Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 4
Picuinhas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559745/chapter/4

Sakura seguiu a menina e a loba até a casa de madeira, distante poucos metros da margem do rio. Ela a observava curiosa, dezenas de perguntas surgindo em sua cabeça, e todas, de certa forma, respondidas pelo prateado do cabelo da criança. Isso e, claro, o comportamento de Kakashi-sensei ao ver Aiko.

Contudo, se sua mente efervescia em dúvidas e curiosidade, seus companheiros de time pareciam bem tranquilos. Naruto e Sasuke podiam até ter uma ou duas perguntas sobre toda a situação, mas não demonstravam nenhuma preocupação especial a respeito. Mantinham-se emburrados como de costume, e Sakura previa que, em breve, voltariam à implicância de sempre, mas nada além disso. Ela podia apostar que os dois sequer ligaram Aiko à Kakashi. Tomariam um susto quando a verdade dançasse à frente deles - única forma de prestarem atenção em algo além de seus próprios mundinhos.

Aiko conduziu os três em silêncio, montada em sua loba, até a porta da casa. Era uma cabana simples, erguida sobre palafitas, possivelmente para evitar inundações quando o rio enchesse. A fachada consistia em uma pequena varanda, cuja cerca abria-se somente para a escada de poucos degraus que subia da terra ao chão da casa. Havia ainda duas janelas, espaçadas igualmente da porta da casa, que estava posicionada exatamente no centro frontal. Os três subiram a escada e, ao atravessarem a porta, foram indicados por Aiko que deveriam descalçar-se. Sakura sentiu um alívio reconfortante ao tirar os sapatos encharcados e secar os pés com a toalha que trazia na bolsa. Viu Naruto e Sasuke fazerem o mesmo e ficou feliz que ambos trouxeram suas próprias toalhas. Havia um limite em relação ao que estava disposta a compartilhar com os companheiros e esse era definido pela higiene. Ela entrou na casa e não se surpreendeu com o que viu. A entrada dava para uma pequena sala, com futons no chão, uma mesa baixa e mais nada. À esquerda da sala, uma longa porta de correr aberta mostrava uma cozinha extremamente bem organizada, com uma mesa de madeira de quatro lugares próxima a porta e, atrás desta, os aparatos típicos ao cômodo milimetricamente encaixados: pia, armários, fogão, geladeira. Sakura espantou-se com a organização do lugar. Por algum motivo, não achava que Nana pudesse ser tão sistemática.

— Minha mãe disse pra vocês comerem… - informou Aiko, ainda tentando imitar o tom arrogante da mãe, o que não combinava com sua voz fina de criança - Ela disse pra vocês comerem o que quiserem. E depois descansarem…

Os três não responderam. Parados à entrada da cozinha, permanecerem quietos e calados enquanto encaravam a menina com sua loba ao lado. Durante alguns segundos, o silêncio tornou o ambiente potencialmente aconchegante em um cômodo de desconforto.

— Ah… - começou Naruto, sendo muito bem vindo em sua tentativa de quebrar o gelo - Você não é muito novinha não, pra ser tão mandona?

Aiko arregalou os olhos surpresa, e Sakura não pode segurar o riso. Concluiu, diante da expressão da menina, que ela não considerara a hipótese de ser contrariada quando se portasse como a mãe. Ignorara aspectos como o olhar mortal de Nana e seus poderes assustadores.

— Você não precisa me obedecer, - rebateu a criança, depois de superada a surpresa - pode ficar com fome. E cansado. E com o braço queimado. Contanto que não suje a casa, não dou a mínima.

— Hum… - sussurrou Sasuke, cruzando os braços e sorrindo debochado, enquanto Naruto resmungava com raiva - Até uma criança é mais esperta que você, Naruto.

— Sasuke-kun, sério, não começa - pediu Sakura, cansada e, voltando-se à menina, continuou - Eu posso fazer um chá ou alguma outra bebida quente?

