Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 9
Convencendo a si mesmo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559745/chapter/9

Kakashi encarou a mulher, incrédulo. Por algum motivo, a recusa da ninja em ficar do seu lado, apenas por ele mesmo, o machucou. Obviamente, em momento algum acreditou que conseguiria o apoio integral de Nana facilmente. Mas imaginava que a kunoichi simplesmente se recusaria a voltar a Konoha. Não considerara a hipótese dela não querer tomar seu partido na guerra. Dependendo do inimigo, é claro. Ela frisou isso. O inimigo a colocaria na guerra. Não Kakashi. Assim, quando o Hatake voltou a falar, após um hiato de minutos, ele não mantinha mais o tom frio na voz. Tampouco gritava. Apenas se forçava a murmurar o que girava na própria cabeça:

— Então você não me apoiaria? Você simplesmente lutaria contra um inimigo comum?

Nana não respondeu. Ela, claramente, notara a mágoa na voz de Kakashi. Era impossível para ela não notar. Muita coisa passara entre os dois, e, no fim das contas, eles se conheciam muito bem. Bem demais.

— Hein, Nana? Responde! - agitou-se Kakashi, aproximando-se ainda mais da mulher, esperando ver, nos olhos da ninja, ilumidados pela pouca luz do luar que entrava pelas frestas da cabana, algum sinal de que ela estava apenas o provocando. Algum sinal de que ela ainda o considerava minimamente importante. Mas encontrou somente o amarelo em fúria que nunca deixava as íris de Nana.

Ela permaneceu calada, e Kakashi a odiou. Mas, mais que isso, odiou a si mesmo. Por que a opinião dela a seu respeito era tão importante? Por que considerava tanto a mulher que não via há anos, que o largara, escondera a existência de sua filha, tentara matá-lo? Por que machucava tanto não ter seu apoio incondicional?

— Kakashi, - começou Nana, pausadamente, virando o rosto e controlando a respiração, a qual Kakashi conseguia sentir, tão perto que estava - não faça disso algo pessoal…

— Mas é pessoal! - cortou Kakashi, ainda mais agitado - Você fez disso algo pessoal! Se outro, que não eu, te pedisse apoio contra a Raiz, contra os conselheiros, você com certeza daria…

— Quem disse? - rebateu Nana, furiosa, empurrando Kakashi contra a parede mais próxima, o rosto rubro, descontrolado, tão típico da instabilidade da mulher, a centímetros do dele - Quem disse? Que eu entraria numa guerra, arriscaria minha vida, a vida da minha filha, apenas pra acabar com aqueles cretinos? Eles não valem isso, Kakashi! Você não vale! Então, quer saber de uma coisa, seu babaca? É pessoal sim!

Kakashi não respondeu. As lágrimas que escapavam dos olhos de Nana lhe tiraram o fôlego, a voz. Jogaram-lhe a realidade na cara. Fizeram o ninja se sentir tão cretino quanto os inimigos contra os quais lutariam. Aiko. Ele não contara com o fator Aiko.

— Você quer colocar o pessoal nisso, né, Kakashi? - continuou Nana, agora segurando o ninja pelo colarinho, equilibrando-se nas pontas dos pés a fim de encará-lo da mesma altura - Então . Não diga para Aiko que você é o pai dela!

— Você louca? - perguntou Kakashi, desesperando-se.

— Não! Quando esse golpe estourar, pego a Aiko e fujo! Sumo com ela! Se você ganhar, eu volto. Prometo!

— Você enlouqueceu…

— ELES VÃO VIR EM CIMA DELA, KAKASHI! - gritou Nana, completamente descontroalda, as lágrimas agora escorrendo livres pelo rosto da mulher, a fúria transformada em desespero. Kakashi então entendeu. Às vezes era difícil acompanhar as bruscas mudanças de humor de Nana, mas finalmente tudo fez sentido. Obviamente, ele ainda era um cretino. Ele estava preocupado com o porquê dela não apoiá-lo. E ela preocupada com a filha deles - Se nós dois estivermos do mesmo lado, eles vão vir em cima dela! Eles vão usá-la pra nos atingir! Ela já nasceu um alvo!

