Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 10
Capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560756/chapter/10

Tenho pouco tempo para me recompor. Minha equipe de preparação adentra meu quarto, sem nem perceber o estado em que estou, e começam a me preparar. Perdi a conta de quantas vezes eles tiveram que passar uma loção em meu rosto, já que toda vez minhas lágrimas abriam caminho pela superfície lisa do creme, deixando marcas. Tudo o que eu quero é procurar Haymitch. Ele me passa uma segurança, mesmo quando suas palavras são um tapa em meu rosto. Mas decido que não, tenho que lidar com isso. Caesar, o brilhante entrevistador está a poucos metros esperando por mim e Katniss, e eu darei o melhor de mim. Ou melhor, eu a pedirei em casamento. Pra que ocasião melhor que essa? Uma lágrima teimosa escorre em meu rosto, e eu a enxugo imediatamente. Faço uma promessa, que eu não sei se serei capaz de cumprir, mas essa, será a última lágrima que derramo por Katniss.
Caesar, com seu jeito alegre quase me faz esquecer de toda a agonia em meu peito. Katniss está linda, como sempre. Mas toda vez que a vejo, sinto como se ela estivesse ainda mais bela. Nós rimos e nos beijamos ás vezes, para o delírio de Caesar e de toda a capital... Há enormes telões na sala, mostrando a multidão que está nos assistindo. Eu sinto que o derradeiro momento está prestes a chegar. E Caesar, como sempre, parece prever a hora exata de cada pergunta.

– Peeta. Katniss... Vocês estão muito felizes, está estampado no rosto de vocês. Mas... – pausa dramática. – Vocês já pensaram sobre o futuro?

Olho para Katniss, ela levanta uma sobrancelha como se dissesse, é agora. E eu sei que é. Olho bem em seus olhos cinzentos e me ajoelho perante ela.

– Katniss, nunca estive tão feliz em minha vida – engulo seco, forçando o nó em minha garganta descer. – Mas, você poderia me fazer ainda mais feliz, se dissesse que sim. Se dissesse que aceita ser minha para sempre, se dissesse que aceita se casar comigo.

Um silêncio paira sobre nós. Vejo que ela está a beira das lágrimas, assim como eu. Triste é saber que essas lágrimas não representam felicidade.

– Claro que sim, Peeta. Eu aceito me casar com você.

Gritos histéricos invadem a sala, Caesar chora, a multidão nas telas vibra, grita e chora.
Eu me levanto, e beijo Katniss, de uma maneira insana, como se um beijo pudesse tornar esse momento real. Para nossa surpresa, o presidente Snow aparece para nos cumprimentar. Sinto instintivamente que tudo o que fizemos, não foi o suficiente. Mas ao olhar para Katniss, vejo uma calma sobrenatural emanando dela, acompanhada de um sorriso radiante. Ela até faz piadinhas com o feroz presidente, quando ele sugere realizarmos nosso casamento na capital. Já eu, estou numa espécie de estupor. Não acredito que isso tenha sido suficiente, e minha vida, e a de Katniss, depende disso. Depende, de convencer a todos sobre o nosso amor. Eu sempre tomei frente de todas as situações, mas agora ajo como se fosse apenas parte do cenário, deixando que Katniss fale o que for preciso. Somos encaminhados para a mansão do presidente, onde está sendo realizado um banquete em nossa homenagem. É claro que não teremos privacidade alguma, mas preciso saber o que houve para essa mudança repentina no comportamento de Katniss. Será que ela acha que conseguimos?

Me distraio um pouco assim que chegamos, quando reparo a extravagancia, e luxo da festa, e tenho certeza de que nunca me acostumaria num lugar desses. Quando as mesas com comidas, fico boquiaberto com a exuberância dos pratos. Comidas que eu nunca imaginei existir, comidas que eu sempre quis provar... Enfim, uma infinidade de coisas.

— Eu quero experimentar tudo na sala — Katniss dispara.

Olho para ela, um pouco perplexo, por todas as suas preocupações terem sumido tão de repente. Mas não teremos como conversar aqui, com tantas câmeras. Ao mesmo tempo me sinto aliviado pois ela não vinha se alimentando direito. Será um prazer vê-la devorar todas essas especiarias.

— Então é melhor você apressar seu ritmo – digo, forçando um sorriso.

— Ok, só uma mordida de cada prato.

