Challenges of The Love escrita por Liz Rider, Kiera Collins


Capítulo 53
No ritmo da música


Notas iniciais do capítulo

Oi, docinhos do meu coração ♥ Não me matem ♥
Eu estive muito ocupada esse mês, com coisas do colégio, por isso eu não dei sinal de vida. MAS EU ESTOU VIVA AEEEEEEE e trouxe um capítulo MUITO ESPECIAL E GRANDÃO. Ele está pronto desde, sei lá, mês retrasado (?), e eu estou muuuuuito animada com ele, porque ele é muito importante para o andamento da história. Não é um p.o.v da Merida, é um p.o.v do meu amorzinho, Bruno (!!!!!!!!). Eu estava tão ansiosa pra postar, mas não tinha tempo, ou esquecia, porém o que importa é que ele está aqui agora, né? Né?
Então, enjoy!

P.S.: esse capítulo está cheeeeeeio de links. Clique em todos. Vocês terão algumas surpresas.
P.P.S.: spoiler: são músicas para ouvir e desenhos dos personagens, feitos por mim :v Vejam.
P.P.P.S: desculpa, não sei manter o suspense.



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Bruno

Eu e Gustavo fomos juntos ao centro da cidade, procurar fantasias. Ele tinha pedido a minha ajuda, já que os pais estavam ocupados demais para ir com ele, Gustavo disse, com um olhar distante e triste. Contei isso para minha mãe, quando já estava saindo de casa, e ela automaticamente se ofereceu para ir conosco. Talvez porque ela queria ter certeza que eu não ia escolher uma fantasia horrível.

— Não confia no meu bom gosto? - Perguntei, fazendo uma expressão exagerada de mágoa.

— Não. - Ela diz e pega as chaves do carro. - Sorte sua que eu estou livre do consultório hoje. Vou só vestir outra roupa e prender o cabelo, é rápido.

Sentei no sofá e olhei a hora no celular. Gustavo e eu íamos nos encontrar numa sorveteria perto do metrô. Resolvi mandar uma mensagem para ele.

consegui uma carona.

Dois segundos depois, a tela acende. É sempre bom economizar dinheiro né. Quem é a carona?

A mulher que me trouxe ao mundo

Ata., ele terminou a conversa. Porque não respondi o "Ata.", porque ele não merecia resposta. Não gosto de "Ata." e já avisei Gustavo sobre isso, mas ele insiste.

Minha mãe vestia uma calça jeans e uma blusa rendada azul, bem parecida comigo, exceto pelo cabelo preso com um coque alto, as rendas na blusa e a falta de óculos escuros. Como prometido, ela ficou pronta bem rápido. Chegamos mais rápido ainda à sorveteria. Deixamos o carro no estacionamento apertado e entramos.

Encontrei Gustavo sentado numa mesa num canto, tomando um milk-shake enquanto olhava o celular a cada cinco segundos. - Você não para de comer? - Falei e ele deu um pequeno pulo.

— Que susto. - Ele levantou o olhar. Seus olhos se revezavam entre mim e a minha mãe. Por fim, ele franziu o cenho. - Ok, por que você não me disse que tinha uma irmã? - E dirigiu seu sorriso mais charmoso para a mulher ao meu lado. Que?

— Ela é a minha mãe. - Arregalei os olhos. Ele estava cantando ela? Safado.

— Eu sei, eu estou brincando. - Ele sorriu e dou um tapa no ombro dele. - Quer dizer, não que a senhora não seja bonita, a Sra. é muito bonita, porque tipo, você igualzinha ao seu filho. Q-quer dizer, a senhora é igualzinha... - Ele parou de falar subitamente e suas bochechas ficaram vermelhinhas.

— Eu entendi o que você quis dizer. - Ela levantou as mãos, fazendo sinal para Gustavo parar de falar. E, talvez, rindo internamente da confusão dele, assim como eu, porém não escondi minha risada. Por acaso ele disse que sou bonito? - E, por favor, não me chame de senhora.

Ele assentiu com a cabeça e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Minha mãe olhou para ele e deu um sorriso... estranho. - Então, você é o famoso Gustavo.

Dirigi meu o olhar mais mortífero na direção dela. Antes que eu pudesse impedir, ela colocou as chaves do carro na mesa, puxou uma cadeira e se sentou, na frente de Gustavo. - Bruno fala muito de você. - Ela juntou as mãos e piscou para mim. Arregalei os olhos. Eu. Não. Acredito. Nisso.

— Vamos, vai ficar tarde. - Peguei as chaves e saí correndo. Ela correu atrás de mim, como uma criança.

Mas seu sorriso sumiu quando eu abri o carro e coloquei a chave na ignição. Girei a chave. - Bruno! - Ela gritou. Fiquei assustado, ela (quase) nunca grita comigo. Sinal que eu fui longe demais.

Desligo o carro e ela abre a porta. - Quem te deu permissão para fazer isso?

— Ninguém, mas...

Quem te deu permissão? - Ela repetiu, firme. Vi Gustavo pelo canto do olho, longe. Ótimo, ele vai me ver levando uma bronca. Ótimo.

— Ninguém.

— Então saia. E nunca mais dê esse chilique de novo. - Ela abriu mais a porta. Saí de cabeça baixa e sentei no banco de traz, em silêncio. Gustavo entrou devagarzinho e sentou ao lado da outra porta, deixando um espaço entre nós.

— Se você quiser, a gente vai outra hora. - Ele sussurrou.

— O baile é no próximo sábado. - Olhei para ele. Dava para perceber que o filho da puta estava segurando o riso.

— Eu sei, só queria ser gentil. - Ele riu baixinho.

— Para, imbecil. - Falei, já rindo também.

— Lynn, ele é sempre rebelde assim? - Ele colocou a cabeça entre os dois bancos. Enlouqueceu. E "Lynn"? Quanta intimidade envolvida. Procurei pelas minhas memórias quando eu tinha dito o nome dela para ele, não encontrei.

— Não. - Minha mãe virou a cabeça e me olhou de um jeito estranho. Meio irritado, mas ela sorria. - Mas hoje ele está animadinho demais. Revirei os olhos.

— Para de me fazer passar vergonha. - Falei entre os dentes.

— Você já passa vergonha sozinho. - Ela deu uma risada. Gustavo riu também e foi para o banco do meio, preenchendo o espaço.

— De nada. - Ele sussurrou de novo e levantou uma sobrancelha.

— Pelo quê? - Perguntei, só para irritá-lo.

— Por melhorar o clima.

