E no momento em que a raiva nos cega e agimos por impulso, foi nesse momento que decidi girar a maçaneta da porta. Mas meus instintos me pedindo para fugir desse lugar, longe dele, por um momento foi mais forte e eu fiquei congelada sem saber o que fazer. Em uma batalha interna entre enfrenta-lo ou fugir, decidi deixar o medo um pouco de lado e acabar de vez com todo esse teatro. Quanto mais rápido Oliver souber que eu não quero mais saber dele, eu espero que mais rápido ele desista de achar que me deve ou que eu quero uma explicação de sua parte sobre coisas que eu já me encarreguei de enterrar no fundo do lugar mais obscuro dentro de mim.

Esquecer é o melhor remédio... Foi assim que eu sobrevivi desde que meu pai nos abandonou, e foi assim que eu continuei desde o que aconteceu há cinco anos atrás.

Me apeguei as coisas boas: minha mãe sempre do meu lado, meus amigos que sempre estiveram para mim me fazendo sorrir, e principalmente meu pequeno anjo, que foi minha fortaleza, o motivo de minha luta diária.

Por ela eu estou onde estou, para seu bem, para um futuro melhor para nós duas. E não, eu não iria deixar que Oliver me tirasse dos eixos, e muito menos irei permitir que por um erro do passado eu perdesse tudo de mais valiosos que consegui ao longo de minha vida. Minha família.

Por fim, decidi que adiar só pioraria o que estive tentando evitar, então que seja... Abri a porta.

Sua imagem foi se materializando em minha frente à medida que a porta foi se abrindo e minha pulsação não poderia estar mais acelerada do que agora. Algumas lágrimas ainda rolaram timidamente pela minha face enquanto o silencio pairava entre nós, mesmo havendo tanta coisa a dizer...

E eu queria dizer algo, ou seja, queria dizer tudo... tudo o que vinha guardando dentro de mim por cinco anos, tudo o que sempre quis lhe dizer e foi se acumulando dentro do meu coração ferido, me partindo em mil pedaços.

Ela deu um passo a minha frente denotando seus olhos vermelhos, e como eu suspeitava, ela estava chorando, mas seu olhar acima de tudo, indicava magoa e raiva, ela me olhava de um jeito tão frio que eu engoli em seco pela dor que se formou em mim.

Felicity já me olhou com seus olhos azuis brilhando de amor sempre que me via. Agora seus olhos estavam tão obscuros... Como se algo tivesse se partido dentro dela, algo que eu não poderia concertar, algo pelo qual eu sou responsável e eu jamais me perdoarei por isso.

— Felicity... – ele soltou meu nome com um ar abafado, que eu nem havia notado que também estava contendo, lancei-lhe um olhar como se ao mencionar meu nome estivesse cometendo o pior dos crimes, pois era exatamente como eu me sentia, depois de tudo que fez ele não tinha o direito de sussurrar meu nome daquela maneira— eu... Nós... –  ele me encarou com o olhar suplicante—  precisamos conversar... Por favor.

—Nós?— Ela disse com a voz abafada e um olhar incrédulo. Dei um passo em sua direção, mas ela levantou a mão num claro sinal para que eu não me aproximasse – Não existe mais “nós”, Oliver. Depois de tudo o que aconteceu... Nem sequer sei se um dia existiu, e você...— ela suspirou e desviou o olhar por um momento e voltou a me olhar como se eu fosse a coisa mais abominável que tivesse visto, e isso doeu como o inferno em mim. – bom, não importa. Tudo isso esta no passado e eu acho melhor deixar assim.— eu senti um nó sufocante crescer em minha garganta, ela simplesmente apontou o dedo para a rua e me olhou com repulsa - Por favor, vá embora!

— Felicity, por favor, me escute. Eu preciso falar com você, preciso contar tudo. Só me escute e se depois você ainda não quiser me ver... – ele disse as palavras tão apressado e com um olhar de dor quase como se estivesse desesperado— eu vou embora e você nunca mais vai saber de mim.

— Contar o que, Oliver?— ela soltou uma risada sem humor algum, ainda com o olhar gélido dirigido a mim – Que você se arrepende? Que tudo não passou de um grande engano?— ela deu um passo à frente com uma sobrancelha arqueada e pós uma mão em seu peito – Que você alguma vez me amou?— sua voz soou ríspida e logo ela esboçou um sorriso irônico – Ambos sabemos que não é verdade... — suas palavras, seu olhar, a maneira como ela estava agindo só aumentava esse tormento dentro de meu peito.