— Tem ervas secas nesse pote em cima da mesa - respondeu Aiko, apontando para o recipiente de vidro no centro do móvel - E tem biscoitos no armário. E comida na geladeira. Peguem o que quiserem. Eu estarei lá fora. Se precisarem de alguma coisa, me chamem. Mas tentem não me chamar, tá?

Aiko saiu da cozinha, pela porta nos fundos que dava para o quintal, levando com ela a loba em seu encalço. Sakura caminhou até o fogão onde pegou a chaleira para enchê-la d’água, enquanto Naruto e Sasuke sentaram-se à mesa, o primeiro ainda reclamando da falta de educação da menina. Sakura não precisou se esforçar muito para ignorá-los, apesar de concordar com Naruto sobre Aiko. Kakashi terá trabalho com ela, pensou a ninja, colocando a chaleira, agora cheia, no fogo.

Os minutos passaram muito rapidamente, enquanto Sakura repensava o que acontecera no dia até ali. Ela tirara uma pomada do kit de primeiros socorros e a passava delicadamente pelo braço queimado, enquanto tentava entender como fora a vida de seu sensei antes de se tornar seu sensei. Mal terminara de cuidar das próprias queimaduras quando o apito da chaleira soou, tirando-a de seus pensamentos. Não reparara, tão longe que se encontrava, mas Naruto e Sasuke estavam conversando calmamente sobre a natureza dos poderes de Nana durante todo o tempo em que a ninja se “concentrara” no chá, o que a deixou aliviada. Não era sempre que os dois conseguiam manter uma conversa civilizada por mais que alguns segundos. Ela pegou três das xícaras que estavam na escorredeira e colocou-as sobre a mesa, juntamente com a chaleira. Sentou-se à frente de Sasuke e, sem qualquer tipo de pressa, fez o próprio chá, tomando-o logo em seguida. Sentiu um conforto surpreendente após o primeiro gole, como se o calor da bebida se espalhasse pelo seu corpo, descongelando as até então ignoradas extremidades. Ela tomou outro gole, a fim de reforçar a sensação do primeiro, quando ouviu Naruto a chamar, impacientemente, agitando uma xícara em sua mão:

— Hey, hey, Sakura-chan! Você não vai fazer o nosso?

— Por quê? Vocês têm mãos, não têm? Ou todo o trabalho que eu tive pra arrumar o estrago que vocês fizeram foi inútil? - perguntou Sakura, sarcástica, enquanto se revoltava com a folga dos companheiros.

— Não, não foi - respondeu Sasuke, erguendo levemente o braço enfaixado enquanto olhava para Sakura com um sorriso irônico nos lábios - Mas você costumava ficar bem feliz em fazer as coisas pra mim, Sakura.

A garota não respondeu de imediato. Ao menos uma vez ao dia, tinha gana de enforcar Naruto ou Sasuke com os braços que lhes dera. E ali estava, a vez do dia. Quando isso acontecia, era sempre preciso um instante para controlar a raiva e suprimir a vontade de acabar com a raça dos dois. Por isso, Sakura investiu um minuto no silêncio, antes de rebater a provocação:

— Ah, isso foi há muito tempo atrás. Foi antes de você tentar me matar, abandonar a vila, querer iniciar uma revolta… - disse a kunoichi e, vendo que o garoto iria responder, levantou-se, jogou a pomada contra o Uchiha e caminhou para o quintal, contendo a raiva de ter que abandonar um recém adquirido momento de descanso para evitar outro bate-boca.

