Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 3
Atraso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559745/chapter/3

Nana puxou a menina de cabelos prateados para trás, afastando-a mais alguns metros de Kakashi e seu time, e posicionou-se entre a criança e os quatro. Ao mesmo tempo, uma loba quase tão alta quanto a própria menina, e de pelo tão negro que parecia sugar a luz ao seu redor, colocou-se à frente da mulher, os dentes arreganhados, os olhos indicando que bastaria um pequeno movimento para que ela arrancasse a garganta do autor fora. O sensei percebeu vagamente a tensão em seus alunos aumentar, mas não estava mais preocupado com isso. A luta acabara. Levar Nana à Konoha não era mais importante para ele. A missão não era mais importante. Naquilo tudo, a única coisa a qual ele ainda dava atenção era a menininha escondida atrás de duas feras, da qual ele não conseguia tirar os olhos.

— Eu dei a chance de seus alunos irem – disse Nana, interrompendo o silêncio que para o ninja durara horas, apesar de duvidar ter passado de alguns minutos. A voz da kunoichi tirou Kakashi de seu transe momentâneo. Ele levantou os olhos da criança e pousou-os sobre a mulher. Ela não parecia mais frágil como minutos antes, pelo contrário. Mostrava-se ainda mais perigosa, a postura mais agressiva, o rosto mais concentrado. Contudo, na voz não soava a arrogância costumeira. E nos olhos, não se via a velha insanidade controlada. Ambos os traços davam lugar a um outro, o qual Kakashi jamais vira na ninja: medo – Kakashi, seja justo. Dê a ela a chance de ir também.

Levou um segundo para que o Hatake digerisse o pedido de Nana e, quando finalmente o fez, sentiu a raiva se espalhar pelo próprio corpo, fazendo-o tremer, suar, até doer. Ele apertou a kunai com força, tentando controlar a ira, mas foi em vão. Em conjunto com o que acabara de descobrir, sugerir que ele manteria o ataque o fez explodir:

Você acha que eu a atacaria? - perguntou Kakashi, a voz rasgada entre os dentes apertados, o ódio pela mulher arraigado em cada sílaba - Você realmente acha que eu A ATACARIA!

— Kakashi-sensei! - exclamou Naruto, verbalizando a surpresa estampada nos olhos de seus companheiros.

Kakashi fechou os olhos por um instante e respirou fundo. Não era de perder a calma e, naquela situação, o pior que poderia fazer era perder a calma. Abriu as pálpebras e viu Nana exatamente na mesma posição que estava momentos antes: pronta para atacar.

— Você não tinha esse direito - cuspiu ele, ofegante - Não tinha!

— Eu não faço ideia do que você falando… - mentiu Nana, em uma nada convincente expressão de surpresa.

— Quantos anos ela tem, Nana? - perguntou Kakashi, fitando a menina. Nana não respondeu.

— Kakashi, - chamou Sasuke, encarando-o com desconfiança - o que acontecendo?

— Quieto, Sasuke-kun - sussurrou Sakura, advertindo o companheiro com o olhar.

— Quantos anos tem a menina, Nana? - perguntou Kakashi novamente.

— Você vai deixá-la ir ou não? - indagou Nana, impaciente, ignorando a pergunta do Hatake.

— Você vai responder quantos anos ela tem ou não? - rebateu Kakashi, aumentando o tom.

— Tenho sete! - gritou a menina em resposta, sendo imediatamente advertida por Nana, que colocou a mão estendida à frente da garota em um claro sinal de “pare”. Mas a criança, voltando-se à ninja, continuou - Mãe, quem é ele? O que acontecendo? Por que você tava lutando?

— Quieta, Aiko! - cortou Nana, dessa vez sendo imediatamente obedecida.

Kakashi voltou a fitar a menina, que também o encarava com curiosidade. Ela era linda, pensou ele, meio abobado. Tinha o rosto exatamente como o da mãe, guardada as proporções de ainda ser uma criança e ter bochechas enormes e rosadas. Os olhos amarelos, amendoados, o encaravam bem abertos, do jeito que crianças fazem quando querem saber de tudo, mas não sabem de coisa alguma. Já os cabelos, prateados, eram opostos aos vermelhos de Nana. Estavam presos em dois coques, um de cada lado da cabeça, com mechas soltas nas bases de ambos. Ela parecia uma boneca.

