Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 36
A Reunião


Notas iniciais do capítulo

PoV múltiplo



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—- A Reunião

Tsunade respirou. Não era sua primeira guerra como kunoichi. Ou como Hokage. Não era sua primeira vez à frente de um batalhão, liderando shinobis à linha de combate. Mas não havia como se acostumar. Ela os encarava firme, séria, consciente de que subestimara a audácia do adversário e, por consequência, alguns dos olhos que a encaravam de volta poderiam não mais brilhar findado tudo aquilo. Sequer tentava afastar tal pensamento da mente. Era inútil. Simplesmente, convivia com ele.

— Hoje, quando convocamos essa reunião, - começou a Godaime, o tom de voz forte ecoando entre as paredes da sala de reuniões do prédio do governo. Os líderes dos clãs, os jounins de patente elevada, os demais convocados, todos permaneciam imóveis, sentados sobre os pés, em posição de seiza, respirando a tensão que preenchia a atmosfera do lugar, ouvindo, atentamente, as palavras da Kage, que continuou - pretendíamos comunicar a tentativa de golpe que se levantaria contra Konoha. Avisá-los dos movimentos dos golpistas. Informá-los que iniciaríamos os nossos. Emitiríamos os mandados de prisão contra os traidores e iniciaríamos os procedimentos de defesa da vila. Era essa a pauta desta reunião, quando a convocamos.

“Contudo, como já é de conhecimento de alguns de vocês, tudo isso se tornou irrelevante. Fomos negligentes e, involuntariamente, talvez, subestimamos o inimigo. Agora, temos um exército marchando em direção à vila. Um exército desonroso, que macula aqueles que amamos, que amam Konoha, que são amados por ela. Eles querem nos derrotar em frente à população da vila, de modo a exibir seu poder. Propaganda, demonstração de força, imposição de poder. O desrespeito deles, o ultraje deles farão nossas kekkei genkais, nossos jutsus secretos, nossas técnicas hereditárias se voltarem contra nós. Mas isso não era suficiente a eles."

“Coroaram, a tudo, com uma última afronta, um último insulto. Uma criança. Cujos pais nada fizeram além de proteger nossa vila. Konoha não negocia com terroristas. A aldeia já foi evacuada, de acordo com os protocolos de defesa vigentes. Iremos à batalha. Quais, dos senhores, irão conosco?”

A pergunta era desnecessária, sabia a Godaime. Mas, por tradição, talvez, foi feita. E, pelo mesmo motivo, a reposta foi dada. Um a um, os líderes dos clãs se levantaram, curvando-se noventa graus. Reafirmando uma lealdade da qual Tsunade jamais duvidara.

 

—- Duas horas antes da reunião

 

Kakashi observava a Lua refletir sua luz sobre a vila com a melancolia do poeta que não era. Ainda ventava frio, ainda nevava semanalmente, ainda anoitecia cedo demais. O inverno ainda reinava, prolongando-se mais do que deveria. E ao Rokudaime só restava respirar o ar frio que invadia sua sala pela janela e suspirar, cansado. Naquela noite, tudo começaria. Uma nova guerra, a qual o Hatake torcia para ser finalizada em uma única e rápida batalha, sem efeitos colaterais maiores do que os inevitáveis. Ele torcia, mas sua experiência shinobi apitava para o contrário.

A porta atrás de si abriu-se e fechou-se silenciosamente, mas a luz que entrara do corredor nesse meio tempo, juntando-se à da Lua, denunciou o movimento. Com mais um suspiro, Kakashi girou nos calcanhares, voltando a atenção ao recém chegado. Sabia que Tsunade fora com Shizune ao hospital da vila checar as condições desse para mais uma campanha. Que Shikamaru voltara para casa e que seu Time estava em missão. Por eliminação, poderia facilmente descobrir quem era o convidado. Mas tal exercício mental, por mais simples que fosse, não chegou a ser necessário. Seu olfato era mais rápido.

— Você me pediu para ir de escarlate - Kakashi ouviu Nana provocar quando mal virara para encará-la - Agora, faço jus ao meu apelido.

