Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 15
Duplo Kagenato




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Kakashi chegou em casa exausto. Ele se deixou cair sobre a cama sentindo todos os músculos reclamarem. Estresse tinha um efeito pior sobre o corpo que qualquer luta que o Hatake pudesse enfrentar. Fechou os olhos por alguns segundos, enquanto ignorava o próprio estômago se remexendo em fome. Fitava em sua mente a imagem que não lhe abandonara desde a saída da fronteira norte: Aiko sorrindo. Pensou seriamente em voltar atrás e arrastar Nana e a filha de volta a Konoha. A mulher ainda estava fraca, não teriam muita dificuldade em vencê-la. Mas não o fez. Elas estariam mais seguras longe.

O Hatake se levantou e caminhou calmamente até a cozinha. Havia nada na geladeira. Nada no armário. Nada para comer. Ele procurou pílulas de comida na bolsinha amarrada à perna e, por sorte, encontrou. Jogou-as dentro da boca, engoliu, e voltou à cama. Tinhas muitas duas, com sorte três, horas de sono. Duvidava que conseguisse dormir, entretanto. Tinha muito o que pensar.

Passara as últimas horas vendo e revendo com Tsunade todas as possibilidades de ataque e defesa. Tinham pouquíssimas informações sobre a estrutura hierárquica da Raiz e só podiam imaginar que o líder do Golpe era o líder da facção e não um dos dois conselheiros. Isso, claro, se o Golpe fosse mesmo organizado por eles, apesar de quase não haver dúvidas a respeito. Desde que recebera Ihai lhe contando sobre as suspeitas de Kakashi e Nana, Tsunade cruzara os dados de segurança que vazaram causando quebras nas linhas de defesa das fronteiras e ao redor da vila com aqueles que eram passados aos conselheiros. Cem por cento de ligação. Além disso, já existiam relatórios mostrando uma estranha movimentação na Raiz desde a morte de Danzo, a qual foi agravada depois do fim da Quarta Guerra e o anúncio interno de que Kakashi seria o próximo Kage.

Era preciso traçar uma estratégia. Se fizessem um trabalho bem feito internamente, talvez evitassem um combate. Embora Kakashi duvidasse disso. Tinha o claro objetivo de desestruturar a Raiz e acabar com a facção de uma vez por todas. Queria Konoha às claras, limpa, sem um lado obscuro armando por baixo dos panos. E, para conseguir isso, se tivesse que lutar, lutaria.

Kakashi não fazia ideia de quando dormira. Aliás, seria justo dizer que só se dera conta de que apagara porque Sasuke o acordou chutando a cama, meio impaciente.

— Que foi? - gemeu Kakashi, esfregando os olhos.

— Já são quase nove horas, Kakashi - informou Sasuke, encostando-se na janela - Você de férias?

— Bah… Cheguei depois das cinco… - respondeu Kakashi, sentando-se, ainda grogue de sono. Poderia até ter dormido, mas o corpo não parecia muito disposto a aceitar as poucas horas de sono em troca de algum sintoma de descanso.

— Balada? - provocou Sasuke, enquanto tirava um conjunto de folhas grampeadas de debaixo da capa e jogava-o na cama, ao lado do sensei - A Nana vai ficar brava…

— Relatório? - perguntou Kakashi, folheando o trabalho que Sasuke jogara sobre a cama - Passou a noite em claro?

— Hum… - confirmou Sasuke, mal humorado - Shizune me entregou o memo da Godaime dois minutos depois de eu chegar em casa…

— O que você achou?

escrito aí… - respondeu Sasuke, mas, diante do olhar de “fala logo” de Kakashi, continuou - No escritório dos conselheiros não têm nada que não deveria estar lá… Mas encontrei cópias de todos os relatórios de segurança de Konoha.

— Eles recebem os relatórios também…

— Quero dizer que haviam cópias dos originais… Mas somente dos da semana passada pra cá. Os antigos só tinham os originais…

— Entendi… - confirmou Kakashi, passando a mão pelos cabelos ainda tentando acordar.

— Basicamente, eles entregaram toda a linha de defesa de Konoha para alguém… Eles sabem os nomes dos ninjas que fazem as rondas, os horários, os métodos… Quantos são…

— É… vendo aqui…

— Tem mais isso aqui, Kakashi - disse Sasuke, entregando um panfleto amassado.

