Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 5
Bomba! - Parte I




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Sasuke não podia dizer que estava à vontade de volta ao Time 7. Mas momentos como aquele, em que o foco era outro que não os integrantes do grupo, faziam-no quase acreditar que nada mudara desde o dia em que os abandonara. Bobagem, ele sabia. Tudo mudara. Naruto agora era tão forte quanto ele. Mais forte era exagero, na opinião do Uchiha. Kakashi não era mais somente seu sensei. Era o futuro Hokage. E Sasuke não o considerava mais como um parente, um irmão mais velho, talvez. Ainda que a admiração pelo ninja tivesse sido reconstruída e, aos poucos, a amizade pelo sensei voltasse, o Uchiha tinha consciência de que a confiança nele permanecia abalada. Sentia os olhares que Kakashi lançava a ele de tempos em tempos - apesar desses “tempos” estarem cada vez mais espaçados entre si. Intimamente, alimentava a esperança de que pudesse conquistar a confiança do sensei novamente. Mas no que tangia a Sakura, não nutria ilusão alguma.

Obviamente, não havia como culpar Sakura por sua desconfiança, e Sasuke sabia disso. Tinha total consciência de que, depois de atacá-la diversas vezes, dentre as quais se destacavam duas tentativas de assassinato, não podia esperar coisa alguma da garota, a não ser desprezo. E, de fato, era algo próximo disso que recebia dela a maior parte do tempo. E, em conjunto com a total falta de tato do Uchiha em lidar com a situação, a abertura para um possível pedido de desculpas simplesmente não acontecia.

Assim, Sasuke desistira de tentar. Passara a conviver com o Time 7 como antes, sem se importar muito com os outros membros. Treinava sozinho, não os encontrava fora das missões, tentava falar somente o necessário, ignorava tudo o que não lhe dizia respeito. Mas, naquele momento, estava difícil ignorar. Obviamente, havia algo entre Nana, Kakashi e até mesmo a menina mal educada. O sensei simplesmente perdera a cabeça com Nana, e o Uchiha não se lembrava de vê-lo daquela forma. Além disso, a mulher tentara matá-lo três vezes durante a luta, mas uma vez que a menina aparecera, os dois ficaram sozinhos e voltaram inteiros. O garoto desconfiara do que poderia ser mas, diante de Nana, não podia perguntar. Entretanto, agora que a mulher saíra, não desperdiçaria a oportunidade.

— Kakashi, - chamou Sasuke poucos segundos depois da mulher sair da cozinha com as ventas em chamas - você pode explicar o que tudo isso significa?

— É Kakashi-sensei, - começou Naruto, sentando-se novamente - eu não estou entendendo mais nada!

— Ah… - começou Kakashi, coçando a cabeça nervosamente enquanto seus três alunos o encaravam sem pudor. Sasuke viu o sensei ir até a porta de correr que separava a cozinha do resto da casa e concluiu que o ninja queria isolar Aiko da conversa que teriam - É complicado…

— Kakashi-sensei, - interrompeu Sakura, também sentando-se à mesa, à frente de Sasuke - Como você não sabia?

Kakashi suspirou, e Sasuke não pode deixar de notar o cansaço por trás dos olhos do sensei - sem a bandana tapando um dos olhos, ficara bem mais fácil desvendar as emoções do ninja. Houve um momento de silêncio em que o Uchiha e seus companheiros encararam o professor em uma paciente espera por respostas, mas tendo Naruto no time, nenhuma quietude era duradora:

— Nah, Kakashi-sensei! Fala logo! - exasperou-se o garoto, agitando as mãos sobre a cabeça impaciente - O que acontecendo aqui? Qual o lance, no fim das contas?

Kakashi suspirou mais uma vez antes de responder pausadamente:

— O lance Naruto, é mais complicado do que vocês imaginam. E não diz respeito a nenhum de vocês…

— Como assim não diz respeito? - interrompeu Naruto, ainda impaciente - Ela tava tentando quebrar a gente há menos de uma hora, caso você não se lembre! E isso porque tem alguma treta entre vocês, Kakashi-sensei. Qualquer lance que faça alguém querer me matar é muito da minha conta!

— Eu fico com o Naruto nessa, Kakashi-sensei - concordou Sakura de imediato. Sasuke também sentiu-se obrigado a se unir aos companheiros nessa. Balançou a cabeça positivamente e ouviu um Ha! de Naruto que fez Kakashi suspirar novamente, acenando negativamente.