Apoiei meu braço na porta e abri a janela. Tirei os óculos e coloquei no rosto, Gustavo riu. - Você parece tão metido assim. - Ele balançou a cabeça. O vento frio fazia meu cabelo balançar em todas as direções e Gustavo estava se divertindo com isso. Mal sabia que o dele também estava todo bagunçado.

Chegamos na loja, que era muito maior do que eu me lembrava. Gustavo roubou meus óculos e entrou na loja com eles, enquanto eu parei em frente a um espelho para me ajeitar. O encontrei perdido no meio das fileiras, tomei o que era meu e passei a mão no cabelo dele, que estava dividido todo errado e arrepiado, por causa do vento. Minha mãe se sentou próxima a entrada da loja e pegou uma revista com dicas de fantasias para ler, nós fomos procurar roupas do nosso tamanho. Era uma loja tão grande e várias opções, porém, tudo parecia iguail demais ao que os outros estariam vestindo. Super-heróis, piratas, cavaleiros, personagens de desenho infantil.

— Eu não quero me vestir de Batman. - Falei, um pouco desanimado.

— Eu gosto do Batman. - Gustavo saiu do meio das fileiras, segurando um pacote de plástico com uma fantasia. Ele abriu um largo sorriso. - É do Spock! - Ele levantou a mão. Apontei a direção do provador e ele foi correndo.

Alguns segundos depois, ele abriu a cortina, colocando uma orelha de borracha falsa. - Ainda preciso de uma peruca e sobrancelhas.

Eu poderia apostar minha vida que, mesmo com essa fantasia ridícula completa, ele ainda ficaria bonito. - Gostou? - Ele pergunta.

— Não. – Entortei o lábio, levantando as mãos em sinal de paz. O sorriso dele some. É como se eu estivesse jogando dardos nos balões em forma de coração que flutuavam na sua mente.

— Por quê?! - Ele pergunta.

— É muito simples. Só uma blusa de manga longa com um desenho de uma navezinha e essas orelhas. E eu não consigo pensar numa fantasia pra mim que combine com essa.

— Verdade. - Ele começou a tirar a camisa ali mesmo, fora do provador. Relutante, desviei o olhar. - Tchau. - Gustavo disse, fazendo carinho na camisa de manga longa de Star Trek. Depois se despediu das orelhas falsas, por último, disse adeus para a calça, que ainda vestia. Quando ele voltou para o provador, me permiti o prazer de olhar para as costas nuas de Gustavo. E, uau, "costas nuas" soa muito sexual. Não é tão sexual assim, prometo.

Fui até a minha mãe, que continuava a ler tranquilamente sua revista.

— Não encontrei nada legal o suficiente. - Suspirei.

— Você é muito exigente. - Ela me respondeu, sem tirar os olhos das páginas.

— Talvez. – Dei de ombros.

Ela fechou a revista e olhou ao redor. - Onde está seu "amigo"? - Minha mãe fez as aspas com a mão. Ela fez aspas. Aspas.

— Mãe! - Foi minha vez de olhar ao redor, preocupado. - Não faça isso. E se ele visse?

— Mas vocês são realmente só amigos? Eu pensei... - Ela franziu o cenho. Também fiz uma cara confusa.

— Eu disse que a gente namorava? - Cobri a mão com a boca. Eu fiz isso? Por que eu fiz isso? Por acaso eu enlouqueci?

— Não. Mas eu pensei que sim.

Minha expressão foi se transformando num sorriso.- Parecemos namorados? - Coloco as mãos na bochecha. Ai, essa foi a melhor coisa que eu ouvi hoje. Mas com certeza não seria para Gustavo. - Mas não somos. Ele é só muito fofo e eu sou muito trouxa. Melhor você não falar assim, vai que ele não gosta, sei lá.

— Não acho que ele vá se ofender. Ele é um menino muito bom. - Ela abriu a revista de novo e eu me encostei na cadeira.Fiquei sentado por um tempo. Quando comecei a pensar se deveria ir ao provador para verificar se Gustavo ainda estava vivo, ele surgiu acompanhado de uma ruiva conhecida.

— Merida?! O que você faz aqui?

— "Oi, Merida, tudo bem?" Oi Bruno, estou sim, também estou muito feliz por vê-lo. - Ela cruzou os braços.

— O que você faz aqui? - Ignorei as reclamações dela. Não que eu quisesse que ela fosse embora, mas... na verdade eu queria sim. Eu e Gustavo e a minha mãe, fazendo compras. Estava tudo perfeito. Não precisávamos de mais ninguém. Por que mesmo ela estava aqui, gente?

— Gustavo me convidou. - Ela responde. Ah.

— Ah. - Abraço meu próprio corpo e tento não fazer nenhuma expressão que deixe Merida ofendida. Mas, no momento, eu queria matá-la. E o matar o Gustavo também, por convidar pessoas sem o meu consentimento.

— Então, Bruno, Merida já tem sua fantasia. - Gustavo me diz. "Ótimo, então que porra ela veio fazer aqui?", penso, mas não falo nada. - Ela vai de Chapeleiro Maluco.

— Ei! - Minha mãe entra na conversa e o rosto dela se ilumina. - Tive uma ideia.

No segundo seguinte, estamos comprando tudo que é azul, preto e branco que aparece na nossa frente. Uma máscara. E um pequeno coelho branco de pelúcia.

 

Em frente ao espelho, fico me perguntando se era realmente necessário obrigar Gustavo a desenhar biscoitos com os dizeres "coma-me" para eu pôr no bolso. A primeira ideia foi que eu levasse um coelho de pelúcia branco junto comigo, mas foi uma ideia burra, porque minhas mãos estariam sempre ocupadas. A dos biscoitos pareceu melhor, mas agora eu penso que não vou precisar dizer a ninguém que sou uma versão "masculina" da Alice.

Uso uma camisa de mangas longas e botões azuis, uma bermuda da mesma cor e um colete branco por cima. A gravata e o laço preto na cabeça terminam de identificar o personagem. Aliás, estou muito orgulhoso de mim mesmo por arrumar minha gravata sozinho. Ok, é uma gravata borboleta, mas eu posso fingir que é tão difícil arrumar quanto uma gravata normal, não posso? Claro que posso. Auto ilusão é o meu maior talento.

Enfim estou arrumado. Gostaria de deixar meus agradecimentos à pessoa que inventou isso de baile, porque, nossa, eu vou ver Gustavo vestido de gato. Meu Deus. Obrigado pessoas que inventaram os bailes escolares. Obrigado mesmo.

