Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 26
Capítulo 26




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Pra quem não conhece Katniss como eu, poderia até se enganar e achar que ela está se divertindo e até gostando de algumas pessoas. Mas só eu vejo o quanto ela está odiando tudo isso. O quanto seus sorrisos são falsos, e o quanto ela quer ir embora desse lugar. Chaff está fazendo um bom trabalho, divertindo a todos, e eu chego á conclusão de que realmente gosto dele. Mas aliar-nos a ele, é outra história, pois pelo jeito que Katniss o olha, ainda não superou o beijo que ele lhe deu. Eu também não gostei daquilo, mas conhecendo a personalidade dele, vejo que não foi nada absurdo. Não para ele.

Depois do almoço, Katniss tenta se socializar com os demais tributos. E eu tento fazer o mesmo. Apenas evito ficar a sós com Cecelia, pois, eu matei a garota de seu distrito, e talvez ela fosse até a sua mentora. Quando as coisas estavam ficando entediantes, eu e os outros vencedores masculinos, decidimos levantar pesos, como um jogo. Sei que alguns, como Brutus, estavam levando mais a sério. Mas para minha própria surpresa, eu consegui levantar o maior peso. Benditos dias que passei carregando sacos de farinha, pensei. No instante em que os venci neste “joguinho” percebi que eles passaram a me enxergar como um oponente forte, não como um alvo fácil. Recebo alguns tapinhas nas costas, alguns olhares irados, e uma piscadela de Johanna. É neste instante que vejo Katniss na sessão de arcos, atirando como eu nunca havia visto antes. Chego mais perto, e os outros vencedores me acompanham, tão maravilhados quanto eu. Que tolice a minha achar que Katniss precisa de mim para algo. Sozinha, ela seria capaz de matar a todas essas pessoas na arena, se tivesse apenas um arco, com algumas flechas. Vê-la, derrubar tão facilmente um punhado de pássaros falsos, me faz admirá-la ainda mais, e ter orgulho da garota pela qual que me apaixonei.

Saímos do centro de treinamento exaustos, e rodeados por tributos. Katniss não parece muito feliz por ter despertado a atenção das pessoas, ao contrário de mim que estou radiante. Eles irão temer Katniss, e isto é mais uma vantagem.

Quando chegamos à nossa torre, e nos sentamos para jantar, Haymitch se junta a nós, e começa contando as boas novas.

— Então, pelo menos metade dos vencedores instruíram seus mentores para pedir-lhe como uma aliada. E sei que não pode ser a sua personalidade alegre.

— Eles viram seu tiro ao alvo — digo com um sorriso. — Na verdade, eu a vi atirar, de verdade, pela primeira vez. Estou prestes a fazer um pedido formal para mim mesmo.

— Você é tão boa assim? — Haymitch pergunta a ela. — Tão boa que Brutus quer você?

Ela dá de ombros.

— Mas eu não quero Brutus. Eu quero Mags e o Distrito Três.

— É claro que você quer — Haymitch suspira, infeliz e pede uma garrafa de vinho. — Eu vou dizer pra todo mundo que você ainda está pensando.

Nos dias seguintes, a convivência com os outros tributos se torna tão natural, que eu não me vejo matando a nenhum deles. Passo bastante tempo com os vencedores do distrito 6. Eles são mestres da pintura, conseguem qualquer tom, qualquer sombreado. Eles são muito legais, e extremamente talentosos. O que me deixa triste é o fato de serem viciados em remédios, e é raro o dia em que eles estão sãos o bastante para diferenciar amarelo de vermelho. Chaff tem se mostrado um bom amigo, e eu sinto um nó na garganta só de pensar em dizer adeus a ele. Cecelia, do distrito 8, não demonstra nenhuma espécie de mágoa a meu respeito. Mas em uma tarde, nos vemos juntos na estação de fogueiras, e eu me sinto na obrigação de me desculpar.

– Eu sinto muito, eu não queria fazer aquilo...- começo.

– Eu sei – ela responde, me interrompendo como se esperasse por esse momento. - Todo mundo sabe por que você fez isso. Eu faria igual.

Isso me pega de surpresa, e eu tenho vontade de abraça-la, de tão agradecido que fico, por essa espécie de perdão.

– Obrigado – murmuro. – Ela devia ser uma ótima garota.

– Era sim – ela diz, com o olhar perdido.

Hesito.

