Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ter que ficar de frente as câmeras sorrindo animosamente sentindo as mãos de Katniss em mim, é torturante. Quando finalmente embarcamos no trem, me sinto mal, como se eu estivesse indo para os jogos novamente. A decoração parece ainda mais exuberante. A comida servida, ainda mais deliciosa. Mas o clima entre eu e Katniss, está com toda a certeza mais frio que a temperatura lá fora. Depois do jantar, que foi extremamente silencioso subo para o que será meu quarto agora, com a certeza de que não conseguirei dormir. Na verdade eu não quero tentar dormir, pois eu sei que terei um sonho ruim. E não tenho minhas telas para me acalmar. Me reviro de um lado pro outro até que entendo que dormir não uma opção. Mas ficar acordado me traz pensamentos sombrios. Tristes. Eu simplesmente deixo eles virem, pois não tenho escolha, não tem como não pensar em nada. Ah, como eu queria que as coisas fossem diferentes. Quando olho para minhas mãos, sinto que elas estão sujas. Imundas. E o que pinga delas, é sangue. De certa forma a capital conseguiu. Arrancou de mim, a pessoa que eu era. A única coisa faz eu me sentir bem, é pensar em Katniss, pois ela é a única pessoa que me liga, àquele garoto inocente que fazia pão, na companhia do pai. O trem está parado a algum tempo, e quando ele recomeça a andar, tomo uma decisão. Visto um agasalho e saio do meu quarto em passos decididos até o quarto de Katniss. Paro no corredor em frente ao seu quarto, incapaz de continuar. Me sento ao lado da porta, e fico absorvendo a escuridão, desejando ser outra pessoa. Desejando viver outra vida. Quando a noite dá sinais de querer partir, me levanto do chão gelado, com o corpo dolorido e decido voltar para meu quarto. Mas num impulso, toco a maçaneta da porta decidido a mudar minha situação. É quando escuto o toc toc de saltos a caminho e corro como um ladrão de volta para meu quarto, me amaldiçoando por ser tão covarde, mas ao mesmo tempo ter tido a coragem de fazer coisas tão horríveis. Foi por amor. Tudo o que fiz, foi por amar demais essa garota. Mas eu fiz, e isso ficara marcado em mim para sempre.

Quando acordo, meu estomago dói, e o cheiro do almoço me convida a descer. Vejo que Katniss não está, assim que entro na sala. Mas Cinna, Portia e Effie conversam alegremente enquanto Haymitch encara um bolinho com cara de poucos amigos. Me sento e logo começo a devorar tudo que vejo pela frente, mas paro quando minutos depois, Katniss entra com uma expressão sombria, e sequer me olha. O restante do almoço não desce, e de repente me sinto pequeno e indesejado ali. Penso, em como seria bom, poder sair daquele trem e respirar um pouco de ar fresco. Minhas preces são atendidas, quando o trem para abruptamente. Somos informados de que ficaremos parados ao menos uma hora, para algum tipo de reparo. Effie fica arrasada reclamando sem parar de como isso nos atrasara para todos os compromissos existentes que eu mal sei quais são. Estou prestes a levantar, quando Katniss se vira para Effie com uma fúria no olhar, que eu acho nunca ter visto.

— Ninguém se importa, Effie! — ela grita.

Effie fica a beira das lágrimas. Todos olham para Katniss com desaprovação. Menos eu. Gostaria apenas de saber, se eu sou o motivo dessa raiva. Se fingir mais uma vez esse romance está a deixando assim.

— Bem, ninguém se importa! — ela repete, um pouco mais baixo, e se levanta, indo em disparada para a saída do trem. Escuto um alarme segundos depois, e entro em conflito entre ir ou não atrás dela. Não quero lhe causar nenhuma infelicidade, mas teremos que ficar juntos nisso, então porque não tornar as coisas mais fáceis? Não é justo com nenhum de nós, mas eu sei que a única pessoa que está sofrendo nisso tudo sou eu. Respiro fundo, e ando a passos firmes até a saída, onde encontro a porta escancarada, e uma paisagem totalmente diferente da que imaginava. Aqui não parece ser inverno. Devemos estar bem próximos do distrito onze, mas é incrível o quanto avançamos em apenas um dia. Mais incrível ainda o fato de o distrito 12 estar encoberto por neve, enquanto o onze esta florescendo com um sol brilhante no céu. Avisto Katniss a alguns metros, sentada no chão. Ando até ela, sentindo minha perna verdadeira tremer. Não sei bem como puxar uma conversa, me sinto na escola novamente, quando a espionava pelos cantos, pensando em mil e uma formas de conversar com ela. Criava diálogos que nunca aconteceram, e isso pareceu me fazer feliz por um tempo. Mas agora, apenas imaginar esses diálogos não será suficiente.

