Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 29
A vida toda...




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– O Naruto já me entregou todos os pergaminhos. Chamamos alguns ninjas especialistas em invocação para reunir a carga roubada guardada neles… - explicou Kakashi, didaticamente.

Sakura acenou positivamente, indicando que compreendera. Ela sorriu aliviada e, levantando o rosto para fitar o do sensei, o viu coçar os olhos, cansado. Não era de se surpreender. Alguns raios de Sol já invadiam o corredor do hospital, atravessando as janelas das extremidades, indicando que, mais uma vez, o Hokage passara a noite em claro. Não dormir parecia uma constante na vida dos Kages, pensou a Haruno enquanto via Kakashi sacudir a cabeça, afastando o sono. O que surpreendeu a jovem médica foi o homem ter se dirigido até ali para informá-la sobre o desfecho de sua missão. Ela não pudera acompanhar até o fim, uma vez que tinha plantão durante a madrugada, mas esperava que Naruto viesse lhe por a par do que acontecera, e não o Hokage. Tudo bem, ele era seu sensei, afinal, mas ainda assim era ocupado demais para se preocupar com coisas tão pequenas. Certamente, aquilo não era tudo.

– Onde está o Sasuke? - perguntou Kakashi, apoiando-se contra a parede e, colocando as mãos no bolso, voltando-se à aluna. Sakura sentiu os olhos do sensei pousarem sobre ela curiosos e, de repente, permanecer à frente dele tornou-se desconfortável.

– Está no quarto dele… - respondeu Sakura, apontando para o leste, em direção à ala onde Sasuke estava internado - Aqui é a maternidade.

– Ah… - suspirou Kakashi, ainda sem tirar os olhos da garota. Sakura não encarou o professor de volta. Ao invés disso, escondeu a mão livre no bolso do jaleco e, por instinto, abraçou a pasta de prontuário a qual segurava mais próxima ao corpo, em proteção. Queria ter um bom motivo para sair da frente do sensei. Definitivamente, tê-lo encarando-a, tentando ler sua alma, não era algo ao qual ela estava acostumada.

– E o Naruto? - ela perguntou, mais para quebrar o desconforto que sentia do que para, de fato, descobrir o paradeiro do amigo.

– Bah, falou algo como se arrumar para encontrar a Hinata - respondeu o sensei, sem dar muita importância.

– Se ele for ao distrito dos Hyuuga tão cedo assim, Hiashi-sama vai chutar a bunda dele até Suna… - comentou Sakura, forçando uma risada sem graça. Por que diabos o sensei insistia em encará-la daquele jeito?

– Ele sabe disso, não é burro, o Naruto - afirmou Kakashi, despreocupadamente - Deve saber como ver a Hinata sem ver o pai dela.

– Espero, senão…

– Sakura, como está o Sasuke? - perguntou o Hokage, sério, interrompendo a menina e mudando radicalmente de assunto. Sakura piscou. Assustara-se, levemente, com a mudança de rumo da conversa. E assustara-se ainda mais com o tom seco e cortante do sensei. Nunca o ouvira falar daquele jeito. Pelo menos não com ela.

– Ah… ele vai ficar bem, cem por cento - respondeu a jovem, levemente vacilante - Só precisa permanecer em repouso por mais alguns dias e pode voltar ao…

– Por que você não me avisou? - quis saber Kakashi, interrompendo-a novamente, o mesmo tom seco de antes. Sakura não respondeu. Não conseguiu. Abaixou a cabeça, prendendo os olhos em um ponto qualquer do chão cirurgicamente limpo, incapaz de erguê-los e, assim, encarar os do sensei. Entendera, finalmente, o porquê daquela sensação de desconforto. O motivo do Hokage fitá-la tão profundamente. Aquele Por que você não me avisou? não se referia apenas às condições de Sasuke. Era muito mais amplo. Ela esperara pela bronca durante dias e, agora que ela chegara, não sabia se estava preparada para enfrentá-la.

– Sakura, - começou Kakashi, a paciência de sempre maculada pelo tão incomum tom rígido no tratar com a aluna - te fiz uma pergunta.