— Eu ainda vou enlouquecer com esses picos e vales da relação de vocês… - resmungou Kakashi usando mais um de seus já costumeiros pensamentos sobre o relacionamento amor e ódio dos três. Sasuke simplesmente detestava essas frasesinhas de efeito, mas, em prol da tranquilidade, as ignorava - Vocês sempre se unem contra mim…

— Não muda de assunto, Kakashi-sensei - Sakura interrompeu, em um tom tão irritado que fez Sasuke e Naruto se entreolharem assustados: era comum ela usar esse tom contra Naruto e, mais recentemente, Sasuke, mas nunca contra o sensei - Como você não sabia?

— Espera aí… - começou Naruto, antes que Kakashi pudesse falar algo - Você fica falando não sabia, não sabia, Sakura-chan… Mas não sabia de quê?

— Eu tinha certeza de que você não tinha reparado nada, Naruto… - disse Sakura, balançando a cabeça. Sasuke sentiu os olhos da garota caírem sobre ele e imediatamente acenou confirmando que sabia do que ela falava: não estava em uma situação em que pudesse provocar Sakura de graça, apesar de fazê-lo com frequência.

— Do que vocês estão falando? - perguntou Naruto, exasperando-se - Qual é, Kakashi-sensei?

— Como você não sabia? - perguntou Sakura, novamente, no mesmo tom irritado.

— Bah, parem, parem! - exclamou Kakashi - O que é isso? Um interrogatório?

— Você é o futuro Kage, Kakashi - respondeu Sasuke, friamente - Se isso é tudo política no fim das contas, um escândalo…

— Quieto, Sasuke - cortou Kakashi, seco, sem espaço para o Uchiha argumentar - Vocês prestem atenção: isso não pode sair daqui, vocês entenderam? É vital que ninguém saiba disso!

— Isso o quê? - gritou Naruto, que, como Sasuke sempre soubera, era incapaz de entender qualquer coisa que não fosse mastigada lentamente a ele.

— Ai, Naruto! - exclamou Sakura, impaciente - A Aiko é…

Mas Naruto continuaria na ignorância por mais algum tempo. Vinda não se sabe da onde, e Sasuke já estava, seriamente, ficando preocupado por não perceber os movimentos da mulher, Nana entrou na cozinha como um furacão acompanhada por um lobo que mostrava como Shori era, de fato, um filhote: o dorso do animal ultrapassava a cintura da kunoichi e quando ele os fitou com os olhos amarelos, Sasuke não demonstrou, mas sentiu o coração parar e não culpou nem um pouco Naruto por levantar da cadeira num pulo e apontar sem voz a fera a sua frente.

— Ihai! - exclamou Kakashi, afastando-se mais dois passos do animal, tentando, sem sucesso, disfarçar o medo dos olhos. Sasuke também não o culpou.

A loba arreganhou os dentes, rosnando com os pelos cinzas arrepiados em posição de ataque. O Uchiha tentou manter-se frio, mas todo o esforço falhou ao ver quão próximo o animal estava de Sakura, apesar deste não demonstrar ter reparado a garota, uma vez que não desviava o olhar de Kakashi. Sem analisar muito as possibilidades de que dispunha, Sasuke colocou-se rapidamente entre a companheira e o bicho, assustando ambos enquanto desembainhava a espada. Ele sentiu a menina levantar-se da cadeira atrás dele e abriu institivamente os braços a fim de protegê-la.

— Não se mexa… - ordenou Sasuke à garota, vendo a loba, graças a ele, notar a presença dos dois.

— Não seja estúpido, Uchiha - ralhou Nana, acenando a mão e fazendo a loba sair da posição de ataque - Se ela não atacou o babaca do sensei de vocês, não vai atacá-los tão pouco.

— Não achei que você teria a audácia de aparecer na minha frente outra vez, Kakashi… - falou a loba com a voz tão rouca e ameaçadora que fez Sasuke fechar ainda mais a guarda de proteção à Sakura: não estava nem um pouco convencido que não seria atacado.

— Também não achei que teria… - respondeu Kakashi, fechando a guarda.

