Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 22
O ataque da loba


Notas iniciais do capítulo

A parte inicial do capítulo, em itálico, corresponde a um flashback =)



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Ela estava com o rosto apoiado sobre o braço, o corpo deitado ao lado dele, o tronco levantado um pouco acima do colchão, a mão livre brincando distraída com os cabelos prateados espalhados pelo travesseiro. Os cabelos dele. E ele, como sempre, estava hipnotizado por aquela imagem. Tudo nela era hipnotizante. Suas mechas ruivas rebeldes, que escapavam detrás da orelha e emolduravam seu rosto delicado. Seus lábios carmim, que se moviam rapidamente, indicando que ela continuava tagarelando algo que ele só prestava meia atenção. Seus olhos amarelos de insanidade contida. Sua pele branca, que se destacava sob o lençol azul…

— Você tá prestando atenção, Kakashi? - ele a ouviu ralhar, enquanto socava seu ombro com um pouco mais de força que o necessário.

— Claro! - mentiu Kakashi, rindo, vendo na expressão de Nana que ela não caíra - Em você!

— O que eu tô falando é importante, seu panaca! - ela brigou de volta, fingindo-se ofendida, dando-lhe outro soco e, quando ele riu, rindo também - É sério! Você ouviu até onde?

— Até o “Kakashi-sama, eu te…” - começou Kakashi, mas outro soco, dessa vez mais forte, o interrompeu - Arre, Nana! Isso dói!

— Se não fosse pra doer, eu não me daria ao trabalho de te bater! Presta atenção, seu idiota!

— Tá, tá - respondeu o Hatake, pousando a mão na cintura da mulher, tentando manter a expressão séria. Era difícil. Achava sua irritação hilária - Repete, Nana-chan.

— Nana-chan sua bunda! - Nana rebateu, irritada como sempre ficava com a insinuação de que ele era superior a ela em hierarquia - Vou repetir. O uivo pra um grupo de lobos significa a mesma coisa do que pra um de cães. É um chamado. Um membro da alcateia uiva para chamar os outros…

— Eu sei disso…

— Calado, não terminei! Se um dia você ouvir um uivo da minha alcateia enquanto estamos em batalha, foge...

— Não vou fugir! - exclamou Kakashi, irritado. Não era um covarde. E não havia cenário algum em que ele a deixaria para trás.

— Vai sim! Vai fugir e vai fugir rápido! - rebateu Nana, séria - Eu não uso os lobos da minha alcateia em batalha. Eu sou a líder deles, eu os protejo. Se eles entram em uma batalha, é porque não tenho escolha…

— Nana, tá fora de cogitação - cortou Kakashi, seco, indicando que aquela era sua posição final. E já estava meio de saco cheio daquela conversa. Tinham pouco tempo sozinhos. Não queria desperdiçá-lo falando sobre formação de batalha - Não vou te largar pra trás. É contra o que eu acredito como ninja. E ponto final.

— Você vai sim! Porque se você fica por perto atrapalha. Lobos ninjas lutam como predadores que são. Você no meio vai dificultar nossos movimentos…

— Nossos? - repetiu Kakashi, achando um pouco de graça - Você também é uma loba?

— Não é assim que me chamam? - respondeu Nana, levantando a sobrancelha.

— Ah… Então você também é uma predadora? - provocou Kakashi, tentando esconder o riso com uma falsa expressão séria. E falhando.

— Kakashi, deixa de ser…

— Isso faz de mim o que, então? - ele perguntou, aproveitando sua mão na cintura de Nana para empurrar seu tronco de volta para o colchão, apoiando as costas dela nesse, invertendo de posição com a mulher - A presa?

— Eu tô falando de algo sé… - começou Nana, mas não terminou. Os lábios de Kakashi não a deixaram.

—--

Kakashi permaneceu imóvel, sentindo o uivo atingir seus ouvidos, incapaz de entender o que tudo aquilo significava. Nana, à sua frente, permanecia de costas a ele, seus cabelos ruivos escapando, desordenados, de sua costumeira trança, que caia sobre o uniforme da Anbu, destacando-se do cinza da armadura. Se alguém lhe dissesse que tinha voltado no tempo, ele acreditaria.

