Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 40
Dor


Notas iniciais do capítulo

Mina-san, não sei nem como pedir perdão pela demora. Literalmente, mais de ano. Tive motivos, entretanto. Minha vida... Bem, coisas acontecem na vida. Este capítulo está pronto há meses, mas não postei por vergonha. Não é minha melhor escrita, nem meu melhor momento. Mas resolvi postar agora porque... Preciso superar algumas coisas, e acho que este post é uma delas. Vou responder os comentários de vocês, mas adianto meu pedido de desculpas aqui...

Por favor, comentem! Faltam 2 caps pra acabar. E eu vou escrevê-los, prometo.

Espero que gostem! ^^



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A guerra acabara havia quase dois dias, mas Kakashi ainda se sentia em campo de batalha. Em meio a infinitas reuniões, prisões, ordens e pelo menos três urros para lembrar a todos que ele era o Hokage, seu coração mantinha-se bombeando sangue ao corpo como combustível num motor esportivo e sua adrenalina ainda estava alta, tornado-o uma máquina insensível. Fisicamente, ao menos. Sabia que sentiria as consequências daquilo em breve: a dor nunca falhava em chegar.

Mentalmente, por outro lado, fora destruído. Ainda era inteligente o suficiente para cumprir seus deveres, racional o suficiente para discernir entre opções, mas o profissional fora tudo que sobrara. Perdera, sem ter tido sequer a chance de se entregar, desistir, não lutar. O desespero, a angústia, a impotência flutuavam como fantasmas sobre os cacos que sobraram de sua sanidade, os quais ele tentava colar de modo a formar algo que fosse pelo menos uma sombra do que era. Equilibrado em uma haste metálica, sobre um prédio de Konoha, mirando semi-consciente um apartamento distante dezenas de metros à sua frente, Kakashi riu sob a máscara: desejar voltar a ser o ser humano quebrado que era constituía prova de que atingira o fundo do poço.

Ele continuou observando Konoha de cima, seu cérebro trabalhando acelerado e barulhento, como engrenagens encaixadas e não lubrificadas. Se fosse sincero consigo mesmo, admitiria que queria ir embora dali. Sumir. Talvez nunca mais voltar. Mas não podia, então mentiria para si pensando no que faria para ser o líder que não queria ser, governar a vila que não queria comandar e superar tudo aquilo que era insuperável. Fixou os olhos no setor em construção da aldeia, o qual continuava no escuro, iluminado apenas pelo que escapava da Lua de detrás das nuvens, e considerou como a vila inteira poderia estar no completo breu caso não tivessem a salvo mais uma vez. Mantido a batalha longe, terminado tudo rápido. Tentou se animar um pouco com tal pensamento. Ensaiou convencer-se de que ele fizera bem, parabéns, salvara todos, fora o Kage. Precisava de algo de confiança, algo de positivo, uma faísca que fosse, para levantar a cabeça. Falhou miseravelmente. Não fora ele o herói, como nunca havia sido, ele sabia. Foram seus alunos. Foram os ninjas da vila. Fora sua namorada…

Pelo menos cem vezes ao dia ele pensava nela. Pelo menos cem vezes ao dia ele sentia seu pulso forçando a lâmina bem afiada da katana carne a dentro. Lembrava dos olhos dela o fitando, a consciência voltando, sequela da dor. Ouvia sua declaração novamente. E outra vez. E mais uma vez. E, a cada uma delas, sangrava um pouco mais, quebrava um tanto mais. Pelo menos cem vezes ele a via deixar-se fora de alcance, a via acabar com tudo, despencar. Não eram como pesadelos. Era velho conhecido desses, lidava bem com eles até. Reviver tudo aquilo, de novo e de novo, era real. Não fazia força para acordar, não fazia força para parar de pensar. Não chorara, não fugira. Quase procurava pela memória, quase a desejava. Punia-se. Merecia sofrer. Ainda era pouco.

