Challenges of The Love escrita por Liz Rider, Kiera Collins


Capítulo 47
Medalhas - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas, eu sei que fiquei sumida, tipo, por mais de dois meses, quase três, o que já era suficiente para vocês acharem que a gente abandonou a história, eu sou uma pessoa horrível!, mas não, a gente não abandou a história e aqui estou eu, dois meses e meio depois, como uma grande irresponsável de merda, postando meu capítulo... Mais ei, não me matem, senão não vão ter a parte 2!
Porque assim, eu e a Ki NUNCA vamos desistir dessa história. Beleza, ela muito provavelmente só venha a ter uma temporada, então... mas... rsrs... não, muito improvável e apesar do nosso - meu - aparente descomprometimento, nós avisaríamos antes e daríamos um final, nem que fosse "Joãozinho foi para casa e Maria para o trabalho. Fim", okay? Qualquer coisa, se ficarem preocupados e tals, só entrarem na página do Facebook e deixarem um recado.

Link: https://www.facebook.com/challengesofthelove/

Vamos ao cap!
P.S.: Ele só foi divido porque ficou MUITO grande, mais de sete mil palavras - porque eu tinha que me redimir, né? Sei que não adiantou muito, mas... :'( - e a Kiera não queria que eu dividisse, porém eu sei que aqui não é o Wattpad que marca onde você parou e continua automaticamente de lá. Eu não gosto muito de ler capítulos enormes porque para mim e para o meu tempo eles se tornam cansativos, mas isso é do gosto de cada um, se quiserem dar sua opinião, estamos ouvindo...



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P.O.V Elsa

Estamos tendo a primeira aula da quarta-feira de manhã e estou uma pilha de nervos. Não sei se iremos ganhar. Estou com muito medo, muito ansiosa, Rapunzel teve que passar um esmalte especial em minhas unhas para que eu não roesse até a carne por debaixo delas. Suspiro. E ainda por cima a aula é de estudos sociais. É difícil de lidar com isso.

No próximo horário será a minha final. A minha, minha. Fico triste ao pensar que Vanessa concorreria comigo e agora não poderá mais fazê-lo, mas todo o drama de sua morte está distante demais de mim agora. Acho que Elly concorrerá no seu lugar. Não sei. 

— É o que parece. – É a resposta dela. – Não sei o que deu na cabeça do Jonas. Simplesmente não me sinto preparada. – Ela está tão nervosa quanto eu e isso é quase reconfortante.

— Mas veja pelo lado bom: é melhor você do que a ausência de Vanessa. – Faço uma careta. Talvez essa não fosse a coisa certa a se dizer. Suspiro. – Ou melhor: qualquer coisa que você fizer, por pior ou melhor que seja, ainda vai ser melhor que nada. – Oh, que merda eu estou fazendo?

— Ahn... não sei se isso ajudou muito. – Elly sorri.

— Desculpa, estou neuvousa. – rio.

— “Neuvousa”?

— Deixa para lá, vamos prestar atenção na aula. – suspiro.

Quando a minha final finalmente acaba, não há nada definido, os resultados, todos, só serão dados de noite, mas já posso ir fazendo as contas. Apesar de tudo, acho que não fui tão ruim, tampouco Elly. Para todo aquele nervosismo nosso, acho que até que fomos bem. Talvez eu fique no top três. Talvez Elly fique no top cinco.

— Você foi ótima! – digo sorrindo para ela, enquanto a abraço.

Adoro trabalhar no gelo, pelo menos não ficamos suadas.

— E terminamos rápido. Você terá tempo de ver o Jack na final de hóquei. – ela me dá um sorrisinho malicioso.

— Desculpa, mas eu passo.

— Ah, vamos lá, Els! Todo mundo sabe que vocês estão doidinhos para voltar um para o outro.

— Ele beijou ela. Ele apostou que ficaria comigo.

— Mas ela não está mais aqui. – diz Elly como se isso resolvesse tudo.

— Ela está morta não apaga o que aconteceu. Não na memória do outros. Não na memória dele. Não na minha memória. Simplesmente não muda os fatos.

— Eu sei, mas...