– Eu… eu achei que o senhor brigaria comigo por misturar as coisas - ela respondeu, levantando o rosto, mas sem encarar o sensei diretamente - Achei que pensaria que eu estava fazendo drama, não sendo racional sobre as condições do Sasuke…

– Eu não acharia isso. Consideraria seu diagnóstico e tiraria Sasuke da missão - informou Kakashi, a voz inalterada - Você é uma médica, é uma ninja, encare as responsabilidades dos seus atos, Sakura. Não se preocupe em criar suposições sobre o que eu vou achar ou deixar de achar. Simplesmente, aja como deve agir e deixe que dos meus pensamentos e opiniões eu tomo conta.

– Sim, senhor - concordou Sakura, tornando a baixar a cabeça, segurando uma expressão firme no rosto, resistindo à tentação de entregar-se às lágrimas. Por algum motivo, desapontar o sensei doía mais do que desapontar Tsunade.

– Quantas vezes eu briguei com você, Sakura? - Kakashi perguntou, descontinuando a linha de bronca que a garota imaginara que o sensei seguiria. Ela pensara que, agora, o professor indagaria sobre o porquê dela ter escondido a verdade sobre a morte de Nana. Por isso, a pergunta a surpreendeu.

– Sakura? - chamou o sensei, indicando que queria uma resposta.

Ela pôs-se a pensar sobre a pergunta e não conseguiu se lembrar de alguma bronca marcante. Kakashi já lhe chamara atenção, mas nunca brigara. Então, sentindo o coração doer mais, a garota simplesmente fechou os olhos e, lentamente, acenou a cabeça negativamente.

– Eu não tinha a intenção de falar com você sobre a Nana. Sobre você ter escondido de mim que minha filha estava viva - continuou Kakashi, o tom seco dando lugar ao desapontamento. Sakura segurou o choro mais uma vez - Nana me disse que ela e Tsunade lhe deram a ordem. Que você tentou argumentar. Imaginei que foi difícil pra você decidir entre nós dois, entre a Tsunade-sama e eu. Você nunca faz nada errado. Resolvi deixar passar.

“Mas, aparentemente, você entendeu minha tolerância de forma errada. Você tomou minha transigência por passividade e achou que poderia começar a tomar as decisões por mim. A esconder coisas de mim. Então, antes que você torne isso um hábito, eu estou lhe dizendo: não o faça. Não esconda coisa alguma de mim. Eu sou seu sensei, Sakura. Eu sou seu Hokage. Você deve lealdade a mim. E eu, sendo seu sensei, Hokage e amigo, devo lealdade a você. Você tem minha inteira e absoluta confiança, Sakura. Não me desaponte.”

Sakura sentiu o peso das palavras do sensei despencar como um elefante em suas costas. Ainda de cabeça baixa, ela sentira a decepção de Kakashi atravessá-la como uma katana e, paradoxalmente, preferia ter sido atravessada por uma. Durante os dias que esperara pela bronca, ensaiara mentalmente o argumento que usaria em sua defesa: de que fora colocada entre as ordens dos dois Kages e não tivera opção de escolha. Contudo, em uma frase, Kakashi matara sua alegação. Ela escondera dele que sua filha estava viva. Deixara-o sofrer. E, caso Sasuke não tivesse sido atacado, e Nana sido forçada a se revelar, ele ainda estaria sofrendo por isso. Não havia justificativa àquilo. Assim, ela deixou o peso em suas costas agir em auxílio à gravidade e permitiu ao corpo cair sobre os joelhos, pronta para implorar o perdão. Decepcionara seu mestre, não poderia haver algo mais desonroso que aquilo. Contudo, antes que pudesse alcançar o chão em reverência, algo a impediu, segurando-a pelos braços, forçando-a a ficar de pé. Ela sabia o que era. E, por isso, viu-se mais uma vez obrigando-se a conter lágrimas que insistiam em escapar.

– Talvez eu tenha lhe dado uma bronca desproporcional ao seu erro, Sakura - começou Kakashi, segurando a menina pelos cotovelos em posição ereta. A jovem levantou os olhos e viu o rosto do sensei a centímetros de seu próprio. Involuntariamente, ela lembrou-se da última vez que o vira daquela forma. Também fora no hospital. Mas no teto. E ela não segurara as lágrimas naquela ocasião. Simplesmente as deixara escorrerem livres pelas bochechas, depois de quase morrer entre um rasengan e um chidori - Mas eu não espero de você nada menos que o impecável. Vacilos assim não combinam com você.

