Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 21
O Uivo




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Kakashi virava e revirava os papeis em sua mesa, tentando encontrar algo que tivesse deixado passar, alguma coisa que mudasse o rumo de toda a estratégia (furada, ele sabia disso) que tinha. Mas nada achou. Por mais instrutivos que fossem os relatórios da ANBU, ainda faltava muita informação. Sabiam que a raiz tinha um laboratório completo, mas não sabiam para que. Armas químicas eram uma hipótese (endossada pelas chamas negras do ataque à Academia). Também conheciam os cabeças do golpe. Todos seguidores de Danzou. O líder, Takahashi, era alguns anos mais velho que o próprio Kakashi e fora companheiro do atual Hokage na ANBU regular, servindo de membro da Raiz infiltrado por anos. De fato, só fora descoberto quando quis se revelar. Exímio no combate corpo a corpo, excelente com ninjutsus, estrategista nato. E sem escrúpulos. Dele, esperava-se qualquer coisa. E qualquer coisa era muita coisa. Assim, descartara a ideia de atacá-los antes do golpe estourar. Só o fariam se descobrissem com que força militar a Raiz pretendia tomar o poder.

O Hatake jogou-se contra o encosto da cadeira, fitando o relógio sobre a mesa e respirando fundo. Duas horas. Era o tempo que ainda tinha antes de partir com Sasuke para o País do Ferro, onde encontraria os outros Hokages. Desde que soubera da reunião, decidira intimamente que Sasuke seria seu guarda-costas. O motivo era simples. As únicas opções que considerara eram os seus três alunos. Contudo, Sakura não deveria sair do hospital, pois se o golpe estourasse, todos os ninjas médicos seriam necessários. Naruto era essencial em seu trabalho de coleta de informações com a população e propaganda do governo. A vila estaria onde seu herói estivesse. Apoiaria quem seu herói apoiasse. Logo, só sobrara Sasuke. E o momento também pedia a saída momentânea do ex-renegado da aldeia. Boa parte da população ainda o considerava o autor do ataque à Academia, ignorando os gritos de Naruto (sim, o Uzumaki chegou ao ponto de esgoelar-se no centro da vila defendendo Sasuke em uma discussão com um grupo de shinobis) e o álibi de Sakura. Não que essa tivesse se esforçado muito em defender o companheiro, é válido acrescentar.

Kakashi voltou aos relatórios e mapas sobre a mesa, tentando, uma última vez, encontrar qualquer coisa a mais. Contudo, depois do que ele jurava serem dez minutos, Shizune bateu à porta informando que ele já deveria ter partido. O Hatake se levantou mal humorado, pensando em como o tempo passava de maneira engraçada. Ordenou à Shizune que organizasse os papeis, pegou a bolsa que preparara mais cedo e saiu pela janela, como sempre. Não passaria em casa. Não passava em casa desde que descobrira a morte de Nana e Aiko. O relatório ainda deveria estar lá, caído sob a mesa. Um dia, o enfrentaria novamente. Mas não seria agora.

Ele caminhou calmamente até a entrada da vila, onde Sasuke o esperaria. As ruas estavam vazias, como sempre eram no meio da madrugada. Observou a calmaria do lugar e, intimamente, rezou para que continuasse assim. Mas não acreditava que seria atendido. Perdido nos próprios pensamentos, Kakashi continuou andando, deixando os pés o guiarem para o destino final, sem perceber qual caminho fazia. E, distraído como estava, levou um susto ao ouvir a voz de Naruto quebrar a mudez noturna:

Porra, cara, você não precisa fazer isso. Sério! A vila já mais tranquila, muita gente agora já acredita que não foi você.

– Porque você interferiu - respondeu Sasuke, a voz grave emitindo a frase num tom seco e racional, completamente oposto ao do companheiro. Kakashi os observou à sua frente, distantes algumas dezenas de metros, parados no portão da vila e sorriu por baixo da máscara. Se Sakura estivesse ali, poderiam fingir que eram, novamente, o time sete.

– Mas esse é o meu trabalho! Mostrar pra vila quem quer mesmo proteger todo mundo! Dattebayo! - exclamou o Uzumaki, coçando a cabeça e, ao ver o sensei se aproximar, continuou - Olha, lá vem o Kakashi-sensei. Vamos ver o que ele acha dessa sua palhaçada!