A parte de trás da cabana não era simplesmente floresta, como Sakura pensara. Havia algumas benfeitorias, simples e também feitas com madeira, que ocupavam o espaço entre a casa e a orla da mata. A porta nos fundos da cozinha, ao contrário do que pensara, não dava para uma escada de poucos degraus conectando-a à terra, mas a uma pequena varanda onde em uma única mesa várias ferramentas jaziam desorganizadas. A escada que a ligava ao chão era mais simples que a de entrada, sinalizando que quem a fez estava mais preocupado com a utilidade do que com a estética. Há alguns metros da casa, um pequeno galpão, de no máximo três metros quadrados com paredes e telhado de madeira, se equilibrava sobre palafitas tão fortes quanto as que sustentavam a cabana. Ao lado desse, uma longa mesa rústica ocupava a paisagem, cercada por baldes, bacias e instrumentos de pesca e caça; era lá que Aiko, ainda acompanhada de sua loba, trabalhava silenciosamente.

— O que você está fazendo? - perguntou Sakura, indo até a menina que empunhava uma kunai com uma habilidade que despertou a inveja da jovem: com a idade de Aiko, Sakura ainda tinha medo de se cortar com a arma.

— Limpando os peixes - respondeu Aiko, depois de alguns segundos encarando a ninja com expressão de quem não responderia uma pergunta tão óbvia.

— Posso ajudar? - ofereceu Sakura, tentando sorrir bondosamente, mas descobrindo que era bem mais difícil fazê-lo quando a receptora mostrava-se tão mal educada e mal humorada.

Aiko deu de ombros e Sakura sentou-se ao lado da menina, pegando um dos peixes do balde entre as duas e, empunhando a própria kunai, começando a limpá-lo. Alguns minutos se passaram durante os quais as duas trabalharam em silêncio, ouvindo apenas os sons da floresta e a respiração de Shori aos pés da garota. A jovem sentiu vontade de iniciar uma conversa mas, diante da expressão de poucos amigos de Aiko, viu-se em uma situação no mínimo embaraçosa: intimidada por uma criança.

— Você faz isso muito rápido - elogiou Sakura, convencendo a si mesma de que não tinha motivos para sentir receio de uma menininha de sete anos - Faz isso sempre?

— Quase todo dia… - respondeu Aiko, seca, raspando as escamas do peixe para longe - Mas em geral são poucos peixes.

— Ah… - disse Sakura e, olhando para os peixes já limpos e para os que ainda esperavam na bacia, continuou - E hoje são muitos por quê?

— Não é obvio? - cortou Aiko, jogando seu animal finalizado para junto dos outros e pegando o penúltimo peixe da bacia - Se tem mais gente pra comer, tem que fazer mais comida…

— Ah… - entendeu a jovem, concordando com a menina que era mesmo óbvio - Desculpa por isso então. Acho que é mais justo se os meninos e eu terminarmos tudo, não?

— Nah… tá tudo bem… - tranquilizou-a Aiko em um, até então, raro momento de boas maneiras.

— Obrigada… - agradeceu Sakura, sorrindo para a garota. As duas continuaram trabalhando em silêncio por mais alguns minutos até que, quando Aiko pegou o último peixe para limpar (ao passo que Sakura ainda estava em seu primeiro), a menina interrompeu a quietude:

— Vocês três… digo, vocês quatro... - começou a garota, devagar, como quem reúne coragem para fazer algo há muito desejado, com os olhos brilhando em curiosidade fitando a kunoichi, que por um momento até acreditou estar diante de uma criança de sete anos - Você, os dois caras que estão lá em casa e o moço de cabelo branco… Vocês são o time que lutou contra o Madara, né?

Sakura espantou-se. Sabia que os quatro haviam se tornado razoavelmente conhecidos depois do fim da Quarta Guerra, mas não poderia jamais imaginar que uma criança isolada no meio da floresta saberia de suas existências. Isso a deixou assustada com a expansão da própria fama, apesar de saber que, muito provavelmente, ela os havia reconhecido por Sasuke ou Naruto.

— Sim, fomos nós - confirmou Sakura, acrescentando rapidamente que todo o mundo shinobi estava lutando na guerra e que, no fim, só ganharam pela união de todos.

— Tá, tá… - concordou Aiko, impaciente diante da explicação da ninja de que a união os fez vencedores - Mas no fim, despois do Genjutsu do Madara, vocês ficaram sozinhos contra ele, não foi?