Kakashi, por baixo da máscara, sorriu discreto. E triste. Não a via usar aquelas vestes há quase quinze anos, mas ainda se lembrava da última vez como um pesadelo, um trauma de guerra. Só podia imaginar como era para Nana vestir os trajes de seu clã.

— Não são as suas… - ele comentou, caminhando até a mulher. Ela não respondeu. O Hatake parou há meio metro dela, observando-a melhor sob a pouca luz que entrava. O vermelho da seda da blusa de mangas largas, num modelo baseado no tradicional yukata, se destacava sob o longo colete preto de couro. A cintura era marcada por uma larga faixa, formada por tiras, também de couro, sobrepostas. A calça escura e folgada, que era parcialmente coberta pelo colete, tinha suas barras escondidas dentro da bota, que alcançava meio palmo acima do tornozelo. Era um uniforme de batalha, feito para esconder movimentos e se unir à kekkei genkai do clã no clássico teatralismo ninja. E, assim sendo, para coroar a armadura, às costas Nana trazia a espada - E seus cabelos estão soltos…

— Ah, é… eles deveriam estar presos - concordou a mulher, os olhos de loba refletindo a Lua - Mas eu perdi meus kanzashis, lembra?

— De quem é a roupa? - perguntou o Hatake - As suas não te servem mais, né?

— Eram da minha mãe…

— Você não precisa…

— Você pediu.

Era verdade. Ele pedira. Sequer sabia o porquê, mas fizera o pedido, deixando escapar algo subconsciente, talvez. Achara-a impressionante quando a vira pela primeira vez, nas vestes dos Hikari, e guardara isso consigo. Deu um passo à frente e, quase no automático, levantou a mão, deslizando, carinhosamente, as costas dessa no rosto da mulher. Viu-a acompanhar seu movimento com os olhos e, em seguida, fitá-lo, as íris amarelas não sendo, como eram sempre, as de loba. Apenas as de Nana.

— Você tá se despedindo? - ela provocou, tentando quebrar o clima estranho aos dois que se instalava. Kakashi riu - Acha que eu vou morrer, Kakashi-kun?

— Só se for de tédio. Com meu time na parada, não restará nada pra você…

Os dois riram. Por um momento. Então, sob a tensão crescente, deixaram o riso morrer. Kakashi viu Nana abaixar o rosto e estranhou. Ela, assim como o Hatake, era uma shinobi da geração anterior, moldada pela guerra e pelo sombrio e silencioso desespero que era ser um assassino da Anbu. Não era comum a eles demonstrar emoções, especialmente hesitação. Mas a respiração levemente marcada da ninja, por mais que a outros pudesse parecer coisa nenhuma, a Kakashi gritava insegurança.

— Você bem? - ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Seus alunos… tão chegando?

— A qualquer momento… Por quê? O que têm eles?

— Peça-os para buscarem Aiko assim que chegarem…

— Combinamos que somente depois da… - começou Kakashi, mas parou. Ele ouviu a respiração de Nana tornar-se mais ofegante e, apenas com a metade da delicadeza que deveria ter imprimido, levantou o rosto dela, segurando-o pela ponta do queixo. Suas feições estavam travadas - O que foi, Nana?

— É que… - ela começou, pausando brevemente para um suspiro pesado - O Gai… ele não pode lutar.

 

—- Uma hora e meia antes da reunião

 

— Você preferia ter ficado para lidar com a Nana, seu idiota? - perguntou Sasuke quando, depois do que pareceram anos de mimimi de Naruto, sua pouca paciência se esgotou.

Mal pisara a sala de Kakashi, há poucos minutos, o time sete recebera mais uma missão: babá. Ou pelo menos era essa a forma pela qual Naruto se referia à ordem dada pelo Hokage de buscar Aiko na casa de Gai e levá-la até seus pais. Contudo, na eterna conta em vermelho de Sasuke, os nomes de Kakashi e Nana constavam como credores. A mulher por salvá-lo quando caíra quase morto a caminho do País do Ferro. E o sensei… Bem, era melhor nem listar as dívidas que tinha com o Hatake. Assim, por mais que concordasse com o amigo que apenas um deles já era suficiente para realizar a missão, e que os outros deveriam ficar e ajudar com quaisquer que fossem os preparativos restantes, o Uchiha, ao ver a Hikari morder discretamente o lábio inferior enquanto Kakashi dava a ordem, simplesmente girou nos calcanhares e partiu em direção à Aiko. Até porque ser encarado pelos convocados à reunião com sentimentos que variavam, passando por várias escalas, da desconfiança ao ódio incondicional não era uma opção muito convidativa.

