afogado. Olho para Katniss, tentando decifrar sua expressão. E eu posso quase ler seus pensamentos. A arma de Beetee.

– Cubram-me – ela avisa, e mergulha na agua, nadando rapidamente até o corpo de Wiress. Fico atento, e ao menor sinal de movimentação me agito.

– Relaxa, eu estou de olho – Johanna diz, com sua voz aparentemente fraca.

– Restam poucos – sussurro.

Um aerodeslizador se aproxima, Katniss chega ao corpo de Wiress boiando, antes da garra que irá leva-la.

– Você sabe que nós não vamos tentar matar vocês – Johanna sussurra.

– Como posso ter certeza disso? – eu a questiono.

Katniss arranca com um movimento brusco, a bobina das mãos de Wiress, e nada de volta, tentando manter seu rosto afastado da agua misturada com sangue.

– Você não nos mataria. Consequentemente Katniss também não. Ao menos alguma coisa em sua vida é recíproca, padeiro – Johanna retruca com uma expressão divertida no olhar.

Sorrio. Ela sorri de volta.

Katniss volta a superfície, a tempo de ver o corpo de Wiress pairando no ar, sendo carregada pelo aerodeslizador. Ficamos em silêncio. Beetee olha fixamente para a bobina em seu colo, e eu posso sentir a culpa emanado dele. Afinal, ele pediu para Wiress lavar aquilo, e ela foi morta. Mas, quem poderia adivinhar que isso aconteceria? Katniss parece ainda mais sensibilizada. Ela caminha lentamente até mim, e me abraça demoradamente. Como eu senti falta disso. Enterro meu rosto em seus cabelos ainda molhados, mas não me importo. Estou aqui, ainda vivo, com a garota que amo, e isso é tudo que eu preciso para seguir em frente, e fazer com que ela vença.

— Vamos sair dessa ilha fedorenta — Johanna diz, quebrando o silêncio.

Juntamos nossas armas que não foram arrastadas pra muito longe, e decidimos ir para a praia das doze horas, para não arriscar se surpreender com alguma ameaça, agora que estamos perdidos. No caminho, uma discussão se forma, acerca das sessões. Eu não devia ter subestimado Plutarch. Eles não queriam nos matar, queriam apenas nos confundir, para não sabermos mais sobre as sessões dessa arena relógio. E eles conseguiram.

— Eu nunca deveria ter mencionado o relógio — Katnis lamenta. — Agora eles tiraram essa vantagem perfeitamente.

— Somente temporariamente — Beetee fala. — As dez vamos ver a onda de novo e estar de volta na pista.

— Sim, eles não podem redesenhar toda a cena — concordo.

— Isso não importa — Johanna esbraveja. — Você tinha que nos dizer, ou nunca teríamos mudado o nosso acampamento em primeiro lugar, desmiolada.

Sufoco uma risada. Adoro o rubor que sobe no rosto de Katniss toda vez que Johanna se dirige á ela.

— Vamos, eu preciso de água. Alguém tem um bom pressentimento? – Johanna pergunta impaciente, quando ficamos parados sem saber qual caminho tomar. Estamos totalmente perdidos. Katniss toma a dianteira, e eu a sigo, ninguém a questiona. Não temos noção pra onde isso dará. O caminho escolhido, nos leva até a selva. A temida selva.

— Bem, deve ser a hora do macaco. E eu não vejo nenhum deles lá — digo, olhando pelas espessas vegetações. — Eu vou tentar furar uma árvore.

— Não, é a minha vez — Finnick diz, e me olha de uma maneira estranha.

— Eu vou, pelo menos, vigiar a sua volta – retruco.

— Katniss pode fazer isso — Johanna interrompe, e arranca uma enorme folha de uma árvore. — Nós precisamos de você para fazer o mapa. O outro foi levado.

E pelo olhar que ela me lança, sei que ela tem algo a me dizer, e não quer que Katniss saiba. Não me oponho mais.

Enquanto Katniss parte na companhia de Finnick, não consigo evitar sentir um aperto no coração. Ele não faria mal a ela, faria?

– O que mais temos que fazer pra provar que estamos do mesmo lado? – Johanna pergunta. – Finnick levou uma facada por você.

– O que? – pergunto, atordoado.

– Você não viu? Que pra livrar você da lança do Brutus, ele levou uma facada daquela horrorosa da Enobaria?