— Mãe!? - surpreendeu-se Naruto, olhando de Sakura para Sasuke, e deste para Kakashi, procurando explicação - Aquela menininha é filha da Nana?

— Isso não era meio óbvio, Naruto? - argumentou Sakura, impaciente.

— Mas… Mas… - começou Naruto, coçando a cabeça, tentando entender - A gente tem que levar ela pra Konoha também?

— Ninguém vai levar minha filha pra Konoha, entenderam? - cortou Nana, nervosa - Shori! - chamou ela, fazendo a loba colocar-se à frente da menina.

— Pare de falar como se você tivesse direito sobre a situação! - irritou-se Kakashi, indo em direção a Nana com os punhos ainda cerrados, controlando a raiva que ainda fluía agitadamente pelo seu corpo.

— Ela é minha filha, seu idiota! Quem controla essa…

Sua? - interrompeu Kakashi, em um sussurro, agora há menos de meio metro da kunoichi - Só sua?

Só minha! - respondeu Nana, também sussurrando.

— Sua… - começou o ninja, sentindo o coração acelerar em seu peito - Você não tinha esse direito!

Direito? Você quer falar sobre direitos, Kakashi? - murmurou Nana, aproximando-se ainda mais do ninja - Que direito um traidor como você teria?

— Quem traiu a vila foi você!

— Você vai pegar seus alunos e sair daqui agora, ou eu acabo com vocês todos de uma vez! - ameaçou Nana, agora tão próxima do Hatake que eles podiam sentir a respiração um do outro - Cai fora!

— Eu não vou sair daqui sem ela! - respondeu Kakashi, jogando o auto-controle às favas - Ela é minha...

— ELA NÃO É NADA SUA! - exasperou-se Nana, o desespero e raiva estampados nos olhos, as mãos fechadas sobre pescoço do Hatake, impedindo-o de falar, respirar, transferindo uma quantidade absurda de calor para o corpo do ninja. Kakashi sentiu o corpo queimar internamente e, imediatamente, percebeu o movimento sobre a água, indicando que seus alunos vinham em ataque. Ele esticou a palma da mão para os três, ordenando que parassem e, levemente surpreendido, foi obedecido. O ninja encarou Nana e viu seus olhos esbugalharem espantados. Em seguida, as mãos da kunoichi o soltaram, levando com elas todo o calor que minutos antes estava em seu corpo. Ele caiu ajoelhado sobre a água, massageando o próprio pescoço, tentando respirar. Parecia que cada órgão que tinha começaria a falhar no próximo segundo, mas aparentemente a impressão era errada, já que continuava vivo.

Nana, por sua vez, fitou Kakashi por um segundo, tentando controlar a própria respiração. Os olhares dos dois se cruzaram por um instante e, para a surpresa do ninja, a mulher girou nos calcanhares e caminhou até a filha, que, apesar de impressionada, não parecia tão assustada quanto deveria estar uma criança naquela situação. Kakashi viu Nana se ajoelhar à frente de Aiko e cochichar algo, enquanto a menina confirmava entender com a cabeça. A kunoichi fez um leve carinho sobre os cabelos prateados da menina e levantou-se, voltando-se a Naruto, Sakura e Sasuke.

— Vocês três devem estar cansados… - começou a ela, friamente - E essas queimaduras, apesar de não parecerem sérias, poderão ficar bem dolorosas se não forem corretamente tratadas. Além disso, eu preciso conversar com o sensei de vocês…

— Nem a pau que vamos deixar o Kakashi-sensei sozinho com você! - gritou Naurto, interrompendo a mulher. Nana mordeu o lábio superior irritada. Kakashi pensou que ela fosse arremessar Naruto de volta à vila, mas ela simplesmente continuou, friamente:

— A Aiko vai acompanhá-los até nossa casa, na beira do rio, abaixo dessa cascata. Comam alguma coisa, descansem, e cuidem dessas queimaduras. Kakashi e eu os encontraremos logo….

— Você não ouviu? - gritou Naruto, impaciente - Não vamos deixar…

— Naruto! - interrompeu Kakashi, levantando-se e encarando o garoto - Chega. Vocês três façam como ela falou…

— Kakashi, só hoje ela quase te matou três vezes… - começou Sasuke, mas Kakashi o interrompeu.

— Ela não vai me matar, Sasuke. Relaxa.