Um segundo uivo saiu, aterrorizante, da boca da mulher e Kakashi sentiu os ninjas da raiz, que permaneciam em um círculo perfeito ao redor dele, de Sasuke e de Nana, assumirem posição de batalha. Guarda, base, formação. Eles iriam atacar. O Hatake colocou-se de costas para a mulher, tomando para a ele a responsabilidade por metade dos inimigos. Obviamente, tinha centenas de perguntas sambando em sua cabeça, mas não tinha tempo para elas agora. Sasuke, entre ele e Nana, jazia desacordado, o rosto brilhando em suor, pálido, lembrando ao sensei que ele tinha que acabar com aquilo tudo o mais rápido possível. Em sua lista de prioridades, naquele momento, levar o aluno de volta a Konoha estava à frente de perguntar a Nana que merda significava tudo aquilo.

Ele já estava preparado para lutar, e viu à sua frente os ninjas da raiz preparados para atacar, quando ouviu os galhos das copas das árvores tremerem, fazendo-o erguer a cabeça. Dezenas de pares de olhos brilharam perigosos, atravessando Kakashi, mirando os ninjas da Anbu. Ouviu-se um grunhido, e outro, e outro. Os lobos arreganharam os dentes, juntando o brilho deles ao de seus olhos, tão ameaçadores quanto os sons que eles emitiam. O Hatake virou-se, espantado, enquanto Nana soltava um terceiro uivo, mais aterrorizante e agudo que os outros dois. Então, de repente, houve silêncio. Profundo, absoluto. E, durante os segundos que ele durou, pareceu eterno. Até o coração de Kakashi parecia ter parado, compactuando com a mudez do lugar. Mas era apenas a calmaria que precede o caos. Como numa coreografia absurdamente bem ensaiada, os lobos saltaram de seus galhos, simultaneamente, as presas expostas em suas bocas escancaradas, os alvos encurralados. Eles pularam sobre a cabeça de Kakashi, e esse os viu atacarem sem hesitação os ninjas da raiz. E viu os ninjas se defenderem, sem saber ao certo como o fazer.

— Kakashi-sama, - ele ouviu a voz de Nana se destacar entre o barulho da luta, fazendo-o desviar o olhar de um dos lobos da mulher que, em uma mordida, arrancara o braço de um inimigo a poucos metros - O senhor precisa tirá-lo daqui!

O Hatake virou-se e deparou-se com Nana agachada ao lado de Sasuke, segurando o pulso do jovem com uma das mãos, da mesma maneira que ele fizera minutos antes, e pousando a livre sobre a testa do rapaz. Ele correu até os dois, abaixando-se ao alcançá-los, tentando, inutilmente, entender o que acontecia ali. Entretanto, absolutamente nada fazia sentido. Tudo bem, o ataque da Raiz fazia sentido. Mas Sasuke cair quase morto sem motivo aparente não. Nana voltar dos mortos, como um fantasma, não. Os lobos da mulher lutarem por eles, não.

— O fluxo de chackra dele bloqueado… É esquisito. Eu tento manipular energia dentro dele, mas ela some no meio do caminho… - informou Nana, os olhos fixos em Sasuke - Ele precisa da Tsunade-sama…

— Nós estamos há mais de dez horas de distância de Konoha - informou Kakashi, focando-se no aluno, seguindo, a muito custo, sua lista de prioridades no momento.

— Ele não tem tudo isso… - concluiu Nana, verbalizando o óbvio - Ihai, Hoshi.

Kakashi sentiu o galho da árvore onde estavam tremer e, olhando para o lado, viu dois lobos aterrissarem nele. Conhecia a maior, cinza, monstruosa, os olhos mais insanos que os da dona combinando perfeitamente com o sangue que manchava seu focinho. Ihai. Ela o odiava e o Hatake poderia dizer que o sentimento era quase mútuo. Já o outro animal, com seu pelo castanho, cinza e branco, lhe era novidade. Nunca o vira antes.