— Só quero saber por que eles mesmos não a buscaram mais cedo! - exclamou o Uzumaki em resposta - Além disso, temos coisas mais urgentes, um de nós já…

— Você já disse isso, Naruto - interrompeu Sakura, estranhamente séria - Se o Kakashi-sensei mandou nós três é porque ele achou melhor assim. Além disso, no momento, não somos úteis administrativamente. Já fizemos o que poderíamos ter feito, ficar lá, parados, só evidenciaria quanto somos de ação e não de teoria. Nossa presença na reunião é importante para uma questão de demonstração de poder e aliança, não porque fazemos diferença como manipuladores políticos ou estrategistas.

— A Sakura… - começou Sasuke, mas Naruto o interrompeu, zoando.

— Ah, não me diga que você concorda com a Sakura-chan, Sasuke? Por essa eu não esperava! - ironizou o Uzumaki - Mas, por que eles não a trouxeram mais cedo então?

— O plano era não tirá-la de lá antes de declarar guerra formalmente, para não dar dicas dos próximos passos. Mas… acho que a Nana-san não confortável com isso e pediu ao Kakashi-sensei...

Mas Sasuke já não prestava mais atenção à namorada. Seus olhos de falcão miravam dezenas de metros à frente, de onde, da janela do apartamento de Gai, três homens escapavam, o escuro do uniforme se camuflando na noite. O coração do Uchiha acelerou. Era óbvio o que acontecia ali e, caso fossem bem sucedidos, a Raiz começaria ganhando a guerra.

— Vamos! - ele ordenou, acelerando o passo em direção aos fugitivos. Sasuke viu Naruto e Sakura, instintivamente, o seguirem e assumiu a liderança.

— O que aconteceu? - quis saber Naruto, procurando o que desencadeara a ação do amigo - O apartamento…

— Aqueles três caras saíram de lá… - respondeu o Uchiha.

— Saíram do apartamento do Gai-sensei? - assustou-se Sakura. Sasuke confirmou com um taciturno “Hum” e ela continuou - Gai-sensei não pode lutar! Vocês continuem, eu vou até ele…

— Cuidado, Sakura-chan! - advertiu Naruto quando a menina pôs-se de volta à direção inicial. Sasuke a viu se afastar de canto de olho, mas comentou coisa alguma ou demonstrou qualquer preocupação. Ele sabia que ainda poderia haver inimigos no apartamento de Gai, mas, cada vez mais, reconhecia a força e independência da namorada. Isso e o fato da filha do Hokage ter, possivelmente, sido sequestrada.

— Naruto, cuidado ao atacar, um deles deve estar com Aiko!

— Hai, pode deixar - concordou o Uzumaki.

Não levou muito para que os fugitivos percebessem estar sendo seguidos. Minutos depois de Sakura partir, os dois ninjas mais levemente recuados iniciaram o ataque. Pulando sobre os telhados das casas e prédios da vila, Sasuke e Naruto desviaram das kunais e shurikens lançadas e contra-atacaram. O Uchiha puxou a espada e num movimento rápido saltou sobre o inimigo mais próximo, que se defendeu com a própria. Contudo, na rotação que o ninja fez para evitar ser atingido, o capuz da capa que vestia caiu, revelando seu rosto. Os olhos eram um tanto quanto vidrados, e não havia expressão alguma em sua face. A pele, de tão pálida, parecia levemente cinza e a boca, de tão branca, não indicava que pudesse ter sangue correndo pelo corpo do rapaz. Entretanto, por todo o resto, Sasuke travou. Havia um Sharingan encarando-o de volta, assim como um Rinnegan. Era como se olhar num espelho por trás de uma fraca cortina de fumaça.

