Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 32
Você quer...?




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Os sentimentos, as emoções, as paixões têm como órgão responsável o cérebro. É na cabeça que os guardamos e construímos; o que sentimos é psicológico. Contudo, em algum momento num passado distante, tomamos o coração como o culpado. Ele que é quebrado, consertado, acelerado. O motivo por sermos seres tão cardíacos pode estar ligado à mania que essa bomba em nosso peito tem de bater a ponto de quase saltar pela boca quando estamos sob estresse. Ou emocionados. Ou apaixonados. Naquele momento, Sasuke entendia bem isso.

O coração do Uchiha batia tão forte que caso ele estivesse preocupado em dividir sua atenção com qualquer outra coisa que não a garota à sua frente, chegaria à exagerada conclusão de que todos, num raio de um quilômetro, conseguiam ouvir. Seus lábios ainda estavam colados nos dela, suas respirações ainda se misturavam, suas mãos ainda seguravam os cabelos e a cintura dela. E seu coração, obviamente, ainda se mantinha acelerando como um foguete espacial. Ele a apertou um pouco mais, puxando-a para perto de si, enquanto sentia os braços de Sakura circularem seu pescoço, os dedos entrelaçarem seus fios negros. Esperou aquilo por tanto tempo… Por mais tempo do que seria capaz de confessar a ela. Temeu tê-la perdido. Temeu não conseguir seu perdão. Mas, naquele momento, a única coisa que temia era aquilo não ser real.

— Haruno-sensei?

Sasuke ouviu uma voz feminina chamar Sakura inconvenientemente próxima e, imediatamente em seguida, sentiu uma mão se espalmar em seu peito, empurrando-o com uma força desnecessária, fazendo cair sentado, um metro e meio de distância de onde estava no instante anterior. Ele apoiou o corpo sobre o punho, evitando bater as costas no chão, e observou Sakura fitá-lo com os olhos esbugalhados por um centésimo de segundo, antes de voltar-se para a enfermeira parada a porta que a chamara.

— Nakajima-san, você está atrasada! - ralhou Sakura, verificando o relógio, agindo como se, quando flagrada, estivesse apenas tomando um gole d’água. Sasuke levantou-se, esforçando-se em manter a expressão fria de sempre, disfarçando o constrangimento, consciente de que a enfermeira o observava de canto de olho. Poderia matá-la - Nakajima! Estou falando com você!

— Ah… Eu… Desculpe, Haruno-sensei! - pediu a mulher, curvando-se.

— Meu turno acabou há mais de meia hora… - resmungou Sakura, desparamentando-se. Sasuke a observou tirar o avental, as luvas, a touca e pensou em ajudá-la. Ela estava ali, há poucos centímetros de distância. Poderia, simplesmente, esticar a mão e segurar as vestes que ela retirava, dobrando-as, talvez. Era melhor do que vê-las atiradas sobre a cadeira, sem organização alguma. Contudo, algo o impediu. Construíra, durante muito tempo, uma reputação embasada na frieza e no distanciamento em relação aos outros. Inclusive à Sakura. E, agora, por mais que quisesse quebrar essa barreira com a garota, deparou-se com a real dificuldade que era mudar hábitos antigos.

— ...os outros também estão atrasados. Sinceramente, parece que é só ler meu nome no quadro de plantão que todo mundo acha que pode chegar a hora que quiser! “Ah, a Haruno-sensei espera, ela sempre espera, feito uma palhaça!”. Como se eu não tivesse o que fazer fora daqui também!

— Desculpe, Haruno-sensei! - pediu a mulher, novamente, curvando-se - Não acontecerá de novo!

Se acontecer, será a última vez, entendeu? - sibilou Sakura, passando pela mulher, fazendo-a tremer da cabeça aos pés. Sasuke controlou a vontade de rir - Vamos, Sasuke-kun!