E também porque, graças ao evento, minha mãe finalmente vai me deixar usar o carro dela, e eu vou usá-lo para buscar meus amigos. Dá pra imaginar? Euzinho, dirigindo, para buscar a Merida (!) e o Gustavo (!!!) para ir ao baile (!!!!!). Porém, eu sou a droga de um motorista irresponsável. Estou bem atrasado.

Merida me liga enquanto estou no banheiro, passando um pouquinho, apenas um pouquinho, de gel no cabelo. Limpo a minha mão e ponho a ligação no viva-voz.

Porra, Bruno! Você esqueceu que o baile é hoje?— Ela grita e eu me arrependo de ter atendido no momento. Até a minha mãe, que estava no seu quarto com a televisão ligada, ouve a voz dela. Rindo, ela me pergunta o que diabos uma garota faz no banheiro junto comigo.

— É só o telefone mãe, relaxe. - Respondo e ela suspira exageradamente. Volto minha atenção para Merida. - Oi pra você também, linda.

Você não merece Ois, seu idiota. ONDE VOCÊ ESTÁ?

— No meu banheiro, batendo uma. - Rio, mas não ouço a risada dela. Bom, se ela não riu de uma piadinha sexual ruim, Merida está realmente brava. - Ok. Acalme-se, eu estou terminando de passar gel no cabelo, daqui a três minutos estou saindo.

Saio do banheiro e atravesso o corredor correndo (?). Pego as chaves do carro na cozinha e estou quase saindo quando percebo que não me despedi da minha mãe. Volto para o corredor e bato na porta do quarto dela para avisar que estou entrando.

— Bruno, fecha aqui o meu vestido, por favor. - Ela pede e entro no banheiro dela. O balcão está uma bagunça, com maquiagem espalhada, o fio enrolado do secador, grampos, todo tipo de coisa para beleza. Fecho o zíper do seu vestido sem dificuldades.

— Obrigada! - Ela diz e, em seguida, vira o corpo na minha direção. Nós dois arquejamos, levamos um susto, mas no bom sentido.

Minha mãe tem trinta e poucos anos, mas ela poderia ser meu par no baile. Ela conseguiria se passar por uma garota da minha idade sem grandes problemas. - Oh, você está tão bonito! - Ela leva as mãos até as próprias bochechas. Por um minuto, entro em pânico pensando que ela vai começar a me abraçar e chorar, sofrendo por eu já estar crescido. Mas não, ela só me pede para ir um pouco mais para trás para que ela possa tirar uma foto minha.

Ela caminha com cuidado para não sujar a meia calça e pega seu celular. Aproveito para observá-la. Um vestido azul escuro sem estampas, não muito justo, com um decote em V. Cabelos loiros presos num coque cuidadosamente arrumado para não parecer arrumado. Sapatos pretos e brilhantes com saltos altos. Batom vermelho. Hm. Sabia que ela ia jantar fora, mas agora entendo melhor a situação.

— Qual o nome dele? - Pergunto.

— Marcus. - Ela sorri para a bolsa, enquanto tira vários objetos de lá dentro, a procura do celular.

— Mais velho ou...?

Ela me interrompe. - Mais novo. – E seu sorriso fica tímido.

— Gosta dele muito ou pouco? - Dou de ombros.

— Ainda não sei. - Minha mãe segura o celular na frente do rosto e o flash me cega duas vezes. - Mas não fique preocupado, eu já sou grandinha. - Ela tenta fazer cócegas na minha barriga.

— Ok, ok. Mas tome cuidado.

Eu deveria dizer isso. - Ela brinca. Eu sei. Que não é primeiro cara, que com certeza ela sabe se virar, que eu não preciso realmente ficar preocupado, mas eu me lembro do meu pai. Não quero que ela sofra de novo. E é como se ela lesse meus pensamentos, porque ela me abraça forte. Houve um tempo que nós não éramos tão carinhosos assim um com o outro, mas também houve outro tempo que, se não tivéssemos uma relação forte, ficaríamos loucos. Nós, eu e ela, passamos por muita coisa, juntos. E quero que tudo continue assim pra sempre.

Não sei se é micão ou algo assim, mas de qualquer jeito não ligo. Acho que minha mãe é minha melhor amiga. - Já pegou as chaves do carro? - Ela pergunta. Confirmo com a cabeça. - Pegue a sua cópia da chave de casa. Não sei quem vai chegar mais tarde hoje. - Ela ri. Ah, meu Deus, isso é uma piada sexual?

— Mãe. - Arregalo os olhos.

— O que foi? Eu não disse nada. - Ela me solta e beija minha testa. - Não beba nada com álcool.

— É uma festa do colégio, nada tem álcool. - Digo, pra mim é algo óbvio. – E tchau. Já vou indo.

Fico na porta do quarto e mando um beijo para ela. Minha mãe grita "divirta-se!" bem alto, desejo o mesmo para ela e corro loucamente pelo corredor. O elevador está ocupado e eu estou atrasado demais para esperar que ele chegue, então simplesmente desço pela escada. Chego ao estacionamento do prédio com o ar de um astronauta que acaba de pousar na lua.

— Um pequeno passo para o homem, um grande passo para o Bruno. - Falo para mim mesmo (?). Aperto o botãozinho que liga o carro e ouço o típico barulho que avisa que a porta está destrancada. Não consigo evitar um gritinho de animação. Ainda bem que eu estou sozinho. O carro ainda tinha cheiro de novo. Minha mãe comprou há uns dois meses e eu pensava que, quando eu fosse sentar no banco de motorista, ele já estaria velho. Mas, expliquei pra ela a questão do baile, como eu queria levar meus amigos (lê-se: Gustavo. Não conta pra Merida.) e que eu deveria usar minha carteira antes que criasse mofo, e ela me permitiu.

Coloco para tocar uma playlist feita de músicas animadinhas. Como foi Gustavo que fez, ela é absolutamente indie, não conheço direito as bandas que tocam. Isso faz parte do nosso Acordo de Diversificação Musical. Ele tem que conhecer as minhas músicas e eu as deles, com o objetivo de chegar ao nível Merida, que ouve tudo. Lembro que também fiz uma playlist para ele e não consigo não imaginar ele se arrumando ao som de Work, da Rihanna. Estou rindo.

