Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 16
Capitulo 16




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Vou todos os dias visitar Katniss. Ela vai melhorando lentamente, o que prova que seus ferimentos eram realmente graves. Isso tem me feito muito bem. No começo, apenas levava alguns pães de queijo, que descobri recentemente que ela gosta bastante, e ficava a beira da sua cama, conversando sobre trivialidades, o que soava muito falso em meio a situação em que nos encontramos. Mas quando ela me mostrou um livro, sobre plantas na qual seu pai havia deixado detalhadamente escritos sobre todas as plantas que ele tinha conhecimento, uma ideia se acendeu.
– Katniss, porque você não adiciona a esse livro os seus conhecimentos sobre plantas? – sugeri numa tarde particularmente fria.
Ela pareceu se interessar pela ideia, mas logo a descartou.
– Impossível, eu não sou nenhuma grande artista. As plantas têm que ser extremamente bem desenhadas, para não serem confundidas.
Foi então que ela me olhou, e em seus olhos se estampou o mesmo que eu estava pensando. Eu desenho.
Passamos horas em seu quarto, adicionando informações a este livro. Quando eu não conhecia a planta, tinha que fazer vários rascunhos com as descrições de Katniss até que ela se desse por satisfeita, para eu desenhar no livro. É um trabalho tranquilo. E me relaxa sentir Katniss me observando enquanto eu faço a única coisa que eu sei. Desenhar, e pintar. Depois que retoco um último detalhe com um pouco de verde, olho para cima e pego ela a me olhar. Esse flagra faz com que ela core, e dê um pulo, mas eu finjo não notar.
— Sabe, acho que essa é a primeira vez que fazemos algo normal juntos – comento.
— Sim — ela concorda.
Silencio.
— É bom uma mudança.
Termino mais alguns desenhos, e levo Katniss para a sala, em meu colo. Ainda não é recomendável que ela fique andando por aí, muito menos descendo escadas, mas ela insiste em toda a noite descer para assistir a televisão. Eu não me incomodo por ser útil a ela, mas o que ela quer tanto ver?
Com o passar dos dias, vou diminuindo minhas visitas pois não quero ser inconveniente, e além de já termos quase terminado as atualizações no livro, estou passando mais tempo com a minha família. É estranha essa reaproximação, mas finalmente está acontecendo. Enquanto fico na padaria ajudando meu pai, e conversando com minha mãe, consigo ouvir os gritos das pessoas punidas na praça. As chicoteadas estão cada vez mais frequentes, e para o meus espanto, as pessoas já agem como se fosse algo normal. Vejo meu pai estremecer as vezes quando os gritos se tornam intensos, mas ele não diz nada. Continua a trabalhar.
Hoje, enquanto volto para casa, passo para ver se está tudo bem com Haymitch, e ele, muito bêbado, me avisa que amanhã será a sessão de fotos de Katniss com vestidos de noiva.
– Eles querem mesmo continuar com isso? – pergunto descrente.
– O que você acha?
– Ok. Boa noite Haymitch.
– Tenha bons sonhos – ele diz com a voz enrolada e carregada de sarcasmo.
Vou para casa, indisposto demais para comer, apenas tomo banho e me jogo na cama, onde passo intermináveis horas, suando entre um pesadelo e outro.
Na manhã da sessão de fotos, passo para ver Katniss, mas ela está sendo cuidada, como Cinna me informa. Deixo apenas alguns pães de queijo para ela, e marcho para a padaria. Quando volto, exausto a noite, passo em sua casa novamente, mas sua mãe informa que ela já foi se deitar. Suspiro, e vou para minha casa onde nem me dou ao trabalho de acender as luzes, me jogo na cama, e tenho mais uma terrível noite, longe de Katniss.
Acordo antes do sol nascer e saio de casa às pressas, como se mais um instante nesse lugar fosse me sufocar. Vou até o centro, onde encontro poucas pessoas pelo caminho, e todas quase se escondem quando me vê. Rodeio a padaria, uma loja de roupas cinzentas, e quando me canso de vaguear sem rumo, vou até onde era o prego, e me sento num pedaço de tábua que restou do incêndio. Começo a me lembrar de quando eu vinha a este lugar observar Katniss. Como ela assumia uma expressão de durona ao adentrar cheia de caças a mão. Como sempre saia com um sorriso no rosto após as suas negociações. É porque era um sinal de que sua mãe e irmã teriam comida por mais um dia.
– O que faz aqui?
Me viro assustado, e me deparo com Delly Cartwright me observando curiosa.
– Eu que deveria fazer esta pergunta. O que você faz aqui, nos arredores do que restou do mercado negro? – pergunto cedendo espaço para ela se sentar.
Ela dá de ombros.
– Minha casa fica perto demais da praça.
Dizendo isso, consigo entende-la. Daqui não dá para escutar os gritos de pessoas agonizando com punições demasiadas severas.
– Fiquei sabendo que hoje a noite teremos uma programação especial. Algo haver com seu casamento com Katniss? – ela pergunta, chegando mais perto de mim.
– Pode ser. Veremos. Será uma surpresa para mim também – respondo, estranhando essa proximidade.
Ficamos em silencio por algum tempo, até que num gesto inesperado ela me abraça. Fico sem saber como reagir. Se retribuo esse abraço, se afasto ela de mim. Ela percebe meu desconforto, e se afasta rapidamente, com as bochechas coradas.
– Me desculpe. É que... eu precisava fazer isso.
Antes que eu possa responde-la, ela sai correndo, e para o meu espanto, chorando. Fico mais algum tempo refletindo sobre o que aconteceu, e torcendo para que isso não tenha sido uma demonstração de amor. Pois eu jamais conseguirei amar outra pessoa. Não é algo que eu queira também. Sacudo as cinzas da minha roupa, e fico na padaria até entardecer. Chego em casa a tempo de assistir á tal programação especial que é realmente sobre meu casamento. Katniss aparece com vestidos de noiva, e eu fico extasiado ao ver como ela ficou linda. Se esse casamento fosse verdadeiro eu seria tão feliz. Ter uma esposa linda como Katniss é mais que qualquer pessoa merece. Desconcertante é saber que os habitantes da capital escolherão por votação o vestido que ela usará, então, escolherão certamente o mais bizarro de todos.
Estou prestes a me levantar, quando Caesar, anuncia que teremos mais um comunicado importante.
— É isso mesmo, este ano será o septuagésimo quinto aniversário dos Jogos Vorazes, o que significa que é hora de nosso terceiro Massacre Quaternário! – ele grita efusivamente.
Aí aparece o presidente Snow, eu me levanto imediatamente ciente de que essa aparição, não revelará boas notícias.
Ele começa a falar sobre os massacres passados, onde no primeiro cada distrito teve de realizar uma eleição e votar nos tributos que iria representá-los.
No segundo cada distrito foi obrigado a enviar duas vezes mais tributos.
— E agora estamos honrando nosso terceiro Massacre Quaternário — Snow anuncia.
Um menino de branco, que só agora percebi estar ali, segura uma pequena caixa, e o presidente abre a tampa, revelando vários envelopes amarelos arrumados na vertical. Agora entendo. Cada envelope, descreve o que terá de diferente em cada massacre. Deve ter uns cem envelopes ali. Isso apenas reforça a ideia de que esses jogos existirão, enquanto houver vida em Panem. Snow, retira o terceiro envelope, marcado com um 75, e começa a ler:
— No aniversário septuagésimo quinto, como um lembrete para os rebeldes, que mesmo o mais forte entre eles não pode vencer o poder da Capital, os tributos masculinos e femininos serão colhidos a partir de seus vencedores existentes.