— Elas vão te levar para Konoha - informou Nana, ainda sem tirar os olhos de Sasuke, numa clara tentativa de evitar que seu olhar cruzasse com o de Kakashi - Fará o percurso na metade do tempo com elas, Kakashi-sama.

— Sama? - repetiu Kakashi, incrédulo. Primeiro ela voltava dos mortos, agora o chamava de sama? - O caixão te deu educação, Nana?

Nana levantou o olhar de Sasuke e pousou-o sobre Kakashi que, por algum motivo, se espantou. Talvez esperasse ver nos olhos da mulher algum sinal de culpa, remorso. Até mesmo um pouco de submissão, visto que o chamava de sama. Mas encontrou, atrás das íris amarelas de loba, apenas o que sempre encontrava ali. Insanidade contida. Fúria. Magnetismo. E, então, sentiu a própria raiva queimar em seu estômago. Como ela podia ser assim?

— Não é hora pra isso, Kakashi-sama - ela respondeu, depois de um segundo em hiato, enquanto levantava Sasuke e o pousava sobre o pelo denso de Ihai - Os outros da alcateia irão te seguir. Garantir sua segurança, Hokage-sama.

— E você fica pra trás? - perguntou Kakashi, lembrando-se de checar o estado da luta e levantando-se para fazê-lo. Era um pesadelo. Os lobos atacavam arrancando membros, pedaços, e, quando os ninjas tentavam revidar, viam os animais saltarem habilmente pelos galhos, desviando-se das investidas dos inimigos. Ele continuava sendo o alvo da Raiz, mas a alcateia não permitia que alguém se aproximasse dele. E, assim, os shinobis recuavam e avançavam, recuavam e avançavam, buscando uma brecha que não existia. Não havia ninjas mortos no chão, entretanto. Não havia inteiros, porém.

— Eu não deixo sobreviventes - respondeu Nana, indicando Hoshi a Kakashi. Ele a encarou por um instante. Queria enforcá-la. Descontar na garganta da mulher tudo que ela lhe fizera passar. Ela estava viva. Viva. Ele chorara, se desesperara, sentira seu mundo cair pela morte de alguém que estava vivo. E, se ela estava viva…

— Aiko? - ele perguntou seco, direto, ignorando as mãos, que tremiam em fúria. Obrigando-se a encarar a mulher. Sentindo a raiva aumentar à medida que o fazia.

Nana deu um passo à frente e puxou o braço de Kakashi para si. O Hatake sentiu os dedos da mulher invadirem a manga de sua capa e se controlou. Não era o momento para aquilo. Nisso, ela tinha razão. Ele se concentrou nos movimentos que ela fazia sobre sua pele e captou a informação. O que ela escrevera sem tinta, com os dedos. Viva. No lugar de sempre. Kakashi sentiu que poderia fechar os olhos e se perder naquele momento. Se havia algo bom no fantasma de Nana, é que ele significava a vida de sua filha. Não a perdera. Contudo, não tinha tempo para absorver o que tudo aquilo de fato significava para ele. Tinha outro filho morrendo sobre o dorso de Ihai.

Ele se afastou de Nana e, com um salto, montou a loba Hoshi. De canto de olho, observou a mulher soltar mais um uivo, esse curto e mais grave, e, logo em seguida, sentiu o solavanco do salto do animal sob suas pernas iniciar a viagem de volta, enquanto os outros lobos saiam de suas posições e se colocavam em formação de proteção, com Kakashi e Sasuke, sobre Ihai, no meio. Olhou para trás, esperando ver os ninjas da Raiz o seguirem, mas se deparou apenas com Nana voltando à luta que era dele. Se ela decidira ficar, provavelmente tentaria arrancar informações da facção. Ele se lembrou do selo na língua de Sai e concluiu o quão inútil seria a tentativa de Nana.

