Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 1
A última missão de um jounin




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A manhã de céu limpo e sol dominante rompeu o inverno sem convites ou expectativa de chegada. De fato, sua aparição repentina pegou os habitantes da vila tão de surpresa que muitos andavam pelas ruas carregando nos braços os pesados casacos, agora dispensáveis diante da temperatura amena, e não congelante como nos dias anteriores. Nada de ventanias, chuva, granizo. O tempo resolveu presentear Konoha com uma folga do inverno. Presente muito bem aceito por todos, obrigado.

Contudo, a calmaria climática daquele dia se opunha em todos os aspectos ao real estado da vila. A guerra que acabara há poucos meses deixara rachaduras profundas em setores chaves das nações ninjas, e a Vila da Folha não estava imune aos problemas de seu país. As perdas, tanto humanas, quanto materiais, provocaram uma forte crise econômica no mundo shinobi, agravada pelo inverno rigoroso que se apresentava. Saqueadores e mercenários tentavam se aproveitar do caos presente para pilhar as vilas e assaltar os viajantes, aumentando a insegurança nas fronteiras e forçando as forças militares das vilas ocultas a recusarem cada vez mais missões a fim de evitar invasões, conduta que expunha suas fracas condições atuais e agravava ainda mais a crise econômica. O cenário era tão preocupante que mesmo as urgentes reuniões entre os Kages, necessárias para firmar os acordos de paz tão desejados no pós-guerra, foram adiadas indeterminadamente, diante do posicionamento dos chefes de Estado de não deixarem a própria vila em meio à crise. Ninjas aposentados foram reconvocados, gennins eram mandado a em duplas para missões tipo C e jounins saíam sozinhos à caça de ninjas rank S. Os pagamentos pelas missões foram reduzidos e, mesmo diante de uma tocante compreensão dos habitantes perante à situação, focos isolados de insatisfação surgiam lentamente. Mas, em meio ao caos, um ninja sentia-se levemente aliviado: Hatake Kakashi.

Kakashi enfrentava seu próprio momento de crise interior. Por um lado, sofria duramente com a situação preocupante pela qual a vila passava. Empenhava-se de forma quase obsessiva em suas missões, não tirava folga e aceitara sem um pingo de revolta a diminuição de sua remuneração. Faria o que fosse necessário pela recuperação de Konoha. Contudo, internamente, agradecia pela crise. Sabia que era o nome sobre a mesa para ocupar o cargo de Hokage, e que Tsunade não possuía pelo título um amor inabalável. Bastaria aparecer a oportunidade ideal que a Godaime não pensaria duas vezes antes de passar a bola adiante. E tal chance surgiria assim que a situação de Konoha se estabilizasse. Se lhe convocassem, tinha a consciência de que não poderia fugir. Mas enquanto o chamado era adiado, agradecia aliviado, tentando ignorar as pontadas de culpa que o cutucavam diariamente.

A verdade, contudo, era que ignorar ser ele o próximo Hokage se mostrou uma tarefa relativamente tranquila para Kakashi. De fato, diante bagunça que se tornou seu time, qualquer preocupação que pudesse ocupar sua mente era rapidamente jogada para escanteio. A volta de Sasuke para Konoha, a reestabelecida, e aumentada, rivalidade desse com Naruto, os sentimentos mal resolvidos de Sakura, o conflito de egos, as mágoas, os ressentimentos, potencializados pela situação crítica da vila e pelo orgulho do Uchiha, estavam sugando as energias de Kakashi que, como sensei, via-se na obrigação de unir novamente o Time Sete. Constantemente, um dos membros do time o procurava para se queixar ou se desculpar por alguma atitude. Naruto era o que mais se queixava. Sakura a que mais se desculpava. Sasuke o procurava apenas pelo silêncio.

