Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 7
Conflitos


Notas iniciais do capítulo

Comentem, comentem, comentem!



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Christine trincou os dentes, obrigando-se a reprimir a raiva: não bastava que Carlotta houvesse voltado ao teatro! A megera conseguira chantagear Monsieur Andre – com quem, ao que parecia, já tivera um envolvimento – e voltar a seu antigo posto de Primeira Dama. Os boatos quanto ao suposto romance de Christine e Raoul pesaram também contra a garota, manchando-lhe a reputação, e facilitaram que fosse substituída pela antiga Prima Donna. E, agora, a italiana dedicava cada segundo de seus dias a fazer da vida de Christine um verdadeiro inferno!

Abaixando-se e recolhendo os livros que deixara cair quando Carlotta a fizera tropeçar, a moça respirou fundo; sem desejar que a outra visse como aqueles pequenos atos de maldade a afetavam, levantou-se com expressão inabalável e continuou seu caminho. Não havia ainda dado dois passos quando um barulho alto se fez ouvir, seguido de um grito agudo. Virando-se depressa, a menina encontrou a figura de La Carlotta caída sob a pesada cortina de palco, a qual se desprendera no exato momento em que a mulher passava. Sem conseguir conter seu instinto, Christine correu para junto da Primeira Dama, ajudando-a a sair de sob a cortina; ao se ver livre, entretanto, a italiana exclamou:

– Não me toque! – mas pareceu reconsiderar – Ou melhor, ajude-me a tirar o figurino! Não vou ensaiar mais, por hoje!

– Outras podem...

– Eu estou ordenando que me ajude a trocar os trajes! Sabe como este figurino pesa? – ela torcia o nariz para a bailarina – Ande! Acompanhe-me até meus aposentos.

Ainda respirando fundo para tentar manter a calma, a dançarina acompanhou sua algoz até o quarto que já fora seu. Quando entraram no aposento, La Carlotta comentou, maldosa:

– Este quarto ainda tem o seu fedor. Levarei meses até me livrar deste cheiro! – ela fechou a porta – ajude-me a tirar a armação!

Controle-se” – Pensou Christine, para si mesma, enquanto ajudava a atual Prima Donna a retirar a sobressaia de veludo, as duas saias de algodão e a armação de metal. Ainda cabisbaixa, dobrou as vestes limpas e separou as que se haviam sujado com a queda da cortina. De repente, os pensamentos que giravam freneticamente em sua cabeça se organizaram, e ela parou o que fazia, encarando Carlotta.

– Por que está parada, menina do coro? Acha que minhas roupas vão se limpar e arrumar sozinhas?

– Não sou sua criada. – respondeu a adolescente, decidida.

A cantora se aproximou com passos arrogantes da jovem soprano, seus saltos fazendo-a parecer ainda mais alta perto da mais moça, e tentou intimidá-la:

– O que foi que disse?

– Cuide de suas próprias coisas, como todos os outros neste teatro.

– Deixe-me lhe explicar uma coisa – a mulher mais velha segurou o rosto de Christine com uma das mãos, ameaçadora, suas unhas se enfiando na pele da garota – Você vai fazer tudo o que eu ordenar, ou estará fora deste lugar antes do sol nascer, amanhã!

A mais moça deu um tapa na mão da outra, empurrando-a, e jogou-lhe as saias sujas de pó:

– Quer apostar? – e antes que cedesse à vontade de estrangular Carlotta, deixou o lugar, batendo com força a porta ao passar.

POV Christine

Minhas emoções nunca se haviam exaltado tanto. Meu coração fervia de raiva, vergonha, medo... Eu não devia ter enfrentado Carlotta! Não podia ter certeza de que Andre e Firmin respeitariam as ordens de Erik – não o haviam feito até agora, por que começariam a fazê-lo?

Sem querer que me vissem chorando, corri para meu quarto. Até duas semanas atrás, tudo estava absolutamente perfeito! Por que aquele demônio voltara ao teatro?! E por que desperdiçava cada segundo de seu tempo a me humilhar e maltratar? No caminho que fiz pelos corredores, algumas das outras bailarinas lançavam-me olhares maldosos enquanto trocavam risinhos maliciosos. Para todas elas, eu era amante do Visconde de Chagny, o que era um bom motivo para me odiar – e não importava se isso era ou não verdade! Ah, Raoul estava na minha lista negra por isso, com certeza!

