Na segunda, estava me sentindo mal, meio tonta. Mas fui para a escola mesmo assim. Não podia perder nenhum treino - o campeonato aconteceria na próxima semana. - e eu ia ter prova hoje, assim como nos próximos dias dessa semana. Vesti o suéter, diferente da quinta da semana passada, mas usei meias rasgadas. A Coordenadora Lucy me parou na entrada da Olympic:
– Novamente, a Srta. não está usando o uniforme.
– Estou sim. - disse. Gostaria de dizer "ora, eu estou pelada por acaso? Não, então estou usando a droga do uniforme!" mas eu não sou tão louca assim.
– Quis dizer que não está usando corretamente. Me refiro as meias. - disse ela, apontando para elas.
– Coordenadora, as novas regras do colégio dizem que as meninas são obrigadas a usar meias até o joelho. Isso aqui - disse, sorrindo de um jeito cínico e tocando as meias. - são meias, certo? Eu estava certa. As regras não especificavam qual tipo de meia deveríamos usar. A Coorderadora fez sua típica cara de "quero matar você, mas não posso".
– Vou cuidar para que as regras se tornem mais específicas. - disse ela. Quando a coordenadora virou e foi embora, fiz uma careta para ela.
– Essa velha é uma bruxa. - disse Astrid, me assustando.
– Eu não tinha visto você aí. - falei, rindo.
Fomos juntas para a sala de aula. Durante o caminho, notei que as pessoas olhavam para mim.
– Vamos mais rápido? - disse, incomodada com os olhares.
–Relaxa. Só estão te olhando por causa daquela festa. - falou Astrid.
– Como se isso me deixasse "relaxada". - disse baixinho, olhando para o chão. Meus pais não descobriram sobre aquela festa, mas se todo mundo sabia, eles podiam descobrir a qualquer momento.Chegamos na sala. Astrid sentou à minha esquerda e Gustavo à direita.
– É verdade o que estão falando? Você deu uma festa? - perguntou ele. "Ótimo. Estão espalhando até pra quem não estava lá", pensei e assenti. - E não me chamou? - disse ele, fazendo uma falsa cara de tristeza. Dei uma risada.
– Não, na verdade, não fui eu que dei essa festa. Eu ainda não sei como isso aconteceu. Te conto no treino.
– Ah. Tudo bem. - disse Gustavo.
Em seguida, voltei meu olhar para a porta da sala. Ela foi bruscamente aberta por Hans, que entrou correndo. Um minuto depois, a professora de inglês entrou. A Sra. Hudson não ia dar uma aula de verdade, só ia ficar com a gente até a hora da prova:
– Hoje eu trouxe uma música para vocês! - disse ela. Ouvi alguns suspiros. Eu fiquei animada, adorava música e quando os professores de línguas traziam músicas para nós cantarmos. É uma forma diferente de ensinar e eu também adorava isso. - É "Isn't She Lovely" de Stevie Worder.
– Eu sei a letra dessa música todinha! - disse Hans para a Sra. Hudson.
– Ah é? Então por que você não canta para nós? - respondeu ela. Hans deu de ombros.
– Tá.
Abaixei a cabeça tentando conter o riso, mas não consegui. Hans cantando?
– Está rindo, ruivinha? - perguntou Hans. - Acha que canta melhor que eu?
– "Sim" para todas as perguntas. - respondi.
– Então por que os dois não fazem um dueto? - perguntou a Sra. Hudson, com um sorriso. - Merida canta a primeira estrofe, Hans a segunda e a terceira vocês cantam juntos.
– Tá. - respondi.
– Só não se peguem no final... - sussurou Astrid, com um risinho. Virei para ela com uma cara de tédio e, discretamente, mostrei a ela o dedo médio.
A professora botou a música para nós ouvirmos antes de cantar. Não era a versão original, era um cover do glee. "Melhor ainda", pensei.
A primeira estrofe era minha. Logo que abri a boca, Hans fez uma cara de surpresa.

Isn't she lovely?
Isn't she wonderfull?
Isn't she precious?
Less than one minute old
I never thought through love we'd be
Making one as lovely as she
But isn't she lovely made from love

Não quero me gabar nem nada, mas eu cantava muito bem. Agora vinha a parte de Hans:

Isn't she pretty?
Truly the angel's best
Boy, I'm so happy
We have been heaven blessed
I can't believe what God has done
Through us he's given life to one
But isn't she lovely made from love

E vinha minha vez de fazer cara de surpresa. A voz de Hans era... linda. Olhei para ele. Ele já olhava para mim.