Levo um milésimo de segundo para processar o que acabei de escutar. A constatação do que vai acontecer, me atinge com tamanha força, que sinto minhas pernas cederem meus joelhos se chocando contra o chão.
– Katniss – sussurro.
Lágrimas irrompem com uma ferocidade que eu nunca senti antes. Sinto raiva. Ódio. Desespero. Mas sinto, principalmente medo. Eu não tenho como impedir Katniss de viver esse inferno de novo, mas tenho que fazer de tudo para que ela sobreviva. E para isso eu tenho que estar lá com ela. Para isso, eu tenho que voltar para a arena.
Minhas pernas reagem, e sabem para onde seguir. Abro a porta da casa de Haymitch, e o encontro atirando coisas nas paredes. Seguro seus braços, e lhe dou safanões, até que ele consiga se controlar.
– Katniss tem que viver – grito, ainda o chacoalhando. – Está me ouvindo?
Lágrimas não param de escorrer em meu rosto, e para minha surpresa, vejo que Haymitch também chora.
– Eu tenho que ir com ela. Me prometa que você vai deixar eu ir com ela. Por favor? – imploro.
– Está bem – ele sussurra, parecendo ter envelhecido dez anos, de repente.
Abraço Haymitch, agradecido, e sabendo que ele vai fazer o que puder para me ajudar a salvar Katniss mais uma vez.
– Por que isso foi acontecer com a gente? – pergunto, sem folego, em meio as lagrimas.
E pela primeira vez, meu afiado mentor, que sempre tem uma resposta na ponta da língua para tudo, parece perdido.
Depois de enxugar suas lágrimas com a manga da sua camisa imunda, ele me fita, e responde:
– Eu não sei.


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