O Uchiha seguiu a garota em silêncio, levemente atordoado. Era sempre igualmente divertido e assustador ver Sakura brava. Ela continuou reclamando de “como eles são folgados” durante todo o caminho entre a maternidade e o quarto de Sasuke, mas ele só prestava meia atenção. Fitava as costas da menina, vendo-a agitar os braços vez ou outra sobre a cabeça, extravasando a própria irritação. Ela se recompusera rápido diante do flagra, invertendo a situação ao acusar a enfermeira antes de ser acusada. Contudo, ele ainda estava na antessala do berçário, no beijo, nela. E por mais que estivesse atento, pela própria segurança, ao estresse da garota, tinha certeza que exibia um sorriso discreto, imperceptível, nos lábios, sendo bobo como nunca se permitira enquanto se lembrava da boca dela.

— Eu venho te ver mais tarde, tá? - ele ouviu Sakura falar, enquanto entravam no quarto onde ele estava internado. Nem percebera que chegara ali - Pra garantir que você não vai sair por aí com o Naruto, não vou dizer a hora! Vou vir de surpresa!

— Vai, é? - ele provocou levantando a sobrancelha. Viu-a corar.

— Vou, você ainda está internado, não se esqueça! Se ficar dando pulinhos por aí, vou pedir pro Kakashi-sensei colocar um guarda na sua porta…

— Huuum… - Sasuke murmurou, levantando ambas as sobrancelhas em fingida compreensão. Recebeu um olhar desdém de Sakura.

— Você se comporte, Uchiha! - ela aconselhou, passando por ele sem fitá-lo nos olhos. Sasuke estranhou. Virou a cabeça de leve para vê-la andar completamente confuso. Achava que, agora novamente a sós, voltariam de onde pararam. Ou, pelo menos, conversariam a respeito. Definiriam a situação em que estavam. Entretanto, deparara-se com uma Sakura estranhamente alheia ao que ocorrera. Era como se ela estivesse satisfeita em fingir para os dois, assim como fizera para a enfermeira, que o beijo deles tinha importância nenhuma. Por algum motivo, essa possibilidade irritou Sasuke. Ele não costumava tomar atitudes inúteis, desperdiçar energia em ações desimportantes.

— Aonde você vai? - ele perguntou, autoritário, segurando-a pelo braço por reflexo quando a médica emparelhou com ele em meio ao caminho até a porta.

Sakura virou o rosto para encará-lo e, com a sobrancelha levemente arqueada, perfurou os olhos dele com os esverdeados dela. De alguma forma, aquilo o incomodou. Constrangeu-o. Ele não costumava se intimidar com coisa alguma, especialmente com Sakura, mas, involuntariamente, o fez. Desviou o olhar por um segundo, disfarçando com um piscar, e, sabendo o motivo da zanga da menina, soltou-a, ocupando a mão com o bolso da calça.

— Você não manda em mim, Sasuke-kun - ela disse, calmamente, num tom quase carinhoso. Ele entendeu. A garota queria passar uma mensagem, não começar uma briga. Respeitou-a.

— Eu sei… - respondeu, caminhando até a cama, mantendo o tom ameno imposto por ela - Só queria saber se você já vai…

Sasuke sentou-se na cama, perfeito no papel de paciente exemplar, e, torcendo para a tensão que ele causara a pouco entre os dois ser passageira, cobriu as pernas com o edredom, enquanto apoiava as costas no encosto acolchoado. De repente, não sabia ao certo como se comportar e sentia-se um idiota por isso. Sentia-se… outra pessoa. Tinha consciência de que, desde o fim da guerra e seu retorno à Konoha, mudara em grandes proporções. Era necessário e ele estava bem assim. Não carregava mais o desejo por vingança sobre os ombros e, consequentemente, ficara leve como não fora desde o extermínio do seu clã. Era sério por natureza. Poderia usufruir da maior felicidade do mundo que ainda manteria a frieza e a discrição inerentes a ele. Mas voltara a se importar com os outros. Com Naruto, Kakashi. Sakura.

Ele fitou um ponto qualquer no cobertor, acostumando-se com aquela sensação inédita: insegurança. Ouviu os passos de Sakura se aproximarem da cama, mas manteve-se firme em não a olhar. Sabia que, por mais confuso que estivesse, seu rosto exibia a costumeira arrogância de sempre, no ato involuntário de dissimular as emoções - ninja. Novamente, sentiu vontade de quebrar essa barreira com Sakura. E, novamente, percebeu que era bem mais difícil do que aparentava.

