Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 39
O trauma




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O corredor branco e frio que levava às salas de cirurgia do Hospital de Konoha nunca parecera tão claustrofóbico a Sasuke. Era como se a qualquer momento, as paredes claras e altas fossem se mover umas contra as outras, esmagando quem estivesse entre elas como uma latinha de metal. O jovem sabia que um soco e todo aquele amontoado de tijolos e concretos seria apenas cascalho, mas ainda assim não podia se livrar da sensação de que o oxigênio estava acabando. Especialmente com Naruto ao seu lado respirando rápido e fundo, propositadamente - na opinião do Uchiha - para deixá-lo ainda mais paranoico.

O fato é que estavam ali, em vigília, há horas. Dezenas de ninjas foram feridos na batalha daquela noite, como sempre souberam que seriam, mas, sendo completamente sincero em seu egoísmo, atrás daquela porta dupla na qual findava o corredor estava a única pessoa pela qual Sasuke de fato se importava naquele momento. E, por mais altruísta e solidário que Naruto pudesse ser, ele sabia que o pensamento do amigo não passeava por mais que dois segundos para qualquer outro lugar de vila que não aquela específica sala de cirurgia. Compreendia-o totalmente. Por um instante, quando chegaram ali, no que agora parecia ser anos atrás, pensou em dizer algo para confortar o companheiro. Mas em sua limitada capacidade de demonstrar empatia (não de senti-la, veja bem), não conseguiu. Apenas o viu escorregar pela parede e, de joelhos dobrados e mãos no rosto, permanecer daquela forma por longos minutos. Sentiu pena. E, então, impotência. Naruto fizera tanto por ele, frustrava-se em não ser capaz de retribuir.

A porta ao fim do corredor foi escancarada e Sasuke e Naruto voltaram-se imediatamente a ela. Uma jovem de cabelos cor-de-rosa saiu do recinto, o avental branco manchado em vermelho, o rosto como de quem não dormia há dias, e foi até eles, despindo a máscara e o gorro no caminho. Uma nova carga de oxigênio abasteceu o lugar e o Uchiha sentiu os pulmões se encherem alegremente, a vida voltar ao peito. Não a vira desde que Aiko fora trocada por Nana, procurando-a entre clones falsos, hereges. Mas lá estava Sakura, perfeitamente saudável e bem. Seu coração, aos poucos, retomava o compasso.

— Como ela está? - ouviu Naruto perguntar ao seu lado, antes que pudesse falar coisa alguma. Sakura acenou positiva com a cabeça e o Uzumaki suspirou. Apoiou-se na parede e levou as mãos ao rosto. Aliviado.

— Não era nada grave desde o início, Naruto - a medica-nin acrescentou, sorrindo bondosamente - Você é tão dramáti… Ei! Naruto...

Naruto jogou os braços ao redor de Sakura e apertou-a forte, o sorriso mais espontâneo do mundo iluminando seu rosto. Ele sacudiu a menina e levantou-a do chão, arrancando protestos da Haruno, que também sorria. Sasuke sentiu uma pontada engraçada no coração e uma queda estranha no estômago, mas ignorou. Apenas atribuiu-os ao cansaço.

— Obrigado, Sakura-chan! - Naruto repetia, ainda balançando a garota como a um filhotinho - Você é a melhor! Valeu mesmo!

— Não seja bobo, Naruto! - a Haruno ralhou, corada - Não era nada demais, eu já disse… Seu chakra a protegeu da maior parte do impacto.

— Mas não todo… - sussurrou Naruto, soltando a médica, o rosto fechando no desaparecimento do sorriso.

— Deixa de ser estúpido, como você queria proteger a vila toda sem deixar nadinha passar? É impossível! Mesmo pra vocês dois! E ela é uma Hyuuga, não é um pedaço de manteiga. Foi só uma queda… Demorou só porque não arriscamos deixar nada passar.

Sasuke viu Naruto sorrir tímido e Sakura socar-lhe o ombro de leve, animando-o. Ela era companhia bem mais adequada àqueles momentos do que ele, pensou, um pouco melancólico. Deixou seus olhos migrarem do amigo à menina e, com um leve susto, viu o esmeralda da íris dela o fitando. Seu coração descompassou.