– Qual é a sua palhaçada, Sasuke? - perguntou Kakashi, alcançando os alunos.

– Não é palhaçada - respondeu o Uchiha, sério, mas, antes que pudesse se explicar, Naruto o cortou:

– É sim, seu idiota! Ele disse que, depois que a vila se acalmar de novo, vai cair fora. De novo!

– Isso é verdade, Sasuke? - perguntou Kakashi, observando o aluno se forçar a não desviar o olhar do sensei. Desde a briga de Sasuke com Sakura, Kakashi estivera ocupado demais para conversar com os dois. Por isso, sentir-se-ia um pouco culpado, caso aquela fosse mesmo a decisão do aluno. Ele sabia que, depois do que a garota dissera, o orgulho do Uchiha falaria mais alto e forçaria-o a tomar o tipo de atitude que os orgulhosos tomam: as extremistas.

– Não tenho porque ficar aqui… - expôs Sasuke, frio como sempre. Kakashi suspirou. Seria uma longa conversa com o Uchiha.

– Conversamos no caminho. Vamos. Cuide de tudo por aqui, Naruto. Qualquer coisa, você assume meu lugar ao lado da Tsunade-sama. Confio em você - disse o Hatake, sendo verdadeiro em cada vírgula. Confiava no garoto mais até do que em si mesmo.

– Pode deixar, Kakashi-sensei - respondeu Naruto, sorrindo - E eu confio em você pra tirar esse quilo de bosta que o Sasuke tem no lugar do cérebro.

Kakashi riu da careta que Sasuke fez ao ouvir o amigo e, virando-se, deu início a viagem. Longa viagem. Demorariam quase seis dias até chegar ao destino final. E, nem partira, o Hatake já pensava nos seis dias da volta também.

Os dois corriam em silêncio, cortando a mata de Konoha a leste, estabelecendo um ritmo que ambos podiam manter por toda viagem. Algumas vezes, cruzaram com membros da ANBU responsáveis pela fronteira, os quais não se davam ao trabalho de saírem de suas posições para cumprimentarem o Hokage. A missão de proteger a vila era mais importante que as formalidades. Kakashi lembrou que, no caminho à fronteira norte, não encontraram com um ninja sequer. Sendo Nana a guardiã, as camadas de proteção geralmente estabelecidas, nas quais em cada uma se mantinha um grupo de ninjas de tamanho variado, eram desnecessárias. O Hatake suspirou ao se lembrar disso e, a fim de afastar a mulher de seus pensamentos, fitou Sasuke ao seu lado.

– Quem lhe deu a ilusão de que eu permitirei sua saída de Konoha, Sasuke? - perguntou Kakashi, aproveitando sua vontade de ocupar a mente com algo além de Nana para iniciar a longa conversa que previa ter com seu aluno.

– Não há porque ficar, Kakashi - respondeu Sasuke, sério, sem se preocupar em olhar o sensei.

– Há dezenas de motivos pra você ficar, Sasuke - rebateu Kakashi, fitando o jovem de canto de olho - Dentre eles, eu diria que o principal é o fato de que eu não tenho a intenção de deixar você ir. Mas acho que, pra você, o mais importante é a Sakura, né?

Sasuke não respondeu de imediato, o que o Hatake já previra que aconteceria. Ambos continuaram correndo por alguns minutos, o sensei espiando o comportamento do aluno discretamente, vendo-o abaixar o olhar, triste. Obviamente, não sendo surdo, Kakashi escutara a discussão de Sasuke e Sakura do lado de fora da sala de reuniões dois dias antes. Se doera nele ouvir a menina dizer que preferia o Uchiha morto, só podia imaginar como aquilo atingira o rapaz. Desde antes de sair da vila, o sensei já sabia que Sasuke sucumbira ao carinho de Sakura, que a menina se tornara importante para ele. Uma vez que ele voltara a Konoha, Kakashi não pensara em outra possibilidade que não a da formação do casal. Mas, talvez, superestimara a paciência de Sakura.

– A Sakura não me quer em Konoha - respondeu Sasuke, após o hiato, a voz fria como sempre - e, depois de tudo, o mínimo que eu posso fazer é atender o desejo dela.

– Ah, Sasuke - suspirou Kakashi, girando os olhos, levemente impaciente - Essa auto piedade não combina com você. E, além disso, você sabe muito bem que ela falou aquilo da boca pra fora… Ela só tentando descontar um pouco do que ela sofreu. Deixa de coitadismo!

