Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 9
Il Mutto


Notas iniciais do capítulo

Sem prévias do que esperar no capítulo: leiam e deixem comentários, OK?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558867/chapter/9

Christine se recuperou depressa sob os cuidados de Madame Giry e do Dr. Ailler. Seus cortes eram extensos, mas pouco profundos, dispensando pontos; os hematomas, por sua vez, clarearam rapidamente com as compressas quentes e frias aplicadas por Antoinette, de sorte que, em uma semana, a moça pudera retornar aos ensaios.

A apresentação de Il Mutto seria em breve, e apesar das cartas enviadas pelo Fantasma, Carlotta se mantivera como a Primeira Dama; conseqüentemente, Christine faria o papel mudo do pajem. Isso havia deixado o Fantasma da Ópera ainda mais irritado, e a jovem soprano percebia que seu amado preparava algo... Só não conseguia imaginar o que. Estava bem claro que o Anjo não esquecera o ataque sofrido por ela, e pretendia fazer justiça com as próprias mãos.

A própria Christine não conseguia esquecer o que passara; tinha pesadelos quase todas as noites, dos quais acordava gritando. Erik passara a dormir com a jovem todas as noites, e a acalmava com abraços e canções suaves, tranqüilizando-a até fazê-la adormecer outra vez. Durante o dia, a jovem jamais ficava sozinha – estava sempre acompanhada por Madame Giry e Meg, ou sendo vigiada por Erik – tornara-se assustadiça e receosa de ir a lugares vazios. Não podia ter certeza de que Buquet não a atacaria outra vez!

Entretanto, naquele dia ela estava relativamente calma: seria impossível acontecer-lhe algo em meio a tanta agitação! Estava em curso o último ensaio antes da apresentação, na noite seguinte, e bastidores e palco se agitavam durante o ensaio geral, onde maquiagens, vestuário, coreografia e música deveriam se apresentar como no momento da exibição. Maquiadores, figurinistas, coreógrafos, cenógrafos e técnicos de palco corriam de um lado para outro a fim de deixar tudo preparado. As bailarinas se alongavam e aqueciam, e os cantores e atores coadjuvantes aqueciam as vozes. Finalmente a moça, após alguns momentos de choro silencioso – fazer um papel mudo era algo realmente doloroso, para ela – se juntou aos demais.

O ensaio começou sem intercorrências maiores do que os olhares raivosos de Carlotta para sua rival. O coro iniciou a canção, logo seguido pela Prima Donna; encenando um papel mudo, Christine dependia totalmente de sua habilidade como atriz para dar vida e expressividade ao personagem, e fazia seu melhor. Alguns poucos frequentadores curiosos – entre eles o Visconde de Chagny – haviam vindo presenciar o último ensaio geral de Il Mutto, e ocupavam os camarotes mais próximos do palco – exceto, é claro, o camarote cinco.

Quando chegou o final do primeiro ato, os atores saíram de cena enquanto o cenário era trocado por detrás das cortinas fechadas. Nos poucos minutos em que aguardavam para retornar à ribalta, Carlotta se aproximou de Christine, cruel:

– Vejo que se recuperou bem – havia um sorriso maldoso – Mas parece não ter compreendido o recado.

– Por que, Carlotta? – perguntou Christine, sem demonstrar o quão assustada estava – O que eu fiz para que me odiasse tanto?

– Você entrou em meu caminho, diabinha – a mulher mais velha bateu com o leque no ombro da moça – Estou falando sério: vai deixar este teatro em dois dias, a menos que pretenda ter esse rostinho de anjo totalmente desfigurado.

– Você é um monstro – declarou a mais nova, sustentando com firmeza o olhar da outra – tenho pena de você, Carlotta. Não sabe o que atraiu para si.

– Não, queridinha – havia cinismo e uma perversa satisfação no rosto e na voz da cantora mais velha – Eu ainda não lhe mostrei o monstro; estou apenas começando. Acredite, não vai querer conhecer o pior de mim! Para sua própria felicidade, seria bom deixar logo a Ópera Populaire... Tenho paciência, mas ela não é infinita.