— Que merda é… - começou ele, mas não completou. Seu clone jogou o peso do corpo sobre a arma e Sasuke deu um leve salto para o lado, girando no próprio eixo enquanto puxava sua Kusanagi e deixava a do adversário cortar o ar. Sem se abater pelo susto, o ex-vingador ergueu, novamente, a própria lâmina e transpassou o inimigo de lado a lado, partindo-o em dois. Ambas as partes deslizaram do alto do telhado em que estavam, escorregando pela face inclinada desse, puxadas pela gravidade, uma massa branca desenhando o caminho por onde passavam. Sasuke apertou os olhos, incrédulo.

— Sasuke! - ele ouviu a voz de Naruto chamá-lo a algumas dezenas de metros de distância. O Uchiha sabia que o correto seria tomar conta do corpo do inimigo, levá-lo à Shizune. Contudo, havia assuntos mais urgentes.

Sasuke pôs-se, novamente, em perseguição aos sequestradores. Em alguns segundos, alcançou Naruto, cujos clones de sombra foram encarregados de derrotar o inimigo que atacara o Uzumaki, enquanto o real mantinha-se na caçada. Talvez por carregar Aiko nos braços, o adversário restante não conseguira abrir grande vantagem em relação aos garotos, mesmo esses parando para lutar. Era, na opinião do Uchiha, uma das poucas coisas que faziam sentido ali.

— O seu também era…?

— Hum - confirmou Sasuke, interrompendo o amigo antes que findasse a pergunta.

— Que merda significa isso? - Naruto indagou, acelerando o passo. Sasuke sentiu os olhos do amigo pousarem sobre si por um segundo, mas não correspondeu. Sequer respondeu. Não sabia como, de qualquer forma - Bem, - o Uzumaki continuou após segundos em aguardo inútil - pegamos a Aiko e o cara. Ele nos dará alguma resposta, dattebayo!

— Pega a Aiko e leva ela de volta. Eu cuido do cara… - o Uchiha ordenou, firmando a espada em punho - Se você ainda tiver algum clone lá atrás, mande-os leva…

— SASUKE, ATRÁS DE VOCÊ!

O Uchiha sentiu o amigo pular por cima dele antes que pudesse reagir, o manto vermelho em torno do Uzumaki indicando que esse ativara o modo Kyuubi. Sasuke ergueu o rosto no segundo seguinte, a tempo de ver um segundo inimigo saltar em sua direção. De canto de olho, o rapaz percebeu o sequestrador manter o passo, distanciando-se, e desistiu de sua involuntária, mas preservada até o momento, tentativa de discrição, conjurando a terceira técnica da evolução de seu doujutsu. Na ligação nervosa-motora que mantinha com o Susanoo, Sasuke ergueu a mão desse, segurando, em meio ao movimento de ataque, o inimigo que vinha em sua direção e esmagando-o após o segundo de hesitação causado pelo o que vira através dos dedos semi-translúcidos da própria técnica. O que era aquilo, ele pensou, a obviedade da resposta, em sua opinião, servindo apenas para deixá-lo ainda mais confuso.

Um reflexo vermelho passou como um raio atrás de Sasuke e serviu bem para tirá-lo de seu transe de confusão momentâneo. Naruto, que também já derrotara o adversário que lhe coubera, voltava à perseguição ao sequestrador, a velocidade da corrida aumentada sob a influência do modo Kyuubi. Sasuke, seguindo o companheiro, abriu as asas do Susanoo, decolando pelos céus de Konoha, em poucos segundos tão próximo do inimigo que conseguia facilmente identificar os cabelos prateados de Aiko se destacando das mangas negras que a seguravam. Ela não se movia e, mesmo que racionalmente o rapaz soubesse que não, eles não a matariam tão rápido, torceu para que a menina estivesse bem.