— A morte dela não muda nada. – digo, resignada, quase que para mim mesma.

De tarde, toda a confiança que eu havia conseguido após a minha final, evaporou como água no Saara. Jack também está no mesmo estado de espírito, o que não ajuda muito, assim como o silêncio completo e absoluto de nós dois enquanto esperamos no banco para sermos chamados.

A roupa de Jack é diferente, o que me surpreende. A outra era engraçada. Bem, não, é a roupa que a maioria dos patinadores no gelo ou bailarinos do sexo masculino usaria, mas calça legging e collant o deixam extremamente ridículo – ou engraçado ou sexy, que seja. Ela era azul. Totalmente azul, combinando com meu vestido, tons mais claros ou mais escuros de azul convergindo e fazendo-o parecer o céu. As únicas partes não azuis em seu antigo uniforme eram os patins marrons e o cinto, também marrom, mas essa roupa que ele está usando é diferente. E bem melhor.

É preta. Totalmente preta, quase como aquelas roupas de príncipes góticos ou vampiros de filme. Me dá um pouco de medo. A camisa me lembra uma camisa social, mas totalmente negra, assim como sua calça. Esse look nele é estranhamente lindo.

Minha roupa é bastante parecida com a da patinação individual e o mesmo da outra apresentação em dupla, na verdade. Não sei descrevê-la, mas é bastante bonita. É um vestidinho azul simples. É tomara que caia e tem um caimento perfeito. Sua saia é leve e curta, totalmente coberta por um tecido mais fino e azul que dá um toque brilhante à roupa, assim como na roupa da patinação individual, mas, diferente dela, o corpete dessa roupa é mais apertado e brilhante, além de ter uma daquelas capas estranhas cujas extremidades ficam amarradas em meus dedos. Os patins também são diferentes, um dos muitos pares que tenho, são brancos e se confundem facilmente à meia grossa e totalmente branca que uso nas pernas.

Minha maquiagem é leve, em uma sombra rosa, um batom claro, nenhum blush ou algo que torne minha pele naturalmente pálida mais corada, como normalmente. Acho que entendo o que estão querendo: sou branco e ele é preto; sou delicada e ele, apesar de não parecer bruto, parece ser distante: Somos diferentes. É uma música triste. Temos que representar isso.

Uma coisa, um toque meu e das meninas, algo que não fora pedido e nem sei se será permitido, que acrescentei, é uma tatuagem de henna bastante simples na mão. Na outra há uma luva. Também devia ter nessa, mas eu retirei para que a henna ficasse visível. Espero que não tenha problemas com isso.

Suspiro enquanto espero ser chamada.

— Bonita tatuagem. É permanente? – diz Jack quase timidamente.

— Não, né? É henna. – digo, revirando os olhos, irritada sem motivo algum com ele.

Ele não me responde, apenas faz uma careta.

— Você não sabe o que é henna, né? – ele assente vagarosamente. Reviro os olhos. – Henna é uma substância usada para fazer tatuagens temporárias que saem em algumas lavagens. – explico.

— Hm. Interessante. – ele diz vagamente com um olhar distante. Após alguns segundos olhando para sabe Deus onde, ele volta-se repentinamente para mim e sorri. – Decorou do Google, não é?

— É claro que não! – respondo, ofendida.

Apesar de tudo, aqueles pequenos momentos de descontração me fazem ficar descontraída. Depois Jack propõe um exercício de relaxamento, mas depois de dez minutos fazendo-o, descubro que é só um pretexto para se manter perto de mim. Desisto. Depois disso fico o tempo todo sentada o tempo todo, emburrada, com vontade de ficar em posição fetal e chupar o dedo, a pressão parece maior do que nunca.

De noite, me visto com uma jeans e uma regata azul clara bonita, além do meu habitual All-Star azul com meu querido floco de neve e um casaco feito especialmente para a equipe de patinação da escola, pelo menos tive tempo de ir para casa, o que algumas pessoas, como Merida, não tiveram. Suspiro.

Deixo Anna com suas amigas de classe e a primeira coisa que faço a seguir, é procurar Merida, mas quando a vejo em um clima... romântico com Gustavo. Sorrio, feliz por ela. Ela merece algo melhor do que Hans, e Gustavo parece ser a pessoa certa para isso.