Foi em meio a tal carrossel de obrigações que Kakashi foi chamado à sala da Hokage àquela manhã. Os corredores do prédio estavam movimentados a ponto de quase engarrafarem, como estiveram durante as semanas que sucederam a guerra. Ninjas de todas as idades, funções e qualificações, médicos, gestores, membros do conselho do País do Fogo, homens do Senhor Feudal, mensageiros de outras aldeias, representantes dos grupos sindicais da vila, além de civis comuns, todos circulavam o dia inteiro pelo prédio, enlouquecendo Shizune, que tentava desesperadamente manter Tsunade concentrada nos projetos para reestruturação da vila e nas missões ninjas. Nos primeiros dias, Kakashi estranhou a alta movimentação nos corredores, mas meses depois acostumara-se com aquilo. Só torcia intimamente para que, quando assumisse como Hokage, se de fato assumisse um dia, os corredores estivessem um pouco menos lotados.

Ele subiu as escadas, tentando desviar-se de um grupo de comerciantes que insistiam em falar com a Hokage sobre o aumento do seguro das cargas vindas de outros países, e andou lentamente, quase fundido à parede, por todo o hall que precedia a sala da Godaime, a fim de não interromper uma grande discussão entre as dezenas de representantes do senhor feudal e Shizune, a qual tinha o rosto rubro e os olhos esbugalhados, expressão totalmente condizente com as palavras que gritava:

— ...JÁ DEIXEI BEM CLARO! QUAL PARTE DO “ELA NÃO VAI ATENDER VOCÊS AGORA” VOCÊS NÃO ENTENDERAM!? ELA TOTALMENTE OCUPADA! NÃO TEM TEMPO PRA VOCÊS AGORA!

— O que pode ser mais importante do que o senhor feudal? – rebateu um dos representantes, claramente irritado com a pouca importância dada a seu chefe. Shizune arregalou ainda mais os olhos e Kakashi, sentindo que ela iria atacar o homem, entrou rapidamente na sala de Tsunade para não ter que intervir na situação.

— Ah, Kakashi, - começou Tsunade, apoiando o cotovelo na mesa enquanto pousava o rosto sobre a mão. Kakashi caminhou em direção à mulher, prevendo encrenca. Achava que a encontraria sozinha, como das outras vezes, receberia sua missão e partiria em combate. Entretanto, à frente da Hokage, Sakura, Sasuke e Naruto enfileiravam-se em aguardo, com expressões emburradas as quais Kakashi rapidamente associou a uma nova e recente briga – Que bom que desta vez você não se atrasou. Qual o problema desses três?

— Eles brigaram de novo, Tsunade-sama? – perguntou o sensei, sabendo a resposta.

— Desde que chegaram aqui! – reclamou Tsunade, jogando suas costas contra o encosto da cadeira – Não calam a boca!

— A culpa é do Sasuke! – gritou Naruto, apontando para o Uchiha. Kakashi girou os olhos sabendo exatamente para onde a discussão caminharia – Ele acha que é o dono do mundo!

— Você que é um idiota, seu palhaço! – cuspiu Sasuke de volta, indo pra cima do companheiro. Naruto já se preparava para a briga quando Sakura interveio, colocando-se entre ambos.

— Chega! Vocês dois! – gritou a menina, abrindo os braços entre os garotos, mantendo-os distantes – É impossível aguentar vocês dois! Sério!

— A culpa é dele, Sakura-chan... – começou Naruto, sendo rapidamente interrompido pela kunoichi.

— Cala a boca, Naruto! E você também, Sasuke-kun! – acrescentou Sakura, quando Sasuke fez menção de responder – Caraca, fiquem quietos um minuto! Putz....

— Quem você pensa que é pra me mandar calar a boca, Sakura? – rebateu Sasuke, agora voltando-se à kunoichi.

— Quem você pensa que é, seu babaca? – rebateu Sakura, furiosa – Eu tenho uma ideia, Uchiha: por que você não pega todo esse seu orgulho e enfia...

