Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 30
Capítulo 30




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560756/chapter/30

Consigo ouvir minha pulsação em meus ouvidos. Eu não deveria estar tão nervoso, mas eu estou. O que me deixa assim, não é o fato de estarmos á minutos de um massacre memorável, é o fato de Katniss estar longe de mim. Faço as coisas automaticamente, sem estar realmente prestando atenção. Fico apenas ansiando pela hora em que verei Katniss. Portia me ajuda a colocar uma roupa, que se me perguntassem que cor era, não irei me lembrar. Subimos para o telhado, a corrente da escada me paralisa, o rastreador é inserido em meu braço, e quando percebo estamos decolando, para o desconhecido, para a arena.

– Você tem que comer – a voz doce e suave de Portia me assusta.

– Eu sei, mas, eu realmente não estou com fome. Estou enjoado – respondo.

– Peeta, você não sabe o que te aguarda naquele lugar, então ao menos coma e beba bastante enquanto pode.

Ela tem razão. Como devagar, relutantemente, mas quando percebo, já comi tudo o que estava na bandeja. Portia revela um pequeno sorriso, orgulhosa. Quando o aerodeslizador aterrissa na área de preparação da arena, sou levado por um atendente até o banheiro onde tomo um rápido banho e visto as roupas que encontro sobre um pequeno móvel. Saio e encontro Portia a minha espera. Ela analisa atentamente o macacão azul que visto. É bem simples, contém um cinto revestido de plástico. Nos pés, sapatos de nylon com sola de borracha.

– Esse ano, a arena será quente. Deveria beber mais agua antes de ir – ela solta.

– Acho que o calor, é melhor que o frio – digo.

– Não tenha tanta certeza disso – ela diz, me encaminhando para o local do lançamento.

Aperto em meus dedos o medalhão que está em meu pescoço, por baixo do macacão. Portia gentilmente segura minha mão.

– Está com medo? – ela sussurra.

– Não, exatamente – respondo.

– Eu estaria se estivesse no seu lugar.

– Não se esqueça que essa é minha segunda vez. Acho que estou ficando acostumado com esse lance de jogos – brinco.

– Isso não é uma coisa que dê para se acostumar – ela diz, e faz uma careta.

– Eu sei.

Uma voz anuncia para nos prepararmos pro lançamento. Me encaminho para a plataforma de metal.

– Na verdade eu estou com muito medo. Não por mim, por Katniss – digo enquanto o vidro vai se fechando lentamente ao meu redor.

Consigo ver os lábios de Portia se moverem enquanto ela diz – Não fique.

Demora mais que o habitual para a placa subir, mas quando ela sobe, e eu tenho o primeiro vislumbre da arena, fico um pouco mortificado. Tudo o que vejo, é agua.

Meu primeiro pensamento é Katniss. Como ela pode saber nadar, se não temos mar, nem lago no distrito doze? Meu segundo pensamento é, que eu também não sei nadar. Dessa vez, a afronta foi bem direta. Nós fomos representados pelo fogo desde nosso primeiro jogo. Agua é a única coisa capaz de apagar o fogo. O presidente Snow acaba de deixar sua mensagem, que ele quer literalmente nos apagar.

— Senhoras e senhores, que o septuagésimo quinto Jogos Vorazes comece! – explode o locutor Claudius Templesmith.

