Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 10
Ploc!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559745/chapter/10

Sasuke bateu à porta do quarto de Aiko, onde Sakura dormia, o mais delicadamente que pode. Era, de certa forma, uma sensação diferente para ele. Não estava acostumado sequer a bater à porta, quanto mais a fazê-lo com delicadeza. Entretanto, diante da sua total falta de disposição em aturar a birra que Aiko faria ao perceber que Kakashi a levara para “longe” da mãe, e da necessidade em acordar Sakura, não teve outra opção senão bater delicadamente. Opção essa que logo se mostrou inútil, uma vez que ninguém atendeu ao chamado.

O garoto abriu a porta devagar e agradeceu que essa estivesse azeitada. Entrou no quarto e se deparou com um cômodo quase que igual ao de Nana. Havia um futon no centro, uma escrivaninha encostada na parede da janela e um guarda-roupa em frente ao futon. Só. A diferença entre os aposentos de mãe e filha poderia ser resumida a duas coisas: os desenhos pregados pelo quarto de Aiko e o futon extra, esticado próximo à mesa de estudos, onde uma jovem de cabelos cor de rosa dormia profundamente.

Sasuke se aproximou de Sakura sem fazer barulho. Shori, aos pés de Aiko, acompanhou-o com o olhar, mas não parecia ameaçadora. A loba já se acostumara com a presença do Time 7 na casa. Pelo menos aparentava estar bem mais acostumada que a dona-mirim. O Uchiha se abaixou ao lado da Haruno e sentiu-se levemente frustrado. Ela era uma shinobi, afinal. Deveria ter percebido a presença dele e acordado! Entretanto, a frustração não durou muito. Fitando a menina dormir à sua frente, o garoto sentiu uma pontada no peito. Um solavanco no estômago. Não queria mais acordá-la. Ela estava exausta do tratamento que fizera em Nana no dia anterior. O próprio Sasuke a ajudara a se deitar horas atrás, quando a jovem mal conseguia manter-se em pé diante do gasto de chakra. E agora ela estava ali, tranquila, em um justo descanso. Definitivamente, não queria acordá-la. Queria sentar-se e ficar observando seu sono.

— O que houve, Sasuke-kun? - perguntou Sakura, ainda com os olhos cerrados, a voz sonolenta, nenhum movimento feito. Se perguntado, Sasuke teria que confessar que levara um susto. Uma vez que a menina não abrira os olhos, o Uchiha não percebera que ela estava acordada. Pensou, constrangido, por quanto tempo ela fingira estar dormindo. Ele a observara por pelo menos cinco minutos e não tinha desculpa alguma para dar caso fosse confrontado com isso.

— Ah… - começou Sasuke, recuperado do susto - A febre da Nana voltou a subir. Kakashi pediu pra você dá uma olhada…

Sakura suspirou. Sentou-se levemente mal humorada e espreguiçou-se. Sasuke continuou observando-a, o cabelo totalmente desgranhado, o rosto amassado, os olhos quase fechados. Ele teve vontade de rir da aparência da garota, mas se conteve. Manteve-se sério. Queria se entregar ao charme matinal da Haruno, fazer piada da cara de sono dela, amassá-la um pouco mais, ouvi-la chamá-lo de Sasuke-kun com o carinho investido antes. Mas ela não o faria. Nem ele. Por isso, conteve-se. Como sempre.

— A febre tá muito alta? - perguntou Sakura, levantando-se e sendo imitada por Sasuke.

— Humph… - confirmou Sasuke, seguindo a companheira e saindo do quarto de Aiko, felizmente, sem acordar a menina.

O Uchiha cruzou a porta e fechou-a atrás de si sem fazer barulho. Eles entraram no quarto de Nana e encontraram Kakashi sentado ao lado da mulher, exatamente do jeito que ficara quase toda a noite. A kunoichi, por sua vez, permanecia deitada, desacordada. E Sasuke, pela sabe-se lá qual vez, pegou-se pensando em como ela era perigosamente linda. Mesmo doente.

— Você deu a última dose da injeção a ela, Kakashi-sensei? - perguntou Sakura, momentos depois de entrar no cômodo, enquanto examinava a mulher.

— Ah… - começou Kakashi, com uma expressão culpada - Ela disse que não precisava…

— Ela acordou? - espantou-se Sakura, encarando o sensei com os olhos esbugalhados em espanto. Kakashi confirmou com um aceno e pôs-se a explicar que, durante uma conversa com Nana, a ninja desmaiara novamente. Sasuke notou que o ninja, convenientemente, não comentara o assunto da conversa, ou o fato deles a terem tido sob um frio cortante. Também não deixara muito espaço a perguntas, nem mesmo às médicas.