Procuro em minha mente, e antes que eu possa responder, ela já esta revirando os olhos.

– Por isso não confia na gente. Não vê nada do que está acontecendo. Eu vou falar com a Katniss, você mal consegue se centrar nas coisas. Mal fica em pé. Não podemos continuar escondendo isso dela.

Eu me sento, incapaz de discordar dela. Talvez Katniss mereça mesmo saber que as coisas não estão perfeitamente bem comigo. Afinal, ela está contando comigo para lutar, e agir quando preciso. Mas eu não posso fazer isso, meu corpo não consegue. Eu posso ser a causa da sua morte. Por causa da minha incapacidade, ela pode morrer, por confiar em mim. Isso é terrível. Beetee se afundou no chão, enrolando o seu fio esquisito entre os dedos. Faço uma promessa mental, que irei contar tudo a Katniss quando ela retornar.

– Porque, Johanna? Qual o motivo desse esforço todo para manter a mim e Katniss vivos?

– Não importa, Peeta.

– Não, me diga. Eu estou disposto a me sacrificar por Katniss por que eu a amo. Mas quanto a você e Finnick, não vejo motivo algum para fazerem o mesmo por nós.

Ela olha para o chão, e se lança em meus braços. Confuso, correspondo seu abraço, enquanto ela sussurra em meu ouvido.

– Essa merda vai ser diferente esse ano. E talvez estou fazendo isso por realmente gostar de você.

Em seguida, ela se afasta de mim, e parece quase envergonhada. Um silêncio estranho paira no ar, mas logo tudo ao redor é preenchido, pelo som aterrorizante, e agonizante da voz de Prim, gritando por Katniss. Sem pensar duas vezes, corro na direção do som. Como pode ser possível? Como Prim pode estar aqui? É quando bato, com toda força contra alguma coisa, e caio no chão. Todo meu corpo dói. Devo ter quebrado alguma coisa. Os gritos de Prim não param. Gritos de Katniss desesperados ecoam, e vão ficando cada vez mais baixos. Johanna me alcança, e me ajuda a ficar em pé.

A voz de Katniss está sumindo. Tento avançar mais uma vez, mas é como se houvesse um muro invisível, impedindo que eu ultrapasse. Me lanço contra ele. Pego minha faca, e desesperado tento quebrar o que quer que seja isso.

– Peeta, pare! Não tem como passar – Johanna grita, segurando meus braços.

– Mas Katniss está lá. Prim está lá. O que está acontecendo? – pergunto, sentindo lagrimas aflorarem em meus olhos.

– Não é a Prim. É alguma mutação. Não é a Prim – Ela repete, como se tentasse convencer a si mesma.

A voz de Katniss sumiu completamente.

– Katniss! – Grito. – Katniss!

Não obtenho resposta. Beetee aparece atrás de nós, ofegante. No desespero acabamos nos esquecendo totalmente dele. Ficamos os três, parados em frente ao muro invisível, sem saber o que está acontecendo a Katniss e Finnick do outro lado.

– Hey, olhe! – Johanna grita, e me cutuca.

Ao longe avisto duas silhuetas, e as reconheço. Finnick carrega Katniss pelos braços, e quando eles nos vêem correm em nossa direção. Johanna e eu tentamos sinalizar e gritar para que eles parem. Mas eles não entendem, e acabam se chocando contra o muro invisível. Finnick cai no chão, com o nariz sangrando. Katniss parece não ter se machucado, mas sua expressão me desconcerta. Ajoelho e pressiono minhas mãos contra a parede invisível. Ela rasteja até mim, e posiciona suas mãos com as minhas, numa tentativa inútil de me tocar. Há pavor em seus olhos, ela está pálida.

– Katniss, olhe para mim. Apenas olhe para mim – grito. Mas sei que ela não pode me ouvir.

Milhares de pássaros pousam nas árvores ao redor deles. Finnick permanece no chão, com as mãos no ouvido, as apertando com uma força descomunal. Katniss me olha fixamente, seus olhos começam a marejar, enquanto leio seus lábios chamando meu nome desesperadamente.

– Não é real, Katniss – digo. – Não é real.

Impotente, apenas torço para que ela consiga ler as palavras pronunciadas por minha boca, e acredite mim.

– Não é real – continuo a dizer, enquanto eu mesmo tento a todo custo me convencer disto.


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