Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 24
Capítulo 24




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560756/chapter/24

O desfile parece mais curto, talvez por eu já ter passado por isso uma vez, ou por estar muito concentrado em olhar para Katniss. Sinto todos os olhares sobre nós, até mesmo o presidente Snow nos encara. Quando olho nossas imagens nos telões, entendo o motivo de tantos olhares. Estamos absolutamente fabulosos, implacáveis, poderosos. Quando as portas do centro de treinamento se fecham atrás de nós, desço da carruagem, em seguida ajudo Katniss descer, e sinto que finalmente posso respirar. Toda a nossa equipe incluindo Haymitch e Effie, estão aparentemente felizes com nossa aparição. Haymitch se junta aos tributos do distrito onze, e os traz para nos cumprimentar. Chaff é bem conhecido por seu quase parentesco com Haymitch quando se trata de bebida. Um de seus braços, termina num toco, resultado de uma luta que o fez vencedor dos jogos há muitos anos atrás. Ele tem uma aparência bem intimidadora com seus quase 2 metros, e sua pele negra. Porém quando mostra seu sorriso com dentes ligeiramente tortos, é como se pudéssemos ver a sua alma, e enxergarmos como ele é uma boa pessoa. Seeder, por outro lado, tem uma estatura mais baixa, um cabelo muito bonito e olhos quase dourados. Antes que alguém dissesse qualquer palavra, ela abraça fortemente Katniss. Sei que é por Rue. Para minha surpresa, Chaff cumprimenta Katniss com um abraço e um beijo na boca. Antes que eu pudesse avançar para pará-lo, Katniss o empurra, levando as mãos a boca, totalmente horrorizada. Ele e Haymitch caem na gargalhada, o que não faz sentido algum para mim.
Atendentes da capital, surgem nos guiando para o elevador, como num toque de recolher. Enquanto caminhamos, com minhas mãos ainda segurando firmemente as de Katniss, escuto um burburinho de vozes, e vejo que é Johanna Mason, do distrito 7, vindo em nossa direção. Ela parece muito irritada. E dou certa razão a ela. Seu traje é muito óbvio, e feio. Ela está vestida de árvore. Ela tira uma espécie de cocar que está em sua cabeça e joga para trás, sem se importar aonde irá cair.
— Minha roupa não é horrível? Meu estilista é o maior idiota da Capital. Nossos tributos foram árvores durante 40 anos por causa dele. Gostaria de ter pego Cinna. Você está fantástica.
Katniss, percebe que a garota está se dirigindo a ela, e surpresa, responde:
— Sim, ele está me ajudando na minha própria linha de roupas. Você deveria ver o que ele pode fazer com veludo.
— Eu vi. Em sua turnê. E aquele sem alças que você vestiu no Distrito 2? Aquele azul escuro com diamantes? Tão lindo que eu queria chegar até a televisão e rasgá-lo direto de suas costas — ela diz, revirando os olhos, enquanto olha para seu próprio vestido no formato de tronco de árvore.
Ficamos ainda alguns segundos esperando o elevador, e num misto de malícia e rebeldia, Johanna me encara enquanto abre o zíper da sua árvore-vestido, deixando-a cair no chão, e a chutando para bem longe. Posso jurar que ela cuspiu naquilo, depois de chutá-la. Quando tiro meus olhos do vestido marrom que está no chão, e os volto para Johanna, sinto meu rosto queimar, ao ver que além de seus chinelos, ela não veste mais roupa alguma. Está nua.
— Assim é melhor – ela diz, sorrindo vitoriosa.
Para nosso azar, ou sorte, depende do ponto de vista, Johanna pega o mesmo elevador que eu, Katniss, Chaff, e Seeder. Sinto o aperto de mão de Katniss, se apertar, quando a garota nua e desinibida para ao meu lado, e me olhando nos olhos, pergunta sobre minhas telas.
– D-e-desculpe – gaguejo. – Você perguntou o que?
– Suas telas. São lindas. Qual é a sua inspiração? – ela pergunta.
– Bom. Na maioria das vezes, Katniss. Outras, não diria bem, uma inspiração, mas os jogos em si.
– Eu gostaria de ser sua musa inspiradora um dia. Tenho alguma chance? – ela pergunta, rolando um fio de cabelo nos dedos.
Não tenho tempo de responder, pois chegamos ao andar sete, onde ela desce, rebolando. Como um clarão, a resolução de todas estas atitudes estranhas dos tributos, se formam em minha mente. E eu me pego sorrindo, ao ver a cara de Katniss. Quando Chaff e Seeder saem do elevador, Katniss solta abruptamente minha mão, e eu não me contento, caindo na gargalhada.
— O quê? — ela pergunta, voltando-se para mim, enquanto saímos para nosso andar.
— É você, Katniss. Você não pode ver?
— O que tem eu?
— A razão pela qual eles estão agindo assim. Finnick com o açúcar, Chaff te beijando e toda a coisa de Johanna se despindo. — tento falar em tom sério, sem muito sucesso.— Eles estão jogando com você porque você é tão... você sabe.
— Não, eu não sei.
Ela parece furiosa.
— É como quando você não pôde me olhar nu na arena, mesmo eu estando quase morto. Você é tão... pura — digo finalmente.
— Não sou não — ela rebate. — Eu tenho praticamente rasgado suas roupas toda vez que tem uma câmera pelo o último ano.
— Sim, mas... Quer dizer, para a Capital, você é pura — digo, tentando acalmá-la. — Para mim, você é perfeita. Eles estão apenas te provocando.
— Não, eles estão rindo de mim, assim como você! — ela grita.
— Não.