— Huum… - começou Sakura, que continuou examinando Nana em silêncio. Sasuke tentou desviar os olhos da médica, mas não pode. Sempre se impressionava com as habilidades “curandeiras” da companheira. Se no campo de batalha, a utilidade da menina estava ao combate corpo a corpo, no que tangia aos jutsus médicos ela era incrível. Depois de alguns minutos, a Haruno voltou a falar - A febre dela é a forma do corpo liberar a energia que ela absorveu. Por isso, não deveria aumentar… Ela deve ter passado por algum outro estresse. Eu não posso forçar a febre a baixar sem ela liberar a energia toda. Eu vou fazer um chá pra ela e enquanto isso, Kakashi-sensei, o senhor pode fazer umas compressas de água fria nos braços, ombros, tronco…

Sasuke viu Kakashi arregalar os olhos e compreendeu de imediato: Nana iria matá-lo se descobrisse que ele encostara o dedo dela. Desta vez, ele não pode evitar que um sorriso aparecesse em seus lábios. Sakura, por outro lado, não parecia ter notado coisa alguma. Levantou-se, abriu o guarda-roupa da mulher e pegou algumas toalhas, as quais rapidamente foram jogadas no colo do sensei. Então, com toda autoconfiança que a medicina lhe trazia, a menina girou nos calcanhares e saiu do quarto, sem falar um pio.

— Você vai testemunhar a meu favor quando a Nana perguntar com que direito eu trisquei nela… - ordenou Kakashi, num tom misturando riso e seriedade.

— Direi que você não conseguiu se conter - riu-se Sasuke, no segundo em que Sakura entrava no cômodo carregando uma bacia de água.

— Aqui - começou a menina pousando a bacia a frente de Kakashi - Só molhar a toalha, torcer, e colocar no corpo dela. Coloque nos braços, na testa, na barriga…

— Embaixo da blusa dela? - perguntou Kakashi, e Sasuke riu novamente.

— E por cima iria adiantar alguma coisa? - ironizou Sakura, perdendo a calma e fazendo Sasuke alargar o sorriso e balançar a cabeça de leve - Francamente, Kakashi-sensei, o senhor já foi mais esperto. Vou fazer o chá dela… Com licença.

Sakura, novamente, saiu do quarto e Sasuke a seguiu. Não havia nada que pudesse fazer ali, a não ser sofrer os efeitos colaterais da ira de Nana quando essa acordasse e visse Kakashi com a mão por baixo da blusa dela. Mesmo uma Sakura mal humorada parecia melhor opção a isso. Além do mais, o Uchiha se divertia com o mal humor da companheira. Havia muito charme na braveza dela, na opinião do garoto.

Os dois alcançaram a cozinha instantes após deixarem o quarto, no máximo de silêncio que conseguiam manter. Ninguém queria acordar Aiko. Sasuke viu a Haruno abrir o kit médico que sempre carregava consigo e tirar meia dúzia de vidrinhos de dentro. Ele queria perguntar o que eram, mas havia tão pouca abertura ao garoto por parte da jovem que o Uchiha preferiu guardar a frestinha que ainda tinha para algo mais importante. Como um pedido de desculpas, talvez…

Mal passara um minuto quando Sakura, simplesmente, desistiu de encontrar o que quer que estava procurando, calçou os sapatos guardados ao lado da porta da cozinha e saiu da casa indo em direção ao quintal, deixando para trás um Sasuke na completa ignorância. Há alguns meses atrás, o Uchiha teria ficado surpreso, e até levemente chateado, com a saída repentina da companheira, mas agora já se acostumara. Nas raras oportunidades que os dois ficavam sozinhos, Sakura sempre encontrava uma maneira de partir o mais rápido possível, numa clara estratégia de evitar o garoto. Estratégia que funcionava, Sasuke era obrigado a concordar. Por isso, quando, instantes depois dos cabelos cor-de-rosa da menina desaparecerem do campo de visão de Sasuke, ele viu a capa da garota pendurada em um gancho da parede da cozinha, seu coração bateu mais forte: se aquilo não era a chance perfeita de puxar papo com a Haruno, e ainda mostrar a ela que ele se preocupava com seu bem estar, o que seria?

Em segundos, o Uchiha pegou a capa, calçou os sapatos e correu para o quintal. Alguns raios de Sol já disputavam lugar com o breu invernal, iluminando parcialmente a orla da floresta, o que foi muito bem vindo, na opinião do garoto. Ele, obviamente, não teria dificuldades em encontrar Sakura mesmo no escuro, mas a visão dela sob o amanhecer era bem mais agradável. E lá estava ela. Na margem da floresta, à frente de uma árvore de aparência velha, com a kunai em mãos, raspando o tronco da planta. Visivelmente, tremia de frio.