— Bacana, reencontros, blábláblá— resmungou Nana, tomando um copo d’água - Kakashi, eu tenho que verificar um grupo de ninjas que está atravessando a fronteira há alguns quilômetros daqui. A matilha da Ihai não os conhece, então, provavelmente, é algum grupo de mercenários ou ladrões. Talvez contrabandistas… De qualquer forma, Konoha não vai querer eles por perto e eu vou ter que fazer a parte legal do trabalho... - Nana disse isso num tom próximo ao descontraído, mas era impossível não perceber o rancor cravado nas palavras da ninja. Ela colocou o copo de volta sobre a pia e, chamando a loba, foi em direção à saída. Porém, antes de sair da cozinha, a kunoichi voltou e, caminhando rapidamente, imprensou Kakashi contra a porta de correr, segurando-o pelo colarinho. Sasuke suspirou: quatro tentativas em um dia? - Presta atenção, Kakashi - começou a mulher em voz baixa, mas suficientemente audível - Se eu voltar e a Aiko não estiver aqui, eu te dou a minha palavra que eu mato seus três aluninhos na sua frente e te deixo vivo pra conviver com a façanha de ter provocado a morte de todos os companheiros que você teve durante a vida. Fui clara?

— Eu não vou tirar a Aiko de você, Nana - respondeu Kakashi, segurando os pulsos da mulher e afastando-os de seu pescoço - E deixa de ser louca! - Nana não respondeu e, aparentemente aproveitando o silêncio da kunoichi, Kakashi continuou - Leva o Sasuke com você. Grupos de mercenários são perigosos.

— Eu não preciso de ajuda…

— Leve-o como garantia então, - propôs Kakashi, negociando o garoto como um pedaço de queijo - de que eu não vou levar Aiko.

Sasuke arregalou os olhos para Kakashi mal podendo acreditar. Desde quando era peça de negociação? Ele sentiu Nana o fitar de cima a baixo, mas evitou colidir o olhar dela com o dele. Tinha uma sensação estranha quando encarava os olhos da kunoichi. Sentia-se sendo sugado, tirado do chão, levado para outro lugar. E era difícil desviar-se deles uma vez que te achavam. O mais seguro, então, era evitar o encontro.

— Kakashi-sensei… - Sasuke ouviu Sakura chamar baixinho, quase num sussurro, em uma aparente tentativa de evitar que Nana a ouvisse. O Uchiha não pode evitar que um sentimento de satisfação se espalhasse pelo seu corpo. No fim das contas, Sakura ainda se preocupava com ele. E ele com ela. Afinal, colocava-se entre a garota e uma fera assassina a fim de protegê-la. Foi quando Sasuke percebeu: de fato, colocara-se ente Sakura e uma fera assassina. E, obviamente, Naruto e Kakashi não deixariam tal movimento passar em branco. Lembrariam a ele e à Sakura assim que Nana virasse as costas. Desde que voltara, tudo que fizesse para Sakura, de um bom dia a um socorro, se tornava motivo para piadinhas dos dois. Sasuke só podia imaginar que aquela era a forma que encontraram para tentar reconciliar o pseudo-casal, mas a verdade era que só piorava as coisas. Sakura ficava constrangida, se enfurecia e acabava ficando com mais raiva do Uchiha, que, por sua vez, acuava-se ainda mais na tentativa de alguma aproximação. Enquanto estavam em Konoha, podia ignorar tudo simplesmente indo para casa. Mas ali, no meio da floresta, isolados, teria que aguentar as brincadeiras. E, entre as provocações de Naruto, a raiva de Sakura e a ameaça que era sair com Nana, escolhia o último sem hesitar.

— Vamos logo - chamou o Uchiha, embainhando a espada e saindo da cozinha sem olhar para Sakura: não precisava dar a Naruto mais munição para brincadeiras. “Precisa pedir permissão à patroa agora, Sasuke?”, diria o amigo assim que ele fitasse garota. Estava indo com Nana justamente para evitar isso.

— Tudo bem, então… - respondeu Nana, acompanhando o Uchiha e sendo seguida de perto por Ihai - Acho bom não me atrapalhar, moleque.

Sasuke deu de ombros e desceu a escada do quintal sem muito drama. Ele viu a loba ultrapassá-lo e, depois de um sinal de Nana, seguiu ambas, entrando na mata e iniciando a corrida. Não sabia há quanto tempo estava do grupo de ninjas, mas intimamente torcia para não estarem próximos. Correr pela floresta, longe do próprio time, dava ao garoto uma sensação de liberdade muito bem vinda. E, estranhamente, o Uchiha sentia-se, de certa forma, à vontade correndo ao lado de Nana. Talvez o fato de ela também ser considerada uma traidora o fizesse se sentir entre os seus, e não como um criminoso. Ele fitou de rabo de olho a mulher acelerar e, acompanhando-a, pegou-se pensando em algo inédito: como Kakashi conseguira uma mulher daquelas? Ela era bonita demais, forte demais e instável demais para o sensei. Talvez fosse mais mérito da instabilidade dela do que da capacidade do Hatake, concluiu o jovem.