— Você bem? - a Haruno perguntou, o sorriso bondoso que dirigira a Naruto sendo substituído por um leve e discreto. Íntimo. Ele respondeu com um taciturno Hum e o sorriso ampliou-se um pouco mais - Que bom…

— E você? - perguntou, preocupado. Ela fez que sim com a cabeça e o Uchiha sorriu-lhe também. Algo ainda mais leve, mais discreto. E mais íntimo. Algo que ele só mostrava a ela.

— Vai ser assim agora? - uma voz irritante cortou o clima. O sorriso de Sasuke desapareceu instantaneamente - Vou ficar segurando vela pra vocês dois?

— Cala a boca, Naruto! - Sakura brigou, corando ferozmente enquanto direcionava um ponta pé ao companheiro de time, que desviou, rindo. Sasuke poderia ter rido também, internamente, mas, afastada sua preocupação prioritária com a namorada, havia assuntos mais urgentes.

— E a Nana? - mudou de assunto e, consequentemente, de atmosfera. Naruto parou de rir e Sakura abandonou as bochechas coradas ficando estranhamente pálida. Sasuke continuou fitando-a, enquanto ela abaixava o rosto, triste.

— Eu não sei…

— Como assim? - indagou Naruto - Meu chakra não serviu de nada?

— Serviu, ela já estaria morta se não fosse isso! A cirurgia foi bem, Tsunade-sama refez os tecidos atingidos pelo corte, estancou o sangramento, Nana perdeu muito sangue… Mas deu certo, sabe? Só que… - Sakura suspirou - A atividade cerebral dela estranha… Oscila muito, Shizune-senpai tentando descobrir o que isso significa. O fluxo de chakra dela no cérebro maluco… Nós não conseguimos controlar.

— Mas o que isso quer dizer? Vai passar uma hora…

— Eu… - Sakura mordeu o lábio inferior e Sasuke percebeu o que isso significava, mas a menina continuou - O cérebro não aguenta um fluxo oscilatório de chakra daquele jeito. Eu… Eu acho… - ela tomou fôlego - A Nana não vai aguentar…

— E o Kakashi? - Sasuke perguntou.

— Não vi o sensei. E vocês?

Os dois negaram. Então, como não havia o que falar, falaram nada. Sasuke viu Sakura levar as costas da mão direita aos olhos e quis abraçá-la, mas não o fez. Não era a situação adequada. Os três permaneceram em silêncio pelos momentos seguintes, os chamados emitidos pelo sistema sonoro do hospital sendo os únicos responsáveis por cortar a quietude. Até que um desses o trouxeram de volta de seus pensamentos.

Haruno-sensei, compareça ao quarto 210 - chamou a voz nas caixinhas - Haruno-sensei, compareça ao quarto 210.

— Ah, eu tenho que ir… indo ver a Hinata-chan, quer vir comigo, Naruto?

— Claro! - assentiu Naruto, prontamente.

— Eu vou te esperar acabar o plantão… - Sasuke disse à Sakura, sério. Queria conversar um pouco com ela, a sós, ter certeza de que estava bem.

— Adianta alguma coisa se eu disser que não precisa? - ela perguntou, sorrindo. Ele negou - Ok, então… Eu ia te pedir algo, mesmo. Já que…

E ela pediu. Sasuke quis, por instinto, ao saber o que era, negar. Havia muita culpa e trauma envolvidos. Mas não podia negar algo ao time sete, não depois de tudo que fizera. Atendeu ao pedido de Sakura e, indo em direção oposta à dos companheiros, subiu as escadas. Comparado aos andares abaixo, lotados de médicos e pacientes, o quarto piso poderia ser visto como algo fantasma. Cruzou com dois médicos, que lhe lançaram olhares curiosos e admirados, a caminho do corredor vazio que era seu destino e manteve o passo, encontrando um Anbu à frente do quarto que Sakura lhe indicara. Viu o soldado dar passagem e abriu a porta, fechando-a atrás de si ao cruzá-la. Sentiu o coração apertar.