A bailarina ia responder, mas era hora de retornarem ao palco, após a mudança de cenário: todos tomaram suas posições, e a cortina foi aberta para o segundo ato se iniciar. Entretanto, não se havia transcorrido a primeira cena completa antes que uma voz imponente ecoasse pelo anfiteatro, parecendo vir de todos os lugares:

– Minhas instruções não foram claras?!

A voz sobressaltou a todos, que se puseram a procurar com os olhos o dono daquelas palavras. Christine, entretanto, franziu o cenho e sussurrou para Meg, que estava ao seu lado:

– Ele vai fazer algo, Meg... – e embora houvesse sido apenas um sussurro, Carlotta ouviu suas palavras e se voltou contra a adolescente:

– Seu papel é mudo, monstrinha!

– Um monstro, madame? – perguntou a mesma voz, ainda mais ameaçadora – Você é o único monstro deste teatro, e vai pagar pelo que fez.

Os senhores Andre e Firmin ordenaram que vários homens saíssem à procura da pessoa que falava, enquanto eles próprios acalmavam o ataque de nervos da Primeira Dama. Passados dez minutos sem nenhuma nova interrupção, o ensaio iria recomeçar: Carlotta se voltou para sua assistente e lhe pediu o líquido para garganta. A senhora o trouxe, e começou a espirrá-lo na boca da cantora.

– por que está espirrando isso em meu queixo? – perguntou a italiana, espirrando ela própria o líquido na garganta.

A mulher retomou seu lugar, e a música se iniciou; entretanto, em vez de cantar, Carlotta levou ambas as mãos ao rosto, e gritou. Não foi um grito de histeria, mas um grito de dor, e então exclamou:

– Está queimando! Ajudem-me! Está queimando! – seus berros se tornaram ainda mais agudos enquanto todos (inclusive Christine) corriam para socorrê-la. Quando a soprano retirou as mãos de cima da face, todos puderam ver que em seu queixo, lábios e por dentro da boca havia inúmeras bolhas; alguém trocara o líquido para garganta por ácido concentrado! A substância corroia a pele da mulher, abrindo feridas na carne. O desespero se instalou e pessoas correram a chamar um médico, enquanto Madame Giry trazia água e se punha a limpar o rosto da italiana, tentando livrá-la do ácido enquanto a pele chiava e se desfazia.

Vendo a cena horrível, Christine sabia que Erik fora o autor daquilo. E, se por um lado compreendia a ânsia dele em protegê-la, por outro... Fora um ato horrível! Ela vira diante de si o a metade inferior do rosto de Carlotta se desmanchar numa massa sanguinolenta e cheia de bolhas, e não conseguia acreditar que alguém merecesse tal punição! Mas o Fantasma não acabara sua vingança...

Enquanto todos corriam desesperados, tentando fazer algo para ajudar a Primeira Dama, um grito de homem se fez ouvir. No segundo seguinte, Joseph Buquet caiu sobre o palco, pendendo de uma longa corda enrolada em seu pescoço. Seus pés se agitavam em agonia, enquanto o cabo se enterrava cada vez mais profundamente em sua carne. O ar não entrava em seus pulmões, devido à traquéia esmagada, e o sangue não chegava ao cérebro, bloqueado pela pressão intensa. Gritos de horror foram acompanhados por desmaios de damas e choro das crianças que viviam na Ópera, enquanto os últimos espasmos sacudiam o corpo de Buquet. Após uma última convulsão, ele pendeu inerte, morto.

A cabeça de Christine girava terrivelmente, não apenas pelo horror da cena – um cadáver enforcado pendente sobre o palco, e a mulher de rosto desfigurado que gritava em agonia no chão – mas por saber que, indiretamente, ela era responsável por aquilo. Mas como imaginar que Erik, seu amado – seu Anjo! – faria algo tão hediondo?! Ela tremia de horror e desespero, e sua vista se turvava; o mundo girava à sua volta, e a moça sentiu seu estômago se revirar. Apoiando-se numa coluna, escorregou até se ajoelhar no chão, arfando, lutando para não desfalecer. Ah, Erik, o que ele fizera?!