Mas onde exatamente Sasuke deveria colocar o próprio orgulho, Sakura nunca chegou a dizer. Irritada com o comportamento imaturo dos três, Tsunade bateu na mesa com força, fazendo-os girar nos calcanhares e voltarem à posição de sentido. Por um minuto, a veia pulsante na testa da Hokage fez Kakashi pensar seriamente que ela os mataria no grito, mas a ninja simplesmente respirou fundo e remexeu-se na cadeira, procurando uma posição mais confortável.

— Dê um jeito nesses três, Kakashi, - começou a Godaime, ainda tentando controlar a própria impaciência – Se você não consegue controlar três adolescentes mimados, imagina a vila? Seremos destruídos no seu mandato.

— Desculpe, Godaime – pediu Kakashi, curvando-se discretamente enquanto mirava o time pelo canto do olho. Era tudo mais fácil quando podia simplesmente amarrá-los a uma árvore e ali deixá-los, até que se entendessem. Agora, com os três mais fortes que ele, não fazia ideia de como iria colocá-los na linha de novo.

— Vocês vão sair em uma missão juntos, - começou Tsunade e, quando percebeu sinais de protesto nas expressões dos quatro, acrescentou – Sim, vão sim, e não quero saber de reclamação! A vila precisa dos melhores shinobis fazendo o que for necessário para tirá-la do buraco.

— Mas nós quatro ao mesmo tempo? – perguntou Kakashi. Eles haviam passado os últimos meses saindo em missões sozinhos para aumentar a quantidade de ações realizadas. Apenas em uma ocasião, Naruto e Sasuke fizeram dupla a fim de prender um grupo de ninjas mercenários que ameaçavam o transporte de alimentos entre as vilas. – Que tipo de missão, atualmente, pede quatro shinobis juntos?

— Não importa qual é a missão, - começou Sasuke, arrogantemente – eu faço sozinho. Não preciso de plateia...

— Hum... Você não vai durar dois minutos se for sozinho, Sasuke – desdenhou Tsunade que, jogando um pergaminho a Kakashi, continuou – Konoha tem diversos aliados espalhados pela fronteira do País do Fogo que não são, necessariamente, ninjas da vila. Um desses aliados é responsável sozinho por toda a fronteira norte.

— Sozinho? – repetiu Sakura, incrédula – Toda a fronteira norte?

Kakashi compartilhou o espanto da aluna. Ao norte, Konoha dividia fronteira com quatro países. Além disso, a entrada de viajantes vindos dos países do Trovão e da Terra se dava por ali. Era impossível que uma só pessoa cuidasse de toda aquela extensão territorial.

— Sim, Sakura. – confirmou Tsunade, séria – Toda a fronteira. Obviamente, nosso aliado não é responsável por aspectos triviais, como comércio ou imigração. Sua responsabilidade é concentrada nos espiões que entram no País do Fogo a fim de roubar informações. Vocês ficarão aliviados em saber que, pelo norte, quase nenhum deles consegue escapar.

— E qual a nossa missão? – perguntou Kakashi, ainda espantado. Certamente, pensou, uma de suas primeiras ações como Hokage seria dividir a fronteira norte em zonas e aumentar a patrulha ninja ali.

— Vocês deverão encontrar nosso aliado ao norte e trazê-lo até aqui – ordenou a Hokage.

— Se é um aliado, - começou Naruto, confuso – por que temos que ir os quatro? Ele vai vir tranquilo, não?

— Nem todos os nossos aliados gostam de nós – respondeu Tsunade, séria – Temos um acordo com este especificamente. Mas, garanto, vocês não serão bem recebidos.