Sakura sentiu o aperto em torno do braço afrouxar e, sem ação, viu o professor dar dois passos para trás, estabelecendo entre eles a distância original. Ela manteve os olhos no sensei, constrangida demais para voltar a agir covardemente e desviá-los. Ainda queria ajoelhar e implorar perdão, mas, de alguma forma, aquilo lhe pareceu tão covarde quanto desviar o olhar. Além de inútil. Ele já a desculpara. Quem não a desculpara era ela.

– O Naruto me contou sobre como você derrotou os mercenários e recuperou os pergaminhos. Nada inferior ao mínimo que eu espero de você - elogiou Kakashi, aprofundando ainda mais o sentimento de culpa que Sakura sentia - Você é uma kunoichi incrível, Sakura.

– Obrigada - murmurou a menina, quase inaudivelmente.

– Sabe, Sakura, eu não quero que a Aiko seja como a mãe dela - continuou o sensei, o tom terno e descolado de volta a voz - Não quero que ela seja imprevisível, perigosa, louca. Prefiro que ela seja como a nee-chan dela…

Sakura viu os olhos do sensei sorrirem calorosamente em sua direção e arregalou os próprios. Ele se despediu com um leve aceno de cabeça e, girando nos calcanhares, pôs-se a caminhar tranquilamente pelo corredor da maternidade, indo em direção à escada, mas a garota não assistiu à caminhada do mestre. Simplesmente, manteve-se petrificada, encarando com os olhos esbugalhados o ponto da parede que instantes antes estava escondido pela cabeça do professor. Nee-chan, ela repetia a si mesma, compreendendo o que aquilo significava sem a necessidade de uma explicação. Ela sempre soubera como Kakashi se sentia em relação a Sasuke e a Naruto. Sendo ambos fontes constantes de preocupação, era natural que ele os visse daquela maneira. Mas a ela…

A jovem sentiu as lágrimas quentes correrem por suas bochechas e desistiu de tentar segurá-las. Aquela era ela, afinal. Que guardasse suas emoções no campo de batalha, quando era um kunoichi. Sendo apenas Sakura podia chorar. E rir. E gritar. E, então, ela sentiu o peso que estava sobre suas costas escorrer junto com suas lágrimas. Ah, o oxigênio! Sakura sentiu seus pulmões abrirem novamente, o ar entrar em seu peito novamente. Pode respirar novamente. Ela, então, ouviu os passos do sensei se distanciarem, pouco a pouco, e, agindo como ela o faria, por emoção, ignorou as regras do hospital e gritou:

– Kakashi-sensei! Kakashi-sensei!

Ela viu Kakashi parar, já à frente da escada, e virar-se para encará-la. Ainda se sentia culpada. Mas, como ela já constatara, não adiantava implorar perdão. Não mudaria nada do que fizera. E ele já a perdoara, de qualquer maneira. Dessa forma, encontrou outra opção.

– Obrigada - ela disse, curvando-se, sentindo que aquela reverência, de respeito, fazia muito mais sentido do que a de vergonha que pensara em fazer - Não vou mais decepcioná-lo, Kakashi-sensei!

– É… - ela ouviu a voz descolada do homem ecoar pelo corredor vazio - Eu sei.


Sakura voltou ao berçário consciente de que carregava consigo, naquele momento, mais emoções do que o ideal a um médico. Especialmente a um prestes a cuidar de pacientes envoltos a tantas singularidades. O fato de não saberem falar, por exemplo. Ou de serem tão pequenos, expostos e particularmente frágeis. Lidar com aquela mistura de sentimentos que ela trazia no peito não combinava em coisa alguma com seu trabalho. Por isso, ela parou à porta, após os procedimentos de higiene, e respirou fundo. Concentrou-se. Ignorou a conversa das enfermeiras e, com as batidas do coração em ritmo moderado, entrou.

Anos atrás, quando Sakura começou seus estudos em medicina, aquele era, para ela, o lugar mais feliz do hospital. E o mais triste também. A gratificação de ver um bebezinho frágil e em risco ganhar peso, força, vida e sorrir alegremente no colo dos pais após quase perder a vida era comparável à felicidade mais pura e genuína, na opinião da Haruno. Em contrapartida, a dor de uma mãe ao perder seu filho era desesperadora. Como rasgar a alma. Por isso, não sabendo lidar com tais vales e picos emocionais, Sakura decidira que não trabalharia ali. Mas, naquele momento, após tantas perdas na guerra, ela não tinha muita escolha de onde atenderia ou não.