— Foi… - confirmou Sakura, novamente, sentindo-se pouco à vontade em relação ao rumo egoísta que a história estava tomando.

Aiko calou-se por um instante e Sakura a encarou curiosa. A menina voltou a limpar o próprio peixe, sem demonstrar muito mais curiosidade do que um bicho preguiça demonstraria diante do nada, o que despertou curiosidade na própria Sakura.

— Por que você perguntou isso? - quis saber a jovem, olhando a menina terminar o próprio peixe e, com a mão estendida, pedir o de Sakura - Ah, pode deixar, eu termino - desculpou-se a ninja, voltando à tarefa - Mas, por que você quis saber?

— Ah… por nada… - respondeu Aiko, dando de ombros - Só porque eu reconheci vocês das fotos que chegam nos relatórios pra minha mãe.

— Chegam fotos nossas? - quis saber Sakura, terminando, finalmente, o único peixe que limpara, contra os quatro de Aiko.

— Ah, chegam fotos de todo mundo - respondeu Aiko, tranquilamente.

— E sua mãe te deixa ver?

Aiko arregalou os olhos, tensa. Olhou para os lados rapidamente, procurando alguém que pudesse estar ouvindo a conversa das duas. Parecia que acabava de se tocar que fizera besteira.

— A mamãe não sabe! - exclamou Aiko, sussurrando - Você não vai contar a ela, vai? Se você contar, só saio do castigo depois de morrer de velha!

Sakura riu. Finalmente uma menina de sete anos em sua completude assumia o lugar da criança-robô de antes. Ela viu os olhos de Aiko se encherem de lágrimas e apressou-se em confirmar que não contaria a ninguém.

— Mas você podia ser um pouquinho mais simpática com a gente, né? - pediu Sakura, sorrindo.

— Pode ser só com você? - propôs Aiko, pegando o balde com peixes limpos e levando-os para casa - Os dois meninos parecem meio idiotas…

— Tá bom… - concordou Sakura, ajudando Aiko com o balde enquanto a acompanhava - São dois babacas mesmo.

As duas chegaram à cozinha da casa segundos depois, ainda rindo das ofensas aos garotos, e os encontraram sentados à mesa, conversando calmamente, para o alívio de Sakura. Elas se dirigiram à pia, colocando sobre essa o balde com os peixes limpos e aproveitando para lavar as mãos, falhando miseravelmente em tirar delas o cheiro de peixe.

— Para, Shori! - ralhou Aiko, empurrando a loba que tentava beber a água da torneira - Tem um rio lá fora! Bebe a água de lá!

— Ela te obedece direitinho - elogiou Sakura quando a loba desceu da pia e saiu correndo pela porta.

— Obedece mais minha mãe… Quando ela se lembrar que minha mãe mandou não sair de perto de mim, vai voltar desesperada.

E não deu outra. Mal passara um minuto completo fora de casa, Shori voltou, afobada, o focinho ainda pingando, e se posicionou aos pés de Aiko, com uma expressão de culpa - ou o mais próximo disso que se pode esperar de uma loba. A menina indicou à Sakura o animal e riu, confirmando que estava certa.

— Ela não fala? - perguntou Sakura, lembrando que Pakkun falava até demais.

— Ainda não… - respondeu Aiko, abaixando-se para coçar as orelhas da loba - É filhote ainda. Tem só um ano. Elas aprendem a falar por volta dos dois… Mas as outras da matilha falam.

— Tem outras? - perguntou Naruto, intrometendo-se na conversa e assustando Sakura. Esquecera totalmente que seus companheiros estavam ali e, agora que parara para pensar, fazia sentido tê-los esquecidos: ficaram estranhamente quietos desde que ela voltara com Aiko.

— Claro que tem… - respondeu a menina, voltando ao tom mal educado de antes - Ela não é a primeira da espécie, é?