— Sasuke-kun? - ele ouviu a voz manhosa de Sakura chamá-lo, ao mesmo tempo em que sentia o colchão afundar indicando que ela ali sentara, mas não se virou para encará-la. Pelo contrário. Murmurou um mal humorado “hum”, sinalizando que ouvia, e focou sua atenção na jarra d’água sobre o criado, usando-a para servir-se de um copo - Você quer namorar comigo?

Sasuke parou na metade do gesto de levar o copo à boca estupefato. Ficou feliz de não ter bebido a água ou a teria cuspido toda sobre Sakura com o susto. Com os olhos esbugalhados, o coração acelerado, o cérebro trabalhando freneticamente, apenas para deixá-lo ainda mais confuso, ele voltou-se para Sakura completamente consciente de que, por mais dissimulado que fosse, cada centímetro de seu rosto traduzia o espanto que ela lhe causara. Fitou o rosto da menina, que lhe sorria meio divertida, meio tímida, e, a muito custo, tomou toda a água do copo, pousando-o, depois, vazio sobre o móvel ao lado da cama, tentando se recompor.

— Hum… - ele pigarreou, de leve, certificando-se que ainda tinha voz - Ah… não deveria ser eu a perguntar isso?

— Ah, talvez… Não sei. Acho que tanto faz, né? - respondeu Sakura, alargando o sorriso. Sasuke se irritou. Era claro que ela se divertia às suas custas - Até porque, se fosse depender de você, seria estupidamente complicado. Você acharia que nossa situação era clara, óbvia, e não falaria nada, me deixando completamente confusa em relação ao que nós temos, já que eu, como te disse, não leio mentes.

— Existem coisas que são óbvias - ele se defendeu, grosso - Não precisam ser ditas.

— É, mas tem coisas que precisam - ela rebateu, assumindo, de repente, um tom estranhamente sério. Sasuke engoliu em seco.

— Vou levar uma bronca? - ele perguntou, rindo de lado. Tentava manter a pose cool, mas estava nervoso. Vira, nas últimas horas, as facetas brava, responsável, preocupada, kunoichi, perigosa, sexy, médica e, novamente, brava da garota. Temia qual era a próxima à qual seria apresentado (ou reapresentado).

— Você não acha que merece? - argumentou ela, erguendo as sobrancelhas.

— Acho… mereço broncas pro resto da vida, o que não significa que vou aturar levá-las.

— Eu não esperava que fosse… - ela riu, sincera, enquanto procurava com seus dedos os dele. O garoto abaixou os olhos ao senti-la tocar sua mão enfaixada e, num tipo de automático-consciente, fechou-a sobre a dela - Então vamos considerar essa a última bronca que eu vou te dar…

— Duvido… - Sasuke muxoxou - Você é irritante, vai brigar comigo o tempo todo!

— Nhéééé - ela reclamou, mas, novamente, riu - Você é tão complicado!

Sasuke virou a cara.

— Semana passada, quando você chegou aqui quase morto, - ela começou, voltando ao tom sério. Sasuke abaixou o rosto. Sentiu-a apertar ainda mais sua mão - fui eu quem reconstruiu seu sistema de chakra. O que você tem que entender é que o sistema circulatório de chakra funciona como o sistema sanguíneo, com a fundamental diferença de que não o enxergamos a olho nu. Exceto, claro, se você for metido e tiver um doujutsu - Sasuke resmungou e Sakura riu - Os tenketsu* do seu corpo estavam totalmente danificados, liberando chakra demais ou retendo todo ele. Como as paredes das vias de chakra são invisíveis, eu tive que encontrá-las manipulando uma bolinha do meu próprio chakra de dimensão desprezível por todo o seu corpo, restaurando todas as via por onde ela passava, detectando e restaurando cada um dos seus trezentos e setenta e…

— Aonde você quer chegar, Sakura? - Sasuke perguntou, impaciente. Achava que levaria uma bronca, não que teria uma aula de biologia. E, pessoalmente, preferia a bronca.