Aproximou-se da cama no centro do quarto, o abajur ao lado do leito aceso, iluminando o lugar em tom amarelado. Mas os cabelos de Aiko, espalhados pelo travesseiro, continuavam prateados como os de Kakashi. Havia um curativo na testa da garota, mas nada além disso poderia indicar que ela estivera em uma guerra. Os olhos estavam cerrados, a respiração calma e compassada fazia a manta que a cobria subir e descer devagar. Era apenas uma criança que dormia. Será que ele dormira daquela forma após o massacre de seu clã?, pensou, indo até o banco próximo à janela. Provavelmente não. Os pesadelos que Itachi o dera não o permitiriam.

Sasuke perdeu a noção de quanto tempo permanecera sentado naquele banco duro, velando o sono de Aiko. Esperara que Kakashi fosse ver a menina e, então, o liberasse da função dada por Sakura, mas o sensei não apareceu. O Sol subira, subira e, ao meio dia, uma moça um tanto atrevida trouxera-lhe o almoço, entregando, entre uma piscadela e um sorriso, um papel perfumado com um número escrito. O Uchiha se livrou do cartãozinho e comeu a refeição insossa. E esperou. Esperou. Esperou. Até que, fugindo à própria personalidade, cochilou.

— Sasuke nii-san? - uma voz baixa o chamou, despertando-o de supetão. Piscou abobado, o corpo ainda mais dormindo que acordado, e procurou a origem da voz. Encontrou-a em Aiko, sentada na cama, levemente inclinada em sua direção. A menina riu - Cê tá todo duro aí, dormindo sentado!

— Hum - resmungou.

— Foi papai que te botou de guarda? - Aiko perguntou, ainda rindo. Sasuke resmungou novamente - Cadê ele?

— Não sei.

— Ah… - o sorriso da menina sumiu e Sasuke desviou o olhar. Sabia qual era a próxima pergunta e não queria respondê-la. Kakashi deveria fazê-lo, não ele - A guerra acabou?

Sasuke levantou o rosto. Não esperava aquela pergunta. Fez que sim com a cabeça e viu Aiko sorrir de novo. Estava muito estranha, a menina. Portava-se como criança, sem forçar um tom arrogante na voz. Sorria. Agia educadamente. E, acima de tudo, não perguntava pela mãe.

— Você se sentindo bem? - quis saber, franzindo as sobrancelhas. A garota respondeu com um energético Hai! e Sasuke levantou, ainda mais desconfiado. Pousou a mão sobre a testa dela e viu-a fitá-lo curiosa. Estava um pouco quente, mas não o suficiente para se considerar febre - Hum… Acho que vou chamar a Sakura…

Girou nos calcanhares confuso e, mais que isso, disposto a aproveitar aquela desculpa como motivo para passar a responsabilidade pela menina à frente. Uma hora, ela perguntaria pela mãe e ele, definitivamente, não era o mais indicado a respondê-la. Contudo, mal alcançara à porta, ela chamou-o novamente.

— Sasuke nii-san…

— Hum?

— Não quero ficar só… - ela pediu, disfarçando mal o tom choroso na voz. Sasuke não se virou. Girou a maçaneta e já puxava a porta quando respondeu:

— Tem um Anbu na porta, não vai te aconte…

— Não conheço ele - Aiko cortou - Eu com…

Sasuke suspirou. Empurrou a porta, fechando-a, e voltou-se para a menina, pensando que se a deixasse sozinha quando ela pedira para não o fazer, Sakura o mataria. É uma criança, tá doente, você não tem coração?, a companheira gritaria, irritantemente, até fazê-lo se arrepender. Caminhou à criança e, ao chegar mais perto, reparou na fina lágrima que escorria discretamente pela bochecha dela. Viu-a tentar esconder, fingindo arrumar o travesseiro enquanto secava o rosto com o lençol, e sentiu pena. Achou que devia dizer algo.

sentindo alguma coisa? - perguntou. Aiko negou - Quer alguma coisa?

Ela negou novamente.