Vou procurar Astrid, então. O “ginásio” da Olympic – que de ginásio não tem nada, mais parece um complexo atlético – é enorme e eu não conheço todos os lugares daqui, mas não demoro, de qualquer jeito, a encontrar Astrid. Ela está encostada na parede do corredor – há o corredor em que estou e perpendicularmente há outro, onde ela está apoiada –, apenas seus cabelos loiros cor de palha trançados e seu ombro à vista da minha perspectiva. Ela se move freneticamente e acho estranho, então vou falar com ela, mas ouço uma risada... será? Por que ela não me contou? Estou parada no corredor quando ela é virada e outro rosto fica à mostra: o de Soluço. Ponho a mão na boca para abafar uma exclamação.

Por que ela não me disse? Não que não desse para perceber um leve clima entre ela e Soluço, mas sempre achei que ela não queria nada com ele. Parece que ela só era durona demais para admitir, mas ainda me pergunto por que ela não me contou, eu não sou uma de suas melhores amigas? “Uma das, não a.”, minha mente é que diz o óbvio. A melhor amiga de Astrid é Elly, assim como a minha melhor amiga é Merida, mas achei que contássemos tudo umas para as outras.

Suspiro.

De qualquer jeito, estou feliz por ela. Sinto-me burra por não ter percebido o quanto ela estava mais radiante ultimamente. Me pergunto há quanto tempo essa relação existe e por quanto tempo eles ainda pretendem mantê-la escondida. Tenho vontade de dizer-lhe depois que esse “escondimento” não está dando muito certo.

Rapunzel e Tia Silvia estão nas arquibancadas, posso vê-las daqui, mesmo a vários e vários metros de distância. Rapunzel está se agarrando com Flynn de um jeito nada discreto e Tia Silvia tenta ignorar, olhando para a chata e desanimadora apresentação para distrair os convidados antes do início do anúncio, enquanto nós, os atletas, nos preparamos.

Sei que provavelmente deveria estar preparando-me mentalmente e até fisicamente, praticar as caras e bocas que irei fazer para não parecer má perdedora se não ganhar. Faz parte do esporte saber perder, ou pelo menos parecer fazê-lo, mas não estou afim, não é como se já não tivesse feito isso várias e várias vezes, não é como se eu já não estivesse, já não me sentisse, preparada. Claro, agora é diferente, não se trata mais só de mim, não é mais algo individual, é o todo, é o grupo, é a Olympic. A pressão é maior, mas essas partes offs da competição não são o que de fato pesam nesse contexto. Suspiro, estou me perdendo em meus próprios pensamentos.

Talvez Elly esteja no mesmo dilema, de manhã ela parecia tão nervosa quanto eu ou até mais, já que ela foi jogada na final no último segundo e não se sentia preparada.

Vou para o ringue de patinação, não sei se ela estará de fato lá, mas normalmente é lá que a encontro, sim, claro, nós duas “estudamos/trabalhamos” lá, mas até mesmo fora dos horários de treino, a encontro lá, parece ser seu refúgio.

Quando estou caminhando para lá, vejo que Anna abandonou suas amigas e está conversando com um sorriso enormemente bobo com Kristoff. Sorrio. Gosto dele, é um bom namorado para minha irmã, além de ser um bom amigo também, e uma boa pessoa. Eles formam um belo casal.

Elly está lá sim, mas não está sozinha. Mais um choque. Se eu achava que o fato de ter visto Astrid com Soluço havia me chocada, ver Elly com Lucas me choca ainda mais. “Pensei que ele gostasse de mim.” É estranha a amargura nesse pensamento, acredito que essa seja minha parte mais egoísta, egocêntrica. Era bom saber que mais alguém gostava de mim, apesar de ter Jack, sim, sei que é feio e errado, mas simplesmente dava um conforto. “É estranho perder alguém que você acreditava ser seu.”, suspiro. Mas apesar de tudo, quero que ele seja feliz, só nunca o imaginei com Elly, eles parecem tão... não sei. Mas pensando bem, os olhando agora, ela acariciando sua mão enquanto ele passa os lábios pelos delas suave e lentamente, eles até que combinam.

