Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 36
Capítulo 36




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— Peeta. Peeta acorda.

Me delicio ao ouvir a suave voz de Katniss me chamar. Abro os olhos, e a luz do dia age como um conforto para mim, não aguentava mais toda aquela escuridão. Até que, até ...

– Aahhhh – grito apavorado pelo que vejo. Katniss e Finnick estão parecendo, não sei, cadáveres, com a pele esverdeada, cicatrizes proeminentes, será que eles estão com alguma infecção grave? Será que ficaram doentes? Mas quando vejo os dois com a mão na barriga de tanto rir, entendo que fui apenas alvo de uma brincadeira de muito mal gosto, visto que meu coração se acelerou de tal maneira, que fica quase impossível respirar. Maldito campo de força. O fato de eles rirem de mim não me deixa incomodado, pois passamos por tantos momentos ruins aqui. E, o som da gargalhada de Katniss me fascina. Finjo estar ofendido, sem muito sucesso, o que só faz Katniss rir ainda mais. De repente um paraquedas aterrissa, fazendo a risada cessar e a curiosidade nos abater. O que poderia ser? Minha barriga roncando denuncia o que é! Um pão! Finnick o analisa com muita cerimonia, mas todos nós sabemos de onde veio o alimento. Do distrito 4. Um regalo para Finnick.

— Isso vai bem com o marisco – ele diz, sem qualquer indicio de felicidade no rosto, e só então entendo que isso pode significar muito mais para ele, do que apenas um pedaço de pão. Isso pode estar relacionado diretamente à Mags. Sinto tanto por ele.

Katniss se aproxima de mim com um potinho na mão e me conta sobre o remédio que faz a pele ficar terrível para se ver, mas alivia a coceira e a dor. Ela espalha delicadamente o creme sobre minhas queimaduras, cicatrizes, e sobre a pele em carne viva. O alívio que sinto é imediato. Olho demoradamente para ela, decidido a aproveitar muito o tempo ao seu lado. Reparo que Finnick tem uma quantidade considerável de mariscos com ele, e enquanto ele limpa a carne do molusco, me sinto grato por estar com eles.

Comemos até não aguentar mais a suculenta e maravilhosa carne com o pão, e ficamos sentado, absorvendo a brisa que vem da água, sem vontade de entrar novamente na selva, que quase sinalizou nosso fim. O dia está silencioso, tudo parece paralisado. O sol brilha parecendo estar cada vez mais quente, o que não incomoda muito, visto que a pomada ajuda bastante protegendo a pele. E é nesse momento, quando eu penso que poderíamos ficar aqui até tudo isso acabar, que um som agudo atinge nossos ouvidos. Olho para os lados, sem saber ao certo o que foi isso, e localizo uma onda enorme, encobrindo uma parte da selva, fazendo o chão tremer. Quando a onda atinge o mar, mesmo nós estando longe o bastante para sermos atingidos, a agua chega a nossos joelhos, e quase leva todos os nossos poucos pertences. Há um tiro de canhão. E um aerodeslizador aparece para retirar o corpo. Não me permito pensar sobre quem possa ter partido. Não consigo.

Voltamos a nos acomodar sobre a areia, agora molhada, quando eu percebo Katniss mudar sua postura. É uma coisa quase animal, quando ela percebe que está correndo algum perigo. Sigo seu olhar, e avisto três pessoas vindo em nossa direção.

— Lá — ela diz baixinho apontando para as figuras.

Olho para Finnick, e sem pronunciar mais nenhuma palavra nos embrenhamos um pouco na mata, encobrindo nossos corpos o suficiente para não sermos percebidos.

Bom. Deveríamos sair daqui. Conforme as pessoas vão se aproximando é visível o estado de deploração que se encontram. O que me intriga é que estão completamente encharcados de algo vermelho. Vermelho sangue.

— Quem são esses? — pergunto. — Ou o quê? Mutações?

Ninguém responde, por também não saber do que se trata. Katniss deixa uma flecha em mãos se preparando para o ataque. Finnick agarra o seu tridente com força, e eu empunho minha faca. Me lembro de Effie. Somos uma equipe.

Das três figuras sinistras, uma cai no chão, como se tivesse desmaiado. A outra que estava a carregando até agora, bate os pés no chão em sinal de frustração, e a terceira figura... Bem, parece estar num mundo paralelo onde é divertido andar em círculos.

Olho para Katniss em busca de alguma resposta, se devemos fugir, ou encarar, mas quando olho para Finnick entendo que não será nenhuma das duas opções. Será receber. Seu rosto se ilumina quando ele finalmente identifica quem são as pessoas.

– Johanna! – Finnick grita, e sai correndo na direção das três figuras.

— Finnick! — ela responde num tom de alívio.

Katniss parece extremamente frustrada. Afinal, não é como se ela gostasse de Johanna.

— O que fazemos agora? — ela pergunta.

— Nós realmente não podemos deixar Finnick — digo.

— Acho que não. Vamos, então – ela bufa.

Que surpresa. Johanna Mason. Mal posso esconder o sorriso que se forma em meu rosto com essa nova revelação. Decido seguir cegamente o conselho de Haymitch sobre confiar nas pessoas improváveis. Johanna está com certeza no topo da lista de improbabilidade, mas quem se importa? Eu sempre gostei dela, mesmo. O que me incomoda é saber que estou feliz por ela estar viva, quando todos terão que morrer. Me permito, acreditar cegamente em Haymitch dessa vez, e agarrar a perspectiva de que esse massacre será diferente. E que talvez todos voltem vivos com Katniss para casa. Mesmo que eu não esteja incluso. Sinto uma pontada forte em meu peito, e aceito que de qualquer forma eu não sobreviveria mesmo. Só a capital com sua medicina avançada poderia recuperar meu coração, e coincidentemente eles estão determinados a me matar, junto com a única pessoa que amo, e as pessoas que aprendi a gostar.


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