Kakashi viu o trio ao seu lado se entreolhar. Sabia que os três pensavam em que tipo de coação teria sido usada contra um shinobi para obrigá-lo a cooperar mesmo não gostando da vila. Ele olhou para Tsunade em busca de uma permissão silenciosa para abrir o pergaminho e, uma vez esta dada, esticou o rolo, lendo-o. Ali constava um mapa indicando a possível localização da casa do aliado, além de pontos a serem evitados. Mais abaixo, um pequeno perfil do shinobi era apresentado. A primeira informação da ficha fez o estômago de Kakashi revirar: o nome do ninja.

— Tsunade-sama... – começou Kakashi, vagarosamente, ao ler o perfil dado, mas foi interrompido por Sakura.

— Tsunade-sama, pra que trazer esse ninja pra cá agora? Fazê-lo abandonar o posto não é perigoso para a vila?

— A não ser que os outros descubram que a fronteira norte está vazia, não há motivos para se preocupar – respondeu Tsunade com um leve sorriso – A fama do nosso aliado mantém todos afastados. Aliás, aqui vai um conselho a vocês: tentem não lutar. Mesmo vocês quatro juntos teriam muita dificuldade em sairem vitoriosos. Além disso, eu quero que vocês me tragam essa pessoa viva! E, de preferência, consciente.

— Tsunade-sama, - chamou Kakashi, o estômago ainda revirado e o coração acelerado com o impacto da informação a respeito de quem deveriam enfrentar – Não acho que eu seja a melhor opção para enfrentar...

— Kakashi, – interrompeu a Hokage – seu time é o único na vila que tem alguma chance de realizar esta missão! E é vital que vocês realizem, entendido? A vila precisa de seus aliados...

— Nós seremos atacados antes de nos apresentarmos! – argumentou Kakashi, aproximando-se da mesa – Se os três forem sozinhos, terão alguma chance de conversar. Comigo no time, a visão que passaremos é de hostilidade e...

— Os três sozinhos serão mandados de volta com o rabinho entre as pernas... – contrapôs Tsunade, arrancando gritos indignados de Naruto e muxoxos de Sasuke – Vocês foram companheiros na ANBU. Hora de ver se isso serviu pra alguma coisa...

— Tsunade-sama! Os três serão mortos só pelo fato de estarem no meu time!

— Chega, Kakashi! – gritou Tsunade, levantando-se – Você irá e ponto! Eu ainda sou a Hokage e você ainda faz o que eu mando! E dê algum mérito aos seus subordinados. Eles acabaram com a porcaria da guerra, não acabaram? - gritou a Hokage, impaciente e, agitando a mão em direção à porta, acrescentou – E saiam logo daqui! Não posso perder uma hora cada vez que for dar uma missão a alguém.

O time saiu rapidamente da sala, enquanto Tsunade sentava e massageava a têmpora. Quando chegaram ao hall, Kakashi se deparou com os mesmos representantes do senhor feudal gritando com Shizune, ao passo que essa gritava de volta totalmente descontrolada. Os quatro seguiram para fora do prédio com dificuldade de circular pelos corredores similar à que Kakashi havia enfrentado minutos antes. De fato, foi um alívio descer as escadas que davam para fora do edfício e desfrutar de uma caminhada sem pisões nos próprios pés.

— Kakashi-sensei, - começou Naruto quando já estavam a uma centena de metros da sede do governo de Konoha – qual o problema com esse ninja que iremos enfrentar?

— É, Kakashi, por que tanto medo dele? – provocou Sasuke, com um leve sorriso.

Kakashi respirou fundo antes de responder. Os três não precisavam conhecer a história inteira. Era desimportante. Bastavam saber que havia um certo ódio mútuo entre ele e o alvo.

— Não é medo, Sasuke – disse Kakashi, impaciente – Preferia ir sozinho.

— Acha que nós atrapalharemos? – ironizou Sasuke.

— Acho que vocês podem ser mortos de graça... – respondeu Kakashi, secamente – Olhem, eu fui companheiro do nosso alvo na ANBU. Descobri um plano contra a vila e denunciei ao Hokage. A consequência disso foi sua expulsão de Konoha. Esse aliado da vila me vê como traidor. Eu o vejo da mesma forma. Uma vez que vocês estejam ao meu lado, serão atacados como extensão de mim.