Assim como com Astrid, fico feliz por Elly e por Lucas também. Também me pergunto por que ela não me contou, mas provavelmente pelo mesmo motivo que Astrid: não se sentia segura comigo.

Sinto-me mal com isso, achei que confiassem em mim, mas não tenho tempo de cair em meu poço de autopiedade, porque um pensamento me atinge como um soco enquanto saio de lá: todos estão felizes. Todos estão felizes com seus parceiros: Merida e Gustavo, Astrid e Soluço, Rapunzel e Flynn, Anna e Kristoff, Elly e Lucas... todos os meus amigos, todas as pessoas que amam estão sendo felizes com outras pessoas que amam e que amam eles.

O único pensamento que parece me confortar é que Jack também deve estar na mesma situação. Sozinho, solitário, sentindo-se a bosta do sapato de alguém, mergulhado em um poço só seu de autopiedade e por um instante tenho vontade de procurá-lo para me sentir um pouco melhor, ver que não sou a única que sofre, mas o medo de vê-lo feliz com outra pessoa não me faz fazê-lo. Isso e a constatação de como esse pensamento é cruel. “Como pude sequer cogitar nisso?!”

Decido ficar sozinha, enfim. Talvez me acalme, me deixe lúcida, talvez encontre um pensamento feliz que faça um sorriso brotar em meus lábios antes que seja chamada lá em cima para ganhar, nem que seja, minha medalha de participação.

Caminho lentamente, esperando apenas uma música triste, talvez Adele, para que o quadro de tristeza, solidão, depressão e clichê se complete. Há um lugar, minimamente reservado onde posso ficar, então é para lá que estou indo.

Sento-me lá. É um espaço pequeno entre as quadras de futebol americano e vôlei. Descobri uma vez quando não encontrei as meninas no intervalo. Na verdade, esse é um ótimo lugar para pensar.

Pego meu telefone e coloco os fones. Fico vários minutos zapeando pelas músicas, até que escolho uma música, Halo, da Beyoncé. Gosto dessa música, apesar de ter querido uma música que representasse o meu estado de espírito, a chamada bad, mas não achei nenhuma música que transmitisse isso de fato na minha limitada playlist de músicas.

Ouço um barulho que se sobrepõe ao fone. Uma menina está parada a minha frente, observando-me na dobra do corredor. Acho que ela caiu.

Nunca a vi antes, então presumo que ela seja de alguma das outras escolas. Ela é, sem dúvida nenhuma, de origem oriental com olhinhos negros fofos e puxadinhos, tem cabelos lisos e negros e pele clara, porém rosada. Ela me olha ressabiada, mas deve ter a minha idade.

— Olá. – ela diz, timidamente.

— Oi. – respondo, a observando também timidamente.

Ela se aproxima a passos lentos.

— Você se chama Elsa, não é? – ela para e faz uma pausa lenta e serena. – Eu te vi patinando, você é ótima! – ela explica sorrindo simpaticamente.

— Ah. Obrigada. Mas... desculpa, quem é você?

— Ah... eu me chamo Mulan. Fa Mulan.

Fa. Esse não era o nome em um daqueles troféus enormes na área de esgrima que vi na visitação? Fa Zhou, era isso?

— Você é da Olympic? – pergunto, curiosa.

— Yeah. – responde, relutante, abraçando a si mesma.

— Nunca te vi lá. – comento.

Ela faz uma careta e continua com aquela mesma cara de quem é pega fazendo besteira de antes.

— Acho que você vai entender tudo mais tarde. – responde baixo e vagamente. Depois balança a cabeça e sorri para mim. – Posso sentar?

— Claro. – sorrio.

Ela se senta ao meu lado e ambas olhamos para frente.

Passam-se alguns segundos e Halo ainda toca no meu fone e tenho vontade de tirar da repetição automática, mas não o faço, apenas continuo parada, esperando. O que, eu de fato não sei.

— Você é de qual modalidade? – pergunto.

— Esgrima. – responde rápido, depois a careta está de volta.

Franzo o cenho, confusa.