Mas não era o único a sofrer, ele sabia. E disso ele fugira. Encontrara desculpa perfeita em todas as reuniões, prisões, interrogatórios. Evitara confrontar nos olhos de quem amava tanto a dor que não se importava de ver refletida nos seus próprios. Não sabia o que falar, o que fazer. Queria vê-la, mas não queria. Queria cuidar dela, mas não queria. De pensar nela, ele fugira. De lembrar dela, de considerar a dor dela, ele fugira. De tudo que a envolvia, ele fugira por dias. Covardemente, irresponsavelmente. Cruelmente. Contudo, e ele sempre soubera disso, mesmo enquanto evitava as cobranças de Sakura e Naruto, não conseguiria escapar para sempre.

Fechando os olhos e sem pensar uma segunda vez, pois se o fizesse, desistiria, Kakashi saltou sobre os telhados das construções da vila e pôs-se a caminho do apartamento que mirara minutos antes. Era madrugada, estava frio, congelando os ossos. Ela provavelmente estava dormindo, considerou. Como a encararia? O que falaria? Queria abraçá-la, mas talvez não devesse. Ou deveria? E se ela soubesse? Que ele matara a mãe dela?

Alcançou a varanda mais rápido do que gostaria e, sem pausas, abriu a porta de vidro que a separava do apartamento, sentindo de imediato o ar quente do aquecedor o atingir, contrastando ao vento gelado de fim de estação externo. Correu a porta, fechando-a atrás de si, ruído algum sendo feito, e teve leve consciência do cheiro de fritura recente do lugar. Teve ciência mais forte, entretanto, do volume alto sob o cobertor, em cima da cama à sua direita, do qual só a silhueta em meio à luz fraca do abajur era visível. Observou por um instante, pensou em ir até lá. Lembrou de Nana cheirando a cabeça da menina enquanto essa dormia e quis fazer o mesmo. Mas não o fez. Não merecia. Então, girando nos calcanhares, deu as costas ao contorno deitado, enquanto ignorava o solavanco no estômago e o forte soco interno que seu coração lhe dera, e caminhou firmemente à sala, cruzando a divisória de lençol improvisada que a separava do cômodo onde estava. A luz que escapava debaixo do pano indicava que o dono da casa estava lá.

Kakashi encontrou Sasuke, a quem não via desde a batalha, sentado em uma poltrona, de frente à TV desligada, lendo um grosso relatório que o Hokage reconheceu como o que ele mesmo o enviara mais cedo. O jovem, que estava curvado sobre o objeto de leitura, levantou pouco o rosto quando seu sensei entrou à sala, fixando seus olhos mortais sobre o homem e acompanhando-o em todo seu movimento de puxar uma cadeira da mesa para si, levá-la até o lado oposto ao que o Uchiha estava e sentar-se. Obviamente, Kakashi sabia o motivo do semblante pouco amigável do aluno, mas não se importava com seu julgamento quando o próprio já o tinha condenado há tempos.

— Ela está bem? - perguntou o Hatake como iniciador de conversa. Sabia que a filha estava bem fisicamente. E, quanto ao resto, sabia também.

Sasuke, contudo, não o respondeu. Mantinha a mesma posição de antes, o mesmo olhar de antes, a mesma expressão indignada de antes. Kakashi, por outro lado, cruzou as pernas, colocando o calcanhar direito sobre seu joelho esquerdo, e, mestre em disfarçar o que sentia, continuou:

— Sakura disse que ela não se machucou - não houve resposta do Uchiha. Kakashi não esperava que houvesse - Você também está bem, suponho.

— Eu também? - repetiu Sasuke, assustando o sensei, que esperava sair dali sem ouvir a voz do aluno - Também? Então você supõe que sua filha está bem e o também se deve a uma comparação a ela? Ou talvez se deva a uma comparação a você? Neste caso, o também parece se aplicar…

— A vila está em calmaria pós-tempestade - Kakashi informou, ignorando a provocação do Uchiha, tirando o assunto mais urgente e paradoxalmente menos importante do caminho. Era óbvio que não achava que a filha estava bem, mas não pretendia discutir com Sasuke. Estava ali no piloto automático, sem condições alguma de aguentar qualquer fonte a mais de estresse. Assim sendo, continuou– Está destruída, claro. Pelo menos, dessa vez, apenas o entorno, onde houve a batalha. Politicamente, estamos fracos, mas a vitória nos colocou um degrau acima do que estávamos antes. Tínhamos legitimidade e agora temos mais apoio…

— Que bom - interrompeu Sasuke, seco, deixando claro que não se interessava por política naquele momento, mas Kakashi prosseguiu:

— Mas estamos fracos ainda. As outras vilas podem ver nessa momentânea fraqueza, e nós sabemos que é passageira, - acrescentou, polidamente - oportunidade para nos atacar. Você já sabe disso, discutimos isso antes.

