Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 2
Capítulo 2




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Sem suas botas, sem a jaqueta de couro gasta, ela parece ser outra pessoa. Na verdade, não importa que roupa ela use, para mim ela sempre vai ser outra pessoa. Diferente da garota por quem me apaixonei quando era pequeno, ou da garota que joguei pães e me evitava onde quer que eu fosse. Ainda mais diferente da garota que eu tive certeza que amava na arena. Se ela está mesmo tão diferente assim, porque meu amor continua o mesmo? Por que ele continua aqui? Eu não podia simplesmente arrancá-lo, do mesmo modo que ela me arrancou de sua vida? Talvez eu saiba a resposta. Ele continua aqui, porque em seus olhos cinzentos ainda consigo ver um pouco da Katniss Everdeen que arriscou a vida para me salvar. E para mim, uma atitude desse tipo não tem outro nome a não ser amor. Coloco o pão fresco sobre a mesa, e quase esqueço que Haymitch está de fato ali. Estendo a mão para pegar uma faca que ele segura firmemente, enquanto ele rosna:

— Pedir-lhe para me acordar sem me causar pneumonia.

Haymitch tira a camisa molhada e encardida revelando outra ainda mais suja. Sorrio. Pego a faca e mergulho em uma garrafa que na certa deve conter álcool, e depois a enxugo em minha roupa. Sinto a tensão se afastando aos poucos e sei que daqui a horas, terei não só que falar com Katniss, mas agir como se estivesse feliz como nunca estive. E felicidade é uma coisa que eu não venho sentindo ultimamente. Começo a fatiar o pão, e sinto o olhar de Katniss sobre mim. Pigarreio.

— Quer um pedaço? – pergunto a ela depois de um silencio perturbador.

— Não, eu comi no Prego. Mas obrigada.

Sua voz soa muito formal. Como se ela tivesse acabado de me conhecer, e não quisesse me ter como amigo.

— De nada — respondo rigidamente.

Haymitch nos observa. Depois de se enxugar com a parte seca de sua camisa, a joga para algum lugar em meio a bagunça, parecendo muito indignado.

— Brrr. Vocês dois têm muito aquecimento para fazer antes do show – ele reclama. E está certo. Se o público quer ver um show, ficarão decepcionados. A questão, é que eu não sei quando poderemos acabar com essa mentira para Katniss ficar livre disso. Livre de mim.

— Tome um banho, Haymitch – ela diz, antes de se pendurar na janela e pular para fora. Esse simples gesto me deixa magoado, pois eu sei que ela preferiu pular a janela ao invés de passar por mim e sair pela porta. Como as coisas chegaram a esse ponto?

Não precisa ser muito esperto para entender o que está acontecendo. Nem estar sóbrio. Haymitch senta e pega uma fatia de pão. Molha em uma bebida que pelo cheiro é muito alcoólica, e o mastiga rapidamente. Eu me sento ao seu lado e penso em fazer o mesmo, mas descarto a bebida, comendo apenas o pão. Ele me encara, e quando finalmente engole sua mistura estranha, se prepara para falar algo, e quando finalmente consegue, o tom de sua voz exala compaixão.

– Garoto, as coisas não estão fáceis pra você. Eu sei. Mas, você precisa seguir em frente. Dar o seu melhor nessa turnê, e aceitar a sua realidade.

– Talvez eu precise de algo para conseguir aceitar essa realidade – digo olhando para a garrafa em cima da mesa.

– Nem pensar – Haymitch grita. – Você tem que ser mais que isso. Mais que um perdedor.

– Você é um vencedor na verdade – o corrijo.

– Aí é que você se engana. Eu posso ter vencido os jogos. Mas perdi tudo na vida. Não se pode ter tudo garoto.

Silêncio. Eu sei que não se pode ter tudo. Mas eu nunca quis tudo. E agora não tenho nada.

– Haymitch, nós não podíamos simplesmente dizer que acabou? Que não deu certo. Inventar algo. Eu não sei se conseguirei fazer isso. Você vê o jeito como ela me olha? Parece ter medo, ou nojo de mim. Não quero obriga-la a fingir que me ama, a me beijar, sabendo que a última coisa que ela quer é estar perto de mim – desabafo.

– Não. Não podemos, e não sei se um dia iremos poder acabar com isso. Mas, apenas finja que é real.

– E quando a turnê acabar, faço o que?

– Finja que nunca existiu.

Volto para casa, pensando que Haymitch tem sido meu único amigo, e que é um desperdício estar envolvido com a bebida assim. Desde que voltei para o distrito 12, a única pessoa que ao menos tenta conversar comigo, é Delly Cartwright, uma menina doce e risonha que sempre estudou comigo. Cada um tem sua forma de esquecer o terror da arena. A de Haymitch é beber compulsivamente. A de Katniss é tentar viver como antes, caçando com Gale, ficando no Prego, em sua antiga casa, ou em qualquer outro lugar onde eu não esteja. Uma das formas que encontrei é pintar, e por mais controverso que pareça, a outra é pensar nos jogos, mas apenas nos momentos em que tive Katniss em meus braços, e acreditei cegamente que ela me amava também.


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