– Você a conhecia? – pergunto delicadamente.

Ela fita meu rosto, e com a dor bem visível em seus olhos, ela responde:

– Ela era minha sobrinha.

Sinto a comida em meu estômago revirar, e subir numa força descomunal. Com muito custo, consigo impedir a ânsia que me invade, pedir licença, e me retirar para outra estação, que esteja de preferência, vazia. Fico um bom tempo na estação de insetos comestível, ponderando se eu deveria no primeiro descuido do treinador, engolir um daqueles insetos que são descritos como venenosos e letais.

Quando chega o último dia de treinamento, são realizadas nossas sessões privadas. Iremos demonstrar nossos melhores “talentos” para os idealizadores. Como eu não posso fazer pães, e já levantei pesos o ano passado, não sei o que posso fazer. Mas quero fazer algo que possa chocá-los, e dar um tapa de realidade na cara dessas pessoas insensíveis.

Haymitch disse que devemos impressioná-los, de uma maneira boa. Mas eu não sei se todos têm essa ideia. Chaff me disse que vai beber o máximo de garrafas de vinho que conseguir. Katniss disse que Mags, a idosa do distrito 4, vai apenas tirar um cochilo. Conforme os vencedores vão sendo chamados, e a sala vai esvaziando, eu me aproximo de Katniss, e pego sua mão, que está gelada.

— Decidindo ainda o que fazer para os idealizadores? – pergunto.

Ela balança a cabeça.

— Eu realmente não posso usá-los para prática de alvo este ano, com o campo de força e tudo mais. Talvez faça alguns anzóis. E você?

— Nem uma pista. Eu continuo desejando que eu pudesse fazer um bolo ou algo assim.

— Faça um pouco mais de camuflagem — ela sugere. E eu acho uma ideia muito boa. Como não havia pensado nisso antes?

— Se os transmutados do 6 deixaram qualquer coisa para eu trabalhar — digo, ironicamente. — Eles estão grudados naquela estação desde que o treino começou.

O silêncio paira sobre nós, eu me pego pensando sobre o que os outros podem ter feito nas sessões. Me pego pensando neles, com.... carinho.

— Como vamos matar estas pessoas, Peeta? – Katniss pergunta, como se lesse minha mente.

— Eu não sei – respondo tristemente.

Inclino minha testa sobre nossas mãos entrelaçadas. Me sentindo muito cansado, de repente.

— Eu não os quero como aliados. Por que Haymitch quer que a gente os conheça? —Katniss diz. — Isso vai tornar-se muito mais difícil que da última vez. Exceto por Rue, talvez. Mas eu acho que eu nunca poderia tê-la matado, de qualquer maneira. Ela era muito parecida com Prim.

Um pensamento me ocorre. Olho para Katniss.

— Sua morte foi a mais desprezível, não foi? – pergunto.

— Nenhuma delas foi muito bonita — ela responde, desviando do meu olhar.

Nesse momento, meu nome é anunciado, e relutante, eu solto sua mão. Ando até a sala, entorpecido, e com um único pensamento. Rue.

Como no ano anterior, todos parecem distraídos, e bêbados. Exceto Plutarch, o idealizador chefe, que mantém os olhos em mim, enquanto vou até a estação de camuflagem. Volto para o centro da sala, com as tintas que escolhi, e começo a pintar, no chão. As imagens vêm com uma força avassaladora em minha mente. Minhas mãos trabalham rapidamente, de um modo que eu nunca havia visto, e quando termino a pintura, estou suado da cabeça aos pés. Me afasto, e observo o que acabo de fazer. Parece tão real. Quase consigo sentir o cheiro das flores. Rue, está deitada, com os olhos fechados. Seu cabelo envolvendo seu belo rosto, cor de chocolate. Flores, cobrem seu corpo inerte, fazendo-a parecer uma figura angelical. Não consigo me mover, mesmo sabendo que eu tenho que sair daqui, agora. A voz de Plutarch alcança meus ouvidos.

– Obrigado por sua apresentação. Pode se retirar Sr. Peeta Mellark.

Olho para onde ele está, e vejo que todos estão com uma expressão horrorizada. Ando devagar até a porta. Antes de alcança-la, eu me viro, a tempo de ver uma equipe trabalhando rapidamente afim de tirar aquela pintura dali.

– É isso o que vocês fazem – digo, antes de sair, e bater com força, a porta atrás de mim.


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