Sasuke suspirou pesado. Quanto mais se desenvolvia aquela situação, mais tinha certeza de que qualquer outro deveria estar ali em seu lugar. Naruto saberia o que dizer, ou melhor, falaria o que lhe viesse à cabeça, mas daria tudo certo no final. Sakura cuidaria dela do jeito que se devia, a faria se sentir melhor. Kakashi tinha obrigação de estar ali. Qualquer um. Menos ele.

— Eu machuquei alguém? - Aiko perguntou, resgatando Sasuke de seus pensamentos. Ele negou em um aceno. Quase completou com um Nana não deixou, mas percebeu que não queria falar o nome da mulher na frente da criança - Eu tava num genjutsu… Percebi quando acordei na floresta.

— Você acordou na floresta? - espantou-se, uma preocupação súbita lhe cravando o peito - Quando? O que você viu?

— Kakashi… quero dizer, meu pai. Lutando contra minha mãe. Mas apaguei de novo…

— Hum.

Sasuke não pode deixar de respirar um pouco mais aliviado. O trauma de ver seus pais sendo mortos por alguém a quem amava o assombraria para sempre, dormindo ou acordado. Não desejava aquilo a alguém.

— Nii-san… - ela chamou após um minuto de silêncio. O Uchiha quis que ela parasse de chamá-lo de nii-san. Sabia que deveria agradecer o inesperado respeito da garota por ele, mas o título, na voz chorosa de uma criança de sete anos, somente tornava tudo aquilo ainda mais familiar e traumático. Contudo, não a reprimiu. Em um momento mais leve talvez a pedisse para parar - Minha mãe morreu?

Sasuke não respondeu de imediato. À sua mente, veio a cena de semanas antes, quando chegara à cabana das Hikari carregando uma Nana inconsciente. Aiko levantou os olhos amarelos e marejados para mirá-lo e o choro desesperado dela ecoou trazido na memória do Uchiha, roubando-lhe o ar por um segundo. Não costumava ter afeição especial por desconhecidos, ou pouco conhecidos. Mas era a filha de Kakashi, provavelmente a última integrante de um clã destruído por Danzou, talvez a única detentora de uma kekkei genkai poderosa a sobreviver aos desmandos do lado obscuro da vila. Viu-se nela.

— Ela está em coma… - disse direto, sua natureza fria fazendo-o soar mais seco do que pretendia - Você sabe o que é coma?

A menina fez que sim com a cabeça. Sasuke esperou uma cena como a que lhe martelava a cabeça. Pensou que Aiko iria correr para porta, gritar que queria ver sua mãe, espernear, tentar forçar sua saída. Mas nada disso aconteceu. Ela abaixou o tronco e afundou o rosto nos joelhos dobrados, abraçando-os. O corpo inteiro tremia com o choro e os soluços, mesmo abafados, enchiam o quarto. Era profundamente… triste. Sasuke desviou o olhar, não querendo ver aquilo, tentando encontrar o que falar. Ou fazer. Pensou no óbvio, dizer que ficaria tudo bem, que Nana melhoraria, mas mal lhe ocorrera a possibilidade, descartara. Que bem faria mentir? Quis então dizer para ela ser forte, aguentar, suportar. Raciocinou: não havia chance alguma de qualquer um aguentar, quanto mais uma criança. Tentou se lembrar de alguém que o consolara. Nada. Forçou mais um pouco. Em sua infância, sua triste infância pós-massacre, o que o fizera se sentir melhor? Quase instantaneamente veio a resposta. Não saberia, contudo, ser idiota como Naruto. Restou-lhe, então, Sakura.