— Você acha que eu não vou conseguir proteger vocês?

— Eu tenho certeza! - chorou Nana, afundando o rosto no peito de Kakashi, tremendo em soluços, as mãos agarrando o tecido da blusa do ninja - Por favor, Kakashi! Me deixe fora disso! Deixe a Aiko fora disso!

Kakashi travou. Não sabia o que fazer. Nunca vira Nana daquela maneira. Já a vira descontrolada, claro. Mas, nesses casos, ela se tornava perigosa, incontrolável. Uma fera. Não frágil, com medo, em pânico.

Ele sentiu as mãos da mulher afrouxarem sua roupa e, instintivamente, a segurou. Sustentou o corpo de Nana, desacordado, sentindo o calor exalar da pele dela. A febre subira, mas já era de se esperar. Estava muito frio e ela usava apenas um pijama leve. Kakashi sentiu-se ainda mais culpado.

O ninja a levantou nos próprios braços e carregou-a para fora do galpão. Mal abrira a porta, sentiu o vento cortar-lhe a pele e correu. Em segundos, já estava atravessando o curto corredor da cabana em direção ao quarto da mulher. Deitou Nana, cobriu-a com o edredom até o queixo e sentou-se ao lado dela, fazendo o que lhe restava fazer: observá-la.

Os cabelos ruivos de Nana estavam definitivamente bagunçados, espalhados em completa desordem pelo travesseiro. Seu rosto corado, consequência da febre, ainda estava molhado pelas lágrimas derramadas minutos antes. Kakashi tirou um lenço do bolso e secou as bochechas dela, assim como o suor que começava a brotar em sua testa. O coração do ninja apertou. Definitivamente, precisava de Nana do seu lado para enfrentar o golpe. Naruto, Sasuke e Sakura eram excelentes ninjas de combate. Mas não tinham a experiência da kunoichi em espionagem, politicagem, estratégia. Ninguém, além dele mesmo e de Nana, conseguiria entrar na Raiz para obter as informações necessárias. E não tinha como ganhar aquilo só no corpo a corpo. Era uma batalha de informações também.

Por outro lado, ela implorara a ele para deixá-la fora daquilo. E tinha um excelente motivo: Aiko. Nana estava totalmente certa quando disse que a filha se tornaria um alvo. Poderia tentar escondê-la, mas tinha certeza de que os conselheiros sabiam da existência da menina. Levá-la para vila era colocá-la sob os olhos dos inimigos. Entretanto, permitir que Nana partisse com ela para longe era arriscar que, durante um possível ataque a elas, ele não pudesse protegê-las. Sim, as duas. Aiko e Nana. Porque agora, de repente, Kakashi sentia-se obrigado a defender a mulher também, e não apenas sua filha.

— Kakashi, - chamou uma voz à esquerda do ninja, tirando-o de seu transe momentâneo. Ele virou o rosto levemente surpreso, e acabou por encarar um Sasuke com uma expressão estranhamente complacente.

— Ah, Sasuke… - começou Kakashi, voltando o rosto à Nana - O que houve?

— Você está bem? - perguntou o garoto, sentando-se ao lado do sensei, que recebeu a indagação do Uchiha com espanto: desde quando Sasuke se preocupava se alguem estava bem ou não? Se bem que Nana também não chorava, muito menos implorava, e ela fizera ambos há menos de dez minutos. Talvez aquele fosse o dia de se portar às avessas. Assim, ele deveria esperar um Naruto calado e uma Sakura alá Hinata pelas próximas horas.

— Ah, claro… - respondeu o sensei evitando encarar o aluno.

— Humph…

Houve um minuto de silêncio durante o qual ambos, Kakashi e Sasuke, dedicaram-se a observar o rosto desacordado de Nana. O Hatake, num movimento quase automático, segurou o pulso da mulher, checando sua temperatura. A febre não baixara.