— Achei que esgrima fosse uma modalidade masculina.

— Pois é, né..? – responde, novamente vaga. – Mas, ei, você patina muito bem! Os patins machucam?

Percebo sua mudança brusca de assunto, mas não a pressiono. Mal a conheço, não tenho intimidade o bastante para arrancar fatos de sua boca.

— Ás vezes. Mas quando estão amaciados, são quase como andar descalço. Claro, em cima de uma lâmina. – rio e ela me acompanha.

— Mas... não machuca? – ela parece confusa.

— Bem, é como eu disse, só dói quando não estão amaciados... – paro e sento-me voltada para ela. – Veja bem, é como um sapato normal, entende? Há vários tipos e modelos e sempre haverão aqueles que realmente não prestam para ti, mas assim como os calçados normais, se você achar o certo, vai ser ótimo.

Ela sorri.

— E você tem muitos pares? – seus olhos brilham de empolgação.

— Sim, alguns. Acho que é um número considerável, mas não chega aos pés da coleção de atletas profissionais. – paro e sorrio. – Trocadilho não intencional, desculpe.

Ela demora um tempinho para entender, mas quando finalmente consegue, ela dá um sorrisinho.

— Então, o que a traz para o Cantinho da Tristeza?

— Cantinho da Tristeza? – ela pergunta, sorrindo. – Não sabia que tinha esse nome. Chamo de Lugar dos Pensamentos.

— Justo. – respondo. Tiro da repetição automática. Happy, Pharel Willians, pulo-a. Heart Attack, Demi Lovato, é a próxima e apenas penso: Justo.

Chamamos todos os atletas de todas as escolas para a concentração no Centro de Medalhas. Chamamos todos os atletas de todas as escolas para a concentração no Centro de Medalhas.  – a voz de um professor que não reconheço ressoa pelos corredores do ginásio.

— Ahn, acho que temos que ir. – digo.

— Todo mundo sabe que quando eles dizem “concentração” quer dizer que a coisa de verdade só começará em uma hora. – ela comenta, porém se levanta.

Eu rio.

— Foi um prazer conhecê-la, Mulan. – digo, sorrindo para a asiática simpática.

— O prazer é todo meu, Elsa. – seus olhinhos fofos quase somem quando ela sorri para mim.

Seguimos juntas até termos que ir para grupos diferentes, ela o de esgrima e eu o de patinação no gelo, e eu aceno para ela, sorrindo. Ela, apesar de tudo, senta-se um pouco afastada do grupo, se eu não soubesse que ela era uma esgrimista da Olympic, diria que era ela de outra escola e de outro grupo. Ainda acho estranho o fato dela ser a única menina da equipe, Hans não tinha dito uma vez que era um time exclusivamente masculino?

Não tenho tempo para pensar nisso, porque a concentração é realmente eficiente e todos os alunos já parecem mesmo terem chegado e se acomodado junto a seus grupos. Parece que Seattle e aqui são realmente muito diferentes mesmo, mas nesse meio tempo, aprendi a apreciar as diferenças da Olympic que fazem a escola especial que ela é.

— Senhores, senhoras, atletas, professores? – é a voz da diretora Tooth no autofalante, viro-me para à frente e a vejo no centro do palco ladeada de mais três pessoas.

Dessas três pessoas, duas são homens, um deles parrudo e o outro franzino. O Parrudo parece tímido e o Franzino extremamente animado, o que é estranho, imaginaria o contrário. Parrudo está sem o blazer do paletó e com as mangas da camisa arregaçadas até acima do cotovelo e parece estar morrendo de calor, enquanto o outro parece estar completamente confortável neste ambiente extremamente quente e abafado, ele está com o paletó completo, mas um pouco mal ajustado e folgado.

Do lado contrário da Srª. Tooth, está uma mulher com cara de malvada e calculista, ela olha para a Srª. Tooth com uma raiva que eu não entendo e imagino que essa seja a diretora da Nike High School. A mulher está vestida com um vestido envelope preto de mangas arregaçadas um pouco depois do cotovelo com um decotão em V e um pouco acima dos joelhos. Ela tem seus cabelos loiros presos em um coque rigoroso e feições duras e descontentes.