Como a Haruno fizera há anos atrás, numa época em que Sasuke se forçava a sofrer para não esquecer, ele sentou-se na cama de hospital, ao lado de Aiko, afundando o colchão. Colocou a mão sobre os cabelos embaraçados da menina e sentiu-a levantar a cabeça, extinguindo a barreira que abafava os soluços e sentando-se ereta novamente. O Uchiha retirou a mão do topo do cocuruto dela e viu-a encará-la, os olhos vermelhos, o rosto encharcado, o corpo tremendo cada vez mais. Então, mais uma vez, Aiko abaixou a cabeça, mas não mais a afundando entre os joelhos. Escondeu-se no ombro de Sasuke, as mãos pequenas puxando a manta que a cobria para abaixo do nariz, suas lágrimas molhando a roupa já suja de batalha do Uchiha. Foi um susto, ele tinha que concordar. Não esperava algo do tipo. Contudo, Sakura o ensinara como reagir ali também. E assim, vagarosamente, fechou, um pouco travado, os braços em torno da menina.



— Sasuke-kun?

Sasuke abriu os olhos devagar, quase se recusando a fazê-lo, e antes de ver qualquer coisa, sentiu um cheiro leve de cerejeira invadir suas narinas. Observou Sakura se colocar ereta e, sentado sobre a cama de Aiko, com as costas apoiadas na cabeceira e a menina dormindo pesadamente em seu colo, tentou, confuso, lembrar-se de como acabara naquela posição. Foi em vão. Nada veio à mente. Levantou-se, então, exausto e depositou com todo cuidado que pode a pequena Hikari, antes em seus braços, sobre a cama. Ainda fazia força para permanecer acordado.

com ciúmes, Sasuke-kun - brincou Sakura, enquanto os dois se afastavam da cama, caminhando até a janela - Eu nunca dormi abraçada com você!

Sasuke pensou que poderiam resolver aquilo facilmente, mas não verbalizou. Apoiou-se no batente da janela e observou o mundo lá fora. A entrada do Hospital, como era de se esperar, estava movimentada e um bom número de médicos e enfermeiros-nin se encontravam no jardim próximo ao portão de acesso, alguns com o rosto apoiados nas mãos, muitos comendo e conversando e o restante fumando. O Uchiha pensou que aquele não era um hábito condizente a um profissional de saúde, mas, mais uma vez, disse nada. Apenas lamentou intimamente por não poder abrir a janela e respirar o ar gélido do fim de inverno.

— Você contou a ela? - perguntou Sakura, direta. Ele acenou - Entendi… Você precisa ir pra casa, não se esqueça que não faz muito tempo que você tava internado!

— Ela não quer ficar sozinha… - explicou - E você precisa descansar mais do que eu - acrescentou, ao perceber que Sakura abrindo a boca para rebater. Provavelmente, suas próximas semanas seriam ocupadas por missões burocráticas e, talvez, alguns mandados de prisão. Já as de Sakura… hospital, hospital e hospital. Avaliou que as dela a cansariam mais.

— Eu não ia pedir para ficar com ela. Nem posso! Não acabou o meu plantão ainda… só fugindo por alguns minutos… - ela informou, ao que Sasuke a encarou um pouco surpreso. Os dois ficaram um momento em silêncio antes da Haruno voltar a falar - Aiko recebeu alta…

— Já? - admirou-se o Uchiha.

— Não tinha nada de errado com ela além de exaustão… Contanto que descanse e se alimente bem, não tem porque ficar aqui. Aliás, é pior ficar. Hospital não é lugar pra criança, e ela um tanto frágil como está, tem sua imunidade prejudicada. Pode acabar pegando alguma virose ou algo sério de verdade…

— Hum…

— Mandei uma mensagem pro Kakashi-sensei, pra ele vir buscá-la.

— Ele já vindo? - quis saber, verdadeiramente interessado. Queria alforria.

— Não… - Sakura negou e ele soltou um muxoxo, virando o rosto para voltar a observar o horizonte, o lado de fora da janela - em reunião. Chamaram o Naruto há algumas horas e ele também não voltou.

Ficaram em silêncio novamente. Sakura apoiou a cabeça no ombro de Sasuke e os dois permaneram daquela forma por vários minutos. O Uchiha desejou profundamente que eles pudessem ir embora. Tirar férias, algo do tipo. Viajar por algum tempo, sair da vila. Estava cansado de Konoha, cansado de ser um ninja. Enquanto Aiko chorava em seu colo, pensara em como tudo aquilo fora desnecessário. O egoísmo de uns jogando todos numa crise, numa guerra. E se tivessem aceitado Kakashi? E se tivessem jogado limpo? E se não colocassem seus interesses acima dos demais? E se… Se não fossem tão políticos, tão senhores da guerra. Tão egoístas e controladores. E se, pelo menos, depois de verem o que o lado oculto do mundo shinobi causara, com Quarta Guerra, Madara e tudo mais, tivessem aprendido? Os Uchiha, seu clã, não teria voltado. Mas Aiko ainda teria Nana.