Sasuke nada falou e Kakashi continuou.

— A Sakura me disse que você quer permissão para deixar a vila por um tempo. Ficarei feliz em dá-la… em dois anos. Agora não há como, Sasuke. Peço que você compreenda o contexto e não se dê ao trabalho de argumentar.

— A Sakura - começou Sasuke, adicionando à voz fria e pausada um tom de sarcasmo - lhe informou errado, Kakashi. Eu não pedi permissão para sair da vila. Eu comuniquei. Teria feito pessoalmente, mas eu não achei prudente deixar sua filha sozinha. Assim, peço que compreenda a sua incapacidade de me manter ou me obrigar a fazer qualquer coisa e não se dê ao trabalho de argumentar.

Kakashi riu brevemente. Obviamente, tinha a esperança que seu aluno aceitasse tranquilamente. Pequena, mas tinha. Apostara suas fichas, no entanto, que ele simplesmente ignoraria a ordem, não se dando sequer o trabalho de responder qualquer coisa. Não considerara a hipótese “sarcasmo ressentido”.

— Você tem uma dívida comigo e com Konoha, a qual eu pretendo cobrar pelo resto da sua vida, então não ache que vai levantar e dar o fora porque não há a menor possibilidade. E eu não deixei minha filha sozinha, Sasuke. Deixei com você.

O Hokage não levantou o tom de voz, mas havia uma nota a mais de emoção quando ele falou. Fechou os olhos por um segundo, contendo-se novamente. Fizera isso centenas de vezes nas quarenta e oito horas que antecedera aquele momento, e faria mais algumas centenas pelos próximos anos. Estava, portanto, a caminho de aperfeiçoar mais uma habilidade.

— Achei que estava pagando fazendo pra Aiko o que você deveria fazer… - Sasuke provocou. Kakashi, mais uma vez, o fitou por um momento. Não pensou em responder, em fazer algo, em punir o aluno pelo desacato. Apenas conteve-se, suas obrigações deixadas de lado, ou melhor, terceirizadas o penalizando. O jovem, porém, continuou - Você viu a Nana? - perguntou, direto como era típico dele. Ainda seco, ainda frio, mas sem sarcasmo. Kakashi piscou e desviou o olhar. Aquela era sua resposta - Você pretende evitar sua filha pelo que acha que provocou à mãe dela?

Kakashi virou o rosto para encará-lo. Achou mais difícil manter-se impassível diante de acusação tão certeira. Sentiu, novamente, um soco no peito, algo no estômago e tentou não se importar. Sasuke continuava o olhando indignado, mas havia algo de pena em seu olhar. Era possível que o rapaz estivesse desenvolvendo, e demonstrando, algo de empatia (finalmente). Ao mesmo tempo, considerou improvável que ele tivesse feito aquela análise.

— A Sakura disse isso?

Sasuke acenou.

— Mas não era exatamente necessário que ela dissesse - acrescentou o jovem.

Houve silêncio. Por vários minutos. Tantos que talvez tenham se transformado em horas, Kakashi não saberia dizer. Mas agradeceu que o silêncio não fora quebrado antes do tempo certo, pois sentiu que esse era necessário. A mudez coletiva era excelente meio de transporte aos pensamentos, e os do Hatake se dividiram, não igualmente, entre Konoha, Aiko, Nana e culpa generalizada. As duas primeiras seriam suas responsabilidades pelo resto da vida, direta ou indiretamente, ele sabia. A última era companheira antiga, assídua, e também jamais se livraria dela. Já Nana… Não podia trocar de lugar com ela. Não podia acompanhá-la. Não podia esquecê-la. E não podia manter esperança; a razão não permitia.