Tento localizar Katniss em vão. A cornucópia não está tão distante. Consigo visualizar faixas de terra entre cada placa de metal, que levam diretamente até lá. A brilhante e dourada cornucópia. Olho para os lados, para baixo, desorientado. O que eu vou fazer, penso. E então o gongo soa. Fico imóvel em minha plataforma, e enfurecido. Comecei bem minha missão para proteger Katniss. Para minha surpresa, muitos vencedores ficam em suas plataformas, pois o mar não é um privilégio de todos. Talvez eu devesse tentar. Mas, e se eu morrer afogado? Se eu ficar aqui, de qualquer forma, serei um alvo fácil. E droga, onde está Katniss? Levo as mãos ao rosto, desejando que algo aconteça. Sinto as lágrimas aflorarem em meus olhos, não por estar nessa situação ridícula, mas por não saber onde Katniss está. É quando uma nuvem esconde o brilhante sol que refletia sua luz na cornucópia, e eu consigo avistar Katniss. Na companhia de Finnick Odair. Ele se joga na água com um mergulho perfeito, e nada rapidamente em minha direção. Mas, o que Katniss está fazendo com ele? E porque ele está vindo até mim? Penso em me jogar, e tentar de algum modo me afastar, mas antes que eu possa ter qualquer reação, Finnick submerge, revelando seus dentes extremamente brancos, e perfeitos.

– Quer uma carona? – ele pergunta, e em seguida olha para Katniss.

– Qual é a sua, o que você quer com a gente? – pergunto, desconfiado.

Ele ergue um braço, e mostra uma pulseira. A que Haymitch estava usando. Nesse momento eu me lembro das palavras de meu mentor, sobre confiar nas pessoas, até nas improváveis. Me pergunto se Finnick também estava na sua lista de confiança.

– Haymitch te deu isso?

– O que você acha? – ele pergunta, impaciente. – Vamos logo, sua noiva está lá sozinha.

Relutante, eu me deixo ser levado por Finnick.

– Se você fizer alguma coisa á Katniss eu juro que te mato – digo entre dentes.

– Antes de me matar, você terá que aprender a nadar – ele diz, com sarcasmo.

Estamos quase chegando onde Katniss está. Vejo Mags também, e reflito que no final das contas, Katniss sempre consegue o que quer.

– Ah, e eu nunca faria mal a Katniss – Finnick diz antes de me soltar.

Alívio e alegria, é tudo o que consigo sentir ao ver Katniss. Ela me puxa para a areia, e só então me pergunto como ela sabia nadar.

— Olá, mais uma vez — digo, e avanço em seus lábios. — Temos aliados.

— Sim. Assim como Haymitch destinou — ela responde, com desagrado.

— Pelo o que me lembro, nós não fizemos acordos com mais ninguém, certo? — pergunto, pensando quem mais Haymitch pode ter designado. Gostaria que fosse Chaff.

— Só Mags, eu acho — ela responde.

— Bem, não posso deixar Mags para trás — Finnick concorda. — Ela é uma das poucas pessoas que realmente gostam de mim.

— Eu não tenho nenhum problema com Mags — Katniss diz. — Especialmente agora que vejo a arena. Anzóis são provavelmente nossa melhor chance de conseguir uma refeição.

— Katniss a queria no seu primeiro dia — falo.

— Katniss tem juízo notavelmente bom — diz Finnick.

Quando a velha chega até nós, ela faz uma observação que me faz ter ainda mais raiva da minha covardia. O cinto do traje no final das contas é uma espécie de boia. Se eu tivesse me arriscado, não teria que ser resgatado por Finnick. Que me sirva de lição, pois pequenos detalhes podem ser a diferença entre a vida e a morte nesse lugar. E morto, eu não serei de muita serventia para Katniss. Distribuímos armas entre nós. Finnick com seu tridente e uma rede. Katniss com seu arco. E eu com uma bainha de flechas e um arco reserva para Katniss, e um facão para mim. Mags protesta, e Katniss dá a ela um furador. Saímos da praia e adentramos a densa vegetação que a cerca. É uma arena diferente de qualquer outra que eu tenha visto em todos esses jogos. Eu caminho na frente, Finnick atrás com Mags em suas costas, e Katniss atrás de Finnick. Queremos ficar de olho nele. Conforme caminhamos percebo como as árvores daqui são estranhas. A terra é muito escura. E para passarmos, tenho que cortar os cipós, a nossa frente. O que é incontestável, é o calor. E por mais que esteja quente, e o sol brilhando sob nossas cabeças, a umidade não permite que eu fique seco. Até o clima é contraditório. Graças ao árduo treinamento que Katniss e eu fizemos para nossa preparação, estamos aguentando firme. Em outras circunstancias eu já teria desmaiado. Após mais de uma hora andando, Finnick pede um descanso afinal, está carregando Mags. Não é possível enxergar muito a nossa frente. Apenas árvore, ervas daninhas, flores estranhas, e cipós. Katniss decide subir em uma árvore, para ter uma visão melhor das coisas. Estremeço ao ser deixado a sós com Finnick. Ele nunca faria mal a Katniss, mas e a mim?