Os lobos continuaram a viagem, numa velocidade, e Kakashi só podia descrever assim, vertiginosa para animais daquele tamanho. Sim, ele conhecia a alcateia de Nana há séculos. Mas não, nunca os vira lutar. Ou unidos daquele jeito, em um número tão expressivo, numa formação defensiva tão fechada. Mais de trinta animais acompanhavam Sasuke e ele no retorno a Konoha. A maior parte deles viajava ao redor dos dois, mantendo-os no centro da formação. Contudo, alguns iam pelos galhos acima e abaixo de Kakashi, protegendo-os de possíveis ataques por ali. Certamente, um grupo daquela proporção não era, exatamente, discreto. Mas, às vezes, a imponência é mais eficaz que a discrição em afastar inimigos. Kakashi contava com isso naquele momento. Não podiam parar. Cada segundo era vital a Sasuke.

Ele fitou o aluno, desacordado sobre Ihai ao lado dele. Queria focar-se nele. A vida de Sasuke era o mais importante ali. Contudo, às vezes, o cérebro insiste em dar atenção a algo que se quer esquecer, guardar numa caixinha, manter lá até o momento certo. Insiste em trazer à mente pensamentos que se quer afastar. Às vezes, simplesmente não se quer pensar em algo. E, talvez justamente porque não se quer, pensar se torna inevitável. Era o acontecia com Kakashi naquele instante. Ele queria colocar toda sua atenção em Sasuke. Mas seu cérebro a dividia com Nana.

A metade de seu cérebro de se dedicava a Nana parecia ter se deparado com um entrave: quanto mais pensava sobre toda aquela situação com a mulher, menos entendia. Obviamente, Kakashi já compreendera que toda a história de Nana morta fora inventada. Ela estava vivíssima, como sempre. Contudo, o motivo da invenção, quem a fez, a quem ela foi direcionada, isso tudo ainda era um mistério ao Hokage. E, dependendo com qual cabeça pensava, a do Kakashi ou a do Kage, a impressão sobre tudo aquilo era diferente. Como Kage, imaginava que ela pudesse, talvez, ter sido forçada pelas circunstâncias a fingir a própria morte. Nesse caso, deveria, racionalmente, ouvir a explicação da ninja. Entretanto, como Kakashi, queria mandá-la à merda. Mais que isso, queria matá-la ele mesmo. Cansara dos jogos da mulher, da instabilidade emocional, das mentiras, da manipulação. Primeiro, explodira com Konoha, tentara matar o Sandaime, os conselheiros, atacara um grupo da Anbu, fugira da vila. O abandonara. Então, escondera Aiko dele, não o procurara para lhe contar da gravidez, o tratara como inimigo. E, quando anos depois se encontraram, tentou o matar. Três vezes. Mas nada disso havia sido suficiente para ela, Kakashi pensava. Tinha que fingir a própria morte. Mais que isso: fingir a de Aiko.

Kakashi, - ele ouviu Ihai o chamar, ao seu lado, tirando-o de seus devaneios - tem um grupo de ninjas se aproximando.

— Inimigos? - Kakashi perguntou, sem saber se a loba era ou não capaz de diferenciar aliados de inimigos.

— Bem, se eles atacarem, sim… - respondeu o animal, a voz rouca disfarçando uma contida excitação. Kakashi se sentiu enojado. E lembrou-se porque não gostava de Ihai. Ela era louca como a dona.

Eles continuaram correndo, os lobos acelerando a passada, tentando se distanciar do grupo que Ihai localizara. Deveriam evitar o combate. E conseguiram. Viajaram durante horas sem encontrar viva alma, mudando, aqui e ali, a rota da corrida para evitar os grupos dos ninjas de fronteira de Konoha, que poderiam se assustar com uma alcateia daquele tamanho cercando o Hokage. Por várias vezes, Kakashi pedira a Hoshi para se alinhar à Ihai de modo que ele pudesse examinar Sasuke. O pulso do garoto ainda estava fraco e arritmado. O quadro dele era estranhamente estável. O Hatake calculava que, com o coração batendo daquele jeito, ele já deveria ter morrido. Mas não piorara. E, intimamente, Kakashi agradecia por isso.

Depois do que pareceram ao Hatake quatro ou cinco horas, Kakashi viu, ao longe, a entrada de Konoha. Ele ordenou que o grupo parasse e, após jogar Sasuke em suas costas, mandou os lobos partirem, indicando que deveriam encontrar Nana. Não foi preciso dizer duas vezes. Mal fechara a boca, a alcateia bateu em retirada, antes mesmo dele se colocar a caminho da vila.