Kakashi estendeu a mão e recebeu o papel. Era um folheto amarelado, as letras vermelhas estampavam o título “Konoha falida”, seguido por um texto explicando como o atual governo afundara Konoha numa crise econômica, como a insegurança ao redor da vila aumentava os preços e como isso levaria a fome ao lugar. Basicamente, uma sequência de verdades causando uma série de consequências mentirosas. Mas, escritas do jeito que estavam, era fácil acreditar em tudo aquilo. Finalmente, parte da estratégia do inimigo estava exposta.

— Esses folhetos vêm sendo distribuídos na vila toda… - informou Sasuke - Recebi de madrugada, quando saia do escritório dos conselheiros. Como eu estava com a capa, não em reconheceram…

— Quem te entregou?

— Eu segui o cara… não parecia um shinobi. Acho que estão recrutando civis pra causa deles…

— Que saco… - reclamou Kakashi, levantando-se e indo ao banheiro - Me espera aqui.

— Eu morto, Kakashi… - falou Sasuke, seguindo o sensei até a cozinha - E queria acompanhar a Sakura até o hospital…

— Me espera aqui, Sasuke! - mandou Kakashi, novamente, indo até o banheiro e deixando o aluno na cozinha. Precisava de um banho para acordar.

Ele queria se esquecer embaixo do chuveiro. Gastar toda água que tinha direito até acordar e perceber que ainda estava na cabana de Nana. Que não seria o próximo Hokage. Que poderia ficar com Aiko por quanto tempo quisesse. Mas a realidade o chamou e ele saiu do banho pouco tempo após entrar, vestiu o roupão e voltou à cozinha, onde Sasuke esperava dormindo sentado, com a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre a mesa. Kakashi chutou a mesa e o Uchiha acordou no susto.

— Eu quero que você siga os conselheiros como rabo nos próximos dias… Se eles coçarem a bunda, eu quero saber… - ordenou Kakashi, enquanto Sasuke esfregava o rosto com as mãos.

— Que droga… - reclamou o Uchiha.

— Você tem que aceitar as ordens mais obedientemente, Sasuke - comentou Kakashi, sentando a mesa, cansado.

— Não tem nada pra comer? - perguntou Sasuke, olhando ao redor como seu uma tigela de lámen fosse saltar à frente dele do nada.

— Não…

— Humph… Vou indo, então… - disse o Uchiha, levantando-se mal humorado e indo em direção à porta.

— Sasuke - chamou Kakashi quando o garoto já alcançara a maçaneta - Entregue seus relatórios à Sakura. Se alguém estiver nos observando de dentro do governo, parecerá menos suspeito você se encontrando com ela do que comigo…

— Humph… - concordou o Uchiha, saindo do apartamento. Kakashi deu um suspiro. Era manteiga derretida com os alunos. Obviamente, não faria diferença alguma, caso eles estivessem sendo observados, para quem Sasuke entregaria os relatórios. Mas para Sasuke faria. E para Sakura também. Então, bah…

Kakashi chegou à sala da Hokage menos de dez minutos após despachar Sasuke apenas para encontrar uma Tsunade furiosa tentando se controlar à frente do líder do clã Hyuuga. O Hatake não pode esconder a surpresa de ver o homem ali. Raramente Hiashi saia do distrito de seu clã para tratar, pessoalmente, assuntos com a Godaime. Geralmente, enviava mensageiros ou chamava o próprio Kage ao clã. Sim, era esse o nível importância dos Hyuuga em Konoha.

— Ah, aí está ele, Hiashi-san! - exclamou Tsunade quando Kakashi entrou na sala - Explique, Kakashi, porque o Naruto foi ao distrito Hyuuga ontem tarde da noite perturbar Hiashi-san com meia dúzia de informações ainda não confirmadas da nossa suspeita de Golpe.

— O Naruto foi falar com senhor? - perguntou Kakashi, controlando-se. Deveria ter imaginado que o aluno não compreenderia a necessidade de ser propriamente enviado a uma missão se essa envolvesse o clã Hyuuga.

— Sim - respondeu Hiashi, sério - E eu gostaria de saber como uma criança tem mais informações a respeito da vila do que meu clã.

Kakashi fitou Tsunade que o fitou de volta. Estavam ambos irados. Tudo que envolvia os clãs de Konoha deveria ser tratado com extrema cautela a fim de evitar um conflito de egos. E lá estava o maior clã da vila se sentindo excluído do governo de Konoha porque Naruto não podia esperar. Colaria o traseiro de Naruto na parede na próxima vez que o visse.