— Mas os outros também estão aqui? - indagou Naruto, olhando por cima do próprio ombro, como se esperasse que uma fera saísse de seu esconderijo a qualquer momento, mesmo não havendo no cômodo um único lugar onde um bicho daquele tamanho pudesse se esconder.

— Na floresta… - respondeu Aiko, impaciente.

— Eles ajudam a Nana na vigilância da fronteira? - perguntou Sasuke, friamente.

— Até parece que eu vou falar pra vocês alguma coisa da minha mãe! - exclamou Aiko, levantando-se agressivamente - Vocês tentaram matá-la!

— Ela tentou nos matar! - corrigiu Naruto rapidamente.

— Ah, tá, acredito… Se minha mãe quisesse matar vocês, vocês estariam mortos agora!

— Ela tentou matar o Kakashi-sensei três vezes! - gritou Naruto, colocando-se ao mesmo nível de infantilidade que a criança à sua frente, tirando Sasuke e Sakura do sério - E ela nos atacou sem motivo nenhum! Ela trabalha pra Konoha, e nós só queríamos…

— Minha mãe não ataca sem motivo! - gritou Aiko, o rosto vermelho em raiva mal contida, o punho cerrado, os olhos marejados - Retire o que disse!

— Não retiro!

— Naruto! - ralhou Sakura, mas foi interrompida pelo grito ainda mais alto de Aiko.

— Retire! Ou eu mando a Shori arrancar sua garganta fora!

— Arre, o que está acontecendo aqui? - interrompeu Kakashi, entrando na cozinha com o típico ar despreocupado de sempre - Por que vocês dois estão gritando?

Sakura sentiu-se aliviada ao ver o sensei. Mesmo sabendo o motivo para a conversa entre a Nana e o ninja, não ficara nem um pouco satisfeita em deixar Kakashi sozinho com a kunoichi. Afinal, Naruto tinha razão: ela tentara matá-lo três vezes apenas hoje. Além disso, a imaturidade do Uzumaki em brigar com uma menina de sete anos estava irritando Sakura ao extremo e se Kakashi ali acabasse com a picuinha, a jovem tinha mais um motivo para querê-lo por perto.

— Ninguém vai arrancar a garganta de ninguém, Aiko - advertiu Nana à própria filha ao entrar no cômodo, segundos depois de Kakashi - E o que eu falei sobre usar a Shori para ameaçar os outros de graça?

— Que eu não podia… Mas não foi de graça...

— Você tá cheirando a peixe, Aiko! - interrompeu Nana, ao passar pela menina em direção à pia - Vá tomar banho.

— Mas mamãe, ele disse… - começou Aiko, tentando argumentar, mas Nana não a deixou finalizar. Olhando sério para a menina a fez calar-se imediatamente, segurando as mãos atrás do corpo e olhando para baixo, sem muita coragem para encarar a mãe.

— Aiko, lobos não são seus escravos! - começou Nana, séria, olhando fixamente para a filha, que ainda fitava o chão - Você não pode mandá-los atacar só por que você quer, sem motivos. Se você agir assim, Shori vai perder a confiança em você, e não fará mais o que você pede. Não será mais sua companheira. Não será mais leal a você, porque você a colocará em perigo sem necessidade. É isso que você quer?

Sakura viu a menina acenar negativamente com a cabeça, de maneira tímida e culpada, sem erguer os olhos, e ficou com dó. Afinal, Naruto de fato provocara Aiko e ela era apenas uma criança, mesmo que quisesse se comportar como adulta. A jovem olhou para Kakashi e observou que ele também sentia um pouco de pena da garotinha prestes a chorar à sua frente. Mas ele não faria nada, constatou Sakura. O sensei não começaria agora, depois de anos, a interferir na educação de sua filha. Não tão imediatamente.

— O Naruto provocou ela, Nana-san - começou Sakura, discretamente, ignorando o protesto de Naruto e defendendo a menina, que, ainda assim, manteve-se de cabeça baixa, ouvindo a bronca quieta.