– Não se preocupe, Kakashi. Não sairei antes de estar tudo estável.

– Não é esse o ponto, Sasuke - rebateu o sensei, levemente impaciente - Obviamente, prefiro que você lute do meu…

– Kakashi, podemos parar um pouco?

– Ãhn? - perguntou Kakashi, interrompendo a corrida ao ver seu aluno o fazer, fitando o garoto com um misto de curiosidade e preocupação. Corriam havia menos de sete horas e o Uchiha já estava cansado? Desde quando o jovem tinha tão baixa estamina?

cansado… - informou o garoto, sentando na junta entre o galho da árvore onde estavam e seu tronco.

Kakashi permaneceu parado, observando o pupilo. Viu Sasuke tirar o cantil preso à cintura e beber a água de dentro dele como se bebesse vida. Em seguida, o garoto jogou o resto do líquido sobre a cabeça e apoiou-se totalmente no tronco às suas costas. Estava, de fato, exausto.

– Você bem? - perguntou Kakashi, fitando o menino.

– Humph - confirmou Sasuke, os olhos fechados - Só sentindo os efeitos do saquê…

– Você bebeu de novo? - espantou-se o sensei, preparando-se para dar ao aluno a maior bronca que já dera na vida, a culpa pesando sobre as costas. Não deveria ter apresentado álcool a alguém tão orgulhoso, fechado e sofrido como Sasuke. Era um cano de escape razoavelmente eficiente a um ninja como o garoto. Mas o Uchiha negou em um aceno e Kakashi acreditou. Ele raramente mentia.

assim desde quando bebi com você…

– Ãnh? - espantou-se Kakashi, de novo - Tem certeza que é isso?

– O que mais seria? - rebateu Sasuke, irritado - Começou com o saquê…

Kakashi ponderou o argumento do aluno e foi obrigado a aceitá-lo. Era estranho uma ressaca durar todo aquele tempo, mas tendo Sasuke passado por tantos experimentos sob o comando de Orochimaru, talvez ele fosse mais sensível do que o normal ao álcool. De certa forma, o sensei agradeceu por isso. Pelo menos o inibiria de voltar a beber.

O Hatake sentou-se à frente de seu aluno e o imitou no ato de beber água. Continuou observando-o, preocupado. Não se lembrava de ver Sasuke naquele estado. Esgotado. Completamente exausto. Talvez, devesse ter trago Sakura com ele. Era praxe o Hokage viajar com pelo menos dois acompanhantes. Dispensara um pela situação da vila. Começava a se arrepender.

– Você vai conseguir completar a viagem? - perguntou Kakashi, usando um tom provocativo para disfarçar a preocupação da voz - Talvez eu devesse ter trago a Sakura também…

– Não seja idiota - respondeu Sasuke, e Kakashi riu da intimidade que tinham. Quando outro, além do Uchiha e de Naruto, chamaria o Hokage de idiota? - E não tire Sakura da vila.

– Por que não? - quis saber Kakashi, vendo Sasuke se levantar e imitando-o.

– Pode acontecer algo a ela… Ela é útil em Konoha, não tem porque tirá-la de lá.

– Pode acontecer algo a você também - respondeu o sensei, voltando a correr e sendo seguido por Sasuke - ou ao Naruto. Ou a qualquer ninja que saia da aldeia.

– Ela é tão visada quanto eu ou o Naruto - argumentou Sasuke, sério - Talvez até mais, porque sabem que nós dois iríamos atrás dela. Mas ela não é tão forte quanto a gente…

– Você a subestima - falou o sensei, sabendo que aquilo não tranquilizaria o Uchiha. De fato, não tranquilizava nem ele próprio. Apesar de dar bem mais crédito a Sakura do que Sasuke dava, Kakashi entendia a preocupação do aluno, tendo ele mesmo já pensado naquilo tudo. E, não somente sobre ela, mas também a respeito de Naruto e Sasuke. Contudo, assim como não se daria ao luxo de poupar seus dois alunos pelo risco que era usá-los, simplesmente não podia abrir mão de uma kunoichi como Sakura, afastando-a de missões apenas pelo perigo. Seria ofensivo a ela. Além de burrice. Não se deixa a melhor kunoichi da vila trancada em um hospital.