— Se nós formos atacados, - começou Naruto, energicamente – atacaremos de volta! Não tem ninguém que consiga ganhar de nós três juntos! Certo Sasuke? Sakura-chan?

— Hum... – concordou Sasuke.

— Sim! Não precisa se preocupar conosco, Kakashi-sensei – afirmou Sakura.

— Vocês precisam trabalhar na bipolaridade da relação de vocês... – aconselhou Kakashi, rindo meio a contragosto da união repentina do trio.

Bipo... o quê? – perguntou Naruto.



Kakashi combinara de encontrar seu time naquela madrugada. Viajariam por toda a noite e chegariam à fronteira norte pela manhã. Se não poderiam ter vantagem em um território mais conhecido pelo inimigo, pelo menos não teriam a desvantagem de lutar no escuro. Porque sim, Kakashi sabia que iriam lutar. E provavelmente iriam arrastar o alvo até Konoha. E, uma vez que entregassem à Tsunade, lavaria as mãos. Isso, claro, se ganhassem. E aí jazia o grande problema: ganhar.

Mais da metade de sua vida Kakashi passara lutando. Vira jutsus de todo tipo, copiara boa parte deles, mas nunca se deparou com algo como o que iria, novamente, enfrentar. Tentara explicar a seu time a natureza do perigo que iriam encontrar, mas somente Sakura pareceu interessada em ouvi-lo. Naruto e Sasuke simplesmente se assumiram invencíveis juntos. Os únicos adversários que eles reconheciam eram um ao outro.

— Nah, Kakashi-sensei, por mais forte que seja esse ninja, somos quatro contra um. – argumentou Naruto alegremente – Não tem como nos derrotar...

— Naruto, ouça, é uma Kekkei Genkai... Eu nunca vi alguém... – começou Kakashi, mais foi cortado por Sasuke.

— Não é possível que essa pessoa consiga controlar energia tão livremente assim, Kakashi. Nós atacaremos por todos os lados... Não há como evitar nós todos ao mesmo tempo.

— Sasuke, eu já vi grupos de cinquenta ninjas serem derrotados com um só golpe desse jutsu. Acredite, é bem mais complicado.

— Não eram ninjas como o Sasuke e eu, Kakashi-sensei! – exclamou Naruto – Pode deixar, a gente dá conta do recado.

— Hum... – concordou Sasuke.

Depois daquilo, Kakashi desistiu. Resolvera confiar nos alunos. Se alguém poderia derrotar aquele jutsu, certamente seriam Naruto e Sasuke. Restava torcer para que, na hora H, ambos resolvessem trabalhar em equipe.

Kakashi encontrou seu time pouco depois da meia noite, na saída de Konoha. Estavam todos sob suas capas de chuva, tentando disfarçar o frio que sentiam. Sakura, em especial, falhava miseravelmente em sua tentativa de não tremer. Seus dentes batiam e ela mantinha-se quase imóvel entre Sasuke e Naruto que, pelo menos, pensou Kakashi, não pareciam muito dispostos a brigar.

— Você tá atrasado, Kakashi-sensei! – gritou Naruto, apontando o dedo ao rosto de Kakashi.

— Nah, estou quase na hora... – rebateu Kakashi, sem muita vontade de inventar uma história – Vocês estão prontos? Você bem, Sakura?

— Ah... Sim, estou bem! – apressou-se em garantir a ninja, quando Naruto e Sasuke a fitaram curiosos – Estou pronta, também.

— Tome... – disse Sasuke, despindo o próprio cachecol e entregando a menina, sem fita-la diretamente – Use isso antes que você adoeça.

— Ah... Sasuke-kun... Eu já estou usando um, obri...

— Use dois. Obviamente um não está sendo suficiente - cortou Sasuke – Se a ninja médica adoece, temos um problema, não?