— Obrigada pela atenção. – ela sorri para nós. – Estaremos nesse momento dando início a premiação e o resultado do XIV Campeonato das Quatro Escolas. Começaremos com os esportes aquáticos.

Então começam a chamar as equipes, depois outras e mais. Na metade, paro de prestar atenção. Então eles anunciam o prêmio de Arqueirismo, é o Sr. Parrudo que o faz e ele observa o papelzinho antes de anunciar numa voz alta, calma e extremamente grossa:

— O colégio que ganhou no esporte Arqueirismo foi a... – ele faz uma pausa dramática sem muito entusiasmo, enquanto todos nos calamos para ouvir o resultado. – Olympic. – ele parece entediado. Aparente os últimos três prêmios foram para a Olympic, Nike e Elite, respectivamente, e ele, aparentemente, é da Faith, então ele não parece muito feliz com isso, mas tampouco parece se importar.

Merida, Gustavo e o resto da equipe de arco e flecha da Olympic sobem no palco em fila indiana. Depois eles se dirigem até uma comprida mesa cheia de medalhas onde os treinadores e professores da Olympic pegam as medalhas douradas e põe em seus pescoços.

Em seguida, eles param no centro do palco, organizando-se para uma foto e depois vão até o microfone, ou melhor, Merida vai até o microfone, ao lado da Srª. Tooth. Não a imagino fazendo um discurso maneiro e inspirador para os alunos, apesar de tudo. Diretora Tooth parabeniza a equipe em geral e depois a diretora empurra o microfone para ela.

— Ahn. É. Eu não preparei discurso como os outros, digamos que eu esqueci essa parte. – algumas pessoas riem. – Nesses momentos que o Gustavo deveria ser o capitão, ele fala muito melhor do que eu. Quer o microfone, Gusta? – Gusta, han?!  Dou um sorriso malicioso, apesar de saber que ela não verá.

— Não, não, não! – Gustavo esconde o rosto nas mãos, negando e muitas pessoas riem, juntamente com Merida.

A Srª. Tooth puxa o microfone da mão de Merida para avisar:

— Srta. Merida, já vimos que você é uma boa comediante, pode falar da sua equipe. – outras pessoas riem e eu tenho vontade de revirar os olhos. Ué, por que essas pessoas estão rindo?

— Ok, ok. Bom, eu gosto muito de todos da equipe e do trabalho que fazemos juntos, afinal nós ganhamos o ouro, né? Não tem esse negócio de "melhor e pior" aqui, todos estamos no mesmo nível e nos respeitamos. É isso, quero dar os parabéns pra todo mundo. Vocês são fodas!

A Srª. Tooth bate a mão na testa num gesto dramático, porém divertido. Dessa vez realmente vejo a graça.

— Não pode falar palavrão, Merida... – apesar de seu tom reprovador, ela está rindo e eu a acompanho, antes ela do que uma diretora como a da Nike.

Merida pede desculpas e vai abraçar o resto de sua equipe, pulando e comemorando, depois gritam o suposto grito de guerra: “Não é só atirar flechinhas!” e descem do palco juntos. As outras equipes pegam suas respectivas medalhas, sem muito destaque. A Faith foi a segunda, a Nike a terceira e a Elite a quarta.

A senhora Tooth pega o microfone e chama a equipe de hóquei da Olympic como ganhadora. Olho para Jack, ansiosa por ele. Ele está conversando com Hans e torço o nariz para eles. Dois traíras idiotas, apostadores de merda.

Ouço algumas meninas gritando o nome de Jack e reviro os olhos. Se ao menos elas soubessem...