Balanço a cabeça, percebendo que ela não irá entender o joguinho que os outros tributos estão fazendo com ela. Mas permaneço sorrindo, ao ver sua cara de brava. Ela fica ainda mais linda, como se fosse possível. A porta do elevador se abre, revelando Haymitch e Effie sorridentes, mas então de repente ele para de sorrir, olhando na direção de Katniss.
Effie olha na mesma direção, então diz brilhantemente:
— Parece que eles têm um par formado esse ano.
Olho para trás, mas tudo o que vejo, são dois avox. A garota ruiva, que... de certa forma já conhecemos. E um garoto ruivo. Seria desse par que Effie está falando?
Me pergunto o que há de tão grave, para que Katniss esteja com essa expressão de horror no olhar.
Katniss passa um bom tempo trancada no quarto. Eu vou até Haymitch, na esperança de entender o que aconteceu, e então ele me conta sobre Darius. Antes, um pacificador do distrito 12, quase um amigo para Katniss, e agora um avox mudo.
– Você não se lembra? Ele estava caído no chão, quando Gale foi chicoteado, provavelmente foi tentar defender Gale, e pagou o preço desta maneira – ele me conta.
– Sinceramente, eu não me lembro de muita coisa daquele dia, a não ser Katniss levando uma chicotada – estremeço, ao relembrar essa cena.
– Isso é realmente pesado para ela aguentar. Tenha paciência.
– Eu terei – digo.
Depois de ter tomado um longo banho, coloco uma roupa confortável, e vou para a sala de jantar. Katniss se junta a nós, mas parece alheia a qualquer tipo de conversa. Até que de repente, ela derruba um prato de ervilhas no chão, e se abaixa para pegar no mesmo instante em que Darius. Imagino que ela esteja aproveitando este último minuto para se desculpar. Indiretamente ela o colocou nesta situação. E qualquer ação minha ou dela, pode fazer muita gente pagar um preço bem alto.
Assistimos à reprise das cerimonias em silêncio. Effie que faz um ou outro comentário. Todos os outros tributos parecem patéticos, se comparados a mim e a Katniss. Pela capital, somos os preferidos, visto o alvoroço que acontece quando entramos. Isso é ótimo. Precisaremos de todos os patrocinadores possíveis. Quando o programa acaba, Katniss se levanta, agradece a Cinna e Portia pelo ótimo trabalho e vai para seu quarto, sem nem sequer me olhar. Ela não devia estar com raiva de mim, pois eu não sou culpado pelo que aconteceu com Darius. Fico alguns minutos sorrindo para Portia, que conversa muito animada comigo, e na primeira oportunidade, peço licença e vou até o quarto de Katniss. Hesito, tomo fôlego, e bato em sua porta, pronto para dizer o que for preciso para confortá-la. Mas, não pela primeira, e talvez não pela última vez, ela me recusa, deixando o barulho de minhas mãos batendo em sua porta, ecoar pelo corredor.
Desconsolado, vago pelo trem, até me encontrar com Effie que parece estar vagando também.
– Ora, vá dormir meu vencedor – ela diz, enquanto se senta no sofá, com uma xícara na mão.
– Isso não tem sido uma tarefa muito fácil ultimamente – suspiro, e me deixo cair no sofá ao seu lado.
– Precisa de remédios? Ou alguma outra coisa? Me peça, e eu te arranjo – ela diz, com os olhos brilhando. Percebo que ela está quase sem maquiagem. Percebo também, que ela é muito bela, ao natural. Tenho vontade de dizer isso á ela, mas então me lembro que preciso de algo muito importante.
– Effie, se lembra sobre o que você disse, de todos terem algo dourado?
– Sim, sim. Já mandei fazer uma pulseira para Haymitch, e para você mandei...
– Me desculpe, mas eu tive uma ideia – digo, a interrompendo. – Quero um medalhão.
– Um medalhão? – ela pergunta, parecendo decepcionada. – Mas eu tinha mandado fazer...
– Sério Effie, quero um medalhão.
– Certo. Certo. E dentro, o que você quer? Uma foto? Uma gravação? – ela pergunta cabisbaixa.
– Quero três fotos dentro. Uma da mãe de Katniss, uma de Prim, e uma de Gale. Quero todos sorrindo, se puder. Quero que eles pareçam felizes, ao menos nas fotografias.
O olhar de Effie se ilumina, e ela me encara.
– Suponho que este medalhão não seja para você.
– Será, até um certo ponto. Mas eu darei a Katniss, quando tiver que lembra-la, o motivo pelo qual ela tem que lutar, e sobreviver – respondo, e abaixo a cabeça.
– Peeta...
– Ou então, darei a ela, quando souber que minha hora está próxima – sussurro.
Levanto a cabeça, e vejo que Effie está com os olhos marejados.
– Você pode fazer isso por mim, Effie? Pode me arrumar este medalhão? – pergunto, com minha voz embargada.
– E você ainda tem alguma dúvida? – ela responde, sorrindo, enquanto lágrimas rolam por seu rosto.
Então, ela se levanta, dá um beijo em minha testa e sai da sala saltitando num misto de alegria e emoção.
Vou para o meu quarto, apago as luzes, e fico fitando o teto, torcendo para que esse medalhão realmente me ajude, a tornar meu adeus menos doloroso. A tornar o adeus de Katniss a mim, menos doloroso também. O que me dá medo, é pensar que eu talvez nem tenha tempo de me despedir, e que eu nunca vou saber, quando será o último beijo, o último sorriso, minha última chance de contemplar Katniss, sentir seu amor, e amá-la de volta, só que numa intensidade mil vezes maior.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!