— Sasuke, - ele ouviu Naruto chamá-lo ao lado - vou fazer como você disse e pegar a Aiko. Segure o cara com o Susanoo que ele vai soltar a menina, ai deixa ela comigo, beleza? Leva o cara pro Kakashi que eu vou levar Aiko pra Sakura-chan…

Sasuke queria perguntar Por que pra Sakura?, mas Naruto partiu a frente, braços estendidos pelo chakra da Kyuubi prontos para realizar a parte que lhe cabia do plano. O Uchiha, então, acelerou o voo, posicionando-se para o ataque pela esquerda, enquanto o amigo colocava-se à direita. Ele esticou o braço do Susanoo ao mesmo tempo em que Naruto estendia ainda mais os membros de chakra. Estavam em igual distância do sequestrador. Menos de um metro.

Não havia nada que qualquer um dos dois, Naruto ou Sasuke, pudessem ter feito de diferente que levasse a outra conclusão naquela batalha. Era o que o Uchiha, mais maduro e sensato, responderia, sinceramente, a si mesmo dali a alguns anos. Se tivessem ativado Kyuubi e Susanoo antes, ainda assim não mudariam coisa alguma. Quando se tem algo a perder, naquele caso a filha do sensei/Hokage, mesmo sendo o mais forte, mesmo a diferença de força sendo monstruosa, pode-se perder. Quando se tem algo a perder, mesmo assumindo-se invencíveis juntos, como o faziam o Uzumaki e o Uchiha, pode-se perder.

Sasuke chegou a sentir o tecido do capuz do inimigo tocar as pontas do dedo do Susanoo quando o vento, gerado pelo giro do adversário, o despiu. E, internamente, tinha certeza que Naruto também o sentira. Mas nada fizeram. As mãos de ambos foram atadas quando Aiko, vestida em um pijama de ossinhos, tomou a frente do homem que a raptara, voando dezenas de metros acima da dupla do time sete enquanto seus braços abertos a colocavam como um escudo humano. Sasuke prendeu a respiração. Era como ver uma versão mais nova de Nana - o que, talvez, de fato fosse. Mas a intimidação paradoxalmente estimulante que ele sentira lutando contra a mulher, não era em nada parecida com o receio que apertava seu peito naquele momento. Os cabelos prateados da menina tremulavam ao redor de seu rosto movidos pelo vento frio do inverno ao mesmo tempo em que uma luz estranha e embaçada a rodeava como uma áurea fraca. Ela parecia um pequeno anjo. Mas seu fluxo de chakra continuava apertando o peito do Uchiha.

— Sasuke, - Naruto começou, seus olhos arregalados indicando que temia tanto quanto o amigo - o que ele fez com ela?

— Genjutsu… - o Uchiha respondeu.

— Sabem, - começou a voz rouca e debochada do homem atrás de Aiko, cujo rosto permanecia à sombra da garota. A zombaria no tom fez Sasuke cerrar os punhos involuntariamente - é muita honra pra mim, um simples shinobi, ser perseguido por deuses como vocês…

— Não somos deuses - cortou Naruto. Sasuke se assustou. Não com a interrupção de Naruto, já que conhecia o gosto por falar que o amigo tinha, mas pelo tom empregado por ele. Seco, mas em cólera contida.

— É como se eu me tornasse grande coisa, né? - continuou o homem, ignorando o corte do Uzumaki, acrescentando um riso à voz - Tô me sentindo famoso!

— DEVOLVE A AIKO! - gritou Naruto, avançando contra o oponente apenas para recuar meio segundo depois: a menina colocou-se ainda mais em posição de escudo humano.

— Ah, vamos clarear as coisas por aqui, tudo bem, Naruto-chan? Vocês atacam, ela me defende. Eu sei, eu sei que a pirralhinha aqui não vai aguentar nem as cócegas que vocês fizerem nela. Maaaaaas, sabe como é, eu não me importo se ela explodir. Se vocês também compartilham a opinião de que, quando uma Hikari explode, vira fogos de artifício, só cair pra dentro! Huuum, e mais um detalhezinho, acho que o Sasuke-chan, com esse olhinho vermelho já deve até ter notado - o homem acrescentou, infantilizando a voz por uma sentença, tornando-a séria logo em seguida - Meu genjutsu não é comum. Vocês podem me atacar diretamente também, na esperança de libertá-la caso eu morra, mas eu garanto que a mato no segundo que vocês avançarem.