Isn't she lovely?
Life and love are the same
Life is Aisha
The meaning of her name
Londie, it could have not been done
Without you who conceived the one
That's so very lovely made from love.

Cantamos a última estrofe olhando um para o outro e eu só conseguia rir. No final, choveram aplausos. Foi incrível.

Fui andando para a AAF sozinha. Quando cheguei lá, Gustavo e Bruno estavam conversando, Leo e Zoe estavam... se pegando e Bianca treinava sozinha. Essa era a equipe de tiro ao alvo, que iria participar do campeonato. Como faltava pouco tempo para o campeonato, não tínhamos mais instrutor no treino, era considerado contra as regras. Gustavo veio falar comigo:
– E aí? Não vai me contar a história?
– Bom, é meio longa. - disse, com um risinho. Ficamos mirando e atirando enquanto eu contava tudo a ele.
– E aí eu mandei todo mundo ir embora e nós fomos dormir. - falei, ocultando a parte da história onde Hans, Jack e Soluço estavam atrás da porta. Por que? Eu realmente não sei. Gustavo estava rindo.
– Nossa, eu gostaria de ter ido, mas estava viajando. Sabe que eu cheguei de viagem ontem, né? - disse ele.
– Não. Você faltou a todas as aulas na última semana, mas não sabia que você estava viajando. - respondi.
– E não foi uma coisa muito inteligente... já que faltei aos treinos. Mas não vai afetar minha qualidade de melhor arqueiro da equipe. - disse ele com um sorriso, claramente me provocando.
– Aham, o melhor sempre é o líder, sabia? Você é o lider? Não, porque a líder sou eu. - falei, provocando de volta. De repente, me senti tonta e cambalei para trás. Quase caí, mas Gustavo segurou meu braço e o colocou em seu ombro, me equilibrando.
– Você está bem? - perguntou ele, com um olhar preocupado.
– Estou, estou. Só fiquei... meio tonta. - menti.
– Isso não é estar bem. Vamos sentar ali. - respondeu ele, me levando para sentar num banco.
Sentei e fiquei olhando Gustavo ir até o bebedouro e encher um copo d' água. E então Hans surgiu na porta e veio andando até onde eu estava sentada.
– Oi. O que está acontecendo aqui? - perguntou Hans. Não respondi. Gustavo chegou com o copo.
– Beba. - disse, se ajoelhando e, discretamente, alisou a minha mão. Mas não discreto o suficiente para Hans não perceber.
– Oi. O que é que está acontecendo aqui? - ele repetiu a pergunta, dessa vez, com um pouco de raiva na voz.
– Isso não é hora de ataque de ciúmes, cara. - falou Gustavo, com um sorrisinho no rosto.
Eu continuava tonta. Hans e Gustavo estavam discutindo, mas não entendia o que eles falavam. Levantei-me.
– E não é hora de vocês ficarem discutindo! - gritei. O mundo a minha volta girou e minha vista escureceu.

Abro os olhos. Estou deitada em uma maca, na enfermaria da Olympic, acho. Gustavo está ao meu lado direito e Hans no esquerdo, cada um segurando uma mão... A minha. Discretamente, me solto deles. Elsa está na minha frente.
– Eu tenho que pedir para vocês saírem ou os senhores tem um pouco de noção? - falo, para Hans e Gustavo.
– A ignorância voltou. - diz Hans, se encaminhando para a porta.
– A ignorância nunca saiu. - rebati. Ouço o som da porta fechando e me volto para Elsa. - Oi.
– Oi. Vim pra cá logo depois do treino, quando soube. Você se sentiu mal e desmaiou? Você está bem? - pergunta ela.
– Sim para todas as perguntas. - respondo.
– Talvez você esteja grávida. Agora só precisamos saber quem é o pai. - diz Elsa, com um sorrisinho malicioso. Tombo a cabeça para o lado e faço uma cara de tédio:
– Me poupe.
– Ai, eu só estou brincando. Mas, sem brincadeira, "quem seria o pai"? - pergunta Elsa.
– Que? - pergunto.
– Assim, de quem você gosta? Do Hans? Do Gustavo? - explica ela.
– Ah. Falando sério? Nenhum dos dois. - respondi. Mas isso era meio verdade. Ah, eu ia ficar mentindo para a minha amiga? - Quer dizer... Eu gosto dos dois. Mas só como amigos. - isso também era meio verdade. - Quer dizer... Eu... Sei lá! Eu não sei. - disse, pondo as mãos na testa e suspirando. Agora a minha fala era totalmente verdade.