A guerra, por sinal, era outro fator que tornara o berçário ainda mais melancólico à Haruno. Muitas mães, grávidas na época do combate, tiveram partos prematuros devido Mugen Tsukuyomi, lotando as incubadoras pelos primeiros dois meses após a batalha. Contudo, agora, apenas sete bebês estavam ali, todos com idades variando entre dois e quatro meses de vida. Os outros tantos recém-nascidos não resistiram. As gestantes que na época do combate tinham menos de vinte semanas de gravidez, quase sem exceções, perderam seus bebês. E, completando a desolação, quatro dos sete recém-nascidos sobreviventes eram órfãos de pai. Ninjas heróis de guerra que não viveram para ver os rostos de seus filhos.

Sakura vestiu sua armadura emocional e foi à primeira incubadora. Era um menino. Hiro. Agora saudável, o bebê de treze semanas nascera quando sua mãe completara sete meses de gestação, muito fraco, muito pequeno. Logo você vai pra casaaa, Hiro-kun!, murmurou Sakura, imitando uma voz infantil, após fazer os exames de praxe. Seguiu para o próximo. Uma menina, Harumi, dez semanas. Acabara de ser transferida da UTI neonatal, após uma cirurgia para corrigir uma falha no coração. Recuperava-se bem. Na próxima, outro menino. Naoki. Teria dado alta a ele, mas o irmão mais velho estava gripado e a médica quis evitar o contato. Faltavam quatro.

A jovem foi até a quarta incubadora ocupada e, passando a mão sobre a cabeça macia do bebê para acalmá-lo, pousou o estetoscópio sobre o peito da criança. A menina sorriu, tentando agarrar com suas mãozinhas gorduchas o instrumento da médica, e Sakura sorriu de volta, mesmo sabendo que a mascara impediria a bebê de ver seu sorriso. Aquela era Yuki. De todos os que sobreviveram, a que mais apertava o coração da Haruno era Yuki. Não por sua saúde. Estava perfeita no auge de seus quatro meses. Mas por sua história. A médica prosseguiu com os exames, apenas para constatar que a menina estava completamente saudável. Mexeu no nariz de Yuki, fazendo-a sorrir, e seguiu.

Sakura já estava finalizando os exames no quinto bebê quando ouviu a porta do berçário abrir. Provavelmente, era alguma enfermeira. Ignorou. Não estava muito para papo. Continuou virando a criança de ponta cabeça, como fizera com todas as outras, atenta a cada parte do minúsculo corpinho do neném. Contudo sua atenção, agora, estava dividida. Imaginava que a enfermeira fosse alimentar os pequenos pacientes, uma vez que já era quase oito da manhã. Mas o vulto a porta não se moveu. Ela colocou o bebê de volta à incubadora e voltou-se à pessoa parada, pronta para descascar-lhes uma bronca pela lerdeza. Não o fez. Mesmo só vendo os olhos, estando a pessoa coberta com luvas, máscara, roupa e touca, sabia muito bem que aquela não era uma enfermeira.

– O que você fazendo aqui? - ela perguntou, não se preocupando em disfarçar o espanto.

Me deixaram entrar… - Sasuke respondeu, indo até ela - Queria falar com você…

Te deixaram? - repetiu Sakura, incrédula. Quão grande poderia ser o medo que sentiam de Sasuke a ponto de deixá-lo circular daquela forma em áreas restritas?

– Humph.

– E por que você não podia me esperar sair daqui? - indagou a garota, nervosa. Ali não era lugar para não funcionários.

– Você não pode conversar? - perguntou Sasuke. Sakura quis responder um LÓGICO QUE NÃO!, mas não podia gritar ali. Limitou-se a acenar negativamente e voltar-se aos seus pacientes. Mas Sasuke continuou - Eu te espero sair.

Sakura concordou, sem tirar os olhos do bebê à sua frente. Ela sentiu o Uchiha girar nos calcanhares e, lentamente, caminhar até a porta. Pensou, divertida, que provavelmente ele estava tentando não fazer barulho para os nenéns. Sorriu por baixo da máscara. Ele deveria ser um desastre com crianças! Foi quando ela parou na metade de seu movimento de examinar uma orelhinha. Uma luz se acendeu em sua cabeça. Ela era genial!