— Só quero te mostrar como foi difícil te salvar… - ela respondeu, depois de um segundo em silêncio, os olhos fixos nos dele. Ele piscou - Você está vivo por minha causa. Você dependeu das minhas mãos e elas te salvaram. Mas, pelas suas, se dependesse só das suas… eu estaria morta.

As palavras de Sakura, mais uma vez, o atingiram como um soco na boca do estômago. Ele fechou os olhos, derrotado, sabendo que o que ela falava era verdade. Suspirou, prendendo a tristeza em si mesmo.

— Eu não tenho o direito de pedir coisa alguma pra você, - ele começou, sem conseguir encará-la - mas, se você puder, por favor, não fale mais…

— Eu já disse, Sasuke-kun, - ela o interrompeu, e ele sentiu a mão livre da garota correr pelos seus cabelos, num carinho reconfortante. Seu coração aqueceu-se com o gesto dela. E ele conteve a vontade de chorar - é a última bronca.

“Mas eu preciso ter essa conversa com você… Te explicar, te fazer entender… Quando você voltou pra vila, eu fiquei tão feliz, senti tanta felicidade que achei que meu coração fosse explodir! Mas, então, quase que ao mesmo tempo, eu percebi os olhares em cima de você. O ódio. Foi quando eu notei que eu também deveria te odiar… Você me deu todos os motivos pra isso! Mas… mas… eu te amava tanto que eu simplesmente não conseguia! Eu ficava com raiva de você, raiva de mim, eu queria parar de pensar em você, mas era só começar que desandava… eu não parava mais…”.

— Sakura, - ele interrompeu. Queria dizer que entendia. Que também pensava nela o tempo todo. Que também ficou feliz quando voltou. Mas ela continuou.

— Eu fiquei com tanta raiva de mim por continuar gostando de você mesmo depois de tudo o que você fez comigo… Eu me senti submissa, burra, fraca. E eu acumulei isso, uma raiva de você, de mim, de tudo isso. Aí, num dia que tudo deu errado, que eu já tava puta comigo por ter mentido pro Kakashi-sensei, puta com você por ter me tratado como uma inútil, com o ataque à Academia, eu acabei descontando em você tudo de uma vez. Falei o que pensava, o que não pensava, fui cruel. E, no segundo que eu fechei a boca, que você colocou sua kunai na minha mão, eu quis sumir… Achava que já tinha sentido toda a dor que poderia sentir, mas aquilo ultrapassou tudo. Até, é claro, você resolver quase morrer.

“Eu não te tive por tanto tempo… Aí, passamos os últimos meses nessa palhaçada de relacionamento de rixa. Aí, você quase morre. Só pra colocar em perspectiva tudo o que eu senti durante todo esse tempo. Só pra me mostrar que eu não tenho chance nenhuma de ser feliz sem você… Que meu amor por você é muito maior que meu orgulho. Eu quero tanto ficar com você… Eu te amo tanto… Só que…”

— Sakura, - ele interrompeu novamente, passando a mão pelos cabelos dela, afastando-os do rosto. Ele entendera perfeitamente o que ela queria dizer. Compreendera que ela não estava jogando na cara dele coisa alguma. Só estava… se expondo. Como ela sempre fazia. Dizendo o que sentia. Contudo, dessa vez, o objetivo dela não era apenas falar por falar, havia uma mensagem por trás daquilo. Ela ainda o amava, mas já não estava mais disposta a abandonar a si mesma, a se sacrificar por ele. Mas ele estava e, portanto, sabia exatamente o que dizer - eu gosto de você. Gosto tanto que, mesmo pra mim, é difícil guardar dentro de mim…Se nós ficarmos juntos, eu prometo que você não vai se arrepender. Nós vamos ser felizes… Eu vou te fazer feliz. Todos os dias.

Sasuke viu os olhos verdes de Sakura se encherem de lágrimas e, por instinto, não querendo vê-la chorar e querendo consolá-la ao mesmo tempo, puxou para perto num abraço. Ele sentiu o rosto da garota afundar no próprio ombro e, ainda novato, soube apenas apertá-la um pouco mais, abaixando a cabeça, deixando o próprio nariz roçar a orelha da kunoichi, o cheiro adocicado dos cabelos dela lhe invadindo as narinas. A menina tremeu e o Uchiha soube que ela soluçava, o que lhe deu a sensação de ter mais uma culpa para adicionar ao seu caminhãozinho de erros. E ficou, já quase se acostumando a essa sensação, sem saber o que fazer.