Naruto e Sasuke não responderam. De todas as formas que o Uchiha encarava a situação, não encontrava uma saída. Ele viu Naruto cerrar os dentes ao seu lado, bufando, e sabia que estava em estado equivalente. Sentia uma ira tão forte diante da própria impotência, que cada músculo do seu corpo ardia em dor.

— Diga à Godaime e ao Rokudaime que enviaremos nossas condições de resgate - o homem continuou - E que a menina será tratada como a princesinha que é… Só mantenham em mente como são tratadas princesas de regimes depostos.


—- Quarenta e cinco antes da reunião



Primeiramente, Naruto achou que Nana explodiria. Em seguida, que ela os explodiria. E, findado o relato sobre o sequestro de Aiko, diante do desespero que tomara conta dos rostos da mulher e de seu sensei, Naruto torceu para que ela o fizesse. Quando falhara em trazer Sasuke de volta à vila, sentira algo como ser transpassado ao ver Sakura tentar esconder um misto de medo, tristeza e preocupação. Agora, sentia o mesmo, potencializado pela sensação de culpa e fracasso, ao observar Kakashi e Nana se segurarem para não desmoronar a medida que a compreensão do que acontecera lhes atingia. Queria ignorar toda a batalha que estava por vir e ir atrás de Aiko. Encontraria um jeito de salvá-la, com toda certeza. Mas não o fez. Permaneceu parado, a espera das ordens que viriam, misturadas ao tom de aflição e decepção, da boca do sensei.

— O Gai-sensei está internado, muito ferido. Aparentemente, ele tentou reagir ao sequestro, mas Shori o atacou… - começou Sakura, o tom fúnebre e urgente soando estranho aos ouvidos de Naruto - Quando eu cheguei ao apartamento dele, o sensei nocauteara a loba e iniciava a perseguição. Eu o interrompi…

— Fez bem, Sakura - concordou Tsunade, séria - Por mais que as sequelas do Gai, com o tempo, diminuam um pouco, ele não deve mais lutar. Especialmente agora, quando ainda está no início do processo de estabilização.

— Ele se sente culpado… - continuou Sakura, o mesmo tom de antes. Naruto fechou o olhos. Haviam dois culpados ali, na opinião do Uzumaki, e definitivamente Gai-sensei não era um deles.

— Eu me responsabilizo - falou Sasuke, dando um passo à frente, colocando-se em julgamento.

— Eu também… - acrescentou Naruto, pondo-se ao lado do companheiro. Os dois permaneciam com o rosto levemente abaixado, a coragem para encarar o sensei vacilando - Vou trazer Aiko de volta, sensei… Eu prometo.

— Vocês entregaram minha filha de mão beijada? - indagou Nana, a voz tremendo, Naruto não sabia dizer se em ódio ou desespero - Nos traíram? Contaram a eles onde ela estava, entregaram-na a eles?

— Nana… - começou Kakashi, enquanto Naruto e Sasuke se entreolhavam incrédulos, mas a mulher continuou:

— RESPONDAM!

— Não! - gritou Naruto, no impulso gerado pelo grito de Nana - Claro que não! Jamais faríamos isso, só que… falhamos em resgatá-la…

— Se vocês não fizeram isso, - Nana voltou a falar, a voz ainda tremendo como antes - então não há pelo que se responsabilizarem.

— Nana nee-chan… - começou Naruto, mas dessa vez, Kakashi o interrompeu.

— Nana e eu somos os pais dela, Naruto. É nossa obrigação protegê-la - ele suspirou antes de continuar - Vocês tinham uma missão e tentaram cumpri-la. Existirão outras que vocês não conseguirão…

— Sensei… - disse Sakura, baixinho, quando o Hatake tornou a suspirar.

— Falem sobre esses… clones. Você disse que eles eram da massa que a Sakura estava analisando, Sasuke?