Quando chego à rua da casa da Merida, The Sound está tocando pela, sei lá, quinta vez? Não sei. Só sei que estou ouvindo essa música repetidas vezes e não consigo enjoar. Relutante, pauso a música para poder prestar mais atenção no caminho e desacelero. Já tinha vindo até a casa dela, mas fico perdido, porque todas as casas são meio iguais. Sorte a minha que uma das casas tinha uma garota ruiva de roupas muito estranhas parada em frente à porta, fazendo uma cara que indicava que o motorista atrasado estava prestes a ser morto. Fora isso, ela está muito bonita com sua fantasia de Chapeleira Maluca gourmet.

Estaciono o carro em frente a ela, todo torto, estragando um pouco a grama. Porra.

— Estacionou bem. - Merida ironiza e abre a porta da frente. Quase a mando ir para trás, mas se eu fizesse isso, cabeças iam rolar. Haha. - Se eu montasse numa lesma aleijada, chegaria mais rápido no ginásio. E você ainda é um motorista de merda.

— Tá bom, já chega, acabou a esculhambação? - Bato a mão no volante e buzino sem querer.

— Não. Você vai aquentar minhas reclamações até que a gente chegue ao ginásio. - Ela diz, dando um sorriso finalmente. Quando a mãe dela surge ao lado de Merida, munida com uma câmera.

— Vamos registrar esse momento? – Ela diz, com um sorriso simpático. Eu daria um sorriso e diria "É claro!", mas a mãe dela sabe que eu fui o articulador da nossa fuga do colégio. Digamos que eu estou um pouco envergonhado. Então, eu apenas olho para Merida, em silêncio.

— Mas estamos atrasados! - Ela responde, de volta com o mal humor.

— Cinco minutos não vão fazer diferença. - Elinor argumenta.

— Mãe. - Merida fecha a cara, mas a expressão de Elinor não muda. Ela está decidida em tirar eu e Merida do carro.

— Vamos, Meri. - Abro a porta e saio, esboçando um quase-sorriso para Elinor.

— Quanto mais rápido eu tirar a foto, mais rápido vocês saem. - Ela me complementa.

Merida sai do carro bufando e fecha a porta com força. - Ei! - Protesto. - Esse carro não é meu, lembra?

— Tanto faz. - Ela dá de ombros.

Elinor posiciona Merida ao meu lado e faz um gesto para ela ajeitar a postura. Quando ela vai me arrumar, Elinor olha nos meus olhos por um segundo, com o cenho franzido. Uma palavra vem a minha cabeça: fodeu. - Você é o Bruno, estou certa? O que matou aula junto com Merida? – Ela me pergunta e eu assinto com a cabeça, certo de estar com as bochechas mais vermelhas do que um tomate maduro. Ela me olha, enquanto dá passos para trás, com uma expressão que diz, na minha cabeça, "seu viado delinquentezinho".

No final, eu e Merida saímos na foto com sorrisos forçados. Merida ganha um beijinho e eu ganho um aceno por pura educação, imagino. Aceno de volta, tentando não parecer extremamente desconfortável, e nós entramos no carro em silêncio. Só dou partida quando Elinor entra em sua casa e fecha a porta. Porém, se eu só desse partida quando Merida ficasse de bom humor, ficaríamos aqui a noite toda, pelo jeito. No caminho para a casa de Gustavo, Merida continua com a cara fechada, apoiando a cabeça com as mãos. Mudo a música e começa a tocar Sweater Weather, sei que ela ama essa. Merida tamborila os dedos na porta no ritmo da música, mas sua expressão não muda.

Felizmente, a casa de Gustavo é perto da de Merida e a viagem é curta. Dessa vez, estacionei na rua, porque não tenho competência suficiente para estacionar na garagem sem estragar a grama por perto. Ele não esperava na porta, mas me passou o endereço direitinho, de forma que eu sabia a cor da casa, da caixa de correio, o número da casa ao lado e o número da casa dele.

Mas sei lá, acho que foi o nervoso, acabei apertando a campainha errada. Apertei, apertei, apertei de novo, por fim comecei a gritar. Então Gustavo aparece na porta da casa em frente, rindo tanto que eu quase começo a rir também. Jesus, ele está incrível. Gustavo usava uma camisa listrada de mangas longas, calça com rasgos e um AllStar. Tudo nas cores preto, cinza e azul. Ele também deu um jeito para pintar metade da sua máscara de preto, fazer bigodes e mechas azuis no cabelo escuro, mas, pra mim, as melhores coisas na fantasia eram as orelhas de gatinho, as luvas com garras e o rabo que ele insistia em balançar com a mão enquanto andava até nós.

Minha nossa.

— Você é burro? - Ele se dirige a mim.

— Ninguém dá "oi" hoje em dia. - Faço cara feia.

— Oi. Você é burro?

— Foi o stress! - Coloco as mãos na cabeça. Merida abre a porta e sai do carro, aponto para ela. - É essa garota, que me deixa louco!

— Você quase pareceu hétero falando essa frase. - Ela cruza os braços. - Oi, Gustavo. Vamos logo embora.

— Calma, temos que tirar fotos. - Ele diz e puxa Merida e eu pelo braço ao mesmo tempo.

Merida puxa o braço dela violentamente antes de nós atravessarmos a rua. Gustavo entra em casa e chama o pai. Qual o lance de pais e fotos? É algum laço, algum juramento que eles fazem quando a criança nasce, tipo "juro solenemente tirar milhares de fotos do meu filho, incluindo o momento do primeiro cocô no vaso"? Imagino minha mãe fazendo isso e não evito uma risada.

Tomo a liberdade de sentar no sofá. De onde eu estou, consigo ver uma porta destrancada que dá para um quarto com equipamentos de musculação. Isso explica muita coisa. O pai de Gustavo chega segundos depois com a câmera e eu me levanto, ainda olhando para o quarto e rindo sozinho em silêncio. Ele nos olha de cima a baixo, especialmente a mim. Quando o olhar dele para no meu cabelo, ele franze o cenho, mas não de um jeito irritado e sim de um jeito completamente confuso. - Vão os três juntos? - Ele diz. Dez palavras vêm a minha cabeça: fodeu, merda, bosta, porra, caralho, cacete, cacilda, fodeu, fodeu, fodeu. Merda. Mas eu respiro fundo e baixo o olhar. - Ah, tudo bem, não é como se eu nunca tivesse ouvido falar de poliamor.

Que?

— Pai. - Gustavo bate a mão contra a testa. Merida franze o cenho. Eu suspiro aliviado. Deus abençoe esse pai.

— É brincadeira, filho. - Ele sorri, olhando pra câmera e fazendo um gesto para nos juntarmos em frente à escada. Gustavo fica no meio e põe a mão no meu ombro e no de Merida. Eu saio sorrindo genuinamente.