Eles correram por cerca de meia hora sem que nada, além do próprio som da floresta, interrompesse o silêncio. Era quase uma terapia viajar sentindo-se tão livre e, por que não?, leve. O garoto já havia esquecido o som da voz de Nana quando essa interrompeu a quietude em um sussurro alto o suficiente somente para ser audível:

— Estamos há menos de vinte minutos deles, Uchiha. Quando os encontrarmos, não me atrapalhe, entendeu?

— Você me subestima, Nana - rebateu Sasuke, levemente irritado - Consigo facilmente dar conta desse grupo. Pode descansar, se quiser.

— Não é simplesmente afugentá-los, garoto - ralhou Nana, no mesmo tom sussurrante de antes - Tenho que descobrir quem são eles, o que querem e, principalmente, pra quem trabalham. Além disso, garanta que nenhum deles escape com vida, entendeu?

— Por quê? - perguntou Sasuke que, mesmo depois de tudo que sofrera com as atitudes de Konoha, intimamente, ainda sentia que assassinato frio não combinava muito com a vila.

— Porque o grande lance da fronteira norte ser protegida é que ninguém sabe quem são os guardiões.

— Os guardiões?

— Eles acham que tem mais de um… - disse Nana com um leve sorriso.

Sasuke deu crédito à mulher. De fato, era eficaz a tática de manter os outros afastados pelo medo do desconhecido. E, no fim das contas, ser ninja era ser um assassino. Não a julgaria por não deixar sobreviventes voltarem às suas vilas de origem. A própria Nana seria morta caso um desses ninjas invasores tivesse a oportunidade.

— Você guarda o norte há quanto tempo? - perguntou Sasuke que, findado o silêncio, achava difícil manter as perguntas guardadas em sua própria cabeça.

— Oito anos - respondeu a kunoichi, seca.

Sasuke fez as contas. Aiko tinha sete, nove meses de gravidez, oito anos na fronteira. Foi fácil deduzir: a mulher abandonara a vila grávida e não voltara para contar ao pai. E o pai, doravante chamado Kakashi, não sabia de coisa alguma até algumas horas atrás. E não, nem mesmo no auge de sua desconfiança em relação a Kakashi, Sasuke apostaria que o sensei abandonaria um filho.

— E o Kakashi não sabia mesmo? - perguntou Sasuke, mais para checar a reação da mulher do que para ouvir a resposta que já sabia.

— Não… - respondeu Nana, após segundos de hiato, sussurrando quase que abaixo do limite do audível - Ele não sabia.

Os dois voltaram ao silêncio inicial após a resposta da mulher. Sasuke ainda tinha dezenas de dúvidas bailando alegremente em sua cabeça, mas nenhuma correspondia a algum assunto que fosse, de fato, da conta do Uchiha. Por isso, limitava-se a fitar Nana de canto de olho, esperando que a própria ninja mantivesse a conversa e abrisse o tópico às dúvidas. Mas isso não aconteceu. Eles continuaram correndo em silêncio e, após alguns minutos, Sasuke começou a desejar que ela jamais tivesse falado. Pelo menos ainda teria consigo a sensação de leveza de momentos antes.

Não demorou muito para que Ihai parasse de supetão, freiando Nana e Sasuke. Os três se posicionaram em altos galhos de diferentes árvores, triangulando uma região de poucos metros de área. Nana indicava com as mãos de que direção o grupo vinha, mas Sasuke, apesar de não verbalizar, duvidava que um posicionamento tão simples seria eficaz em pará-lo. Eles esperaram alguns segundos antes do Uchiha segurar o punho da espada, ainda embainhada, preparando-se para a luta. E foi bem a tempo. Mal tocara a arma, ouviu Nana saltar a frente do bando, interrompendo-o de sua viagem.


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Notas finais do capítulo

Oi, galera! Bem, originalmente esse capítulo era só um. Mas uma vez que eu postei, me deparei com a realidade de que eu falo demais e que, como consequencia, escrevi um capítulo infinito! O.O Assim, resolvi dividi-lo em parte I e II. E aqui vai a parte I. Ambas as partes no ponto de vista de Sasuke-kun (sou um pouquinho Sasukete... talvez isso explique o tamanho do caítulo???). Pleaaase, leiam e comentem! E muito obrigada por acompanharem a história até aqui! Arigatou, mina-san!

Beijinhos!



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