— Hum... Eram de uma massa branca, acho que como a da Sakura. Eu cortei um ao meio, mas ele… se reconstituiu - explicou Sasuke.

— Tem certeza? - Tsunade perguntou, os cotovelos apoiados sobre a mesa e as mãos cruzadas à frente do rosto não sendo capazes de disfarçar a preocupação denunciada pelas sobrancelhas franzidas. Kakashi e Nana, encostados em uma parede ao fundo, pareciam aéreos, quase anestesiados. Naruto tirou os olhos deles, voltando-se a Sasuke. Independente da culpa ser não ser colocada sobre suas costas, ele a pegara para si.

— Vi o tecido rasgado onde eu cortei … Estava um pouco distorcido, por causa dos dedos do Susanoo, mas tenho certeza.

— Então a massa branca era biológica, como a Sakura falou - concluiu Tsunade.

— Eles podem ter feito algo baseado nos Zetsus… - filosofou Sakura - Mas precisavam dos DNA dos ninjas que iriam clonar, por isso todas aquelas fichas.

— Então, assumimos que estamos lidando com um exército de nós mesmos— disse Kakashi, esfregando o rosto como se buscasse lucidez. Novamente, Naruto sentiu o peito apertar e desviou o olhar.

— Eles são mais fracos que nós - explicou o Uzumaki, fitando o nada - Derrotamo-os facilmente…

— Mas vocês são especiais - ponderou Shikamaru, a quem Naruto até esquecera estar ali - Se outros ninjas tiverem que enfrentar os clones de vocês, mesmo sendo mais fracos, terão dificuldade.

— E eles tem Aiko - acrescentou Kakashi - A usarão como escudo.

Houve silêncio. Naruto sabia que toda linha de ataque deles estava, agora, comprometida. O outro lado usando Aiko como escudo, limitava completamente o poderio do ataque. Sem força total, ou a menina morreria. Em uma guerra, e o Uzumaki sabia disso muito bem, sacrifícios eram feitos. Necessários, até. Mas o garoto duvidava que alguém ali considerasse algo diferente de resgatar a criança.

— Nós não podemos simplesmente pegar Aiko fugir porque eles a matariam no meio tempo, mas se nós conseguirmos feri-la levemente, - começou Shikamaru assumindo sua posição de estrategista - a tiraremos do genjutsu e podemos, então, afastá-la…

— Não, não dá - cortou Nana, saindo, pela primeira vez desde que Naruto chegara à sala, do canto da parede à sombra atrás da mesa do Hokage - Para tirar a Aiko do genjutsu, a dor tem que ser muito alta. Ela é muito criança, não resistiria a um ferimento assim…

— Por que alta? - perguntou Sakura - A dor de um corte já é suficiente…

— O genjutsu de Kaneko é muito forte, a ponto dele controlar a mente de alguém… - explicou Nana, a voz ainda tremendo, embora um pouco menos - Mas, de fato, um corte razoável e a dor traz a pessoa de volta. O problema… é que minha kekkei genkai, que é a mesma da Aiko, nos deixa instáveis. Nossa mente é fraca. Somos suscetíveis a qualquer genjutsu, de qualquer intensidade. Entramos muito fundo, e só saímos com ajuda externa. O ferimento tem que ser grave e a dor alta.

— Obviamente, colocar alguém como a Nana em um genjutsu é bem complicado, já que é preciso contato visual - acrescentou Kakashi, posicionando-se ao lado da mulher - Mas a Aiko…

— Entendi… - suspirou Shikamaru - Tenho que pensar em…

Psiu!— advertiu Kakashi ao Nara, estendendo a mão para que esse se calasse. Naruto entendeu a que o Hatake se referia e voltou-se para a porta meio minuto antes da maçaneta começar a girar. Ele sentiu os dois kages e Nana avançarem e colocarem-se a frente dele, de seus companheiro e de Shikamaru. A lâmpada da sala, que permanecera desligada durante todo o tempo, acendeu-se de repente e o Uzumaki deduziu que Nana o fizera. A porta foi aberta e, por impulso, ele cerrou os pulsos. Sasuke e Sakura ao seu lado fizeram o mesmo.

