Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 11
Inútil




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559745/chapter/11

Poderia ter levado apenas um segundo, mas certamente durara uma eternidade. Ou, pelo menos, tempo o suficiente para que um baque longínquo a chamasse de volta a razão, afastando-a do que quer que fosse aquele lugar mental onde se encontrava. E do físico também.

– Ah… - murmurou Sakura, baixinho, dando um passo para trás e afastando-se do jovem a sua frente, olhando ao redor em busca da origem do barulho - Você ouviu isso?

– Hum… - confirmou Sasuke, num suspiro cansado, enquanto piscava um pouco mais demorado do que o natural e voltava o corpo à posição completamente ereta, tirando as mãos da cintura da garota. Ela o sentiu observá-la e concentrou todas as forças em não o encarar de volta. Não queria que ele percebesse como ela se sentia - Deve ter sido um dos lobos da Nana. Eles estão circulando a casa desde que ela apagou ontem…

Sakura acenou em concordância, mas manteve-se observando a orla da floresta. De fato, acreditava ser um lobo, ou outro bicho qualquer, a fonte do barulho. Mas agarrava-se a esse como seu salvador, sua fonte de sanidade, razão. Ela deu mais um passo, a fim de aumentar a distância até o Uchiha, e, torcendo para que esse não percebesse seu rosto em chamas, ou o constrangimento total em sua voz, obrigou-se a sorrir, fingindo que nada acontecera.

– Vou preparar o chá da Nana… - informou, tentando manter-se sóbria - Com sorte a febre some antes do almoço.

Ela ergueu o punho cerrado num sinal de torcida pela melhora da mulher e, dando meia volta, pôs-se de volta à cabana, quase correndo. Parte dela queria que o Uchiha a segurasse pelo braço e terminasse o que começara. Desse-lhe o beijo logo de uma vez! Eles ficaram tão próximos, afinal. Sakura chegou a sentir os lábios de Sasuke tocando seus próprios, fazendo o coração da menina bater tão forte que, com certeza, dava para ouvi-lo há quilômetros de distância. Ele podia simplesmente agir por instinto, impulso, sabe-se lá o que, e puxá-la para um beijo, tomando a decisão pelos dois, tirando dela sua parte da responsabilidade.

Mas um outro lado da jovem, o racional, sóbrio, são, agradecia imensamente que ele não o fizera. Passara os últimos meses num controle sobre si quase enlouquecedor, afastando-se do Uchiha todo o tempo, não dando brechas a nenhum de seus antigos sentimentos por ele, convencendo-se, diariamente, que ele não a queria, que ele não a merecia, que ela não o queria… Que ela não poderia querê-lo. Ele a fizera de idiota por anos, tentara matá-la, agira como um babaca, um estúpido. Não a merecia. Obviamente, estava feliz que Sasuke voltara a vila. Percebia no garoto seu esforço em compensar o que fizera, em recuperar a confiança perdida. Naruto o perdoara totalmente, como se ele jamais tivesse feito coisa alguma. Kakashi o tratava como um irmão que fez besteira e voltou com o rabinho entre as pernas. Mas ela, mesmo diante do empenho do companheiro, simplesmente não podia esquecer. E se o fizesse, se o perdoasse por tudo, entregasse-se a um amor incondicional, a sua dedicação passada, o que pensariam dela? Mais que isso, o que ela pensaria dela mesma? Como ela se encararia no espelho se tivesse beijado Sasuke mesmo depois de tudo que ele fizera? E então, de repente, ela percebeu: quase beijara Sasuke!

Uma pontada de dor na mão, decorrente de uma gota de água quente, trouxe Sakura de volta à realidade e a fez levar um susto quando se pegou coando o chá já pronto num bule qualquer. Sequer lembrava-se de ter entrado na cozinha, quanto mais de ter esquentado a água, lavado as lasquinhas de salgueiro, colocado-as para ferver… Mas tudo isso tinha pouca importância diante do que acabara de notar: quase beijara Uchiha Sasuke! Mais que isso: quase fora beijada por ele! Ela olhou para trás de supetão e não viu ninguém além dela mesma no cômodo. Ele não a seguira. Um misto de alívio e decepção atingiu a jovem, mas foi rapidamente descartado. Havia coisas mais urgentes para se preocupar. Só não sabia ao certo em qual delas se concentrar primeiro…

– Sakura? - chamou uma voz vinda, só podia ser, na opinião de Sakura, do além - Sakura?

A menina olhou para cima, para baixo, para os lados, até encontrar, no trilho da porta de correr, seu sensei a encarando confuso. Ela o observou por um segundo e, quando esse indicou a chaleira que ela segurava, a jovem voltou-se à panela, constantando que coava o nada, já que o chá, antes presente ali, havia sido totalmente transferido para o bule. Levemente constrangida, Sakura colocou a chaleira de volta à pia, disfarçando a própria falta de atenção.

– Oi Kakashi-sensei… - começou ela, forçando um sorriso enquanto servia um pouco de chá em uma caneca qualquer encontrada na escorredeira - A Nana piorou?

