Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 17
Capítulo 17




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Aturdido, saio da casa de Haymitch e vou diretamente para a casa de Katniss. Quando entro, encontro Prim e sua mãe aos prantos na sala. Tento não chorar também, o que é uma tarefa muito difícil.

– Onde está Katniss? – pergunto, com minha voz me traindo, totalmente embargada.

Prim consegue parar de soluçar, para me responder.

– Eu não sei. Depois daquele anuncio – ela diz, parando para uma nova onda de lágrimas – ela saiu. Ela saiu correndo. Achei que fosse ver você ou Haymitch.

Me aproximo das duas, preocupado pelo sumiço de Katniss, e as abraço. Elas se agarram a mim, como se eu pudesse impedir Katniss de voltar para a arena. A mãe dela, incapaz de controlar seu choro, pede licença e sobe as escadas. Prim, fica abraçada a mim. Afago seus cabelos loiros, e me dou por vencido. Choro também.

– Peeta, por favor, ajude a minha irmã. Você é o único que pode salvá-la. Por favor Peeta – Prim, me implora, em meio ao seu pranto.

Isso me corta o coração. Enxugo minhas lágrimas, em seguida, enxugo as lágrimas dela, e olho bem em seus olhos azuis. Algo surge em mim. Determinação.

– Eu prometo, Prim. Katniss será a vencedora.

Dou um beijo em sua testa, e saio, deixando-a com um leve sorriso no rosto.

Entro em minha casa, e vou correndo revirar minhas coisas. Nunca pensei que precisaria disso, mas nesse instante preciso desesperadamente do número de Effie Trinket.

Acho o número em um caderno, juntamente com outras anotações como os telefones de minha equipe de preparação, que espero nunca precisar, de Haymitch, e de Katniss. Quantas vezes fiquei olhando para o número de telefone dela, querendo mais que tudo ter coragem para discar. Volto a me concentrar em minha tarefa, e com toda a minha determinação, disco os números. Fico pensando em como Effie atenderá ao telefone, se será cantarolando, ou quase gritando, mas para a minha surpresa, ela atende, chorando. Hesito, pensando que eu poderia apenas desligar o telefone, e deixar isso para mais tarde. Mas é urgente. Não posso esperar.

– Effie, é o Peeta – digo cautelosamente.

– Ooooooh... Peetaaa – ela grita, e chora ainda mais. – Isso não é justo com vocês. Eu estou muito, muito triste. Tudo estava fabuloso, meus dois vencedores, e agora, acontece isso. Ai, Peeta, eu estou dilacerada.

Só então, entendo que ela chora por isso. Por nós. Por mim, e por Katniss. Talvez até por Haymitch. Engulo em seco, me forçando a não chorar, por saber que até mesmo um ser da capital, que eu julgava não ter sentimentos, chora, por nós.

– Effie, eu também, estou muito triste. Mas eu preciso de um favor seu. Precisamos fazer de tudo para que o distrito 12 tenha um vencedor. Será Katniss, Effie. Mas você terá que me ajudar.

Consigo apenas ouvir seus soluços do outro lado da linha.

– Peeta... Você é um garoto tão fabuloso. Vocês não mereciam isso. Mas me diga, eu vou ajudar você. Se sua decisão é essa, eu vou te ajudar no que for preciso, para que Katniss vença – ela finalmente responde.

– Certo. Então, por favor, você só precisa me mandar, vídeos, informações, tudo sobre os outros vencedores ainda vivos.

– Mandarei, agora mesmo. O mais rápido possível. Se isso irá ajudar, eu farei. Somos um time.

– Sim Effie. Somos um time. Obrigado por tudo.

– Eu que agradeço, Peeta.

Desligo o telefone e repenso sobre suas palavras. “E que agradeço.” Pelo que exatamente?

O telefone toca, e quando eu atendo, pensando ser Effie, a voz de minha mãe, trêmula, me surpreende.

– Venha nos ver – ela diz, e desliga.

Tomo um banho, e parto em meio a escuridão, para o centro. Quando chego em minha antiga casa, todos parecem arrasados. Não sei se devo me mostrar forte e tranquiliza-los, ou se devo chorar com eles. Após alguns murmúrios, e breves abraços, escutamos uma batida na porta. Meu irmão vai atender, e volta com uma expressão confusa.

– Temos visita – ele anuncia. – Para você.

Vou para a sala, e encontro Delly Cartwright à minha espera. Ela está de cabeça baixa, tremendo, e não é difícil perceber que ela está chorando. O que essa garota quer comigo?

– Oi – digo, confuso.

Ela torce sem parar, as pontas de seu casaco fino entre os dedos, e quando me encara, seus olhos estão vermelhos, e ela está ainda mais pálida, do que costumava ser.

– Será que podemos conversar um pouco? – ela sussurra, com sua voz um pouco rouca.

– Claro. Aqui mesmo? – pergunto, cada vez mais intrigado.