– Sinto muito pelo casamento – Finnick diz, assim que Katniss some do nosso campo de visão. O olhar que ele me lança, revela que ele sabe que é mentira.

– Eu também – respondo, com minha faca empunhada na mão.

Após um tempo, Katniss desce da árvore, pálida, e trêmula.

— O que está acontecendo lá embaixo, Katniss? Todos eles deram as mãos? Um voto de não-violência? Jogaram as armas no mar, desafiando a Capital? — Finnick pergunta.

— Não – ela responde, e fita o chão.

— Não — Finnick repete. — Porque o que aconteceu no passado está no passado. E ninguém nessa arena foi um vencedor por acaso. — ele olha para mim. — Exceto talvez Peeta.

Pondero sobre isso ser um elogio ou uma ofensa, mas isto não faz diferença, pois o jeito que Katniss e Finnick estão se encarando, não é bom. Eu poderia avançar sobre Finnick, enquanto ela atiraria uma flecha nele. Seria rápido. Mas então, consigo ouvir Haymitch dizendo – confie.

Me coloco entre os dois, pondo fim a este embate. Haymitch não deixaria ele se juntar a nós, se não tivesse certeza de que isso é bom.

— Então, quantos estão mortos? — pergunto.

— É difícil dizer — Katniss responde, com o olhar ainda fixo em Finnick. Os nós de seus dedos estão brancos, de tanta força que ela segura o arco. — Pelo menos seis, eu acho. E eles ainda estão lutando.

— Vamos nos manter em movimento. Precisamos de água — falo, e a puxo comigo.

Andamos por mais algum tempo, e nem sinal de água. Não podemos beber a água salgada do mar que cerca a cornucópia. Mas não podemos morrer de sede. Penso em Haymitch. Ele não nos deixaria morrer dessa forma.

— É melhor encontrar alguma água logo — Finnick diz, ofegante. — Nós precisamos estar escondidos quando os outros vierem nos caçar hoje à noite.

Estremeço. Conheço bem este método de caçada dos carreirista, pois já estive com eles. Agradeço por Finnick estar com a gente, pois se viessem nos caçar, por mais que Katniss seja ágil, nós dois estaríamos em clara desvantagem.

Continuamos subindo o morro, com a sede se intensificando a cada quilômetro alcançado. Estamos alcançando o topo, sem ter muita ideia do que há do outro lado.

— Talvez a gente tenha mais sorte do outro lado. Encontre uma nascente ou algo assim – Katniss diz, mais para si, que para nós.

Sinto uma pequena ponta de esperança florescer, e aumento o ritmo. Talvez haja agua do outro lado. Talvez Finnick seja mesmo de confiança, e me ajude a levar Katniss para casa. Talvez as coisas irão dar certo no final.

Levanto minha faca, e uso toda minha força, para cortar um punhado de cipós relativamente grossos, quando todos os meus músculos se enrijecem, e um clarão me cega. Sinto o baque do meu corpo contra o chão, e uma dor indescritível em meu peito, enquanto todo ar vai embora de meu corpo, levando minha vida junto. A última coisa que eu escuto é a voz de Katniss gritando meu nome. Tento responder, mas não consigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!