— Sakura? - ele perguntou, deixando um subentendido você está bem escapar apenas no leve tom de preocupação que ele se permitiu expor na voz.

— Você está zombando de mim? - Sasuke a ouviu perguntar, chorosa, a voz abafada, consequência do rosto apertado contra o ombro dele.

— Não! - ele exclamou, imediatamente, surpreso com a interpretação que ela teve.

— Mas você repetiu minha decla…

— Sakura! - ele cortou, sério, afastando-a do abraço delicadamente, segurando o rosto dela com as duas mãos a centímetros do próprio. Assim como ela precisava lhe explicar como se sentia, ele queria que ela entendesse - Você me disse isso uma vez… E eu te deixei pra trás. É justo que eu lhe prometa agora. Que eu assuma o compromisso de te proteger, cuidar de você, te fazer feliz. Que eu te jure amor…

Ele secou os olhos dela com os próprios polegares, sem soltar seu rosto. Ela o fitava com os olhos esbugalhados, o mais próxima da garota que ele abandonara num banco na saída de Konoha, anos atrás, do que ela fora em meses. Sasuke encostou a testa na dela e brincou, roçando a ponta de seu nariz no dela. Era uma sensação diferente ficar com Sakura daquele jeito. Nunca sentira tanta certeza de algo na vida quanto sentia naquele momento. Havia algo de paz, algo de tranquilidade. Algo de… fogo. Queria ficar com ela. Só queria isso da vida.

— Sim… - ele disse, quando a viu fechar os olhos.

— Sim o quê? - ela perguntou, baixinho, sem entender ou dar muita importância ao sim.

— Eu quero ser seu namorado… - ele respondeu.



— Hey, Sasuke, acorda cara! Hey! Acorda, seu otário!

Sasuke sentiu ser sacudido e, completamente atordoado, usou de um minuto para entender o que acontecia. Abriu os olhos sonolento, apenas para se deparar com duas bilocas azuis a centímetros deles. Por instinto - mas mesmo racionalmente teria atitude idêntica - empurrou o dono das bilocas de perto dele, ouvindo um grito de protesto quando o rapaz caiu estatelado no chão.

Porra, Sasuke! - Naruto gritou, levantando-se e massageando a bunda - Precisava dessa violência toda?

— Que merda você fazendo aqui, seu babaca? - Sasuke sibilou, puto da vida, enquanto via o amigo caminhar descadeirado até ele. Detestava muitas coisas. Dentre elas, ser acordado.

— Calma, moço, precisa disso tudo não! - provocou Naruto, as mãos espalmadas à frente dele sendo levemente agitadas, num claro pedido por paciência. Sasuke bufou - Preciso de um favorzinho seu, amiiigooo!

— Não - cortou o Uchiha, seco.

Porra, cara, nem ouviu ainda!

— Tenho a esperança de evitar isso - respondeu Sasuke, arrumando-se novamente na cama, virando-se de costas para o amigo e se cobrindo, preparando-se para voltar a dormir. Estava certo de que já era, não conseguiria dormir antes da meia noite (com sorte, talvez, já passara do meio dia), mas se iludia pensando que, caso fingisse ter apagado, Naruto eventualmente iria embora.

— Nem vem, vai dormir não, bela adormecida! trabalho pra te acordar! - reclamou o Uzumaki, tornando a sacudir o amigo, que apertava os olhos, decidido a manter sua atuação - Vou te dar beijinho pra te acordar, dorminhoca! Huuuuuuuuum

Sasuke levantou-se de pulo e, já de pé, estabeleceu uma distância segura entre ele e Naruto. Confiava quase cem por cento que o amigo não iria lhe beijar de fato. Contudo, isso já ocorrera uma vez (traumas são difíceis de serem esquecidos) e quase cem por cento não é cem por cento.

Caralho, Naruto!