Sakura corou ao receber o cachecol e o colocou sobre o seu próprio. Kakashi observou os dois por um instante e sentiu vontade de rir. Desde que Sasuke voltara, o “casal” se portava daquela maneira. Ora agiam como antigamente, com Sakura preocupada com o Uchiha, ora agiam como inimigos, com um gritando ofensas ao outro. E, ocasionalmente, Sasuke procurava a garota, constrangido, tentando cuidar dela. Esses eram os momentos mais engraçados.

— Não vai oferecer o seu à Sakura também, Naruto? – provocou Kakashi, rindo por baixo da máscara.

— Nah, não sou fura olho, Kakashi-sensei – respondeu Naruto, entrando na provocação e desviando por pouco de um soco de Sakura, agora ainda mais corada – A gente vai ou não?

— Vamos – convocou Kakashi, iniciando a viagem.

A vantagem de se viajar a noite era que o sono do trio propiciava a Kakashi algum silêncio. Eles correram por horas durante as quais os únicos sons ouvidos foram os vindos da floresta. O sol já despontava fracamente ao horizonte quando Naruto quebrou o silêncio:

— Ah... Será que a gente não pode parar um minuto pra comer?

— Já estamos muito perto do destino, Naruto... – respondeu Kakashi – Não acho que seja prudente pararmos. Coma algo enquanto corre.

E continuaram correndo. Por mais algumas horas, seguindo o curso do rio, como mostrado no mapa. Estranhamente, não encontraram ninguém, mesmo depois do amanhecer. Provavelmente, a fama de quem cuidava daquele lado da fronteira realmente se espalhara.

O sol já estava alto quando Kakashi avistou a cachoeira indicada no pergaminho. Fez sinal para o trio parar e se posicionar, o que foi imediatamente obedecido. Pelo menos eles ainda o obedeciam durante as missões, pensou o sensei agradecido. Ele indicou que continuassem discretamente até próximo a queda da cachoeira e parassem. Ali, logo à frente, havia uma casa simples de madeira sobre colunas, também de madeira, com meia dúzia de palmos de altura. Ao lado da construção podia-se ver uma pequena horta, assim como um jardim agora sem graça por causa do inverno. Alguns metros adiante da casa, onde o rio continuava seu curso após a queda, uma mulher de cabelos ruivos presos numa trança e capa de chuva preta trabalhava imperturbável, de rosto baixo, limpando um par de peixes recém pescados. Kakashi a fitou friamente e apontou-a a seus discípulos, que a encararam levemente espantados.

— É ela nosso alvo? – perguntou Sasuke, sem tirar os olhos da mulher.

— Uhum – confirmou Kakashi – Hikari Nana.

— Mas... mas... – começou Naruto, também – Ela não parece perigosa.

— Ela é – confirmou Kakashi com veemência – Acreditem.

— O que faremos? – perguntou Sakura.

— Vamos nos apresentar – informou Kakashi, consciente de que poderia estar tranquilamente se apresentando para a morte – E fiquem atentos! E se vocês perceberem que vamos perder, fujam. Ela não sairá daqui. Entendidos?

Os três confirmaram a contragosto e aguardaram pelo sinal para descerem das árvores em direção à kunoichi. Kakashi esperou alguns segundos e liderou-os até a margem do rio oposta à que Nana se encontrava. Antes mesmo de tocar o chão, a sensação de que não deveriam estar ali atingiu seu auge, assim como a certeza de que morreria naquela batalha.

— Achei que nunca se revelaria, Kakashi.


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Notas finais do capítulo

Olá galera!Bem, o capítulo ficou um pouco grande (muito grande, eu sei), mas é a empolgação do início!Por favor, leiam e comentem! Eu revisei rapidamente, mas posso ter deixado passar alguns erros (ou muitos!). Só indicar que eu arrumo.Espero que gostem!



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