Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 37
Parte 37




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560756/chapter/37

Conforme nos aproximamos, a cena se torna ainda mais macabra. Johanna e seus companheiros parecem estar cobertos de sangue, pelo cheiro que exalam. Mas o que me deixa realmente confuso são as pessoas que estão com ela. Katniss franze o cenho numa clara demonstração de perplexidade.

— Ela tem Wiress e Beetee.

— Porca e Parafuso? — digo, intrigado. — Eu tenho que saber como isso aconteceu.

Afinal, Johanna acha eles um pouco... loucos. O que estaria fazendo sendo aliada deles? Ela, por sua vez, parece estar bem abalada, gesticulando em direção a selva, e falando muito rápido, quase sem folego.

— Nós pensamos que era chuva, você sabe, por causa do raio, e estávamos todos com muita sede. Mas quando começou a descer, acabou por ser sangue. Espesso, sangue quente. Você não podia ver, não podia falar sem encher a boca. Nós só cambaleamos em volta, tentando sair dele. Foi quando Blight bateu no campo de força.

— Sinto muito, Johanna — diz Finnick.

Lembro-me de Blight pelas filmagens que estudei. Ele matou bastante gente no jogo na qual ganhou, mas foi puramente defesa. Mais uma peça que a capital moldou como quis.

— Sim, bem, ele não era muito, mas ele era de casa. E ele me deixou sozinha com esses dois – ela diz olhando com desdém na direção de Beetee que está no chão, e Wiress que continua andando em círculos e murmurando “tique-taque” sem parar.

Ela dá um leve chute em Beetee que não diz palavra alguma, apenas nos olha sem qualquer resquício de lucidez nos olhos.

— Ele ganhou uma facada nas costas na Cornucópia. E ela... – ela diz, se virando para Wiress com uma certa irritação.

— Sim, nós sabemos. Tique-taque. Porca está em estado de choque - ela finaliza.

Essas palavras captam a atenção de Wiress que avança na direção de Johanna, cambaleando e dizendo “tique-taque”, Johanna a empurra bruscamente o que deixa a pobre mulher ainda mais desorientada.

— Deixe-os — Katniss grita.

Johanna estreita os olhos com tanto ódio, que eu me pergunto se ela irá avançar em Katniss, e antes que eu possa dar um passo a frente, a mão de Johana acerta em cheio o rosto de Katniss. Amparo – a, antes que ela caia no chão, mas ela logo se reafirma e está prestes a ir para cima de Johanna, mas Finnick se opõe, e arrasta Johanna para a agua.

— Deixe-os? — Johanna — Quem você acha que os tirou da selva sangrenta para você?

Finnick afunda ela na agua, mas toda vez que ela submerge grita coisas um tanto obscenas para Katniss. Não sei se gosto tanto assim de Johanna.

— O que ela quis dizer? Ela ficou com eles por mim? — Katniss pergunta confusa esfregando a mão em sua bochecha.

— Eu não sei. Você os queria originalmente — eu a lembro.

— Sim, eu queria. Originalmente.

Ambos olhamos para Beetee no chão, e para Wiress insana, e suspiramos.

— Mas eu não os terei por muito tempo se não fizermos alguma coisa.

Uno forças para carregar Beetee, enquanto Katniss caminha segurando a mão de Wiress. Nos sentamos na areia onde havíamos formado acampamento, e a repetição de Wiress sobre “tique-taque” começa a me irritar. Dou certa razão a Johanna.

Enquanto Katniss tenta limpar Wiress, eu coloco Beetee na agua para tentar limpá-lo também. Mas seu macacão está tão grudado ao corpo que não vejo outra maneira de fazer isso, a não ser tirando suas roupas. Katniss se junta a mim, mas não parece tão incomodada quanto ficou quando eu tive que ficar nu perto dela, no jogo anterior. Após retirar todo o sangue da pele de Beetee analisamos o corte em suas costas. Não parece tão grave, mas é um corte bem grande. E ainda está saindo uma quantidade de sangue considerável. Não faço ideia do que possamos fazer. Katniss está perdida em seus pensamentos. De repente ela se levanta.

— Volto já — ela diz e sai correndo em direção a selva, antes que eu possa impedi-la. Parece uma eternidade o tempo que ela fica longe, até que ela retorna com um punhado de musgo, e algumas trepadeiras. Com mãos ágeis ela tampa o corte com uma camada do musgo, fixando – o com a trepadeira amarrada em torno do corpo de Beetee.

— Eu acho que é tudo que podemos fazer — Katniss diz analisando o resultado do seu curativo.

— Isso é bom. Você é boa com essas coisas de cicatrização — digo, genuinamente impressionado. — Está em seu sangue.

— Não — ela responde corando e balançando a cabeça. — Eu tenho o sangue do meu pai. Vou ver Wiress.

Enquanto Katniss lava Wiress e as roupas de Beetee me deito na areia, tentando encontrar algum sentido sobre tudo isso. Coisa que eu provavelmente não acharei. Com Finnick e Johanna ao nosso lado estamos com uma certa vantagem. Odeio pensar dessa maneira, mas é assim que a capital quer que encaremos as coisas. E sinceramente, eu já desisti a muito tempo de não entrar nesse jogo. Se eu quiser que Katniss ganhe isso, vou ter que me sujar, pra valer. Finnick retorna com Johanna, que está muito limpa agora, e mais calma também. Eu me ofereço para ir buscar agua, pois nossos novos companheiros estão sedentos. Escolho uma árvore próxima a eles e começo a fura-la. Agora que já estou acostumado o processo é mais rápido. Estou distraído esperando a agua encher a tigela que Finnick teceu, quando minha perna treme, e eu me vejo de joelhos na terra úmida. Olho para o lado, temendo que Katniss possa ter visto, mas eles estão bem entretidos com a narrativa de Finnick sobre os últimos acontecimentos, de modo que ninguém nota o que aconteceu. Quando volto ainda tremendo um pouco, com a agua, todos bebem até que não resta nada. Aí se inicia a discussão sobre quem vai ficar vigiando enquanto os outros dormem. Beetee e Wiress já adormeceram. Eu insisto para ficar, pois eu sou o único que sempre durmo, e acho isso injusto, mas é aí que Johanna me lança um olhar, que eu não consigo decifrar e diz que ela vai ficar, e ponto final. Katniss bate o pé e diz que vai ficar também. Eu, vencido pelo cansaço e pela dor, acabo deixando as duas que estão longe de serem amigas responsáveis por velar nosso sono. Enquanto deito, meus olhos encontram os olhos de Johanna, e eu vejo o que parece ser preocupação. Aí eu entendo que ela viu, o que aconteceu quando fui buscar agua, e que ela sabe que não estou bem. Olho para Katniss a seu lado e balanço a cabeça de forma negativa, implorando para ela não contar. Johanna olha para Katniss também, e assente imperceptivelmente. Depois disso embarco em uma longa noite de frio, apesar de arena ser extremamente quente, e de sonhos, muito, muito ruins, todos envolvendo Katniss e sua suposta morte, que infelizmente eu sei, que pode vir a acontecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!