— Eu ouvi a briga entre vocês dois… - informou Sasuke, cortando o silêncio. Kakashi sabia que deveria estar acostumando com as intromissões de seus alunos em sua vida pessoal. Quando eram crianças, viviam seguindo-o para cima e para baixo, querendo saber se ele tinha namorada ou como era sua cara. Entretanto, por algum motivo, daquela vez sentiu raiva. E teve que se controlar para manter a conversa em um tom ameno.

— É falta de educação escutar atrás da porta…

— Ninja - respondeu Sasuke, dando de ombros - Então é um golpe no fim das contas?

Kakashi confirmou num aceno, esperando que aquilo findasse a conversa. Esperança inútil, ele sabia.

— Por que você precisa tanto dela afinal? - indagou o Uchiha, num tom que misturava curiosidade e, por que não?, ciúmes. No fim das contas, ele e Naruto deveriam ser suficientes, não? - Ou será que você não precisa dela? Apenas a quer, sem necessidade real?

O Hatake voltou o rosto ao aluno sem conseguir evitar pensar que intimidade era uma praga. De seus três discípulos, considerava Sasuke o mais parecido com ele mesmo e, talvez por isso, estivesse disposto a ouvir dele mais do que estaria dos outros dois. Entretanto, havia um limite.

— Desde quando você pode falar assim comigo, Uchiha? - ralhou Kakashi, em voz baixa, cravando um certo perigo nas palavras. Um vislumbre de surpresa transpassou os olhos de Sasuke antes desse se recompor e responder:

— Você vai forçá-la a voltar à vila e lutar uma guerra que é sua, colocando Aiko em perigo, apenas porque quer ficar perto das duas?

Kakashi fechou os olhos e respirou fundo. Estava, definitivamente, no seu limite. E ouvir bronca infundada de um garoto mimado não ajudava a recuperar a paciência.

— Não é capricho, Sasuke - começou Kakashi, o mais próximo de calmo que conseguia fingir - Ela é a única pessoa que consegue espionar a Raiz…

— E se não for a Raiz que está por trás disso? - cortou o Uchiha.

— Ninguém mais sabia que a Nana é a guardiã, além dos conselheiros. E eles trabalham com a Raiz desde…

— O Danzou morreu - interrompeu Sasuke novamente - Eles podem ter passado essa informação para outros.

Kakashi considerou a hipótese um instante, mas não a deu demasiada importância. E a razão era simples: a Raiz era a única organização com força militar suficiente para tentar um golpe em Konoha.

— Orochimaru - rebateu Sasuke quanto Kakashi lhe explicou isso. Novamente, o Hatake considerou a opinião do aluno por um segundo, antes de descartá-la. Orochimaru ainda estava recuperando seu antigo domínio. Não tinha poder de fogo para atacar.

— E, de qualquer forma, se não for a Raiz, Nana descobriria e continuaríamos investigando… - explicou Kakashi.

— Qualquer um pode investigar, Kakashi… - argumentou Sasuke.

— Não tão bem quanto ela.

— Me diga o que você precisa saber e eu descubro...

— Qual o real ponto dessa conversa, Sasuke? - perguntou Kakashi, a paciência finalmente atingindo o limite - Por que, de repente, você está tão preocupado com Nana voltando à Konoha?

— Tá com cíumes, Kakashi? - provocou Sasuke, com um leve sorriso nos lábios. O Hatake levantou a sobrancelha, num claro sinal de que não aceitaria mais piadinhas, e Sasuke, então, continuou, sério - Tanto faz pra mim se ela volta ou não. O problema é você colocar tudo em risco porque não pensando direito. Você agindo no impulso…

— Se eu estivesse agindo por impulso já teria tomado a decisão…

— Se a Nana volta pra Konoha, - começou o Uchiha, ignorando o sensei - e ela ou a Aiko ficam em perigo, quem virá em primeiro lugar, Kakashi? As duas ou a vila? Quem você protegerá? Você deve deixá-las ir. A vila nunca será sua prioridade enquanto elas estiverem por perto…

— A vila já é minha prioridade agora, Sasuke - rebateu Kakashi, irritado - Por isso a Nana tem que voltar. Porque ela é a melhor shinobi pro trabalho. Ela é a única capaz de fazê-lo.