— Tome - murmurou Sasuke, forçando o seu típico tom mal humorado na voz e jogando a capa sobre os ombros da garota quando a alcançou. Queria aproveitar a oportunidade para abraçá-la, esquentando-a um pouco mais. Mas não o fez. Simplesmente, colocou as mãos no bolso. Ele mesmo esquecera a própria capa e, diante do frio, começava a sentir as consequências.

— Ah! - exclamou Sakura, baixinho, quando o tecido caiu sobre seus ombros - Não precisava…

— Já disse. Se a ninja médica adoece, temos um problema - justificou Sasuke, torcendo para que ela visse a verdade além daquela desculpa.

— Huuum… Obrigada - agradeceu Sakura, sorrindo tímida para Sasuke. Os olhares dos dois se cruzaram por um segundo e o Uchiha sentiu, novamente, uma pontada no peito. Então, rapidamente, a garota voltou-se ao tronco da árvore e continuou a tirar lascas da madeira, guardando-a num saquinho.

— Pra que isso? - perguntou Sasuke, indincando com um aceno as lasquinhas.

— Pra Nana… Chá de salgueiro ajuda a baixar a febre…

— Huum… - murmurou Sasuke, em concordância. Sakura voltou a trabalhar em silêncio e o Uchiha permaneceu parado ao seu lado, observando-a. Queria puxar assunto, fazê-la falar um pouco mais. Antigamente, costumava achá-la irritante pois nunca se calava. Agora, achava irritante justamente porque se calava. Contudo, desta vez, felizmente, ela puxara a conversa.

— Você não quer aprender algumas técnicas médicas? - Sakura perguntou, sem encarar o Uchiha - Agora que a gente não faz mais todas as missões juntos, talvez você devesse saber algumas…

— Ah… pode ser… - concordou Sasuke, omitindo da garota que aprendera técnicas básicas com Orochimaru.

— Se bem que acho difícil alguém conseguir machucar você ou o Naruto a esse ponto…

— Acho que é mais difícil machucarem você do que eu ou o Naruto - contrapôs Sasuke, fitando a garota de canto de olho.

Sakura parou de arrancar lasquinhas da árvore e mirou o Uchiha. Ele conseguia perceber a confusão no olhar dela, mas não disse nada. Queria que ela perguntasse. Queria manter a conversa, quem sabe conseguiria uma brecha…

— Você e o Naruto estão em outro nível… - argumentou a menina, encarando Sasuke, confusa - É muito mais difícil ganharem de vocês do que de mim…

— Pra chegarem até você, é preciso antes passar por mim…

— Eu não preciso que você me defenda! - cortou Sakura, nervosa, apertando a kunai em suas mãos, como se quisesse sinalizar que era uma ninja, afinal.

— Eu sei… - confirmou Sasuke, sabendo que era verdade. Ela podia não ser mais forte que ele, ou que Naruto, mas, definitivamente, os três eram os novos Sannin. Ela era uma Sannin. E era capaz de defender-se - Eu não te protejo porque você é fraca. Protejo porque tenho uma dívida com você, Sakura.

Os dois permaneceram calados, encarando-se por um instante. Havia uma tensão entre eles. Também havia uma força entre eles. Algo magnético, atrativo, polos opostos. Ele não conseguia pensar em outra coisa senão em como queria aquela garota à sua frente.

De repende, Sakura deu um passo ao lado, encostando-se contra o tronco da árvore enquanto um ploc surdo atingia seus ouvidos. Os dois olharam para o chão, no ponto exato onde a garota estava um segundo antes, e viram um mancha branca. Eles voltaram a se olhar e riram, espontaneamente.

— Você podia começar me protegendo de cocô de passarinho, Sasuke-kun - riu-se Sakura, lembrando a garota de anos atrás. Leve, simples. Até o antigo carinho no Sasuke-kun de volta à voz.

Foi então que Sasuke reparou o quão próximos estavam um do outro. Ele podia sentir o cheiro de cereja do xampu dela. O calor da respiração dela. As batidas do coração dela. Ele previu que ela não o pararia. Talvez, depois, houvessem consequências. Mas não se preocuparia com isso agora. Não se conteria agora. Poderia não ter outra chance.

Sasuke aproximou-se ainda mais da menina, o coração querendo escapar do peito. Inclinou a cabeça, a respiração dela agora esquentando os lábios dele. Colocou a mão na cintura da garota e sentiu-a tremer de leve. Os narizes se tocaram, ela fechou os olhos, ele fechou os próprios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, galera! Desculpem a demora em postar! Muito obrigada por acompanharem a fic! Espero mesmo que estejam gostando e se divertindo! Por favor, comentem! É um grande incentivo saber o que vocês estão achando! Valeu mesmo, mina-san! Kissus!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Golpe de Estado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.