Sasuke não respondeu, e os dois continuaram correndo, seguindo viagem, durante horas. O itinerário era simples: sair de Konoha em direção à costa leste, alcançando-a após um dia de viagem. De lá, embarcariam num navio, que já estava à espera, com destino ao País do Ferro numa viagem que duraria, no máximo, dois dias. Então, completariam o percurso a pé, chegando à sede militar do País do Ferro, onde os outros Kages também estariam para a reunião. Ah, a reunião. Estava tão ansioso por ela quanto estaria por uma injeção.

Kakashi já pensava em dar uma pausa na corrida, a fim de beber um pouco d’água e repor as energias, quando ouviu um farfalhar de folhas atrás dele. Sem diminuir o passo, fitou Sasuke ao seu lado, e viu o aluno olhá-lo de volta, a desconfiança estampada em cada centímetro de sua face. Com um quase imperceptível, e simultâneo, aceno de cabeça, os dois giraram nos calcanhares, o corpo, por inércia, mantendo a direção da corrida inicial, e arremessaram kunais, mirando a origem do barulho. Ouviram o som da lâmina cortar o ar sem obstáculos, até atingir um troco de árvore e parar. Os dois também pararam, pousando sobre um galho, todos os sentidos configurados no máximo. Kakashi sentiu o aluno desembainhar a espada e percebeu que ambos haviam chegado à mesma conclusão: estavam sob ataque.

Uma vez que o alvo percebe a emboscada, não há muito sentido aos atacantes se manterem quietos, afastados. A tocaia só tem razão de ser se o elemento surpresa for mantido. Assim, ou atavam, ou fugiam. Era como Kakashi pensava, pelo menos. Por isso, quando vinte sete ninjas - ele contou - com capas pretas fechadas até o pescoço e máscaras brancas de porcelana, pintadas em diferentes motivos, saíram detrás das árvores, revelando suas posições ao Hokage e seu guarda-costas, o Hatake não se surpreendeu. Estava cercado. A Raiz realmente não falhava em seu treinamento. Nem Sasuke nem ele perceberam os shinobis os seguindo.

O ataque foi coordenado, como deveria ser. Os ninjas mais próximos avançaram em direção a Kakashi e Sasuke, lançando uma cortina de kunais e shurikens, disfarçando os movimentos reais de ataque atrás delas. Alguns empunhavam suas tantoo, indicando, claramente, que na estratégia estabelecida por eles, o primeiro ataque seria de taijutsu. Sasuke desviou-se das armas lançadas e posicionou-se à frente do Hokage, assumindo a posição de proteção para a qual fora escalado. Por instinto, Kakashi tentou mover-se para frente do aluno, mas o Uchiha o impediu, abrindo os braços, ampliando a área de cobertura. Foi quando o Hatake entendeu: não cabia mais a ele proteger o aluno. As posições haviam se invertido.

Kakashi viu Sasuke saltar em direção aos ninjas da Raiz, empunhando sua katana em uma firmeza e confiança com as quais poucos ninjas eram abençoados. Ele observou o aluno mover-se rapidamente entre os inimigos, cortando o ar horizontalmente, ferindo de morte dois deles, afastando os outros em momentâneas retiradas. Atrás de si, sentiu a aproximação de um grupo de shinobis e, antes mesmo do ataque chegar, contra-atacou. Virou-se rapidamente, realizando selos há muito copiados e quase nunca utilizados. Sem sharingan, agora era obrigado a usar seu leque de mil justus. Saltando após executar o último selo, Kakashi ergueu os braços e viu os galhos das árvores se tornarem correias d’água, prendendo meia dúzia de shinobis pelos pés, cintura e garganta. O Hatake, então, fez um último selo e, voltando-se para Sasuke a alguns metros de distância, ouviu mais do que viu raios serem conduzidos pelos elos das correntes de água, eletrocutando os que estavam presos.

– Sasuke, - começou Kakashi, segundos depois, posicionando-se ao lado do aluno, que já ativara seus doujutus - Vamos acabar com isso rápido.

– Humph - concordou o Uchiha, lançando chamas negras sobre os inimigos, manipulando-as como, literalmente, só ele podia. Amaterasu. Kakashi não poder evitar um leve sorriso por baixo da máscara. Sabia o que Sasuke queria. Fora apontado como culpado por um incêndio que não causara justamente porque as chamas eram negras. Agora, mostraria aos responsáveis o que eram chamas negras de fato.