— Felicity, eu... – ele respirou fundo e desta vez foi ele quem se aproximou, não pude evitar o descompasso das minhas batidas cardíacas, mas não deixei que ele notasse o efeito que causava em mim— Não foi assim que as coisas aconteceram. – ele sussurrou com os olhos marejados brilhando com falsa tristeza— Você não entende, nem mesmo eu entendia. Tudo era novo para mim e isso me assustava... – tentei controlar minha respiração e o encarei incrédula, ele passou a mão pelos cabelos, me encarou com intensidade e sussurrou com a voz calma. Não pude evitar a raiva crescer em mim.— eu não sabia... não sabia o que eu sentia por você.
— O que você sentia por mim? – Ela riu novamente sem demonstrar emoção e deu mais um passo se aproximando, seu olhar demonstrando rancor e repulsa – Você não sabia... Mas vejam só!— disse com escárnio – Mas isso não impediu você não é? Os encontros que tivemos, as palavras que você me dizia, os beijos, o falso amor, as promessas...— ela me encarou com a magoa estampada em sua face – A maldita noite em que fui tola e me entreguei a você. Admita que tudo não passou de uma estúpida brincadeira para você.— sua voz era suave e fria ao mesmo tempo, eu não pude controlar as lagrimas que desciam descontroladamente pela minha face, e tudo o que fiz foi abaixar o olhar, tentando encontrar minha voz, mas uma enorme bola de dor havia se formado em minha garganta. – Nem sei se você sequer sentiu algo por mim.

Ouvir isso dela fez meu coração sangrar, mas eu merecia esse castigo, ouvir isso de sua boca, por mais que me machucasse, pois foram minhas atitudes, minhas escolhas e meu erro que a feriram. E não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.

Após alguns minutos que mais pareceram uma eternidade, me lembrei do porque eu estava aqui e eu não iria desistir tão fácil, apesar das cruéis palavras que ela tinha o direito de jogar em minha cara, pois eu também tinha o direito de dizer a ela toda a verdade.

Tudo que ela não soube e tudo o que eu descobri depois de sua partida.

Eu precisava dizer, precisava tirar isso de dentro, precisava que ela escutasse e que me entendesse. Eu precisava de seu perdão, e mesmo que ela se negue, eu precisava dizer a ela que mais do que tudo, eu precisava dela em minha vida.

—Eu entendo o que você passou. — ele me encarou com pesar e eu fiquei estática ao ouvir essas palavras  —  Eu entendo que eu te fiz muito mal, Felicity, mas eu nunca quis te machucar. Nunca foi minha intenção te magoar. — a cada palavra dele sentia a chama dá raiva crescer em meu peito, abri levemente a boca, tentando abrir passagem para o ar que parecia não entrar em meus pulmões — E eu sinto muito por isso... — ele sussurrou baixinho.

— Você-entende-o-que-eu-passei? — ela disse pausadamente em tom alto, seu rosto ganhou um tom de vermelho mais intenso, ela me olhava com fúria nos olhos, ela deu passo em minha direção me empurrando com uma mão, me fazendo recuar — Não, Oliver! Você definitivamente nao tem noção pelo que eu passei e pelo que tive que passar depois! — Felicity estava alterada, sua voz saia trêmula, e eu fiquei sem saber como reagir enquanto ela cuspia as palavras rudemente em mim — Você não faz ideia de tudo o que sua brincadeira estúpida me causou, mas você nunca se importou não é? Eu não sei o que aconteceu com você, e sinceramente, não me interessa! Tudo o que sei é que fui usada para preencher a cama de um playboy mimado, que está acostumado a usar as pessoas como se não fossem nada, como se não tivessem sentimentos! — ela foi elevando a voz e as lágrimas começaram a encharcar seu rosto — Lembra quando você me disse que era exatamente como aqueles babacas dos seus amigos dá faculdade? Quando eu me neguei a acreditar nisso e te defendi? Quando eu disse que você era diferente deles? — Felicity riu e logo me olhou com escárnio e um sorriso forçado  — Pois bem, você estava certo e eu estava errada. Admita Oliver, eu apenas fui mais uma na sua cama, enquanto você não tinha sua amada Laurel. — ela limpou as lágrimas de seu rosto com as costas da mão enquanto puxava o ar. — Você apenas me usou como um brinquedo, e assim que não precisava mais de mim em sua cama, estava pronto para me descartar.