Nana virou o rosto a contra gosto quando ouviu Kakashi dizer isso e ele teve certeza de que estava certo. Pelo menos por enquanto.

— Vamos - chamou Aiko, a voz fina tentando imitar o tom arrogante da mãe. Kakashi sorriu a ela quando a menina passou ao seu lado, mas não foi retribuído. Aiko apenas continuou a lançar a ele um olhar curioso, inocente.

Os cinco, Aiko, Sakura, Naruto, Sasuke e Shori, caminharam lentamente até a margem do rio, de onde saltaram os trinta metros da cascata em direção à casa de Nana. Kakashi não pode evitar um sorriso quando viu Aiko subir às costas de Shori, montando-a como a um cavalo. Aprendera com Nana, há muito tempo, que lobos são extremamente orgulhosos. Dessa forma, aquela montaria apontava que o potencial da menina como domadora poderia superar até mesmo o da mãe.

Quando o grupo desapareceu de vista, Kakashi voltou-se a Nana, cujo olhar retornara ao seu estado natural: frio e mortal. O ninja, de certa forma, sentia-se melhor diante daquela Nana. Era mais fácil lidar com a parte fria da kunoichi do que com a explosiva.

— Ela é minha filha? - perguntou Kakashi, desnecessariamente.

— Não - respondeu Nana, mentindo, também desnecessariamente.

— Claro que é!

— Se você sabe, por que perguntou? - provocou a kunoichi.

Kakashi respirou fundo. Era muito fácil irritar-se com Nana. Precisava manter a calma.

— Você não tinha o direito de escondê-la de mim - começou o ninja, tentando controlar a raiva na voz - Ela é minha filha! Eu tinha o direito de saber que você estava esperando um filho meu!

— Você não tinha direito a nada, Kakashi! - rebateu Nana, e Kakashi pode perceber que o simples fato de manter aquela conversa era uma espécie de ultraje para ela - Você me traiu! Você perdeu qualquer direito que tinha sobre qualquer coisa…

— Eu não te trai! - interrompeu Kakashi, mas a ninja o ignorou.

— E mesmo assim, eu tentei te avisar sobre ela! Mandei um bilhete, meses depois que eu larguei aquela vila. Pedi para me encontrar com você. Por acaso você apareceu?

Kakashi não respondeu. Esquecera disso há muito, mas de fato recebera um bilhete de Nana dois meses depois dessa abandonar a vila. E, de fato, não aparecera.

— Você achou que eu queria voltar pra você, Kakashi? - riu-se Nana, interpretando corretamente a expressão no rosto do ninja - Que eu fiquei com saudades de você? Que eu te amava?

— Mesmo assim, você tinha que ter me avisado! Eu tinha o direito…

Direito, direito, direito… - repetiu Nana, sarcasticamente - Você fica repetindo que tinha o direito. Que direito? Direito à que? Você oito anos atrasado em reivindicar qualquer direito! Você perdeu esse direito quando me deixou esperando naquela maldita ponte por horas!

— Você tinha que ter dado um jeito de me avisar… - contrapôs Kakashi, sentindo os argumentos tremerem sob o peso da culpa. Ele sabia, no íntimo, que Nana não o teria procurado pois sentia sua falta. Por que ignorara o bilhete? Por que deixara o orgulho e o ego atrapalharem seu raciocínio?

— Claro… Eu não tinha sido suficientemente humilhada por você, pelo Sandaime… Deveria mesmo ter me abaixado ainda mais, corrido atrás de você pra te falar ‘Kakashi, tô grávida’ e você me desprezar, do mesmo jeito que fez antes…

— Eu jamais te desprezaria numa situação dessas! E você procurou o Hokage, não procurou? Ele não foi atrás de você pra te oferecer trabalho… - rebateu Kakashi, sentindo que estavam se desviando demais do real motivo daquela conversa: Aiko.

Nana, que encarava Kakashi com desprezo, desviou o olhar. O ninja a viu respirar fundo e afastar algumas mechas de cabelo do rosto, prendendo-as atrás das orelhas. Depois de alguns segundos, ela respondeu:

— Eu poderia viver tranquilamente, sozinha, sem nunca mais pisar neste país... mas não com uma criança. Quando você não apareceu na ponte, eu pedi pro Sandaime pra voltar à vila… Ele achou que era perigoso e me ofereceu o cargo de Guardiã. Eu sou obrigada a dizer que pelo menos dessa vez ele acertou.