O fogo ao redor deles desorientou o grupo de ninjas. Alguns, tentavam se afastar, talvez até fugir, mas Sasuke simplesmente os amontoava na clareira sob os dois, guiando-os por meio das chamas. Alguns, ingênuos, tentaram atravessar o ninjutsu do Uchiha, e foram punidos sendo carbonizados, o que inibiu os outros. Por um segundo, Kakashi achou que tinha acabado. Contou dezessete deles e, sabendo como os ninjas da Raiz eram escolhidos, sentiu pelos dez mortos. Mas, aos que restaram, restava também a justiça. Não a punição capital. Não quando estavam praticamente rendidos.

Contudo, e se visse a situação de fora Kakashi seria obrigado a concordar, o Hokage considerou que o apito de intervalo era o de fim de jogo. Quando já se preparava para prender os inimigos restantes, um baque surdo atingiu os ouvidos de Kakashi, fazendo-o virar-se para o lado, apenas para ver Sasuke caído, desmaiado, sobre o galho onde estavam. Por instinto, o Hatake voltou seus olhos para baixo e, atônito, viu as chamas negras se estabilizarem no círculo perfeito que Sasuke desenhara, permitindo que quem estivesse dentro do aro, escapasse por cima. Sem o Uchiha para mover as chamas a bel prazer, elas não podiam ser apagadas, mas também não podiam ser manipuladas. Era apenas uma questão de sair de perto delas antes que pudessem queimar tudo.

Kakashi pegou o aluno pelo braço ao mesmo tempo em que os ninjas, antes presos, começavam a sair de dentro do círculo de chamas negras. Pousando vários galhos acima de onde estavam, ele esticou o corpo inerte do garoto, procurando sinais de ataque, vasculhando por ferimentos. Nada achou. Levantou rapidamente a pálpebra do olho direito do Uchiha, mas viu apenas a íris negra do menino se destacar do branco do globo ocular, sem qualquer sinal de genjutsu. Não que ele considerara realmente a possibilidade de alguém colocar Sasuke sob genjutsu. Afinal, o garoto tinha um Mangekyou ao seu lado.

O Hatake desviou a atenção dedicada ao aluno por um momento, pousando-a sobre o grupo de ninjas que vinham em ataque. Realizando os mesmos selos de instantes antes, ele transformou os galhos das árvores em correias, colocando-as em perseguição aos inimigos. Pegou dois pelos calcanhares, eletrocutando-os como fizera anteriormente, mas os outros, atentos ao funcionamento do jutsu, tornaram-se eficazes em se desviar das correntes. Consciente de que aquilo apenas os atrasaria, Kakashi executou novos selos, provocando a formação de um tornado, sendo o centro ele próprio. Os ninjas que vinham em ataque se afastaram imediatamente do raio de alcance do redemoinho. Lembrando-se dos ataques em conjunto de Sasuke e Naruto, Kakashi lançou, nas paredes do tornado, bolas de fogo que, espalhadas pelo vento do jutsu anterior, criaram uma parede de proteção para ele e o aluno. Era forte o suficiente apenas para atrasar o ataque da Raiz. Um usuário de Suiton apagaria as chamas rapidamente, e transformaria o redemoinho em um vórtex de água o qual forçaria Kakashi e parar seu próprio jutsu a fim de não morrer afogado. Mas ele precisava daqueles segundos. Precisava descobrir o que acontecera ao Sasuke.

O sensei se abaixou rapidamente, segurando o pulso do aluno e se desesperando. Estava fraco, descompassado. Não sabia o que estava acontecendo mas, em pânico, chegou à conclusão óbvia: Sasuke estava morrendo. Ele sentiu o calor ao seu redor diminuir, indicando que os ninjas da Raiz já haviam percebido como derrotar o jutsu e, sabendo que não havia como fugir, fez a única coisa que lhe pareceu sensato fazer: pôs-se a tentar acordar o Uchiha. Usando os poucos ninjutsus médicos que conhecia, forçou o coração de Sasuke a bater compassadamente. Obteve sucesso. Em seguida, tentou fazê-lo bater mais forte. Falhou. Tentou novamente. Falhou. Segurou o pulso do garoto um instante, puxando pela memória qualquer coisa que pudesse ajudar. Mas, para seu desespero, sentiu, novamente, a arritmia na fraca pulsação do aluno. Estava longe demais de Konoha. Longe demais de qualquer vila. E, agora, já sentia a água bater em seu rosto, apontando que o Suiton, como previsto, estava ganhando do Katon. Pense, Kakashi, pense!