— Pronto, de pé! - exclamou Naruto, triunfante. Sasuke piscou. Tentava se lembrar de porque não matá-lo - Preciso da sua ajuda, mano.

— Eu não posso sair daqui, Sakura me mata - falou Sasuke de uma vez, tentando não corar. Não gostava muito da ideia de transparecer qualquer tipo de submissão a qualquer pessoa. Contudo, não tinha a menor intenção de desobedecê-la. Por isso, foi direto.

Ah, claro, porque é a primeira vez que você foge daqui, né? - ironizou o Uzumaki, mais escandaloso que o necessário.

— Isso foi antes de eu ver a Sakura…

— Foda-se, véi! Eu preciso da sua ajuda, merda!— cortou Naruto e, quando Sasuke abriu a boca para dizer outro não, ouviu o Uzumaki acrescentar - Você me deve um monte! te cobrando só uma.

Sasuke ponderou. De fato, devia um monte. O namoro recém-firmado com Sakura, por exemplo, podia ser colocado na conta do ninja hiperativo número um de Konoha. Se não tivesse voltado à vila, nadica de Sakura-chan pra ele. Assim sendo, engoliu o não, substituindo-o por um mal humorado muxoxo.

— Olha, cara, é que… Merda, não consigo falar nem pra você, como vou con…

— Desembucha, porra!— exclamou Sasuke, irritado. Como não se irritar, aliás? Primeiro era acordado se sentindo dentro de um liquidificador, depois ameaçado com um beijo e, agora, tinha que aturar Naruto gaguejando, sacudindo as mãos como marias-moles à frente do corpo, sendo o mais idiota que ele poderia ser. O que, na opinião do Uchiha, era muita coisa.

— Não me pressiona, caralho!— Naruto respondeu, mas respirou fundo, tentando se acalmar - Olha, cara, preciso que você me ajude numa parada aí.

Saquei essa parte…

Vou na casa da Hinata pedir ela em namoro pro Hiashi - Naruto disse, de uma vez, como se tivesse competindo para falar a maior quantidade de palavras por segundo.

Sasuke, novamente, piscou. Entretanto, dessa vez, não procurava motivos para manter Naruto vivo. Procurava motivos para não rir. O amigo estava vermelho até as orelhas e se sacudia inteiro, dos pés a cabeça, parado num mesmo lugar, como se estivesse dando micro pulinhos. Além disso, imagens de Naruto chegando ao distrito Hyuuga e pedindo ao líder deles a mão de Hinata, simplesmente, começaram a dançar na imaginação de Sasuke. Obviamente, diante de tal situação, o Uchiha não encontrou razão para segurar o riso. Ou a gargalhada.

rindo do que, palhaço? - indignou-se Naruto, fechando a cara. Sasuke riu mais. Precisou apoiar-se na parede, curvando-se como consequência da dor que começava a tomar sua barriga - Contei alguma piada?

— Não é piada? - provocou Sasuke. Naruto levantou o punho e foi em direção ao amigo que, bem a tempo, conseguiu se recompor e pôs-se ereto. Se Sakura soubesse que ele brigara no hospital, estava lascado - Tá, tá, beleza, parei, de boa, ok?

— Hum… - murmurou Naruto abaixando o punho. Sasuke respirou fundo, recuperando o ar que perdera com a gargalhada e, no segundo seguinte, viu o Uzumaki voltar ao desespero anterior - Mano, como eu faço, hein? A Hinata disse que, no clã dela, tem que ir lá, pedir a mão em namoro, seguir uma porcaria de protocolo…

— É um clã tradicional, isso é costume.

— No seu também tinha isso? - perguntou Naruto. Sasuke acenou positivamente - Frescuragem… Quando eu for Hokage, vou acabar com essa palhaçada toda!

— Mesmo sendo Hokage, você não pode interferir nos costumes internos dos clãs - argumentou Sasuke. Naruto xingou - Como é que você vai fazer?

— Sei lá, cara… - respondeu Naruto, passando a mão pelos cabelos e pondo-se a andar pelo quarto. Sasuke aproveitou e voltou para cama - Pensei em chegar e, , mandar a real!