O pai dele, que descubro que se chama Ryan, nos oferece sanduíches, mas rejeitamos porque estamos atrasados. De volta ao carro, Merida senta novamente no banco da frente e se arruma na posição anterior.

— Merida está com um péssimo humor. - Digo, olhando para Gustavo e observando Merida revirar o olhos com minha visão periférica implacável. Coloco o cinto de segurança e a playlist pra tocar. - Me ajude a animar essa menina.

— Deixa eu te contar um segredo. - O garoto põe a cabeça entre os dois bancos da frente e sussurra. - Eu também não estou animado.

— Isso não é segredo. - Respondo.

— Normalmente, as pessoas chegam numa escola sendo meio tímidas e vão ficando mais sociáveis com o tempo. Com o Gustavo, acontece o contrário. - Merida se manifesta. Dou uma risada, porque é bem isso mesmo. Ele era meio simpático, queria sentar numa mesa cheia de gente no intervalo, sorria paras as pessoas. Agora está mais para chegar e dizer "fodam-se todos vocês", só que sem palavrões, porque Gustavo não fala palavrão. Aliás, é muito irônico uma pessoa que não gosta de palavrões andar comigo e Merida.

— Porque eu queria fazer amigos. Mas agora eu já fiz, então não preciso disso.

— Awn. - Merida diz e eu a imito. Ela estende a mão para trás do banco e dá umas batidinhas na cabeça dele, mais machucando do que fazendo carinho, mas vale a intenção.

— É sério. - Ele diz, rindo. Depois coloca a cabeça entre os bancos de novo. - Eu não acredito que vocês me deixaram sozinho no banco traseiro.

— Se você quiser, posso ir aí com você. Mas algum fantasma tem que dirigir o carro. - Digo. Pelo retrovisor, posso vê-lo dando uma risada sem humor.

— Falo com a Merida.

Estou prestes a respondê-lo à altura quando Gustavo dá um suspiro de surpresa do nada. Levo um susto. - Seu puto, quer que eu bata o carro e que todos morram queimados? - Grito.

— Não acredito que você está ouvindo minha playlist. - Ele me ignora e um sorriso se forma devagarzinho no rosto dele.

— É. - Claro, chuchu. Mas ainda estou bravo. - Você não ouviu a minha?

— Ouvi. São músicas muito pornográficas.

— Você disse pornográficas? Quero. - Merida ri. - Peraí. Bruno, você botou ele para ouvir Peacock?

— Sim. - Encolho os ombros, com um sorrisinho.

— Essa é a pior de todas! - Gustavo acusa. Ei, não é por aí não.

— Na verdade não, em nenhum momento a Katy Perry diz algo explícito. Sua cabeça imoral que imagina coisas, você entende a música como quiser. - Merida argumenta e Gustavo cruza os braços, pensando por um momento.

— Mas não precisa ser explícito. O significado é subentendido! - Ele diz. Balanço a cabeça negativamente.

— Quando foi que você virou um daqueles religiosos chatos? E qual é o problema de mulheres falando de sexo em suas músicas? - Sorrio, desafiando-o para um debate.

Gustavo levanta os braços imediatamente, se rendendo. - Ok, ok, vou rever meus conceitos.

— E não é como você fosse santo! - Bato a mão no volante e paro o carro no acostamento. Pego meu celular e mostro a ele uma música que ele me passou, Why'd You Only Call Me When You're High?, Arctic Monkeys. - High. Chapado. Drogas. Maconha. Isso que você ouve, Sr. Gustavo.

— Não acredito que você parou o carro por causa disso. - Merida suspira, rindo.

— Parei mesmo essa merda, se tiver incomodada pode abrir a porta e sair! - Respondo.

Gustavo dá uma risada e bate no meu ombro. - Já entendi, eu sou um drogado hipócrita e você é um ninfomaníaco. Agora dirija esse lixo.

Um carro atrás buzina, um pequena fila havia se formado. Não tenho outra opção a não ser dirigir esse lixo. Mas não sem antes ironizar, porque ironizar é vida. - Lixo? Lixo?! Meu Deus, Gustavo, se acalme, não use essa linguagem perto de mim!

Merida ri alto. Acho que finalmente o mau humor dela se foi, amém. Rio junto com ela, Gustavo faz cara feia, mas logo está rindo também. Why'd You Only Call Me When You're High? começa a tocar novamente e nós começamos a cantar.

É, eu aprendi a letra.Nossas vozes não são muito agradáveis juntas, mas quem liga?

 

Nunca pensei que fosse achar o ginásio da Olympic um lugar mágico, mas é assim que ele está esta noite. Faixas roxas combinavam perfeitamente com os detalhes em amarelo, lanternas iluminam o lugar. Bem romântico.

Merida fica na entrada com Elsa, que parece preocupada. Ela diz que nos encontramos depois, eu digo que vou para o ginásio. Dentro do ginásio, um palco está montado, junto com uma pista de dança. Um DJ está tocando, a banda só deve se apresentar mais tarde. Normalmente, eu não ficaria muito animado com uma banda de colégio, mas eu ouvi boatos que a da Olympic é realmente boa. E o vocalista/guitarrista é o Naveen, o que já me dá bons motivos para olhar para o palco.

Ok. Eu não acredito que pensei isso.

— Agora eu notei, você está usando um lacinho na cabeça. – Gustavo chega de fininho e diz tirando o celular e os fones de ouvido dos bolsos da calça.

— Não me diga. - Sorrio. - E você está usando orelhas de gatinho.

— Sim! Eu não estou um gato? - Ele leva uma das mãos até a boca e lambe lentamente.

Que?

— É. - Digo, depois de ficar um tempo olhando para Gustavo, com a boca entreaberta.

— Não me olhe assim. Eu sei que sou estranho. - Ele aperta os lábios de uma forma absurdamente fofa. - Ei! - Seu rosto se ilumina. Ele enfia a mão no bolso e tira uma pequena flor azul. - É do jardim lá de casa. Achei que ia combinar com sua fantasia.

Fico olhando para ela na palma da minha mão, toda amassada e mais clara que minha roupa. Mas ainda é bonita. - Obrigado. - Sorrio meio envergonhado e totalmente bobo. Com todo o cuidado do mundo, coloco o meu presente no bolso da minha camisa, escondido pelo colete branco. Gustavo mal sabe disso, mas eu nunca vou jogá-la fora. Nunquinha. Jamais.