Não levou mais que dez minutos para que Kakashi chegasse ao hospital da aldeia. Mal pisara no hall do prédio um grupo de médicos e enfermeiros o alcançou, colocando Sasuke sobre uma maca e levando-o, às pressas, pelo corredor. A vantagem de se Hokage era que se tinha alguma prioridade. Especialmente quando a situação justificava tal privilégio, como era o caso. Ele acompanhou os médicos-nin empurrarem o Uchiha pelo hospital, checando os sinais vitais do garoto, e gritou duas ou três vezes para que chamassem Sakura e Tsunade, gritos os quais foram respondidos com desesperados já chamamos. Então, onde elas estão?, ele se perguntava em pânico.

Kakashi acompanhou o aluno até onde deu. Havia limites, num hospital. A sala de cirurgia era um. Nem o Hokage poderia entrar ali. Então, ficou parado a porta. Minutos depois de iniciar sua vigília, ouviu passos apressados encherem o corredor e procurou a origem deles. Vinham dos pés de Sakura e Tsunade, que passaram correndo por ele, sem, e ele só podia agradecer por isso, pararem para cumprimentá-lo. Poderia até deixar seu olhar cruzar com o da Godaime. Mas não conseguiria encarar Sakura naquele momento. Havia se esquecido, mas uma vez que a vira praticamente voar em direção à sala de cirurgia, a verdade mais profunda lhe atingira como um soco no estômago. Se Sasuke morresse, não seria o único filho que perderia. Seria a vida tão cruel assim? Devolver-lhe uma filha apenas para lhe tirar os outros?

Kakashi encostou-se na parede, tentando afastar tais pensamentos da cabeça. Mas, naquele dia, não estava com muito sucesso em comandar a própria mente. Minutos depois de Sakura e Tsunade passarem por ele, Naruto chegou e, sem dizer nada, a preocupação estampada no rosto, o medo cravado nos olhos, o garoto se juntou ao sensei. O Hatake abaixou a cabeça e, fechando os olhos, começou algum tipo de prece. Por favor, não, ele pedia num desespero interno. Por favor.

As horas passavam engraçadas, num compasso que ele nunca sentira. Às vezes, lentas. Às vezes, como a luz. Ele viu Tsunade sair da sala e tentou tirar-lhe alguma informação, mas ela simplesmente sacodiu a mão e partiu. Naruto xingou e Kakashi desistiu. Minutos depois, ela voltou com um livro enorme nos braços e um velho de óculos escuros a quem ele reconheceu de imediato. Um integrante do clã Aburame. Mas que merda estava acontecendo?

Naruto deixou-se deslizar pela parede e cair sentado, os joelhos dobrados, o rosto escondido nos braços apoiados nas pernas. Kakashi quis ir até ele, colocar a mão em seus ombros, dizer que ficaria tudo bem. Mas não pode. Não sabia se tudo ficaria bem. Não tinha como saber. Ele fitou o menino por longos minutos, e deixou os minutos se tornarem horas. Já amanhecia quando Tsunade, acompanhada por uma Sakura esgotada, cruzou a porta da sala a fim de comunicar o fim da cirurgia.

— Como ele , Obaa-chan? - perguntou Naruto, depois de se levantar num salto, alcançando a mulher antes mesmo de Kakashi, que estava de pé - Hein, Obaa-chan? Fala!

— Calma, Naruto! - ralhou a Godaime, tentando controlar a impaciência - O coração dele voltou a bater normalmente…

— Então ele vai ficar bem? - interrompeu Naruto, ansioso.

— Não interrompa, Naruto - pediu Kakashi, controlando a própria ansiedade.