Depois do mesmo ritual de Merida e de todos antes dela ser feito, Jack pega o microfone:

— Então, agradecemos muito pelo primeiro lugar, mas, cara, foi mérito. Não to dizendo que nós somos melhores ou piores do que as outras equipes, porém, nesse campeonato, nesse momento, nós saímos melhor. Quero agradecer também a uma menina especial que, apesar de estarmos brigados, é de quem tiro todo o meu apoio e a equipe de patinação no gelo da Olympic, para onde foi emprestado, mas que, apesar de tudo, não enfraqueceu a equipe de hóquei, apenas nos ensinou, me ensinou a sermos mais tolerantes e conhecermos nossos colegas. – ele pisca para nós. – Infelizmente, essa experiência não foi só rosas, porque perdemos, todos da Olympic, uma pessoa muito importante para nós, Vanessa Thompson, não por causa disso, claro. Então gostaria que fizéssemos silêncio para ela por um momento, talvez não um minuto, mas um momento. – incrivelmente, todo o ginásio se silencia e fica solene perante a morte de Vanessa, inclusive eu. Depois da prolongada pausa e do silêncio, Jack ergue os olhos com uma expressão serena e um sorriso melancólico. – Queria dizer mais coisas, mas estou sem inspiração. – ele dá uma risada meio falsa e desce do palco com seus amigos mal encarados.

É a diretora da Nike que chama a próxima equipe, a de Esgrima. Terei medo se o diretor a chamar minha equipe for ela. Ela anuncia que os ganhadores são, finalmente, os alunos da FHS, e o faz como se isso rasgasse sua garganta e tivesse gosto ruim.

O Sr. Parrudo se precipita para frente para parabenizar seus alunos enquanto o ritual se repete mais uma vez. Está começando a ficar entediante.

O segundo lugar é a equipe da Olympic, eles também têm direito a um discurso, apesar de ninguém nunca prestar atenção no pessoal da prata.

Percebo que a garota também sobe ao palco e que todos – quase todos parecem ser asiáticos. Estranho. – a olham estranho, menos um rapaz mais centralizado, que imagino que seja o capitão e Hans, que nem parece perceber a presença dela. Eles pegam suas medalhas, tiram a foto da equipe e a diretora Tooth os parabeniza, oferecendo o microfone para o capitão, que respeitosamente recusa e aponta para Hans. O ruivo pega o microfone e vai até o centro do palco.

— Bom, eu queria dizer que eu estou feliz por ter participado da conquista da medalha e queria parabenizar a equipe, que é uma das mais fortes da Olympic. – ele faz uma pequena pausa e olha para trás, para o capitão da equipe, que faz um gesto para que ele prossiga, – E queria pedir desculpas. Não por nada que tenha acontecido nos jogos, mas por ter magoado uma pessoa muito, muito especial para mim.

Há um tumulto entre as pessoas, mas já sei do que ele está falando, então fico apenas procurando Merida entre aquela multidão de rostos. Volto-me para Hans, ele está olhando fixamente para ela e sorrindo.

— É uma garota que eu conheço já há um tempo, mas fui conhecer de verdade só no início desse ano. E já faz um tempo que eu estou perdidamente apaixonado por ela. – ele se senta no fim do palco. Há outra comoção, principalmente feminina, gritos femininos e exclamações como “Que fofo!” Tento ver a reação de Merida, mas não consigo vê-la do lugar que estou.

— Hans, isso não é lugar para falar de assuntos pessoais! – a senhora Tooth reclama.

Realmente! Ele não pode achar que pode apostar o amor da minha amiga, fazer um showzinho e que tudo estará certo.  

Hans junta as mãos como se estivesse rezando e pede mais um tempo para a diretora.

— Eu vou ser rápido! Eu juro. Que só queria pedir que ela me ouça. Eu cometi um grande erro, mas eu não tenho chance de me defender, porque ela não me ouve. Agora, com esse microfone, ela não tem mais desculpa. Você me ouviu agora, não é garota?

Satisfeito, Hans entrega o microfone de novo para a diretora, mas antes de descer completamente a escada, volta e toma o telefone da mão da diretora e fala rapidamente nele, fazendo a mulher ter um sobressalto.

— Eu te amo, garota que não posso identificar! Me perdoa!

Babaca, penso amargamente. Será que ele acha que dizer “eu te amo” apaga o que aconteceu?

Então ele finalmente desce a escada, dessa vez definitivamente, ao som de aplausos. Liana, ao meu lado, está aplaudindo também e reviro os olhos para ela. É muito fácil achar que Hans é o bonzinho e que merece ser perdoado quando não se sabe da história completa. Um coro de “Perdoa ele” começa e reviro os olhos. Que pessoas idiotas! Ela está com outro já, ele não soube valorizar e a perdeu.