Sasuke se controlou para não rir.

— Tipo, falar, Hiashi-sama, olha só, eu sou o melhor partido dessa vila. Não, sou o melhor partido do mundo ninja! Eu sabendo que ninguém é bom o suficiente Hinata-chan, mas eu sou quem chega mais perto. Então, eu vou namorar a Hinata, falou?

— Você vai chegar assim? - perguntou Sasuke, incrédulo, levantando a sobrancelha, usando todo o autocontrole para não rir. Naruto passara tempo demais com Bee.

— Não, né… - negou Naruto, triste, abaixando a cabeça, sentando na beirada do colchão de Sasuke - mais fácil eu me jogar nos pés do pai dela e implorar pra ele deixar…

Sasuke sentiu uma levíssima pontada no coração. Seria pena?

— Cara, salvou o mundo. Se isso não te dá uma vantagem, lascou pros outros…

— É, né? - disse Naruto, sem confiança alguma - A Hinata disse isso também. Falou que pro clã, importa a força do ninja e a influência dele. Disse que, como eu vou ser o próximo Hokage, aos olhos dos Hyuuga não há partido melhor…

— Hum…

— Mas, Sasuke, o pai dela me odeia, cara… Sério, dá pra ver nos olhos dele que ele quer que eu morra comendo bosta!

— Ele vai odiar qualquer um que chegue perto da Hinata…

acha?

— Acho.

— De qualquer maneira, o jantar é amanhã. Vim aqui pra pedir pra você ficar do lado de fora do distrito, pra me ajudar se der merda…

— Você não vai precisar…

— Custa?

— Tá… Que saco… - concordou Sasuke, impaciente.

Naruto sorriu por um segundo e, aparentemente lembrando-se do que teria amanhã, fez uma careta. Sasuke pensou em expulsar o amigo dali, mas, sabendo que não voltaria a dormir, desistiu. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos e o Uchiha pensou em como Hiashi reagiria ao pedido de Naruto. Obviamente, o Hyuuga já sabia dos encontros da filha com o Uzumaki, mas, dentro de um clã tradicional, era consenso que uma vez firmado o compromisso, não haveria quebras. Assim, aceitando o namoro do casal, aceitava também o casamento. Sasuke pensou em mencionar isso ao companheiro, mas, vendo que ele parecia prestes a vomitar, desistiu. Apenas contentou-se que Sakura não pertencia a uma família ancestral de ninjas, como Hinata. E como ele mesmo. Assim, não precisava… ou… será…

— Naruto, - ele começou, rouco, assustando o amigo. Era raro ser ele a interromper o silêncio - eu também tenho que pedir a mão da Sakura?

O Uzumaki o fitou por um segundo e, então, levou a mão ao rosto, rindo meio divertido, meio conformado com a própria desgraça. Sasuke esperou ansioso.

— Claro, né! lascado também!

Sasuke deixou a cabeça cair sobre cabeceira. Não via o pai dela desde que abandonara a vila. Tradição irritante!

— Mas, péra aí… Você namorando a Sakura-chan?

Sasuke suspirou. Droga...


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Notas finais do capítulo

Mina-san, olá olá!

Bem, to passando rapidão porque to atolada até o pescoço de trabalho! Ahhhhh!

Vou responder aos coments do capítulo passado amanha (promessa!). O que, obviamente (lalala) não os impede de comentar nesse aqui hoje! =D

Ah, e muitooo obrigada por todos os coments! Valeu mesmo! Mas, novamente, senti uma quedinha... A história tá ficando chata? Críticas são bem vindas, mina, só abrir seu kokoro pra mim! (sério, se tiver algo que precisa melhorar, se tiver ficando chata, avisem, pleaaase!).

E ao grande Leandro Uchiha.... Obrigadão pela recomendação! Como de costume, dei pulinhos e tudo mais! Uhuuuu! Espero mesmo que esteja curtindo a fic e que se divirta e que seja feliz! E que ganhe na mega! Uhuuu!

Valeu mesmo, mina-san! Comentem, pleaase! Me façam feliz! Não me abandonem! Kiiiiissuuuuus!

ps.: próximo cap, back to the action!