POV Christine

O médico veio e levou Carlotta para o hospital; outro chegou depois, atestando a morte de Joseph Buquet e encaminhando-o ao necrotério. O caos se instalara no teatro, e procuravam por todos os lados o culpado pelos dois acidentes macabros. Eu só conseguia chorar – mas o que, raios, estava acontecendo comigo?! Eu nunca fora chorona! – a ponto de fazer Monsieur Firmin me abraçar desajeitadamente, tentando consolar-me.

– Acalme-se, Srta. Daae, isso foi um acidente. Uma cena horrível, de fato, mas um acidente. – ele me levou até uma janela – Vamos, respire! Já passou! – e quando Madame Giry passou por nós – Ah, Madame! Por favor, tente acalmar Mademoiselle Daae! Ela está muito abalada com o que ocorreu!

Minha tutora me abraçou carinhosamente, mas aquilo não fazia com que me sentisse melhor. Em choque, horrorizada com o que meu amor fizera, sussurrei para Sr.ª Giry:

– Foi ele quem fez isso, Madame... Como ele pôde fazer algo tão horrível?!

– Calma, querida. Calma. Foi terrível, sim, mas não vá falar com Erik agora. Você está muito abalada, ele está furioso, e irão dizer coisas que talvez não possam ser perdoadas. Venha cá – ela me tomou pela mão, levou-me até Meg (que chorava copiosamente) e então levou a nós duas para a cozinha, onde nos fez beber um chá de camomila bastante adoçado. Carinhosa, falou conosco calmamente, até que parássemos de chorar.

Afinal me sentindo mais calma, quis me levantar e ir ter com Erik, mas a mãe de Meg me impediu:

– Não. É melhor não se falarem hoje. Meg dormirá com você, em seu quarto, para que nenhuma das duas tenha pesadelos esta noite. Amanhã, quando o choque tiver passado, você poderá procurar por Erik. Acredite, será melhor assim.

Acabei por concordar com Madame Giry – não queria brigar com Erik, e era o que aconteceria, se o visse naquele momento – e aceitar ir com Meg para o quarto, para ficar longe da comoção geral. Estávamos a caminho de meus aposentos quando Monsieur Andre nos interceptou:

– Ah, Srta. Daae! – eu parei e ouvi o que tinha a dizer – Sinto muito importuná-la num momento de emoções tão fortes, mas preciso lhe pedir que faça o papel da Condessa, na apresentação de amanhã!

Eu gaguejei algo, sem saber ao certo o que dizer, até que aceitei:

– Eu o farei, Sr Andre... – Madame Giry me interrompeu:

– Ela o fará, mas amanhã teremos de acertar os termos. Agora, Christine está abalada demais para falar disso. Iremos procurá-lo amanhã, diretor. – e com essas palavras, continuou puxando a mim e Meg até meu quarto, onde ainda nos consolou por algum tempo, antes de nos deixar a sós.

*

Na manhã seguinte eu me levantei junto com o Sol; estava mais calma e lúcida, e sabia que conseguiria conversar com Erik sem me alterar. Compreendia o desejo dele de me proteger, mas isso não significava que pudesse concordar com o que fizera: ele não apenas matara um homem – talvez, se tivesse matado Buquet e Carlotta eu não estivesse tão zangada – mas fizera algo bem mais monstruoso... Desfigurar alguém com ácido?! Nem mesmo Carlotta merecia o sofrimento de tão terrível queimadura! Sem falar no que o ácido espirrado em suas mucosas poderia lhe provocar! Se sobrevivesse – a morte poderia ser lenta e dolorosa – ela jamais voltaria a cantar. Como cantora, eu não queria tal sorte para ninguém.