Kakashi sentiu a amargura e a tristeza na voz da ninja. Não conseguiu culpá-la. Por mais que quisesse continuar odiando-a, naquele momento só conseguia imaginar o quão humilhada Nana sentiu-se ao voltar à Konoha com o rabinho entre as pernas. E, agora, depois de saber a podridão da parte sombria da política da vila, Kakashi conseguia entender o desprezo que a ninja sentia.

— Eu fiquei sabendo, - começou Nana, no velho tom arrogante - que os seus aluninhos acabaram com a guerra…

— Sim, acabaram - confirmou Kakashi, sério, sem entender onde Nana queria chegar mudando tão radicalmente de assunto - O que tem isso com a Aiko?

— E que o Uchiha quase começou outra… - continuou Nana ignorando a pergunta de Kakashi.

— Como… como…

— Como eu sei? Era segredo? - riu-se Nana, sarcástica - Relaxa, Kakashi-kun. Só eu sei…

— Mas… como?

— Jogando verde… - respondeu Nana, ainda rindo, e Kakashi se odiou. Sempre caia nas peças da mulher. No passado, portava-se como um garoto inocente perante a ninja. E, aparentemente, no presente também - O moleque perdeu o clã inteiro. E, sendo um Uchiha, é um poço sem fim de orgulho. Não precisa ser muito inteligente pra juntar um mais…

— Nana, não muda de assunto - cortou Kakashi, cansado, querendo resolver tudo o mais rápido possível. Não confiava na kuniochi. Nana parou de falar e o observou, quieta. Diante da mudez da mulher, ele continuou - A Aiko é minha filha. E, por mais que eu queira acabar com você por tê-la escondido de mim, eu não posso fazer nada. Então, se você puder ser um pouquinho racional, só um pouquinho, só dessa vez, será que a gente pode focar nisso?

Ela não respondeu de imediato. Mordeu o lábio superior discretamente, e respirou ofegante, tentando controlar a raiva que praticamente emanava do corpo. Kakashi conhecia muito bem aquele comportamento. E o importante era impedir que ela estourasse.

— Aiko é minha filha… - começou Nana, falando entre os dentes.

Nossa - corrigiu Kakashi.

— Você sabe nada sobre ela - rebateu a mulher.

— Você não me deu a chance, deu?

— Ela não precisa de você, Kakashi… Não precisa pra nada! Sequer pergunta sobre um pai…

— E ela sabe o que é isso? Vivendo aqui, isolada do mundo, sem contato com outras crianças! - contrapôs Kakashi, nervoso, as palavras saltando da boca incontroláveis - Eu só quero conviver com ela, Nana! Não vou tirá-la de você!

Ela não respondeu. Continuou imóvel, os lábios mordidos tremendo, a respiração forte. Kakashi não fazia ideia do que se passava na cabeça da mulher, mas estava confortável com isso. Nunca conseguira entender Nana. A própria natureza de seus poderes a deixava instável. Ela era capaz de sentir a energia fluir em tudo ao seu redor, e isso tinha consequências no corpo da kunoichi. E em sua mente também.

O ninja não sabia muito mais o que falar. Queria brigar com a mulher por ter escondido sua filha, mas estava inclinado a pensar que poderia ter conseguido uma pequena abertura para o caminho até Aiko, e não arriscaria fechar a porta de novo. Esperou alguns segundos enquanto Nana tentava desintegrá-lo com o olhar e tentou não expressar facialmente o que passava pela própria mente: que a mulher era louca.

— Vamos descer… - chamou a ninja, caminhando em direção à própria casa antes que Kakashi pudesse se manifestar - A Aiko está sozinha.

— Meu time está com ela - lembrou o ninja, acompanhando-a com o olhar.

— Confio neles tanto quanto em você…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, pessoas! Aqui vai mais um capítulo, ainda sob o ponto de vista de Kakashi-sensei. Espero que estejam gostando e se divertindo! =))) Não se esqueçam de comentar e me dar um feedback do que estão achando! Críticas são bem vindas, assim como dúvidas, elogios (iupii) e etc. Novamente, eu dei uma revisada, mas posso ter deixado passar algo. Só falar que eu corrijo, ok? Beijos, galera!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Golpe de Estado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.