Dou uns passos em direção à pista de dança. Penso que Gustavo está me seguindo, mas olho para trás e ele está no mesmo lugar, parado, me olhando com dor.

— Nããão, não faça isso comigo. - Ele diz, balançando a cabeça negativamente.

— Já estou fazendo. - Puxo ele pelo braço.

— Não, porra!

Arregalo os olhos e paro de andar imediatamente. - Olha a boca!

— Não tem graça! - Ele diz, mas sua risada o trai. Tem graça, sim. - Sério, não quero dançar. Respeite-me.

— Eu vou. E você vai ficar sozinho. - Ameaço.

— Por mim, tudo bem. - Gustavo caga para minha ameaça. Ele se dirige para as arquibancadas. Espero ele voltar, mas ele não o faz. Bato o pé e suspiro bem alto.

— Espera! - E vou atrás dele.

Ele ia sentar no primeiro degrau, mas o arrasto para um dos últimos. Nós podemos sentar onde quisermos, porque não tem ninguém sentado aqui mesmo.

— Olha, só a gente aqui.

— E isso não é bom?

— N-não. - Franzo o cenho. Que porra ele quis dizer? Nunca sei o que ele quer dizer. - Está todo mundo dançando.

— Não sou todo mundo. - Ele sorri e eu bufo. Gustavo destrava a tela do celular e mexe no menu de músicas.

— Já que vou ficar aqui mofando, posso pelo menos ouvir música com você?

— Claro. - Ele sorri e coloca um fone no meu ouvido. Tomo a liberdade de encostar o meu ombro no dele, com a desculpa de querer ver o celular também. Péssima desculpa. Mas ninguém me questiona.

— Essas luvas não eram pretas? - Puxo a mão dele. Eu lembrava, nós entramos numa daquelas lojas de roupas góticas. A luva só podia ser preta.

— Existe algo chamado tinta para tecido, sabia? - Ele ironiza. Sim, eu sabia, mas as listras azuis estavam muito bem feitas.

— Uau, você está se tornando um profissional nesse negócio de pintura. - Continuo a olhar os detalhes e percebo que as garras não são bem garras. - Unhas postiças? Bem criativo.

— Obrigado. - Ele diz, rindo, provavelmente lembrando-se da minha cara quando ele entrou depois, sozinho, na mesma loja de roupas góticas e comprou um pacote de unhas pretas gigantes e pontudas. Eu achei muito estranho e que as unhas eram ridículas, Gustavo não quis me explicar nada, mas agora eu entendo e estou rindo também.

Mas percebo que estou segurando a mão dele por pelo menos três minutos, examinando como se ali estivesse carimbado o sentido da vida. Em braile. E ele não disse nada.

Então, tiro a outra luva e visto. Sem soltar a mão dele. E Gustavo continua calado. Não movo um músculo, ele mantém o olhar tranquilo enquanto apaga fotos do seu celular e eu estou prestes a morrer, porque meu coração bate tão rápido que parece que vai parar a qualquer momento. Fico olhando a mesma coisa que ele, a tela do celular. Vejo quando ele abre a câmera e liga o flash. Mas não vejo quando Gustavo aponta o celular pra mim e tira uma foto.

Dou um pulo para trás. Ele vê a foto e ri, depois me mostra. Saí com uma cara engraçada e assustada, Gustavo acha legal o suficiente para colocar como papel de parede.

— Muito hilário. – Faço uma careta.

— É mesmo. – Ele ri e dou de ombros.

— Eu vou procurar a Merida. - Desço três degraus e ele me manda esperar.

— Vou com você. - Gustavo diz.

Vou direto à direção do DJ. Porque é claro que Merida está na pista de dança. Vejo Gustavo enfiar a mão no bolso e aumentar o volume, mas ainda assim ele aperta o fone contra o ouvido. Enfio a mão debaixo dos cabelos dele e puxo os fones, mesmo que ele odeie isso. Ele protesta.

— Como pode ouvir algo no meio desse barulho? - Grito, tentando falar mais alto do que o ruído. Seguro os fones na frente do rosto dele. - Aliás, aqui tem música, pra quê isso?

— Eu não gosto desse tipo.

Paro para escutar um pouco. É, músicas excessivamente eletrônicas, não fazia o tipo do meu amiguinho que gostava tanto de pagar de diferentão. - Ah, tanto faz. Quem vai ficar surdo é você. Vou pegar uma água.

Gustavo faz cara feia, mas me segue.- Também estou morrendo de sede. - Ele diz e abre caminho pelo mar de gente. Quer dizer, mar de princesas, piratas, super-heróis, egípcios, zumbis e cupcakes ambulantes (?).

Fomos até o bar. Era numa parte mais afastada das mesas, do palco e da pista de dança, afastada de tudo, na verdade. Sentamos nos bancos em frente ao balcão, Gustavo antes de mim. Os bartenders fazem malabarismo e eu me pergunto por que diabos isso é necessário. Só quero uma água. Pergunto-me também por que eles estão aqui e por que esse clima de balada +18, já que eles nem estão servindo bebida alcoólica. A Olympic até tem uma boa quantidade de alunos que já beberam, mas como nossa diretora tem juízo, nunca deixaria que servissem algo que pudesse nos deixar bêbados, tontos e vomitando na sua quadra.

Finalmente consigo pegar minha garrafa de água. Antes de Gustavo até, ele faz cara feia pra mim. - Quer um golinho? - Pergunto e ele nega com a cabeça, ainda fazendo careta.

Rio e rodo na cadeira, ficando de costas para o balcão. No momento em que Hans passa com a sua companhia. E no mesmo momento que avisto Merida. Eles vão passar bem perto um do outro, e não quero atrapalhar, então viro a minha cadeira para a posição anterior.

— O que foi? - Gustavo pergunta, olhando por cima de meus ombros.

— Nada. - Sorrio. - Se concentre na sua H₂O.

 

Merida

Estava procurando Bruno e Gustavo, achei o Hans.

Pensei que ele e seu par iam fingir que não me viram, como eu tentei, mas eu vi que eles viram e eles também. Confuso.

— Oi, Merida. - Hans para na minha frente e me cumprimenta, por fim.

— Oi. - Dirijo um meio sorriso a ele. A garota ao seu lado parece desconfortável, mas não por causa da sua roupa de Mulher-Gato apertada e aparentemente de couro. Por causa do passado.

