Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 1
Capítulo 1




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Observo o sol surgir lentamente, espalhando raios tímidos sobre a neve. Abro a janela do meu quarto, sem resistir a uma pequena olhada para a casa de Katniss. É tão estranho estar tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante de uma pessoa. Desde que os jogos acabaram, minha vida parece estar pendurada por um fio à beira de um precipício. Eu sinto que a qualquer momento esse fio irá estourar, e eu cairei em uma profundeza da qual jamais serei capaz de subir. No começo eu custei a entender que tudo foi uma mentira. O final dos jogos me trouxe um alívio enorme, pois eu poderia enlouquecer se tivesse que assistir a morte de mais algum inocente. Mas ao mesmo tempo, o fim dos jogos me trouxe uma solidão terrível. Pois eles simbolizaram o início de uma nova vida para mim, na qual Katniss não estava incluída. Acho que a coisa que mais me entristece é que não fui eu que decidi isso. E também não posso fazer nada para mudar as coisas.
Vou até a enorme cozinha de minha casa e começo a preparar uma massa. Tudo está absolutamente silencioso. Minha família, por alguma razão se recusou a morar aqui comigo, na Vila dos vitoriosos. Minha mãe aparece toda a semana para organizar minhas coisas, mas depois de um tempo, finalmente me acostumei com minha nova perna e agora consigo me virar bem sozinho. Eu poderia continuar a morar com eles, mas é como se eu não pertencesse aquela família. Não mais. É como se eu não pertencesse a lugar algum. Todo o dia vou até a padaria ajudar meu pai. Ele não me diz nada, eu não digo nada, e ficamos assim. Gosto de ir até lá, pois sempre encontro Katniss pelo caminho. Ela parece tão desnorteada quanto eu. Sem saber o que fazer com tanto dinheiro, tanta abundancia, tanto vazio. Por mais que ela se quer me olhe quando nos esbarramos, pelo menos eu consigo vê-la um pouco de perto. Sentir seu cheiro, e imaginar que ainda estamos juntos, mesmo sabendo que nunca estivemos de verdade. Coloco o pão para assar e vou para o banheiro. Tomo um banho longo, sentindo a ansiedade crescer cada vez mais dentro de mim. Hoje é o início da turnê dos vitoriosos. Katniss e eu teremos que passar por todos os distritos, encarar a família das pessoas que matamos, que vimos morrer. É um jeito de a Capital nos fazer relembrar todo o horror vivido. Como se um dia eu fosse capaz de esquecer. Por mais estranho que pareça, eu tenho ansiado por esse dia. Por mais que seja uma reaproximação forçada, sem direito de escolha, eu ficarei próximo a Katniss novamente. Teremos que fingir um namoro que nunca existiu. Um amor que só existe dentro de mim. Mas essa é minha chance de conquista-la. Ou ao menos de quebrar essa muralha que parece ter se erguido entre nós. Me visto e decido ir até a casa de Haymitch. Não sei como ele sobreviveu todos esses anos, pois o único vestígio de comida em sua casa, é dos pães que levo para ele todo o dia. Quando Katniss não está em casa também levo alguns pães, biscoitos e entrego para sua mãe e irmã, na esperança de que ela ao menos coma o que fiz, já que falar comigo parece não ser uma alternativa. No começo, eu que evitei falar com ela. Foi um baque muito duro descobrir que Katniss nunca sentiu nada por mim, e que tudo que ela fez foi fingir. Mas depois, eu percebi que só poderia ser grato a ela, pois, ela fez isso para nos salvar. Só que ás vezes eu penso que seria melhor ter morrido naquela arena, sem ter sequer me aproximado dela, ao invés de passar noites e mais noites acordado, desejando sentir seus lábios, já sabendo que quando isso acontecer, será tão falso quanto foi nos jogos. Paro um instante na porta de Haymitch, que aberta, exala diversos cheiros desagradáveis vindos de dentro da casa. Eu sempre penso que um dia irei me acostumar com isso, mas quando meu estômago revira, começo ter minhas dúvidas. Entro na casa, passando por cima de várias embalagens, garrafas vazias, e estremeço quando escuto a voz de Katniss. Faz tanto tempo que não a escuto que tinha quase me esquecido como era seu som. Ela parece estar brigando com Haymitch.

- Deveria ter pedido ao Peeta – escuto ela dizer.

Respiro fundo e adentro o cômodo.

— Pedir-me o quê? – pergunto, e quando nossos olhares se encontram, sinto um nó na garganta, mas o engulo, decidido a não deixar transparecer toda a dor e alegria que esse reencontro me causa.


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