Era um homem comum, foi o primeiro pensamento de Naruto sobre o visitante. E, sendo comum, deveria, de fato, servir bem à Anbu, ou a Raiz. Passaria despercebido em uma multidão. Ele era alguns dedos menor que Kakashi, e tinha os cabelos negros em um corte baixo, militar. O rosto era quadrado, a pele pálida, o queixo um pouco proeminente, os olhos pequenos, nenhum traço marcante. Naruto poderia ter esbarrado com ele centenas de vezes na vila e jamais lembraria.

O homem entrou na sala com a confiança de que o silêncio se manteria. Fechou a porta atrás de si, caminhou alguns passos. Parou à frente dos dois Kages. Seu rosto não expressou coisa alguma.

— Godaime-sama - ele começou, a voz mansa e grave num tom arrastado - Rokudaime-sama.

Tsunade e Kakashi não responderam.

— Aiko-hime puxou a você, Nana-san - o homem continuou, agora encarando a Hikari. Naruto se impressionou com a presença e frieza de Tsunade, Kakashi e Nana. Eram impassíveis e firmes, como estátuas - Para a nossa sorte, claro.

— Quais as condições do resgate, Takahashi? - indagou Kakashi, a voz não o traindo em demonstrar sua aflição. Novamente, Naruto se impressionou.

— Pensei que vocês não negociavam com terroristas, Kakashi - riu-se Takahashi. O sangue de Naruto ferveu com o desdém - Não é assim que vocês nos chamam? Terroristas? Rebeldes?

Ninguém respondeu. Ele continuou.

— De qualquer forma, não há condições. Não há resgate. Aiko nos é bem útil, entende?

— Se não há resgate, o que você veio fazer aqui? - cuspiu Nana, dando um passo à frente.

— Vim ouvir vocês declararem guerra a mim, à Raiz, ao futuro da vila… - respondeu Takahashi - Vocês tinham tanta certeza que ganhariam. Como se sentem agora que perdem de qualquer maneira? Pelo menos vocês dois…

— Eu vou atrás da minha filha - interrompeu Nana, dando um passo à frente. Naruto fez menção de se mover, juntamente com Sasuke, mas parou diante da mão estendida de Kakashi - Vou resgatá-la e então, porque você fez isso pessoal, eu vou atrás de você. Você se arrependerá do dia que pensou em colocar minha filha nisso, Takahashi. Toda dor que você já sentiu… você implorará por algo tão suave quanto...

— Você está fazendo isso do jeito errado, Nana - cortou Takahashi, calmo - Eu não temo a dor.

— É que eu não comecei - a mulher rebateu, empurrando o ninja, que derreteu em lama.


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Notas finais do capítulo

Hey, mina-san! Cá estou eu again!
Tava viajando, por isso o post só veio agora. Sabecomé, féééérias! uhuuu
Pena que já acabaram... =(((

Anyway, povs múltiplos nesse post, um estilo diferente de escrita ao qual eu estou acostumada. Espero, realmente (torcendo muito), que não tenha ficado confuso. Mais ainda, espero que gostem!

Vou responder os coments do cap anterior amanhã... to com sono! kkkkkk
Mas, de verdade, muito muito obrigada mesmo por cada comentário, cada view, cada minuto que vocês dedicaram da vida em ler o que escrevi! Sério, é realmente muito gratificante saber que alguém (no caso, vocês, caros leitores lindos!) gastou um tempinho (ou tempão, já que a fic atingiu preciosas 300 pgs!) acompanhando as mirabolâncias da minha cabeça! Muito, muito obrigada mesmo!

E, por favor, continuem comentando! Àqueles que nunca comentaram, só um "tô lendo" tá massa, se quiserem fazer uma autora feliz (fazer os outros feliz faz bem, é sabido). Aos que sempre comentam, sério, vocês fazem meu dia! *---*

Valeu mesmo, galera! Comentem! Recomendem se acharem que merece (mendigando aqui, de boas)! Critiquem, opinem, palpitem! Tudo é bem vindo!

Obrigadão mesmo! Kissuuuus!