— Eu nunca usei você... — ele disse com a voz amargurada, eu já não conseguia me controlar, as lágrimas caiam incessantes encharcando meu rosto, eu me sentia febril, cada segundo perto dele, era como uma chama me consumindo aos poucos, acabando com minha sanidade. — Eu... Não sabia o que estava sentindo. Tudo foi confuso, eu estava confuso, e fiz escolhas erradas. Mas então eu percebi que era você... Sempre foi você, Felicity. — ele se aproximou mais, seu corpo a centímetros do meu fez meu coração bater mais alto e ao mesmo tempo mais lento, ele sussurrou as palavras olhando intensamente para mim — A mulher certa para mim, a quem eu realmente amava... A quem eu sempre amei. Por favor, você tem que entender.

Cada palavra que saia de sua boca só me fazia lembrar das muitas outras que ele havia me dito a cinco anos atrás, juras de amor, promessas que pareciam sinceras... Apenas palavras vazias.

E as palavras que ele havia dito aquela mulher naquela noite vinham em flashes na minha mente, eram como uma ferroada em meu coração. Eu sentia o veneno se espalhando em meu peito, a mágoa, a raiva, o rancor, tudo estava voltando de novo, mais forte, mais intenso, como se eu voltasse para aquele dia, aquele maldito momento de novo.

— Mas veja que coincidência não é? — Felicity disse com ironía crepitando em seu tom de voz, juntei as sobrancelhas confuso, ela me fitava de forma inquisitiva — Você percebeu que me amava depois de tudo? E você descobriu isso bem quando foi traído pela única mulher que amava, a única que se via formando uma família, a única que via como mãe dos seus filhos!  – ela manteve a voz serena enquanto recitava palavras que eu me lembro de haver dito para Laurel naquele maldito dia — Você nunca me amou, nunca amou ninguém além de a você mesmo, Queen. — ela desviou o olhar por alguns segundos e voltou a me encarar com firmeza –E eu não entendo porque, depois de todo o inferno que me fez passar, depois de anos, quando toda essa merda já está enterrado para mim, você resolve aparecer e me atormentar com isso? Sabe o que eu acho... — ela abriu um sorriso exagerado, e disse com falso entusiasmo — Que você não se conformou de eu não ter te aceitado de volta, depois de tudo, porque você esperava que eu fosse tola o suficiente para voltar correndo aos seus pés quando você quisesse, e como eu não quis, você está aqui tentando de novo, porque você nunca aceita um não como resposta, não é mesmo Oliver? Então diga porque está aqui. Diga o que você quer de mim? O que pretende com todo esse show? — ela se aproximou mais, encurtando o mínimo espaço que havia entre nós, pela diferença de altura tive que baixar meu olhar para vê-la enquanto ela me fitava com intensidade, seu rosto muito próximo do meu, olhei para seus lábios e uma vontade avassaladora de toma-las para mim me venho, tive que me segurar para não beija-la, ela abriu a boca e sua voz soou mais grave do que nunca, lançando as palavras lentamente — Diga o que você quiser, mas nunca diga, Oliver... Que você me ama. Porquê eu sei que não é verdade!

Antes de tomar ciência do que eu estava fazendo, eu já estava pegando Felicity pelos braços e aproximado nossos corpos completamente enquanto olhava de forma intensa e apaixonante para ela, que foi pega de surpresa.

— Eu te amo, Felicity Smoak. E essa é a única verdade aqui. — quando ela abriu a boca para rebater, eu delicadamente coloquei as mãos em seu rosto e o aproximei de mim, envolvendo-a num beijo calmo porém intenso.

Ela se manteve imóvel no começo, relutante depois, mas acabou cedendo no seguinte segundo.

Nossas lágrimas salgadas misturaram-se com o sabor de sua boca, enquanto nossos lábios se encaixavam de forma harmoniosa e nada mais importava nesse momento.

Senti o corpo de Felicity amolecer em meus braços, nossos corações batendo juntos, um contra o outro, um calor crescia imensuravelmente em meu peito enquanto eu segurava-a firmemente contra mim.

Não importava o quanto sofremos no passado, nem a dor que cada um carregou, não importava a distância nem os anos que não estivemos juntos, nem a discussão que acabamos de ter.

Não importava o que estivesse acontecendo no mundo todo, pois eu tinha meu mundo aqui em meus braços. Tudo o que importava agora era que Felicity estava em meus braços e eu em suas mãos.

Nada mais importava nesse momento, porque eu sentia que o nosso amor ainda estava tão vivo quanto antes.

E eu não queria que este momento acabasse.

Eu não queria que ela saísse de meus braços, eu não queria deixa-la ir.

Eu não queria perder Felicity outra vez. Nunca mais.