— Desculpe, Hiashi-sama - começou Kakashi em meio a uma reverência - Naruto foi precipitado ao procurá-lo ontem. De fato, temos apenas algumas informações sobre o que acreditamos poder ser uma tentativa de golpe. Eu dei ao Naruto a função de servir como intermediário na comunicação com os clãs da vila e realmente o instrui a começar pelo clã Hyuuga. Mas ainda estou elaborando um documento oficial com tudo que coletamos, o qual seria entregue ao senhor. Mas, definitivamente, não ontem. Especialmente, à noite.

Houve um momento de silêncio. Hiashi olhava Kakashi como quem tentava decidir se aceitava ou não as desculpas do ninja. Por sua vez, o Hatake fitava o líder dos Hyuuga com um grande peso no olhar, em um profundo pedido de desculpas, disfarçando a raiva contra Naruto e contra o drama do homem à sua frente. Além, é claro, da mentira deslavada que contara. Não estava nem pensando em um documento oficial, quanto mais em fazê-lo e enviá-lo.

— Eu imaginei que Naruto tivesse agido imprudentemente mesmo - disse Hiashi, aparentemente aceitando as desculpas. Kakashi respirou aliviado. Não precisava de mais problemas - Naruto disse que o vocês perceberam a tentativa de golpe quando a identidade de um ninja vazou? - perguntou o Hyuuga à Tsunade.

— Sim - respondeu a Godaime hesitante.

— Posso saber quem era?

Aquele era o problema de deixar as pessoas acreditarem que têm mais importância do que realmente têm. Sim, os Hyuuga eram vitais. Mas não, não tinham que saber de cada detalhe da vila. E, definitivamente, Kakashi não estava nem um pouco a fim de vazar ainda mais a identidade de Nana.

— Não é seguro para seu clã, Hiashi-sama - respondeu Kakashi, sem sequer olhar para Tsunade em busca de aprovação. Não iria revelar qualquer informação que levasse à sua filha.

— Talvez eu devesse decidir o que é ou não seguro ao meu clã… - rebateu Hiashi, usando um perigoso tom de desafio na voz.

— Desculpe, eu me expressei mal - começou Kakashi, ainda mais frio que o Hyuuga - Não é seguro para Konoha inteira, e seu clã está nela. E eu acho que eu devo decidir o que é ou não importante para vila, não?

Tsunade arregalou os olhos para Kakashi, que a ignorou. Depois pediria desculpas à ninja por ter assumido o posto de Hokage enquanto ela ainda sentava na cadeira, mas, naquele momento, era importante ele demostrar poder, mesmo que não o tivesse oficialmente. A sensação de quem detém o poder é tão importante quanto quem de fato o possui. Se abaixasse a cabeça diante daquela situação, passaria todo seu Kagenato o fazendo. E isso permitiria que outros além dele governassem por baixo dos panos. Era justamente o comportamento que ele pretendia extinguir.

— Suponho que o senhor tenha razão, Hokage-sama— ironizou Hiashi, enfatizando o título ainda não dado a Kakashi - Espero que o senhor se lembre disso quando for despachar. É sua obrigação proteger a vila. Tudo que acontece à ela é sua responsabilidade. Culpa ou mérito.

Kakashi confirmou em um aceno que concordava com a posição do Hyuuga que, mal terminara de falar, levantou-se a fim de deixar a sala. Ele cumprimentou em uma reverência Tsunade e Kakashi e pôs a caminho da porta, exibindo um porte do qual o Hatake só pode sentir inveja. Será que estava mesmo fazendo o certo ao se impor daquela forma diante do clã mais poderoso de Konoha?, pensou Kakashi, sem, obviamente, demonstrar a dúvida. Contudo, quando Hiashi alcançou a porta do escritório de Tsunade, ele teve sua resposta:

— O Clã Hyuuga mantém sua posição de apoio ao Hokage, Kakashi-sama. Espero não me arrepender…

— O senhor não irá - respondeu Kakashi, demonstrando na voz uma confiança que, internamente, não sentia de forma alguma.

Kakashi voltou-se à Tsunade assim que a porta se fechou atrás de Hiashi. Era difícil compreender a expressão no rosto da mulher. Ele não queria, de forma alguma, tirar o poder político das mãos dela antes da hora. Mas, ao mesmo tempo, não vira alternativa em meio àquela situação.

— Tsunade-sama… - começou o ninja, em uma reverência profunda, iniciando o pedido de desculpas.

— Nah, Kakashi - interrompeu a Godaime - Você precisa se impor mesmo… Só não podemos deixá-los achar que temos um governo dividido.