— Ela tem que aprender a lidar com provocações, Sakura - respondeu Nana, sem tirar os olhos da filha - Não é, Aiko?

Sakura voltou-se para Aiko, que não respondeu. Ela viu a menina segurar o choro mordendo as bochechas e, novamente, sentiu pena da criança. Não que Nana exercesse algo mais do que seu dever de mãe em educar a menina, mas talvez estivesse sendo rígida demais, pensou a jovem. Especialmente considerando que Aiko brigara para defendê-la.

— Aiko, você entendeu? - perguntou Nana, enfaticamente. Aiko acenou com a cabeça, mas não a levantou - Que bom… Tome banho e vá para o seu quarto. Não treinaremos hoje.

Aiko levantou a cabeça, ensaiando manifestar-se, mas desistiu diante do olhar severo da mãe. A menina curvou-se levemente, indicando ter compreendido a ordem e, girando nos calcanhares, saiu da cozinha indo, e Sakura só podia imaginar isso, uma vez que não conhecia a casa, para o próprio quarto, seguida pela loba. Kakashi esperou a menina desaparecer de vista para voltar-se à Nana, tomando posição sobre o que acabara de acontecer.

— Precisava disso tudo? - perguntou Kakashi, tentando conter uma leve irritação.

— O que é, Kakashi? - rebateu Nana que, por sua vez, não parecia tentar conter coisa alguma - Vai querer interferir agora?

— E eu tive a chance de interferir antes? - argumentou o ninja, ainda tentando manter a calma. O clima ficou demasiadamente tenso, na opinião de Sakura. Nana encarava Kakashi com tanto nojo, ou raiva, era difícil traduzir a expressão da mulher, que parecia que vomitaria a qualquer instante. Kakashi, por sua vez, mantinha uma expressão aparentemente calma, apesar dos punhos cerrados revelarem um outro lado.

— Ela tem que aprender a se controlar. Imagine ela, com o poder que tem, sem saber se controlar? Completamente instável? - indagou Nana, encarando o ninja com seus já tão comuns olhos de fúria.

— Não preciso de muito esforço pra imaginar… - rebateu Kakashi, calmamente, levantando a sobrancelha e indicando a própria Nana com um acenar de cabeça. Sakura sentiu Sasuke e Naruto prenderem a respiração e não os culpou. Ela mesma o havia feito. Tudo bem que Nana não estava cultivando um ambiente paz e amor, mas ela não parecia mais querer matá-los e isso era um avanço. Por que provocá-la e ameaçar o já alcançado cessar fogo, pensou a jovem, que começava a se questionar se Kakashi teria a sabedoria necessária a um Hokage.

Entretanto, ao contrário da explosão que Sakura temia, Nana nada fez. Lançando a Kakashi um último olhar de ódio, desprezo e mais meia dúzia de sentimentos pouco agradáveis, a kunoichi virou-se e, pegando o balde com peixes sobre a pia, atravessou a cozinha como um furacão, saindo pela porta dos fundos e deixando o time 7 a sós. Os quatro se entreolharam por alguns segundos, mal atrevendo-se a respirar. Exceto Kakashi. Este parecia divertir-se com o que acontecera.

— Tinha que provocar, Kakashi-sensei? - perguntou Sakura, quando, finalmente, conseguiu respirar novamente. Kakashi riu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, galera! Muito Obrigada por continuarem acompanhando minha fic até aqui! =) Bem, nem todo capítulo dá pra ter acontecimentos impactantes que tremem nosso mundo, né? Alguns são meio que pontes pra deixar a história coesa e apresentar pontos que, futuramente, serão trabalhados (em momentos, aí sim, impactantes - espero). Esse capítulo, sob o ponto de vista de Sakura-chan, é um desses. Espero que gostem e continuem lendo a fic! Comentem, please! Beijinhos *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Golpe de Estado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.