– Espera, Sasuke-kun! - ela chamou, alto o suficiente apenas para ele ouvir. Não havia barulho ali dentro - Vem aqui.

Sasuke caminhou até ela e Sakura riu da confusão nos olhos do garoto. Ela indicou uma das incubadoras e, indo até o aparelho, viu Sasuke fazer o mesmo. Sorriu para ele, sabendo que tudo que o garoto veria era seus olhos brilharem.

– Segura ela aqui pra mim, Sasuke-kun - pediu Sakura, levantando Yuki do colchão e entregando-a ao Uchiha. O rapaz congelou. Arregalou os olhos para Sakura e, em pânico, encarou a bebê como se visse nela uma bomba prestes a explodir. Não esticou os braços para recebê-la. Sequer moveu-se. Se lhe dissessem que o garoto tinha parado de respirar, Sakura acreditaria - Vamos, Sasuke-kun! com medo de uma menininha de quatro meses?

– Sakura, - ele começou, a voz falhando - eu não sei segurar isso…

Isso? Não é isso! É a Yuki! - rebateu a menina, fingindo indignação.

– É muito pequena! - defendeu-se Sasuke, sem tirar os olhos esbugalhados da criança.

– Sasuke-kun, segura ela! - ordenou Sakura. No susto, Sasuke segurou. Pela axila do bebê, as mãos grandes cobrindo inteiramente as costas da criança e ainda sobrando para os lados - Pronto, viu? Não morde!

Pra que isso? - perguntou Sasuke, fitando Yuki assustado, enquanto ela sorria para ele - Sakura, pega ela. Acho que vou machucar ela…

– Deixa de frescura, Sasuke-kun! - riu Sakura, ajeitando a menina no colo do rapaz - Prontinho. Segura ela assim, sentadinha no seu braço. Cuidado com as costas dela! E a cabecinha! Ela não é linda?

Sakura girou nos calcanhares e voltou-se ao seu paciente. Ela estava feliz por estar de máscara. Simplesmente não conseguia evitar que um sorriso bobo brincasse em seus lábios. Nunca imaginara Sasuke com um bebê, mas agora, vendo-o ali, morrendo de medo da pequena Yuki, tudo se tornava tão óbvio. Ele queria reconstruir o clã, afinal.

– Sakura… - ele chamou, em tom de quem pede socorro, mas Sakura estava concentrada. Não podia parar o exame pela metade.

– Sasuke-kun, é só brincar com ela… - aconselhou a médica, examinando os olhinhos do penúltimo bebê.

– Como faz isso?

– Arre, Sasuke-kun… Conversa com ela.

– Ela não fala!

– Sasuke, por favor, dá uma ajuda - pediu Sakura, já perdendo a paciência - Qual é, é só um bebê. Olha, o pai dela morreu na guerra. A mãe dela teve depressão pós-parto. Ela nasceu prematura, assim que vocês liberaram o Tsukuyomi e até hoje a mãe dela não consegue cuidar dela… As duas ficarão aqui por não sei mais quanto tempo. A Yuki precisa de carinho! Por favor, brinca com ela um pouquinho.

– Mas eu não sei brin…

– Você não quer reconstruir seu clã? - perguntou Sakura, ficando mais constrangida com o assunto do que imaginara ficar. Afinal, eles estavam se dando bem… Não seria loucura imaginar que, talvez, ela o ajudasse a alcançar esse objetivo - Você acha que fará isso como? Plantando árvores?

Não houve resposta. Sakura esperou alguns segundos e, estando o silêncio reinando absoluto, virou o rosto levemente em direção ao Uchiha. Fitou-o de canto de olho, discretamente, como se pudesse afugentá-lo caso ousasse algo mais direto. E, novamente, sorriu. Seu coração acelerou e esquentou, como numa tarde de verão. Sasuke segurava Yuki com cuidado absoluto, sem ousar mexer os braços um centímetro. Ela enroscava a franja dele no próprio dedo e ria das tentativas do garoto de se desvencilhar das mãozinhas dela sacudindo a cabeça. Era tão simples, tão comum e, ao mesmo tempo, tão lindo.

– Ela tá doente? - Sakura ouviu Sasuke perguntar depois de alguns minutos, quando ela já voltara sua atenção completa ao seu pequeno paciente.