— Ele foi infectado com um inseto - começou Tsunade, séria - Nós chamamos um integrante do clã Aburame e ele reconheceu como sendo um dos insetos que os Aburames controlam. Aparentemente, esse inseto em especial se alimenta de chakra lentamente, adoecendo a vítima aos poucos. Contudo, se o paciente manipula chakra por algum motivo, como uma luta, por exemplo, o inseto potencializa sua própria alimentação, e destrói o sistema circulatório de chakra…

Houve silêncio. Mesmo Kakashi e Naruto, que não entendiam nada de medicina, sabiam o que aquilo significava. Ter o sistema circulatório de chakra destruído era, basicamente, não ter chakra fluindo pelo corpo. E isso era o mesmo que…

— O sistema circulatório de chakra do Sasuke foi quase que completamente destruído - continuou Tsunade, assumindo um tom ainda mais sério que o anterior. Kakashi respirou fundo, contendo-se, e viu Naruto, ao seu lado, levar as mãos à cabeça e virar de costas para as médicas, com os olhos fechados. Mas o que, de fato, desesperou Kakashi foi a reação de Sakura. Ela simplesmente fechou os olhos. Ela sabia o que havia ocorrido na cirurgia. E não havia alívio na expressão da menina - Nós reconstruímos. Ele é muito resistente. Suportou a cirurgia. Os órgãos dele foram afetados, mas também conseguimos contornar isso.

— Então ele vai ficar bem, né? - perguntou Naruto, voltando-se para Tsunade, procurando em que se agarrar.

— O quadro dele ainda é grave… - informou Tsunade - Temos que esperar.

Tsunade continuou falando, mas nem Kakashi nem Naruto prestavam mais atenção. Os dois estavam petrificados. Imóveis. Fora de si. O Hatake ouviu, ao longe, algo como ...a Sakura fica com vocês… e, depois, percebeu, sem dar muita importância, a Godaime partir, deixando os três a sós. Ele levantou o rosto e viu Sakura à sua frente, os olhos arregalados, a respiração ofegante, encarando o nada. O sensei a fitou por um instante e sentiu Naruto fazer o mesmo. Mas ela não respondeu ao estímulo da dupla encarada.

— Sakura? - Kakashi chamou, fraquinho, tentando evidenciar o carinho na voz.

Ela desviou o olhar do que quer que fosse que estava encarando e o depositou sobre Kakashi. Então, como alguém que não sabe o que fazer, ela o pousou sobre Naruto. Por fim, fechou os olhos. Grossas lágrimas escorreram pelas bochechas da menina e Kakashi desejou, de todo coração, pela milésima vez nas últimas horas, trocar de lugar com Sasuke. Doía demais ver os três naquela situação.

Naruto abraçou Sakura no momento em que o corpo da menina começou a tremer em soluços. O garoto tentou consolar a amiga mas quanto mais falava que Sasuke ficaria bem, mais ela chorava. Até que, quando Kakashi pensou seriamente em apagar a menina e tirá-la daquela dor por algumas horas, a voz de Sakura emergiu entre os soluços, baixa, rouca, completamente banhada em dor.

— Naruto… Eu disse que queria ele morto… - começou a menina, afastando a cabeça do ombro do amigo, encarando os olhos azuis do rapaz, chorando tanto que quase não se entendia o que ela falava - E justo agora, pela primeira vez na vida, aquele idiota fazendo o que eu pedi…

— Calma, Sakura-chan… É o Sasuke! Ele é durão, não vai morrer por causa de um bicho de pé… - tentou acalmar Naruto, intensificando o abraço.

— Se ele morrer… - falou Sakura, soluçando ainda mais - Eu quero morrer também...

E então, sem parar para pensar outra vez a respeito, Kakashi a apagou.


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Notas finais do capítulo

Olá, galera! Muito obrigada por estarem acompanhando a fic até aqui! Valeu mesmo, mina-san! É realmente muito gratificante ver que tanta gente tem lido os capítulos e talz. E um "Valeu!" especial a todos que têm comentado! Arigatou! *-*

Bem, quanto ao capítulo, espero que vocês curtam bastante! De verdade! A história a partir de agora começará a responder alguns dos pontos que foram levantados, e desenrolar o novelo que eu embolei (tomara que eu não me perca! OO). Por favor, continuem acompanhando e comentando! Não me abandooooneeeem! (drama mode on!)

Valeu mesmo, mina-san! Tudo de bom pra vocês! Kissus! =)))



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