Melanie Rosevell. Devia ser a melhor no que fazia, onde quer que ela estudasse. Então eu cheguei à Olympic e consegui o lugar de capitã, que ela queria tanto, pelo que eu entendi. Melanie passou a implicar comigo de uma maneira muito irritante, me tirava totalmente do sério. Mas eu aceitava suas provocações e ainda fazia pior. Diferente do meu problema com Vanessa, eu e Melanie éramos obrigadas a, todo dia, nos aturarmos e a trabalhar em equipe. Piorou quando ela começou a namorar o Hans, que não era a pessoa mais simpática do mundo, mas a gente se dava relativamente bem, tirando o episódio da pegadinha do banheiro masculino - quando Hans me mandou para lá quando eu perguntei onde era o vestiário feminino... Bom, não gosto de me lembrar disso, me dá muita raiva - e umas briguinhas, coisas bobas.

Então, eu não tinha que lidar apenas com a garota maluca do arco e flecha, tinha que aguentar também seu namorado cego e chato. Ela acabou saindo da Olympic, antes do ano acabar. Nunca soube o motivo, porque nunca me interessei o suficiente para perguntar a alguém. Eles terminaram antes disso, mas agora eu não sabia o que pensar deles.

— Hã...Oi. - Melanie diz. Olhando pra mim e apertando ligeiramente os lábios.

— Oi. - Dirijo um meio sorriso a ela também. Ela suspira, segurando o braço com a mão.

— Espero que você não me odeie muito. - Ela finalmente diz, olhando os próprios sapatos de salto.

Franzo o cenho. - O quê?

— Você sabe, eu fui muito ruim. Uma péssima colega de equipe. Espero que você possa me desculpar.

Ok. Por essa eu não esperava. Mas é uma surpresa muito agradável.

— Claro. Eu também não fui muito legal. - Sorrio.

— Sério? - Ela retribui o sorriso. - Fico muito feliz. Eu queria muito ser capitã, mas você apareceu, e eu achei que era culpa sua. Mas eu que não era boa o suficiente. Porém, isso é passado, né?

— É... - Confirmei, meio assustada com o monte de palavras que jorravam da boca dela.

— Eu descobri novos talentos. Estou estudando numa escola de arte e todos os professores dizem que sou muito boa.

— Legal! É muito longe daqui?

— Não muito, mas agora eu nem moro mais nessa cidade.

— Ah. - Rio, me sentindo idiota. Eu sabia que ela tinha se mudado, só não lembrava. - Você veio só para o baile?

— Não, vim visitar amigos também. Hans me chamou e eu achei que era uma boa oportunidade. A gente ainda é amigo, mesmo depois de ter terminado. E vocês?

Levanto as sobrancelhas. Ela sabia? Fico sem saber o que responder. - Vamos sentar ali? - Digo, apontando para os bancos em frente ao balcão do "bar". Melanie assente com a cabeça e nós duas vamos.

— Ei, porque vocês falam como se eu não estivesse aqui? - Hans protesta. Melanie o ignora e eu a imito. - Vou procurar meus amigos.

Ele faz cara feia e dá um tapa no ar, e, quando Hans se afasta, percebo sua fantasia. - Ei! – O chamo. - Sério, Hans? Jedi? Você veio de jedi?

— Sim. - Ele responde. E acende o sabre de luz para sua saída triunfal.

— Como foi que você deixou ele sair assim de casa? – Olho para Melanie, rindo.

— Ah, eu achei legal a fantasia. Divertida. - Ela diz. Na verdade, eu também acho, mas zoar Hans é mais legal do que elogiá-lo. - Então, como vão vocês dois? Quando ele disse que gostava de você e...

— Ele disse que gostava de mim? Quando? - A interrompo e minhas bochechas ficam um pouco quentes.

— Já faz um tempo. Mas ele sempre fala de você. - Ela dá de ombros. - Mas quando ele disse que vocês estavam namorando, achei loucura! O mundo dá voltas, não é mesmo? - Melanie ri. - Pena que, quando eu finalmente pude vir para ver com meus próprios olhos, vocês terminaram.

— É.

Ou não. Faço um gesto para o garçom. Peço dois refrigerantes. - Mas não quero falar do Hans. - Melanie continua.

— Nem eu. - Concordo.

— Bom, como vão as coisas na equipe do arco e flecha da Olympic? - Ela pergunta, animada.

— Vão bem! Entraram dois meninos novos na equipe, eles estão aqui. Até o final do baile eu te apresento a eles. Eu continuo capitã. – Falo com cuidado, por causa dos problemas que esse título nos causava. Mas Melanie ri, tímida. Deve ter percebido que fiquei desconfortável. Então simplesmente deixo pra lá e continuo. - E a gente ganhou medalha de ouro nesse campeonato.

— Aliás, o baile é pra comemorar a vitória da Olympic. Estou certa?- Sim. - Assinto com a cabeça. Nossos refrigerantes chegam e eu dou um gole.

Melanie me conta sobre sua escola de arte e como está dando certo lá, e eu fico feliz. Muito feliz. Por ela, mas por nós também, por esse diálogo. Somos duas meninas conversando e se divertindo, a gente fez as pazes! Dá uma sensação boa, sabe? Melanie é engraçada também, nunca imaginei isso. Ela está me contando uma história de seu primeiro dia de aula e eu estou sorrindo, quando ela se cala de repente. - Eu conheço essa música. – Ela diz e percebo seu ótimo gosto musical e que Gustavo gostaria dela. Bastante.

— Eu também. - Franzo o cenho.

 

Bruno

Tinha bebido metade da água e Merida ainda conversava com a garota misteriosa. Era engraçado porque ela chegou com o Hans, mas ele foi abandonado, a garota o trocou por Merida. Decidi não atrapalhar a amizade bonitinha delas, até porque se eu fosse atrapalhar a elas, elas me atrapalhariam, de certa forma. Gustavo tenta me convencer que a arquibancada é um local perfeito e sagrado.

— Não. Eu já fiquei lá com você, agora você fica aqui comigo. - Argumento.

— Mas eu não quero dançar.

— Mas o baile já está na metade! Daqui a pouco a banda da escola vai tocar.

Gustavo suspira. Então eu tenho uma ideia. - Ok. Eu vou para a arquibancada, mas fique aí enquanto eu faço uma coisa. Quando eu voltar, nós vamos.

Saio correndo. Agora o lugar estava mais cheio do que quando eu o atravessei pela primeira vez, além disso, algumas pessoas me pararam para elogiar minha fantasia. Não que eu não gostasse dos elogios, mas eu estou com pressa. Sou bem educado e passei por todas, sem bater em ninguém.