– Ah… não - respondeu Sakura, virando o rosto para observar Sasuke - Só tá aqui porque a mãe não tem como cuidar. Se ela tivesse família, poderia ter alta.

– Hum… - muxoxou Sasuke, que, agora, parecia ter menos medo do bebê - E se a mãe dela não melhorar?

– Ah… - suspirou Sakura, voltando-se ao paciente - Então ela será enviada à adoção. Já tem algumas famílias interessadas…

– Hum…

– Você cheirou a cabeça dela? - perguntou Sakura, fazendo um último carinho no seu paciente e seguindo para o sétimo.

– Ãhn?

– Cheirar - repetiu Sakura, alcançando a última incubadora ocupada - Cheire a cabecinha dela… É muito bom!

– É uma cabeça - argumentou Sasuke, impaciente - O que pode ter demais no cheiro de uma cabe…

– Cheira logo! - mandou Sakura, começando a examinar o último bebê. Era o segundo mais velho do berçário. E o primeiro que teria alta dos que fora para ali. Sairia àquela tarde.

A médica passou os muitos minutos seguintes concentrada no paciente, esquecendo-se, momentaneamente, de Sasuke e Yuki. Por isso, quando algum tempo depois ela virou-se, pronta para terminar o plantão, levou um leve susto ao encontrá-los ali, atrás dela poucos metros, completamente entretidos um no outro.

A garota caminhou até os dois lentamente, curtindo a visão. Era óbvio que Sasuke ainda tinha medo de machucar a criança, visto que a segurava tão próxima a si que poderiam se fundir. Mas ele já a balançava, no que Sakura concluiu ser seu próprio modo de “ninar”, e mudara-a de posição, colocando-a na horizontal, deitada sobre seu braço protético cruzado com o natural. A médica sorriu pela enésima vez. Queria enquadrar o que via.

– Ela dormiu - informou Sasuke, sem necessidade, quando Sakura os alcançou. A jovem acenou em concordância e fitou o rosto do Uchiha por um segundo. Numa agradável surpresa, viu os olhos do garoto, já pequenos, se apertarem ainda mais, indicando que ele sorria por baixo da máscara - Você põe ela de volta?

Novamente, Sakura acenou positivamente e, pegando a menina no colo, torcendo para não acordá-la, colocou-a de volta na incubadora. Ela sentiu Sasuke fitar a bebê por cima de seu ombro e demorou o máximo que pode ajeitando a criança, alongando aquele momento. Por algum motivo, sentia o coração aquecer em meio àquilo tudo. E desconfiava que o de Sasuke também estava diferente.

Sakura voltou à posição ereta e, indicando a porta a Sasuke, caminhou até ela seguida pelo mesmo. Entrou na antessala do berçário e a encontrou vazia. Era o horário da troca de turno. Estando ela ali, as enfermeiras provavelmente não viram problema em abandonar o posto e encerrar o expediente. Consequência: a jovem estava presa ali até os responsáveis pelo próximo turno assumirem. Geralmente, não se importava muito em atrasar o fim do expediente. Mas, estando especialmente cansada naquela manhã - esgotou-se em sua jornada dupla sendo kunoichi e médica -, uma ponta de irritação surgiu em algum lugar entre seu peito e sua enxaqueca crescente.

– Você vai agora? - perguntou Sasuke, recebendo um aceno negativo como resposta - Por quê?

– Alguém tem que ficar aqui até o pessoal do próximo turno chegar… - explicou Sakura, mal humorada.

– Ah… - entendeu Sasuke.

Sakura deixou-se cair na cadeira da sala, jogando sua cabeça para trás, apoiando-a no encosto. Ela fechou os olhos pensando que conseguiria facilmente dormir ali. Mas não podia. Por isso, após um longo suspirou, ela levantou as pálpebras e sentou-se reta, arrancando do rosto a máscara cirúrgica. Vesti-la-ia novamente, se fosse necessário. Próximo à porta, ela viu Sasuke se desmontar. Tirou a máscara, descalçou os pro-pés, desamarrou o avental. Na organização costumeira ao Uchiha, a jovem o observou dobrar as vestes e colocá-las sobre uma das cadeiras vagas. Talvez fosse o sono, a garota pensou, mas ela tinha que confessar que ver Sasuke paramentado como médico-nin era um pouco excitante. Ele era lindo naturalmente, e tinha uma presença misteriosa e perigosa que somente aumentava seu charme inato, mas vê-lo de médico acrescentava algo mais ao magnetismo do rapaz. Por isso, fitá-lo novamente em suas vestes de paciente foi um tanto frustrante à Sakura.