— Isso ou você, simplesmente, não quer perdê-la de novo - contrapôs Sasuke.

— Eu pensei que você tinha crescido, mas estava enganado. Você ainda é uma criança - suspirou o Hatake, levando as mãos ao rosto antes de continuar - As coisas não são divididas tão superficialmente assim, como você pensa. Eu não tenho interesse nenhum na Nana. Não nela por ela mesma. Mas ela enquanto kunoichi é vital à vila.

— Se é assim, então você já tem sua decisão - concluiu Sasuke, que parecia ter se ofendido ao ser chamado de criança.

— Se fosse só a Nana, sim. Eu teria minha decisão - concordou Kakashi, sabendo que, sem a filha, talvez ainda tivesse sido capaz de encarar Nana apenas como uma kunoichi - Mas tem a Aiko.

— Eu vou te dizer o que eu acho, Kakashi…

— Você ainda não disse?

— Você quer as duas por perto. E, por isso, está superestimando a necessidade da ação de Nana na situação atual. A vila enfrentou a guerra passada sem ela. Pode enfrentar essa também, caso ela venha. Mas como você não quer arriscar perdê-la novamente, a forçará a voltar à vila. E talvez ela nos ajude a acabar com essa merda toda. Mas existe a grande chance deles a usarem contra você. E usarem a Aiko também. E então, elas serão sua prioridade e você vai ferrar com Konoha pra salvá-las… Isso porque você é o pai da Aiko. E é apaixonado pela Nana.

Kakashi deixou Sasuke discursar sem interrompê-lo. Mas sentiu o estômago queimar enquanto ouvia o Uchiha. E, por mais que detestasse admitir, inclusive para si mesmo, a maior parte da raiva vinha justamente da possibilidade do garoto estar correto. Exceto pela última parte. Nunca fora apaixonado por Nana. O que eles tinham era uma necessidade mútua de não se entregar à solidão. Não era paixão. Ambos concordavam nisso.

— Eu não superestimo Nana. Ela é a kunoichi mais completa que eu já vi e ponto. Ela é necessária em qualquer combate - começou Kakashi, justificando mais para si do que para Sasuke o porquê de precisar tanto de Nana - Mas não a forçarei a ir. Se ela disser não, direi a ela para fugir com Aiko e farei a ANBU guardar a fronteira norte. Mas espero que ela vá, Sasuke. Por que, em um golpe, só há duas opções: ou o paramos antes do estouro, ou lutamos pelo poder. Em ambos os casos, o povo vai ser manipulado, usado como arma e escudo, iludido com promessas e mentiras. É uma guerra dividida entre a trincheira e o domínio de informação. E eu não quero agir seguindo a cartilha de uma política suja, de uma política que faz uma criança matar o clã todo para manter a ordem. Eu quero Konoha como ela supostamente deveria ser: às claras. Por isso preciso dela. Porque, se eles querem dar um golpe mesmo sabendo que você, Naruto, Sakura, Tsunade, ANBU estão do meu lado, é porque têm algo guardado. Nana é o grão que desequilibra a balança. A nosso favor. E, no fim das contas, se eu não conseguir proteger Aiko, muito menos conseguirei proteger a vila.

E, dito isso, até Kakashi acreditou que finalmente chegara à resposta. À solução.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, galera! Muito obrigada pelos comentários e elogios! Por favor, continuem lendo e comentando! Pleeaaase! Bem, to passando aqui rapidinho pra postar. Não deu tempo de revisar (prooooovaaas), mas me divirto escrevendo, então que o comportamento dos materiais espere um pouquinho (que a prof não veja isso NEVER!). Espero que gostem! Próximo cap: SasuSaku (to planejando... talvez mude. Tomara que não!). Kissus, mina-san!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Golpe de Estado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.