— Eu não estou no clima para um sermão — ela diz assim que me aproximo, com o olhar fixo em uma pequena moita de ervas daninhas.

— Vou tentar ser breve — digo num tom calmo, e me sento ao seu lado.

— Eu pensei que você fosse Haymitch — ela diz, sem me olhar.

— Não, ele ainda está se esforçando com aquele bolinho. — Digo enquanto me esforço em ajeitar minha perna artificial. — Mau dia, hein?

— Não é nada.

Eu respiro fundo. Sei que não é assim que vamos conseguir conversar, então decido simplesmente dizer o que estou sentindo.

— Olha, Katniss, eu estava querendo falar com você sobre a forma como agi no trem. Quero dizer, o último trem. O que nos trouxe para casa. Eu sabia que você tinha alguma coisa com Gale. Eu estava com ciúmes dele antes mesmo de te conhecer oficialmente. E não era justo prendê-la a tudo o que aconteceu nos Jogos. Sinto muito.

Ela parece pensar. Algo dentro de mim, quer que ela diga que nunca teve nada com o atraente Gale. Que ela realmente gosta de mim. Mas eu sei que isso não é verdade. E sua resposta, só constata o que de certa forma, sempre soube.

— Lamento, também — ela se limita a dizer. Fico pensando, se lamenta pelo que exatamente? Por não conseguir gostar de mim, da maneira que gosto dela? Por ter me feito acreditar no contrário quando estávamos na arena? Por ter me salvado? Não tem como se lamentar por isso. Afinal, não mandamos em nossos sentimentos, e não é culpa minha nem dela, se o coração dela, não acelera por mim. Olho para baixo.

— Não há nada para você se desculpar. Você estava apenas mantendo-nos vivos. Mas não quero que a gente continue assim, ignorando um ao outro na vida real e caindo na neve toda vez que houver uma câmera por perto. Então eu pensei que se eu parasse de ser tão, você sabe, magoado, poderíamos tentar apenas ser amigos – digo, aceitando que tudo que posso ter de Katniss é sua amizade. E seria muito injusto se ela não me desse ao menos essa chance, de verdade.

— Ok — ela responde. Sinto a tensão diminuir, e sorrio com essa possibilidade. Poder conversar com Katniss, mesmo desejando muito mais que isso.

— Então, o que há de errado? - pergunto.

Ela não responde. Apenas remexe a moita de ervas daninhas. Um desespero me acomete, pois não quero que nossa conversa termine agora. Levei tanto tempo para conseguir me aproximar...

— Vamos começar com algo mais básico. Não é estranho que eu sei que você arriscaria sua vida para salvar a minha... mas não sei qual é sua cor favorita? – tento, me sentindo meio bobo por essa ser a única pergunta a me ocorrer. Mas para minha surpresa ela sorri. Um sorriso que me desconcerta.

— Verde. Qual é a sua?

— Laranja — respondo.

— Laranja? Como o cabelo de Effie?

— Um pouco mais moderado. Mais como... o pôr do sol.

Ela sorri. E eu penso que poderia ficar o dia todo observando seu sorriso.

— Você sabe, todo mundo sempre fala com entusiasmo sobre suas pinturas. Sinto-me mal de não tê-las visto.

— Bem, eu tenho um vagão de trem inteiro cheio. — Eu me levanto, e com um pouco de receio, estendo a mão para ela. — Vamos.

Ela, parece surpresa, mas segura minha mão. Meu coração chega a doer no peito enquanto caminhamos lentamente de mãos dadas de volta ao vagão. Me arrependo de ter me aproximado dela pois isso só tornara as coisas mais difíceis para mim. Como ser apenas amigo da pessoa que você ama? Isso é algo que terei que aprender, terei que aguentar, pois só assim, poderei ter Katniss perto de mim. Não do jeito que eu gostaria, mas aprendi a muito tempo que as coisas nunca serão perfeitas. Muito menos como a gente deseja. Ou como a gente precisa.


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