Vestindo-me, desci as escadas até o salão principal, e de lá fui para a capela. Sabia que Erik estaria lá, e precisava muito falar com ele sobre o que acontecera; aquilo estava me consumindo internamente! Não era tanto pela imagem de Buquet enforcado, mas principalmente pela idéia de Carlotta sofrendo uma morte lenta e dolorosa ou, pior ainda, ficando eternamente desfigurada e padecendo das lesões.

Entrei na capela já chamando por meu Anjo:

– Erik! Meu amor, precisamos conversar!

A voz dele soou bem às minhas costas:

– Estava esperando por você, minha querida. Sabia que viria.

Virei-me para ele, respirando fundo para não deixar que minhas emoções tomassem conta de meus pensamentos, e falei:

– Eu sei que fez aquilo para me proteger, mas... Havia outros meios, Erik!

– É mesmo? Quais? – ele perguntou, cruzando os braços.

– Quaisquer métodos que não envolvessem trocar o líquido de garganta por ácido! Você matou Buquet... Isso eu ainda posso tentar compreender. Mas o que fez com Carlotta foi... Foi simplesmente horrível!

– O que ela lhe fez foi horrível! Aquela megera merece cada segundo de sofrimento que o ácido puder lhe proporcionar.

– Por Deus, Erik! Você desfigurou uma mulher para sempre! Não sente um mínimo de remorso por isso?!

– Remorso não é parte de minha natureza, Christine – seus olhos eram pétreos – Como você mesma disse, passei por coisas que quebrariam o espírito de qualquer outro, e isso me ensinou uma lição: faça aos outros antes que façam a você. Foi assim que me mantive vivo, e é o que farei para mantê-la segura.

– Passou por sua mente que eu posso não querer este tipo de proteção? – tornei, sentindo todo o peso da culpa por não ter tentado descobrir e impedir os planos de meu amado – Que eu posso não querer o peso de assassinatos e mutilações em minha consciência?!

– Eu assumo toda a responsabilidade. – ele respondeu. Eu comecei a perder a paciência com tamanha indiferença à vida humana:

– Acha que é simples assim? Que eu poderia virar as costas e deixar que você fizesse o que bem entendesse para me proteger ou favorecer? Eu não seria melhor do que Carlotta, se o fizesse! – Ele parecia um tanto confuso, mas estava também zangado:

– Então quer que eu simplesmente a deixe à própria sorte? É isso o que quer? Enfrentar a tudo sozinha? Eu deveria ter deixado que Carlotta e Buquet a mutilassem ou matassem?

– Não, Erik – respondi, buscando manter minha voz calma e firme – Eu quero que repense seus métodos. Acha que ferir, mutilar e aterrorizar pessoas é certo?

– Açoitar um menino de onze anos é certo?! – perguntou ele, sua voz alterada – ou mutilar uma menina de dezessete? Não existe justiça no mundo, Christine, a não ser a que fazemos com nossas próprias mãos! Por que não fazer?

– Porque somos melhores do que aqueles que nos fizeram tais coisas! – exclamei, tentando fazê-lo compreender – O que você fez... O que fez por todos esses anos, matando pessoas que entravam em seu caminho, ou que desobedeciam a suas regras... Isso é monstruoso! Tentei ignorar e fingir que não acontecera, mas agora aconteceu diante de meus olhos! Não posso mais fugir da realidade.

– está sendo infantil, garota! – retrucou meu amado, ríspido. Ele nunca havia sido rude comigo, antes – Já está na hora de entender que o mundo não é um conto de fadas! Cresça, Christine!

– E já está na hora de você entender que seu sofrimento no passado não lhe dá o direito de ser algoz da humanidade! Cresça, Erik! – respondi. Eu poderia ter continuado, mas o som de passos se aproximando nos interrompeu. Meu Anjo me encarou com uma expressão indefinida e falou:

– Conversamos depois. – Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele havia desaparecido. Bem a tempo de não ser visto pela pessoa que entrava na capela: Raoul.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Quem aí acha que Christine está certa? Quem ache que Erik está certo? E quem quer dar umas palmadas nos dois pra eles voltarem a se entender? O que esperam da conversa Raoul/Christine?
Comentem, por favor!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Music of The Night" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.