— Naruto disse que as pessoas da vila já sabem sobre vocês… E sabem como o Hokage se sacrificou pela aldeia quando não teve outra escolha. Achei que haveria um escândalo, o Hokage com uma filha, uma amante, algo do tipo, uma moral hipócrita, sei lá… Mas as pessoas parecem melhores do que eu as julgava. Ninguém te culpa pela Nana. Não é sua culpa - Sasuke falou rouco, muito baixo, quase inaudível. Kakashi não deu atenção, entretanto. A opinião de ninguém sobre aquele assunto, além da dele mesmo e de Aiko, importava - Mas eu te culpo por não ter cuidado da Aiko.

— Também me culpo, não precisa se ocupar com isso - respondeu Kakashi, levantando cansado e caminhando até a janela, de modo a observar a vila dali. Era uma bela vista. Contudo, mesmo se fosse um muro, ele ainda estaria encarando-a longamente. Qualquer coisa era melhor do que os olhos acusadores de Sasuke - Você tem cuidado dela muito bem… Obrigado por isso.

— O Naruto que distrai e faz ela rir - informou Sasuke, colocando-se ao lado de Kakashi, observando um ponto qualquer do outro lado da janela - A Sakura que vê se ela tá bem, conversa com ela, faz chá e põe ela pra dormir. Eu só dou comida e guarita. Agradeça a eles, eu sou só o segurança.

— Você tá fazendo por ela o que alguém deveria ter feito por você… - constatou o Hokage - Eu deveria ter colocado vocês três em missões. Temos mandados para cumprir e as defesas estão baixas. Deixei os três ninjas mais poderosos da vila de babás de uma menina de sete anos…

— A Sakura continua fazendo plantões… - ponderou Sasuke depois de alguns segundos.

Kakashi acenou concordando, apenas por não ter nada a dizer. Esperava retomar o silêncio e se entregar novamente a seus pensamentos pesados e cheios de obrigação. Mas Sasuke não permitiu.

— Você precisa cuidar dela - começou o Uchiha, olhando Kakashi de canto de olho, assumindo a posição que deveria ser do Hatake ao dar conselhos e pagar esporro - Você não quer que ela seja como o Naruto e eu, Kakashi. Ou como você. Ou como a Nana.

Kakashi fechou os olhos.

— Você deveria vir vê-la… Falar com ela - continuou o jovem, tentando disfarçar o quanto se importava - A Sakura precisa dar calmante pra ela dormir. E o Naruto voltou com ela mais cedo da casa dos Hyuuga porque ela não abriu a boca e não comeu. A Hinata trouxe doces pra ela e ela só agradeceu. Até a loba dela sai e volta e ela não liga.

O Hatake sabia de tudo aquilo. Provavelmente, seus alunos discutiram a situação e ensaiaram um discurso, uma vez que o ouvira de Sakura quase que palavra por palavra.

Dando meia volta o Hokage deu as costas para Sasuke, consciente de que o aluno ainda acompanhava seus movimentos, e foi até a cozinha do apartamento. Como tudo ali, era extremamente asseada, organizada, prática e sem luxo. Deixando qualquer cerimônia de lado, o ninja abriu a geladeira e tirou a garrafa d’água de dentro. Dando às próprias ações o dobro de atenção que requeriam, ele buscou um copo no armário superior e já o enchia quando o silêncio, pela sabe-se lá que vez, foi quebrado.

— Nii-san… - uma voz fina chamou, parando o coração de Kakashi que, instintivamente, virou procurando-a.

Ele a viu de imediato. Os cabelos prateados caindo às costas, livres. Os pés descalços, deixando a mostra os dedos dobrados, agarrando o chão, traindo-a ao expor nervosismo. O pijama-macacão de flanela e estampa tartarugas, o qual ele não conhecia. Não viu seu rosto entretanto. Estava voltado a Sasuke, que a encarava disfarçando a preocupação.

— O que houve? - Sasuke perguntou a menina, indo em sua direção, dando a ela toda atenção - Outro pesadelo?