– Que foi? - ela o ouviu perguntar, seco como sempre, quando se deparou com os olhos dela presos nele.

– Ah… Nada - mentiu Sakura, balançando de leve a cabeça - Você não tirou a touca.

– Humph… - muxoxou Sasuke, puxando o gorro displicentemente.

– O que você queria falar comigo? - perguntou a médica, tentando mudar o caminho dos próprios pensamentos.

– Ah… Nada. Quero dizer, só queria saber quando vou ter alta - respondeu o Uchiha, uma indecisão incomum marcando a voz grave do garoto. Sakura piscou. Ele a esperar só para aquilo? Não condizia com o perfil de Sasuke.

– Quando você estiver perfeitamente saudável novamente. Eu poderia até te dar alta hoje, se soubesse que você ficaria em repouso absoluto. Mas, como não existe essa possibilidade, você fica aqui - explicou Sakura, vendo-o fechar a cara - Só isso, Sasuke-kun?

– Não… quero dizer, sim.

– O que foi? - indagou a menina, impaciente.

– Nada - ele disse, sentando-se ao lado dela.

– Qual é, Sasuke-kun… Olha, ficar inseguro e indeciso é o meu papel na nossa relação. Se você começar a agir assim, não sei muito bem com o que vou contribuir aqui… - brincou a garota, forçando um sorriso no rosto cansado.

– Ah, temos uma relação nossa? - falou Sasuke, voltando-se para encarar Sakura. Ele estava sério, como de costume, mas havia algo de divertido na expressão em seu rosto. Talvez um quase imperceptível sorriso no canto de seus lábios? Ele estava brincando com ela? Provocando?

– Bem… - começou Sakura, tentando encravar na própria voz o disfarçado tom de brincadeira que ele usara na dele, e falhando miseravelmente. Simplesmente não era capaz de não tremer quando ele a olhava tão profundamente como naquele momento - Isso é mais com você do que comigo, né?

– Por que seria…? - ele perguntou, sério. Sério demais.

– Como assim?

– Por que é mais comigo decidir se temos ou não uma relação nossa?

– Você sabe como eu me sinto por você… - respondeu a garota, fingindo na voz uma firmeza que não tinha, e sentindo as pernas a traírem escancaradamente - Então você que deci…

– Você também sabe como eu me sinto por você! - argumentou Sasuke, erguendo a sobrancelha.

– Sei, é? - contrapôs a garota, irritada. Desde quando ela sabia qualquer coisa que se passava na cabeça do garoto? - E quando foi que você me contou?

– E eu preciso falar tudo pra você entender? - rebateu o rapaz, impaciente.

– Mas é claro! Como você quer que eu adivinhe sem você me dizer, Sasuke? Eu não consigo nunca entender o que passa…

Na sua cabeça. Era esse o final da sentença. Mas ela nunca chegaria a terminá-la. Antes que pudesse, Sakura sentiu uma mão enfaixada puxar sua cintura para frente, enquanto dedos nus afastavam seus fios de cabelo rosa do rosto. Sentiu a respiração de Sasuke se misturar a própria, a distância entre os lábios dos dois diminuir gradativamente, ou seria à velocidade da luz?, até que ambos finalmente se encontrassem, quentes, úmidos, ansiosos como se tivesses esperado a vida por aquilo. E, de fato, esperaram.


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Notas finais do capítulo

Mina-san! Não demorei tanto dessa vez, né? Tô melhorando meus tempos, vou continuar me esforçando! E ainda trouxe um capítulo gigante pra compensar! Bati meu recorde pessoal com esse aqui... kkkkk

Anyway, espero que gostem! E muito obrigada por todos os coments, pelo apoio, pelos elogios, pelas críticas! Valeu por tudo galera! Arigatou-gozaimassu! Por favor, continuem lendo e comentando! Preciso muito do incentivo de vocês pra continuar escrevendo! Pleaaase!

To meio mooorta, então tô postando sem responder os coments! Farei mais tarde, deixa comigo! ;)

Comeeenteeem, pleaaase! Me façam feliiiiz! kkkk
Kissus, mina-san!



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