– Ah… ela acordou, na verdade… - respondeu Kakashi, levemente mal humorado - Você está bem?

– Uhum - confirmou Sakura, segurando a caneca e, indo em direção ao quarto da mulher, acrescentou - Vou vê-la.

Sakura entrou no quarto de Nana segundos depois, sendo seguida por Kakashi. Ela caminhou em direção à mulher, que estava sentada com as costas enconstadas na parede, e, colocando a caneca com chá ao lado, começou a examiná-la. É nisso que você deve focar, Sakura!, pensou a garota enquanto media a febre de Nana. No seu trabalho! Na missão de levar Nana de volta à Konoha! Não no Sasuke! Não naquele cretino, idiota, ridículo, canalha…

– Eu achei que minha febre tinha passado - comentou Nana, encarando Sakura preocupada.

– Ãhn? - a garota levou um susto. Estava, novamente, longe dali. E, deveria ter deixado transparecer a raiva que sentia, porque Kakashi e Nana a encaravam como se estivessem se preparando para a pior notícia já dada. Entendendo a confusão, ela logo se apressou a falar - Ah, não, tá tudo certo. Sua febre baixou mesmo, Nana-san! Tome, beba isso!

A jovem entregou a caneca com chá para Nana e a observou tomar tudo num só gole. Foco!, pensou ela novamente quando recebeu a xícara vazia de volta e forçou um sorriso. Foco!

– Então, liberada? - perguntou Nana, sorrindo à garota. Sakura estranhou: não sabia que a kunoichi era capaz de sorrir.

– Ah… ainda não. Seria bom você ficar em repouso mais algumas horas… Até o almoço pelo menos. Sua febre baixou, mas não sumiu.

– E as compressas foram úteis, Sakura? - perguntou Kakashi, com um tom meio afetado. Sakura rapidamente percebeu o porquê: certamente Nana o pegara triscando nela e fizera drama. A menina riu e confirmou com um aceno que as compressas foram úteis. Não mentira, no fim das contas.

– Humph… - resmungou Nana.

– Bem, eu estarei lá fora se vocês…

– Sakura, você pode chamar o Naruto e o Sasuke aqui, por favor? Quero conversar com vocês… - pediu Kakashi, interrompendo Sakura de sua, agora, abortada tentativa de dar o fora. A jovem, novamente, confirmou com um aceno e levantou-se para obedecer.

Sabia que Naruto dormia na sala e, por isso, foi até ele primeiro. Planejava mandar o garoto chamar Sasuke em seu lugar, evitando, assim, um precoce encontro com o Uchiha. Por isso, ao encontrar o futon do companheiro vazio, teve vontade de quebrar a casa. Virou-se controlando a raiva, e caminhou em direção ao quintal, imaginando quando que Naruto saíra e aonde teria ido. Contudo, mal deixara a cozinha, viu na agora quase totalmente iluminada orla os cabelos amarelos do amigo refletirem os raios de Sol, que eram praticamente absorvidos pelo ônix dos cabelos de Sasuke, a sua frente. Pelo menos estavam juntos. Isso poupava trabalho.

– VOCÊS DOIS! - gritou a Sakura, chamando a atenção dos companheiros a metros de distância - O KAKASHI-SENSEI QUER FALAR COM A GENTE!

Os dois trocaram um olhar rápido antes de atenderam ao chamado. Sakura girou nos calcanhares e voltou para dentro da casa, a fim de evitar qualquer segundo a mais desnecessário com Sasuke. Além disso, não tinha certeza se conseguiria encarar o garoto. Agora que parara para pensar, constatou que ficara toda tímida e constrangida com o quase-beijo. Gostaria de ter tido outra atitude. Algo mais próximo do empurrar o Uchiha e jogar na cara dele algumas verdades.

A garota entrou no quarto de Nana e encontrou a kunoichi e Kakashi sentados exatamente do jeito que os deixara. Ela se curvou levemente e sentou-se a beira do futon, à frente do sensei. Esperou menos de meio minuto antes de Sasuke e Naruto chegarem e sentarem de modo que ela ficou entre os dois. Fitou o Uchiha de canto de olho, e ficou decepcionada ao perceber que a ignorava totalmente, mantendo os olhos fixos em Kakashi e Nana. Sakura balançou a cabeça discretamente, afastando o pensamento. Afinal, dane-se se Sasuke não ligava pra ela. Ela não ligava pra ele também.

– Tudo bem, Sakura-chan? - perguntou Naruto, sorrindo maliciosamente. Sakura acenou indicando que sim, mas não entendeu a pergunta. Contudo, não teve muito tempo para se dedicar a ela. Kakashi logo chamou a atenção para si.

– Vocês três são os ninjas que eu mais confio em Konoha, - começou o sensei, serio - por isso, acho justo compartilhar qualquer coisa que eu descubra com vocês primeiro.

Sakura preocupou-se. Sabia, obviamente, que algo errado estava acontecendo. Desde que Sasuke chegara com Nana no colo, Kakashi ficara estranhamente sério e pensativo. Algumas vezes, a jovem chegara a cogitar a hipótese do sensei estar recuperando antigos sentimentos por Nana, mas não dera muita atenção à própria teoria. Sentia que havia algo muito mais sério acontecendo.