Ela não falou. Não acenou a cabeça. Mas algo em seu semblante deve ter respondido, uma vez que Sasuke continuou:

— Você tomou o chá todo? - Aiko fez que sim - Amanhã temos que falar pra Sakura que não funcionando. Volta pra cama, eu vou colocar meu futon do lado. Não precisa ficar com medo…

Kakashi viu Sasuke passar pela menina em seu caminho até o futon estendido na sala e sentiu-se mal. Devia ser ele a cuidar dela. A colocá-la para dormir, a ter a confiança dela, a ser o pai dela. E não seus alunos, os quais, por sinal, também precisavam dele. Ele continuou encarando-a, pensando se a chamava ou não e, mal havia decidido a não falar com ela, seus olhos se cruzaram.

— Hokage-sama? - ela se espantou, esbugalhando os olhos, deixando-os bem grandes, enfatizando sua criancice. O homem suspirou, exausto. Segurou o choro. Os olhos amarelos dela tão iguais aos da mãe mirando-o confusa. Tentou sorrir caloroso, mas não conseguiu.

— Oi, hime— Kakashi falou, a voz saindo mais baixa do que o pretendido, o cérebro trabalhando no automático, no default, uma vez que não sabia ao certo o que fazer - Você bem?

Aiko acenou. Ele pousou o copo meio cheio sobre a pia, ao lado da jarra, e deu a volta no balcão, indo até a filha. Percebeu a menina enrijecer, os dedos dos pés agarrando ainda mais o chão e se odiou. Os dias que ela mais precisava dele, ela faltara. E se tornara um estranho a ela novamente.

— Vamos, Aiko - Sasuke chamou, passando por eles com o futon embaixo do braço. Mas ela não se mexeu. Ainda encarava Kakashi se aproximar. E continuou observando-o quando esse abaixou, ficando da mesma altura que ela. Sasuke passou reto, murmurou um “não enrola” e cruzou a cortina improvisada até o quarto, tendo a consideração de deixá-los sozinhos.

— O senhor viu minha mãe? - Aiko perguntou, polida.

— Vi, vi sim - respondeu fracamente..

— Ela vai ficar bem, não se preocupa. Minha mãe é a ninja mais forte, não vai perder - a menina encorajou, um sorriso simples iluminando o rosto dela. Kakashi a observou, pensando em quão perfeita ela era e em quanto ele não merecia nada de sua perfeição. Tentou sorrir de volta, consciente de que mereceria ainda menos se não fosse sequer capaz de cumprir suas obrigações de cuidá-la e fazê-la feliz, mas não conseguiu. Como diria a menina que não havia esperanças? Que os médicos já desenganaram, que ele atravessara sua mãe com a katana da própria mulher, ferindo-a de morte? Como ele poderia ficar com sua filha depois de matar a mãe dela?

Tentou manter-se firme, pelo menos fingir alguma compostura, mas se o era difícil fazer diante de Nana, em frente à Aiko era impossível. Sentiu os olhos arderem e mordeu forte a bochecha. Inutilmente. Estava, finalmente, completamente fora de si. Perdendo a pose de shinobi que era, simplesmente abaixou a cabeça, não conseguindo mais encarar a filha. Fechou os olhos, toda a culpa fazendo-o derreter em lágrimas queimavam pelo seu rosto. Tentou se levantar, virar-se. Sua menina não precisava vê-lo daquela forma. Ela não tinha culpa, não merecia lidar com problemas que não eram dela. Mas não conseguiu. Perdeu as forças das pernas e deixou o peso do corpo cair sobre os joelhos. Envergonhou-se pela própria fraqueza e, com as mãos trêmulas, cobriu o pouco do rosto que era visível. Tremeu em soluços não contidos; quanto mais chorava, menos força tinha para segurar. Perdera seu amigo, quando criança. Seu aluno, quando sensei. Sua mulher, quando homem. E perderia sua filha, quando pai.

Dois braços pequenos e frágeis os envolveram e ele parou de soluçar no susto.

— Calma, pai. Mamãe vai ficar bem…

Não, não vai, ele pensou, sem verbalizar. Mas, sem merecer, devolveu o abraço, apertando-a, trazendo-a para si. Fazendo-a tremer com seu choro.


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