— Sim - concordou Kakashi, aliviado. Ele voltou a posição ereta bem a tempo de segurar o rolinho de papel que Tsunade jogara contra ele. O Hatake o abriu e suspirou. Mais problemas.

— A reunião do Kages foi marcada para daqui há duas semanas, no país dos Samurais… - informou Tsunade sem necessidade. Kakashi sabia ler - Os outros Kages aprovaram a data, então não há nada que possamos fazer além de ir, claro.

— Definitivamente, não é o melhor momento para a senhora sair da vila… - comentou Kakashi, sabendo que isso não faria diferença.

— Eu sei - concordou a Hokage - Por isso quem vai é você.

— Oi?

— Eu estive pensando… Como uma forma de suavizar a transição de governo em meio à crise, poderíamos ter um curto período de Kagenato duplo. Assim, você irá à reunião, representando a vila, e eu permaneço em Konoha. Não há outra opção, Kakashi. Se eu sair agora, não chego nem na esquina antes de estourarem o golpe… Nós dois concordamos que eles estão apenas esperando você assumir pra deflagrarem. Damos uma rasteira neles te fazendo Hokage enquanto eu ainda sou a Hokage.

Kakashi piscou. Ela estava certa. De fato, ele concordava que os inimigos estavam esperando a instabilidade da troca de poder para deflagrarem o golpe. E estava fora de cogitação o Hokage faltar à reunião dos Kages. Tsunade pensara em tudo.

— Então, Kakashi? - perguntou a mulher, impaciente - Sim ou não? Você vai ter que assumir mesmo alguma hora…

— Não tenho muita opção, tenho? - suspirou Kakashi, já sobrecarregado com a responsabilidade.

— Não se você se preocupa com Konoha - argumentou Tsunade.

— Então, sim… Aceito.

Não houve festa, cerimônia, pompa. Nada disso. Uma mensagem foi passada aos moradores e aos ninjas de Konoha, ao mesmo tempo que outra foi enviada aos Kages informando que quem representaria Konoha na conferência seria Hatake Kakashi, o novo Hokage. Em contra partida, tudo que não houve de celebração, houve de trabalho. Quando finalmente deixou a sede do governo (continuaria morando em seu pequeno apartamento por enquanto), já passara das três da madrugada.

Chegou em casa exausto. Muito mais mentalmente que fisicamente. Tinha uma quantidade absurda de informações para absorver, além é claro das que tratavam do golpe. Por duas horas, Tsunade, Shikamaru e ele se debruçaram sobre os relatórios já elaborados por Sasuke, Yamato e Sai a respeito da Raiz e dos conselheiros. Sai encontrara caixas e mais caixas de suprimentos armazenadas no esconderijo da Raiz, todas com selos indicando que seus destinos originais eram as lojas de Konoha. Assim, comprovava-se que a Raiz estava por trás dos roubos de carga ao redor da vila. Yamato, por sua vez, encontrou mapas com supostas rotas de fugas para os líderes do movimento. Entretanto, a organização administrativa da facção, sua hierarquia interna, isso ainda era mistério.

Kakashi sentou-se na cama, o cérebro a mil, o corpo implorando por descanso. Mas precisava comer. Obrigou-se a se levantar e caminhou até a cozinha, torcendo internamente para Naruto ter lhe obedecido e comprado comida (fora o castigo destinado ao aluno por ter causando um pequeno atrito entre o governo e os Hyuuga). Abriu o armário e só pode rir com o que viu. Dezenas de potinhos de lámen. Ferveu a água, pegou um potinho, encheu-o e fechou-o, esperando. Três minutos pareciam uma eternidade. Ele cruzou os braços e observou a própria cozinha por um instante. Foi quando seus olhos caíram sobre a mesa e ele viu. Um grupo de folhas grampeadas jazia sobre o móvel, calmamente esperando. Ele abriu o relatório, que seguia minuciosamente todas as regras impostas pela ANBU, e sentiu o coração acelerar quando, acima de um elaborado fluxograma, leu o título destacado: Raiz - Hierarquia.


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Notas finais do capítulo

Hey, mina-san! Desculpem, novamente, a demora! Semana que vem, tô de férias e tudo volta ao normal (please, please, férias, sua linda, venha!).
No cap de hoje, POV de Kakashi-kun, algumas coisinhas bem importantes pro futuro da história começam a acontecer. E podem esperar alguns momentos tensos para os próximos capítulos. Espero de verdade que gostem! E muito obrigada de verdade por acompanharem a fic! Sério! Muito obrigada do fundo do meu kokoro! E, pleaaaase, comentem! Onegaaai!
Kissus!



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