– Alguém está preparando algo contra Konoha. Nana e eu achamos que pode ser um golpe de Estado…

Kakashi prosseguiu explicando cada detalhe do que ele achava estar acontecendo. Começou contando como a emboscada contra Nana o fizera pensar sobre uma possível conspiração, indicando que o fato de saberem da identidade da kunoichi era um evidência muito forte, que existiam muitos motivos para os conselheiros e a Raiz quererem Kakashi longe do poder e que a atual situação da vila era muito convidativa a um golpe. Sakura ouviu tudo calada e, ela não poderia negar, surpresa. Passara as últimas horas cuidando de Nana e não dedicara muito empenho a meditar sobre o que de fato poderia estar acontecendo. Claro, como discípula de Tsunade, tinha conhecimento sobre a real condição da vila. Sabia, por exemplo, que as fronteiras estavam praticamente abertas, e por isso a insegurança aumentara tanto. Mas não se preocupara com um ataque vindo de dentro de Konoha. Se concentrara nos que poderiam vir de fora.

– E o que nós faremos, Kakashi-sensei? Quero dizer, temos que começar avisando Tsunade-sama, claro… Mas como vamos descobrir o que está acontecendo realmente? - perguntou Sakura, nervosa, quando o ninja calou-se por um instante. Estranhamente, só ela o fez. Naruto e Sasuke permaneceram quietos, sem demonstrar surpresa alguma com as revelações, o que fez Sakura pensar que talvez tudo aquilo não fosse a eles tão novo quanto era para ela.

– Eu acabei de enviar Ihai a Konoha - começou Nana, levantando-se com certa dificuldade e alongando-se brevemente - Ela contará a Tsunade o que sabemos. Quanto ao que vocês farão, bem… Não é mais comigo, né?

Dito isso, Nana simplesmente passou reto por Sakura e pelos garotos e saiu do quarto, deixando o time sete a sós. A jovem a acompanhou com o olhar por um instante e a viu entrar no quarto da filha, cuja porta dava para o da própria Nana. Quando a mulher sumiu de vista, a Haruno voltou-se ao próprio time, que já começara a discutir o possível golpe.

– ...nós temos a vantagem de que eles não sabem que sabemos - argumentou Naruto, surpreendendo Sakura pela análise correta que fizera. Certamente, Naruto era forte. Mas inteligência não era, definitivamente, seu ponto de destaque.

– Mas não temos certeza do que sabemos, Naruto - contrapôs Sasuke, racional - Talvez, Nana simplesmente tenha deixado a identidade dela vazar de alguma forma…

– Ela não deixou, Sasuke - cortou Kakashi - Você sabe.

– E por que a Nana não vai voltar com a gente? - perguntou Naruto, agitado - Ela não é nossa missão, no fim das contas?

Kakashi suspirou e Sakura notou o cansaço atrás dos olhos do sensei. Quando ele voltou a falar, sua voz acabou por demonstrar ainda mais a exaustão do ninja:

– Bem, deixaremos a missão para trás, Naruto… Há coisas mais urgentes. Nana não é uma delas…

A resposta pareceu convencer Naruto, já que ele rapidamente voltou ao assunto do possível golpe. Sakura, por sua vez, nada falava. A cada segundo que passava, tinha mais e mais certeza de que todos já sabiam da conspiração e não dividiram com ela. Isso, associado ao cansaço por cuidar de Nana e ao recém acontecimento do quase-beijo com Sasuke a fez atingir seu limite. Sendo assim, só viu a garota duas opções: explodir com todos ali, ou levantar-se e deixá-los sozinhos, uma vez que não fazia muita diferença mesmo. Ela optou pela última.

– Sakura-chan? - espantou-se Naruto quando viu a companheira levantar-se de repente e caminhar em direção à porta - Onde tá indo?

– Arrumar as coisas pra voltarmos para Konoha - respondeu Sakura, seca - Se a Nana não vai voltar, suponho que partiremos hoje ainda, certo?

– Mas… - começou Naruto, confuso - Mas nós estamos discutindo algo sério aqui!

– Vocês discutiram até agora sem mim, tenho certeza de que podem continuar. Minha opinião não fará muita diferença, né?

E então Sakura saiu do quarto, levando consigo o sentimento mais constante que tinha fazendo parte do time sete: o de inutilidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, galera! Bem, lembram que eu disse que alguns capítulos têm que ser introdutórios, sem muitos acontecimentos, pra grudar as pontas da história? Então, aqui vai mais um deles. Espero que vocês gostem!!! Eu dei uma revisada rapida, mas posso ter deixado passar alguma coisa. Me avisem e eu corrijo!

Please, não deixem de comentar! Quero saber tudinho que vocês estão achando da fic, inclusive as críticas!!! E muito obrigada por continuarem acompanhando! Arigatou Gozaimasu!
Kissus, mina-san!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Golpe de Estado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.