Sua cabeça foi de Naruto e sua eterna esperança ao seu próprio desejo de revolução. Um mundo ninja melhor, uma Konoha mais limpa, um lugar onde crianças não matavam nem eram mortas nas guerras de outros. Ainda havia alguma fé dentro dele de que aquilo era um sonho possível. Contudo, racionalmente, duvidava. Queria, então, desistir de tudo, tacar o foda-se e ir embora. E sentiu-se mal por isso. Viu o reflexo do rosto cansado de Sakura no vidro da janela e lembrou como ela jamais desistira dele. Quão fraco era o último Uchiha, ao final das contas… Rendendo-se ao calor da indignação tão fácil. Envergonhou-se.

— Posso te abraçar? - Sakura perguntou.

— Você não costumava pedir… - provocou, mas deixou-se abraçar. Passou os braços pelas costas da kunoichi e sentiu o corpo dela apoiar-se no seu, quase despencando. Sorriu. Talvez ela dormisse em pé.

— Vou liberar a Aiko - a voz dela soou abafada, o rosto contra o peito de Sasuke - Leve ela pra minha casa, meus pais cuidam dela.

— Hum… - concordou Sasuke por um instante, mas logo percebeu - Ela na sua casa colocará seus pais em perigo… Não sabemos se já seguro. Não dá pra confiar em todo mundo da Anbu ainda...

— Ah… - suspirou a médica, desanimada, e balançou a cabeça de um lado para o outro, esfregando o rosto em Sasuke como um cachorro - Fazemos o que, então? A alta dela foi assinada, não posso deixar Aiko aqui. Não é bom pra ela e, agora que você lembrou, coloca os outros pacientes em risco também… Que tal os Hyuuga?

Não respondeu. Era uma ideia decente, os Hyuuga conseguiriam protegê-la, se sentiriam mais próximos do Kage, apreciariam as possíveis consequências políticas desse gesto. Mas Sasuke, por algum motivo, não gostou da opção. Via Aiko como a filha de Kakashi, não a Hime do Hokage. Ela era, de certa forma, responsabilidade do Time Sete.

— Que horas acaba seu plantão? - ele perguntou, direto.

— Teoricamente às onze, mas posso ter que virar a madrugada de novo…

— Quando acabar, vá lá pra casa. Vou levar ela pra lá… Acho que é melhor ela ficar com um de nós.

— Tem certeza? - Sakura perguntou, meio debochada - Você não tem muito jeito com crianças, Sasuke-kun…

— Ela dormindo - argumentou, esperando que ela continuasse assim -  Eu aproveito e durmo também. Se Kakashi ou Naruto aparecerem, mande-os irem buscá-la. Não sou babá…

Sakura riu abertamente e, com um olhar meio terno, meio admirado, concordou.


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Notas finais do capítulo

Olá gente! Não demorei tanto dessa vez, né? =))

Postando bem rapidinho, tô super ocupada. Novamente, não sei quando vem o próximo post, mas provavelmente será o penúltimo. Tudo acaba, né? E, convenhamos, essa fic já tá demorando demais! kkkkk

Anyway, por favor, comentem! Digam o que acham, se o final tá sendo como o esperado, melhor, pior ='( , se valeu a pena continuar lendo. Por favor, não em abandonem!

Muito muito obrigada pra todo mundo que continua lendo! Muito obrigada meeeesmo!

Comentem!
Kissu!!!

ps.: eu tenho uns caps de spin-off, que escrevi ainda do contexto dessa fic quando montava a base do enredo, dos personagens do jeito q eu vejo e talz... Animariam de ler? Respondam, please! bjo!



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