– Acho melhor não.

– Certo. Me dê apenas um minuto.

Vou para a cozinha, e me despeço de minha família. Prometo voltar no dia seguinte, e conversar melhor. Na verdade me despedir. Mas não conto esta parte a eles.

Saio com Delly, e começamos a andar. Não sei para onde devemos ir, para ter essa conversa, que parece ser urgente, mas quando me dou conta, ela que está me guiando, numa direção onde não encontraremos ninguém. Estamos indo para as ruínas do prego. Quando chegamos, ela se senta, onde me encontrou essa manhã. Nossa, parece que faz tanto tempo que eu estava aqui, com preocupações tão diferentes. Ficamos em silêncio por tanto tempo, que eu pensei que ela não fosse mais falar. Ela coloca desajeitadamente uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha, antes de me olhar, com os olhos marejando, e começar a falar.

– Eu costumava te observar na escola. Eu não sabia o porquê, mas eu gostava de te olhar. Quando você sorria, eu me via sorrindo também, porque o seu sorriso, é daqueles que faz a gente ficar bem, mesmo quando a gente não está. Eu pedia dinheiro a minha mãe, para ir até a padaria, comprar nem que fosse uma bala, para quem sabe, ter a sorte de te ver, e falar com você.

Eu não gosto do rumo que essa conversa está tomando. Mas assinto com a cabeça para ela continuar a falar. Uma lágrima rola em seu rosto, mas ela não faz questão de enxugar.

– Eu queria falar com você sobre isso – ela continua. – Mas falar como, se eu não sabia o que eu sentia por você. Eu fui me dar conta, quando você foi sorteado na colheita. Eu tentei ir falar com você depois, mas aqueles monstros que se dizem pacificadores, me impediram. Só pessoas da família. Que babacas. Tem gente, que não precisa ser da família, para nos amar, ainda mais que as pessoas que carregam o nosso sangue.

Entendi. Agora eu sei onde isso vai chegar.

– Eu fiquei tão feliz por você ter vencido esses jogos horríveis. Só que, ver a maneira que você ama Katniss. Descobrir esse seu amor por ela... Eu tenho que ser sincera, agora. Isso me deixou, triste. Por que eu amo você Peeta. Mas saber que você pode voltar para a arena, e morrer – ela não consegue terminar, coloca o rosto entre as mãos, e chora.

Estou chocado com isso. É muita coisa para uma noite só. Eu nunca imaginei que Delly sentia algo por mim. Sempre a vi como uma garota simpática, no máximo uma amiga. Com o intuito de acalmá-la, passo meus braços ao seu redor, mas isso só faz ela chorar ainda mais.

– Calma, por favor, não chore – digo, apavorado por vê-la chorar assim, por mim.

Ela levanta a cabeça, e percebo que estamos muito próximos.

– Eu só queria poder te beijar. Só uma vez. Você poderia fazer isso por mim? – ela suplica, com sua voz entrecortada pelo choro.

Como negar a esse pedido? Eu poderia sim, fazer isso, mas por que eu sinto que estou traindo Katniss, pelo simples fato de estar tendo essa conversa?

Penso, sobre quando descobri que Katniss havia beijado Gale. Não seria nenhum crime, beijar Delly, uma única e última vez. Eu me aproximo um pouco mais dela, nossos rostos estão tão próximos, que eu consigo sentir o vento de sua respiração. Mas, no instante em que sei que nossos lábios se tocarão, eu me afasto.

– Eu não posso fazer isso Delly. Me desculpe.

Ela me olha com tristeza, e assente.

– Se eu tivesse tido a coragem de te contar sobre tudo isso antes, eu teria lutado pelo seu amor.

– Não iria adiantar. Eu amo Katniss. Isso é uma coisa que não vai mudar. Mas se eu pudesse escolher, eu escolheria te amar.

– Por que?

– Ás vezes, amar alguém, não significa que você será feliz. Pode significar sofrer, muito.

Ela abaixa a cabeça.

– Eu entendo muito bem sobre isso – ela diz, com ternura e tristeza.

Ficamos em silêncio, sentindo o vento soprar em nossos corpos. É tão devastador saber que há alguém no mundo que me ame, e saber que esse alguém não é Katniss. Saber que por isso, eu fiz e ainda farei sofrer uma garota tão doce como Delly. Ela, ao meu lado, parece perdida em seu próprio sofrimento, e eu percebo que ela está tremendo de frio. Tiro meu casaco e coloco ao redor dela, que por sua vez, abraça – o como se fosse o bem mais precioso. Eu gostaria de poder fazer algo por ela, poder corresponder aos seus sentimentos. Mas eu não posso, pois ao mesmo tempo que penso isso, penso em como eu preciso ver Katniss, desesperadamente, e em como eu preciso me empenhar, para que ela sobreviva ao massacre, e torcer para que eu permaneça vivo, em sua memória, e em seu coração.


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