Quando chego perto do Dj, fico surpreso, porque não tem nenhuma fila, nenhuma pessoa, ninguém por perto tentando fazer suas músicas favoritas serem tocadas. Fiz meu pedido, disse que era um pouco urgente. Antes que eu chegasse ao bar, uma música tocou. Quando vi Gustavo, ele já estava pulando.

— Então? - Chego perto dele e grito, rindo. A resposta dele é a letra de Why'd You Only Call Me When You're High?, cantada num ritmo todo errado e ofegante. Ele puxa meu braço e me leva mais para dentro para a pista, nos misturando com o resto das pessoas. Gustavo continua a pular sem parar, cantando a música e balançando meus braços.

— Todo mundo sabe a letra! Por que não tocaram Arctic Monkeys antes? - Ele grita enquanto faz sua coreografia maluca, mas se desequilibra e cai um pouco sobre mim.

O empurro de leve para trás e dou uma risada. - Parece bêbado.

— Um pouco, sim. - Ele diz no meu ouvido. E dá uma risada. - Você é rápido, foi lá pedir minha música e voltou a tempo de dançar comigo.

— Não foi essa que eu pedi. - Respondo.

— Não? E qual foi?

— Você vai ver. - Pisco para ele. Gustavo franze o cenho e sorri.

Imediatamente depois de WYOCMWYH?, o Dj anuncia que a banda está se preparando. Ele avisa que agora é a hora dos casais, ou seja, ele vai começar a tocar músicas lentas, a maioria antiga. Mordo o lábio inferior e bato palmas. Algumas outras pessoas comemoram comigo. Mas eu fico animado porque agora é a hora do meu pedido ser atendido. E é a primeira música lenta a tocar.

No. 1 Party Anthem? Você colocou isso pra tocar num baile? - Gustavo bate a mão contra a testa. Primeiro penso que ele está me zoando, mas ele ri. - Genial.

Ao redor, casais vão se formando. Consigo ver daqui dois formados só por meninas e outro só por meninos. De certa forma, esse colégio parecia um pouco com o último que estudei, na Califórnia, que não tinha problemas com alunos “fora dos padrões”. A Califórnia tem leis diferentes, mais inclusivas, então era mais fácil lá, mas a Olympic também não ficava atrás no quesito inclusão dos lgbt. Claro que, de vez em quando, eu ouvia alguma piadinha, mas os “piadistas” não eram maioria, não mesmo. No fim, nós somos respeitados aqui, somos iguais a todo mundo.

Então, por que não arriscar um pouquinho?

— Obrigado. - Retribuo o sorriso e estendo a mão. Gustavo reveza seu olhar entre meus olhos e meu braço por alguns segundos, imagino que pensando no que fazer, e eu entro em pânico. Os segundos parecem horas. Mas ele aceita meu convite.

Gustavo segura minha mão e levanta um pouco acima dos nossos ombros. Dou um passo a frente e, com a outra mão, ele segura a minha cintura, depois me olha com uma sobrancelha levantada.

— É assim? - Ele ri.

— Acho que não. Isso não é uma valsa. - Falo olhando para o chão, muito envergonhado de repente.

Mas realmente a maioria dos outros casais dança de outra maneira. Decido imitá-los e troco de posição. Solto minha mão da dele e coloco em seu pescoço. Gustavo continua segurando minha cintura e nós damos passinhos lentos para os lados no ritmo da música. Estamos bem mais próximos assim e começo a odiar minha altura. Minha boca fica a alguns centímetros do queixo de Gustavo. Por que, por que, oh Deus todo-poderoso, não me fizeste um pouquinho mais alto?

E, ao mesmo tempo, entro em pânico novamente. E se eu estiver com bafo? - Meu hálito está ruim? - Pergunto.

Ele balança a cabeça. - Não sei. - Sem pensar duas vezes, sopro a cara dele. Gustavo ri. - Não, está bom.

Um segundo depois, ele junta as sobrancelhas e cheira a área da minha boca, me assustando. - Chiclete de menta. Está me escondendo alguma coisa?

— Como assim? - OhmeuDeuselechegoutãopertodaminhaboca, eu vou morrer. Não consigo não ficar sorrindo como um maldito bobo.

— Vejamos. - Ele enfia a mão no meu bolso traseiro. Faço um som de surpresa totalmente novo, parecido com um grasno. Observo com os olhos arregalados ele levantar um pacote de chiclete na minha frente e tirar um. - Ahá! - Gustavo ri. Ele devolve o pacote ao meu bolso e coloca um chiclete na boca sem usar as mãos, que voltam para minha cintura.

Tento normalizar a minha respiração enquanto me perco nos pequenos detalhes dele. Seus olhos escuros ficam camuflados na máscara e o bigode que ele desenhou com lápis de olho está desaparecendo. Ele masca o chiclete e o pomo de adão dele sobe e desce devagar no seu pescoço. O cheiro de menta se mistura com o perfume que ele está usando, faz cócegas no meu nariz.

Vai ver é por isso que eu fico rindo o tempo todo.

Ele canta baixinho. Quando eu deito a cabeça no seu ombro, consigo ouvir sua voz. - Você não sabe a letra realmente. - Rio e olhos no olhos dele.

— Não. - Gustavo balança a cabeça. - Mas não conta para ninguém.

Ele leva o dedo indicador até a boca e faz sinal para que eu fique calado, dando uma risada em seguida. Obedeço, mas não porque ele mandou, porque eu simplesmente não tenho o que falar. Quero apenas ficar assim, pra sempre. Tomo a liberdade de desfazer o laço que está escondido sob os cabelos dele. A máscara cai e eu puxo, segurando-a pela fita, com a ponta dos dedos. Tiro o cabelo da testa de Gustavo e danço mais devagar, estou tão entorpecido que poderia dormir nos braços dele, se meu coração não batesse tão rápido. Tão rápido que talvez Gustavo sinta.

Ele me flagra observando-o, mas não me importo de verdade, só dirijo um pequeno sorriso a ele. E a música acaba.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da playlist e dos desenhos akshsjsj eu estava bastante insegura em postar eles aqui, porque eu não sou nenhuma profissional, então, por favor, peguem leve nas críticas :v
E, por último, deixa um comentário? Eu não quero assustar vocês mas, nesse capítulo, eles são essenciais. Preciso saber do que acharam e se vocês perceberam o novo ship e se aprovam e se acham que eu devo continuar, etc. Sua opinião é importante.
Por hoje é só pessoal, beijinhos da Kiera :*



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