Ele saltou pelo olho do furacão que criara, saindo de seu centro e levando Sasuke com ele, pousando mais alguns galhos acima, deixando o redemoinho de presente para os ninjas abaixo. Contudo, mal pousara, viu quatro shinobis virem em sua direção, também deixando para trás o vórtex de vento e água abaixo deles. Kakashi os observou empunharem suas Tantoo e avaliou a situação, tentando afastar de sua mente a possibilidade de perder seu aluno. De perder outro membro de sua pequena família naquela semana. Outro filho. Ele já começava a realizar novos selos quando, atrás de si, ouviu as folhas chocalharam, indicando um ataque pelas costas. Virou-se por reflexo e viu outro ninja da Raiz aparecer, a máscara de porcelana branca se destacando do capuz preto da capa. Ele adotou instantaneamente uma posição defensiva, colocando-se entre Sasuke e o ataque. Mas esse não veio.

Saltando, em um perfeito mortal, sobre a cabeça de Kakashi, o shinobi foi de encontro ao grupo de quatro que seguira o Hatake. Completamente espantado, o Hokage o viu sacar a Katana, movendo-se tão rápido entre o grupo que parecia capaz de voar. Ele cortou a garganta do mais próximo e, cravando a espada no peito de um outro até o punho, jogou-o contra um terceiro, que foi atravessado pela parte da lâmina que saia das costas do companheiro morto. O último do grupo tentou fugir, mas antes que pudesse se mover foi, com um chute, arremessado contra Kakashi que, instintivamente, o degolou com a própria kunai e deixou-o cair, morto, dezenas de metros até o chão. Quando já considerava a hipótese daquele novo aliado ser apenas um ANBU comum de fronteira, e não um integrante da Raiz, o Hatake o viu pousar a sua frente, enquanto os ninjas restantes da Raiz subiam rapidamente, agora sem o tornado, que já se extinguira, para detê-los, formando um círculo perfeito em torno deles. Kakashi pousou os olhos sobre o ninja aliado e, involuntariamente, deixou-os cair sobre a katana. Em mil anos, jamais esqueceria aquela espada. O brilho daquela lâmina. A quem ela pertencia.

O Hokage continuou observando a espada, em um semi-transe, esquecendo-se, momentaneamente, de toda a situação em que estava. Ele sentiu um solavanco no estômago e precisou de um segundo para perceber que não levara um soco. Pelo menos não literalmente. Viu o shinobi à sua frente distanciar-se um passo, abrindo os braços levemente ao parar. E então, completamente hipnotizado, sentiu os cabelos da nuca arrepiarem, o coração acelerar, as pernas falharem quando seu novo aliado soltou um som agudo, estridente, cumprido, aterrorizante, que cortou o silêncio tenso em que estavam. Sentiu o ar faltar quando a nota longa do uivo atingiu seus ouvidos e, em seguida, cada centímetro de seu corpo. E, então, quando a capa do ninja caiu, quando a máscara do ninja caiu, sentiu seu queixo cair também


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Notas finais do capítulo

Mina-san, gomen pela demora! Fiquei enrolada com a ceia de Ano Novo (faxina... ¬¬'). Anyway, cá está o novo cap! Espero que gostem! De verdade! Kakashi PoV e talz... lalala

Muito obrigada por continuarem lendo e comentando! De verdade! Cada comentário me faz tão feliz, vocês não têm noção! Por favor, continuem comentando! Um "tô lendo" já eh massa (mas se quiser escrever mais, assim, tem problema nenhum não lalala). E, novamente, se desistirem de ler, não deixem de dizer, o motivo, pleaase! Críticas construtivas são sempre bem vindas!
Muito obrigada por estarem acompanhando até aqui e, por favor, continuem comentando! Um EXCELENTE 2015 pra vocês! Muito sucesso e muita diversão, galera! Kissus, mina-san!

Ps.: ficou grande pra burro, mas não dava pra dividir. Fica, então, como compensação pela demora lalala (aquela que tenta disfarçar a tagarelice como presente).