Suspiro, e decido deixar minha tensão de lado, já que Katniss parece tão relaxada. Tento aproveitar ao máximo a noite, e como o máximo que posso. Katniss está fazendo o que disse, experimentando um pouco de cada prato. Volta e meia, ela se demora mais em alguns, mas sua expressão é de total felicidade. Tiramos muitas fotos, conversamos com muitas pessoas esquisitas, somos apresentados para muitas pessoas ainda mais esquisitas. Vejo o símbolo de tordo, do broche de Katniss em todos os lugares. No cabelo de alguém, no cinto, nas joias, até em tatuagens. Isso certamente não é algo visto com bons olhos pelo presidente Snow. Mas o que mais podemos fazer? Ter um bebê?
Depois de passarmos por dez mesas, nem a metade do que há na vasta sala, minha barriga até dói de tão cheia. Katniss ainda tenta comer, mas acaba me dando a maioria das coisas que pega. Não que estejam ruins, é só que ela está tão cheia quanto eu. Quando aceitamos o fato de que não conseguiremos comer mais nada, somos surpreendidos pela chegada da nossa equipe de preparação. Eles estão bêbados, o que faz com que sejam mais efusivos ainda.

— Por que não estão comendo? — perguntam em uníssono.

— Eu estava comendo, mas não posso aguentar nem mais uma mordida — Katniss responde.

Eles cem na gargalhada.

— Ninguém deixa que isso os impeça! — diz um homem magro, da equipe de Katniss. Eles nos levam até uma mesa, cheia de taças com um líquido âmbar dentro. — Beba isto!

Pego uma taça. E quando estou prestes a beber, eles fazem um escândalo e me impedem.

— Aqui não! — gritam.

— Você tem que beber lá dentro — Uma mulher muito magra me diz, apontando para o corredor que leva até o banheiro. — Se não você vai sujar o chão!

Olho para a taça em minha mão, e o choque do entendimento me consome.

— Você quer dizer que isso vai me fazer vomitar?

Todos riem histericamente.

— Claro que sim, para que você possa continuar comendo. Eu já fui lá duas vezes hoje. Todos fazem isso, ao contrário como poderiam se divertir em uma festa? – Octavia, uma mulher rechonchuda responde.

Coloco a taça de volta a mesa, sentindo meus músculos rijos, por baixo do terno. De repente sinto repulsa por toda essa gente, e tudo o que mais quero é sair daqui com Katniss. Mas como não posso, a pista de dança se torna uma saída, para não ter que falar com ninguém. Katniss parece tão indignada quanto eu.

— Venha, Katniss, vamos dançar – digo, e pego sua mão.

Não sei dançar. Mas isso não importa. Envolvo Katniss em meus braços, e ficamos rodando, lentamente no meio da pista, sentindo todos os olhares em nós. É doentio tudo isso. Pessoas morrendo de fome, enquanto outras vomitam para comer ainda mais. Puxo Katniss para mais perto, e o seu perfume invade minhas narinas. Não sei se pela música alta, a fumaça de cachimbos, ou esse perfume doce que exala da pele dela, mas me sinto um pouco tonto, desnorteado. Há menos de um ano, eu morava com meus pais, trabalhava na padaria, e não fazia outra coisa a não ser pensar em Katniss, e em como poderia um dia falar com ela. Agora, estou aqui, com seu corpo colado ao meu, meus braços envolvendo sua cintura, sentindo cada movimento seu, cada respiração. Nunca pensei nela desse jeito. Mas, uma vontade enlouquecedora me invade. Vontade de descobrir mais sobre ela. Vontade de tocar todo seu corpo, senti-la de verdade, em mim. Me envergonho por estar pensando essas coisas, mas já que vamos nos casar, o próximo passo é ter filhos. E isso será cobrado se tivermos que continuar essa farsa. Talvez um dia ela até possa me amar. Talvez um dia ela se entregue para mim. Como eu adoraria descobrir esse novo mundo com ela. Mas há a pequena possibilidade de ficarmos presos um ao outro para sempre. Ela pode vir a me odiar por isso. Por não ter escolha. Nesse caso, a única coisa que eu poderia fazer seria deixar ela viver sua vida com Gale, as escondidas. Isso seria quase insuportável, mas se a fizesse feliz, bastaria. Afasto um pouco minha cabeça, para olhar seu rosto. Fito seus olhos, me demoro um pouco olhando sua boca, e tudo o que consigo pensar é em como eu quero vê-la feliz. Em como sou capaz de qualquer coisa para fazê-la feliz, nem que isso signifique acabar de vez com minha vida. De certa forma minha vida começou de verdade quando a beijei pela primeira vez. Hoje, agradeço por não ter percebido que era tudo mentira, pois foi muito bom me sentir vivo. Irônico foi o fato de eu estar quase morrendo quando aconteceu. Abaixo a cabeça, para esconder meus olhos marejados, e enquanto rodo pelo salão com ela em meus braços, fico pensando em como minha vida seria, se ela me amasse. Só um pouquinho já bastaria para me fazer feliz. Mesmo se ela amasse mais Gale, que eu, já seria o suficiente. Mas como o amor não pode se comprar, e eu não tenho a mínima chance de conquista-la, tenho que aceitar a minha realidade, e seguir o conselho de Haymitch. Fingir que é real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Em Chamas - Peeta Mellark" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.