Vejo Merida saindo e Hans indo logo em seguida.

Todos os rapazes da esgrima descem do palco menos o capitão, Mulan também permanece lá, me pergunto o que está acontecendo. Me pergunto também porque Hans não parecia estranhar a presença dela no palco, ao contrário do resto da equipe e do pessoal. Talvez ele estivesse tão nervoso que se alienou completamente a presença dela.

O diretor da EHS já está indo pegar o microfone quando a Srª. Tooth faz um gesto para ele e ele retrocede, voltando ao seu lugar de origem, ainda com aquele sorriso animado de sempre pregado no rosto.

— Senhores e senhoras, alunos e alunas, estarei interrompendo o anúncio para um comunicado. – ela olha para Mulan, que, cabisbaixa vai até ela. – Está garota, Fa Mulan, entrou no time masculino de esgrima no começo desse ano passando-se por um suposto irmão gêmeo que nem ao menos existe. Ela passou todos esses meses treinando como um garoto, vivendo como um garoto, convivendo com garotos e até dormia no dormitório masculino. – Mulan fica vermelha. – Sei, isso é algo muito sério. – Srª. Tooth faz uma pausa. – Ela não deveria precisar se sujeitar a isso para fazer parte de uma equipe atlética. – Mulan ergue o olhar para ela, surpresa, a diretora apenas lhe dirige um sorriso sereno. – Por isso, próximo ano, a Olympic estará abrindo vagas femininas para equipes que até então foram exclusivamente masculinas e vagas masculinas para equipes que até então foram apenas femininas.

— Não irei forçar que as outras escolas sigam a mesma conduta que a Olympic, mas espero que o façam, porque será bem mais saudável para todos se não houverem mais alunos como Mulan que entrarão no colégio escondidos, fingindo ser quem não são para poder participar do esporte que amam. No entanto, no campeonato do próximo ano, esses alunos competirão sim, não importa se tiver uma modalidade definida apenas para os rapazes ou as moças, se necessário, eles competirão com os do sexo oposto como iguais. Esse é o certo.

— A propósito, a senhorita Mulan foi uma grande guerreira e esgrimiu com perfeição, igual ou até melhor do que alguns homens, por isso acredito que ela mereça reconhecimento. – ela diz, estreitando os olhos para um lugar na plateia, provavelmente onde seus pais estão. Será que eles não concordavam com ela sendo esgrimista?

Fico bastante orgulhosa por Mulan, apesar de mal conhecê-la. Isso é que é ser girl Power e lutar pelo que deseja.

Ela diz e vai até o Sr. Franzino que o pega, ainda um pouco chocado e anuncia a próxima modalidade, seu sorriso, pela primeira vez na noite.


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Notas finais do capítulo

Mesmo dividindo eu acho que ficou meio grande, né? :P Sorry '-'

Então, galerinha. Nesse capítulo vocês tiveram várias reviravoltas e revelações - apesar de não todas, já que essa nota era inicialmente dos dois capítulos, já que eles eram só um -, umas já reveladas ou previsíveis e outras não, como a Mulan. Sim, eu já tinha falado dela, mas essa é a aparição mais participativa dela até agora. Então, esse é meio que o futuro de uma fanfic que estou escrevendo e que pretendo postar em breve. O nome é “Challenges Of The Love – A História de Mulan” e se passa no mesmo universo de Challenges of the Love, obviamente. É a história de Mulan, minha querida e preferida “princesa”, a mulher que salvou a China, passada para o mundo de Challenges of The Love, porque claro, não poderíamos escrever a história de Elsa e Merida e não escrever a de Mulan, não é? É uma fanfic minha e exclusivamente minha, apesar da Kiera me ajudar também com alguns aspectos, revisão, etc. Já tenho alguns capítulos prontos e não tenho previsão de lançamento, mas sai esse ano, independente de tudo.
Beijinhos,
Tia Liz.
P.S.: Obrigada pelos 30.000 views! 30.000 views, seus lindos!!



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