Entrando no quarto, fechei a porta e dei duas voltas na chave; não queria ninguém ali, para me fazer sentir pior. Sentei-me na cama, escondi o rosto nos braços e chorei todas as lágrimas que tinha. Havia naquilo tudo um sentimento de injustiça: sempre havia feito tudo do modo mais correto, nunca quisera prejudicar ninguém, empenhara-me em fazer tudo do melhor modo possível... E aquela megera, que nunca olhara para algo diferente de seus próprios desejos, era admirada e adulada por todos. Simplesmente não era justo!

Fiquei ali por um tempo indefinido, abraçada aos joelhos, soluçando. De repente senti algo diferente, um toque delicado, e ouvi a voz de meu Anjo, gentil e carregada de preocupação:

– Eu já vi esta cena antes, anos atrás – ergui o rosto, e meus olhos encontraram os dele, tão brilhantes e cheios de carinho. Ele me beijou e se sentou ao meu lado, abraçando-me – por que foi ajudar Carlotta, quando derrubei a cortina sobre ela?

Dei de ombros, pois realmente não tinha resposta. Não fazia sentido ajudar aquela mulher, mas fora minha primeira reação. Enxugando as lágrimas, perguntei:

– Então, foi você quem derrubou as cortinas?

– Ela mereceu. – ele colocou meus cabelos para trás, e isso deixou à mostra as marcas das unhas da Primeira Dama. Seu olhar endureceu e, pela primeira vez, ouvi sua voz se alterar de raiva – Eu vou matar essa mulher!

– Erik, acalme-se – segurei-lhe a mão e sorri tão gentilmente quanto podia – Foi só um arranhão.

– Como posso ficar calmo, Christine?! – eu nunca o vira com raiva, antes, e tenho de confessar que era assustador – Ela já passou todos os limites! Até onde você pretende suportar? Até onde baixará a cabeça e obedecerá? Carlotta sairá da Ópera, ou arcará com as conseqüências! Não permitirei que esta mulher continue a maltratá-la e humilhá-la!

– Anjo – eu chamei, séria – por favor, não. Isso só faz com que eu me sinta pior.

Ele se calou ante minhas palavras, olhando-me com um misto de surpresa, desespero e preocupação antes de perguntar, adoçando sua voz tanto quanto podia, controlando a raiva que ainda queimava em seus olhos:

– E o que mais eu poderia fazer, minha querida?

– Abrace-me – pedi, lançando meus braços ao redor dele e deitando a cabeça em seu peito; os braços dele me envolveram delicadamente, apertando-me contra o corpo quente. Seu abraço me acalmava e trazia uma indizível sensação de felicidade, segurança, carinho... – Você tem razão: não posso continuar me curvando a La Carlotta... Mas tenho de fazer isso sozinha. – e antes que ele me interrompesse – É a minha batalha, e preciso aprender a me defender. Não posso depender de você para resolver tudo por mim, afinal.

– Eu não teria nenhum problema em fazê-lo – sussurrou ele, deslizando a mão por minhas costas, protetor.

– Eu, sim. Você é um homem corajoso e forte, Erik... Passou por coisas que teriam quebrado o espírito de qualquer outro. – deixei que meus olhos encontrassem os dele outra vez – Eu quero merecer seu amor. Quero ser sua companheira, lhe mostrar que posso cuidar de nós dois e da família que teremos. Quero que se orgulhe de mim. Que confie em mim.

– Eu já o faço, minha adorada.

– Então, confie. Eu posso lidar com Carlotta.

– Está bem. Mas, se ela apelar a meios mais vis para atingi-la, Christine...

– Então, pode fazer o que quiser para me defender, meu Anjo Guardião – respondi, sorrindo e acariciando-lhe a face – ah, deus... Você é tão perfeito que tenho medo de ser um sonho!

Meu amor sorriu lindamente e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, levantou-me nos braços; fingindo zanga, eu o repreendi:

– Eu posso andar! Tenho pernas, sabia disso?

– E que belas pernas – respondeu ele, fazendo-me corar intensamente. Levou-me consigo para uma passagem aberta atrás da tapeçaria – Venha comigo para casa, minha querida. Deixe que tudo se acalme por aqui; prometo trazê-la bem cedo, amanhã.

Suspirei, deliciada: a Casa do Lago era o lugar que mais amava no mundo! Para mim, começava a assumir conotação de lar; era meu refúgio, meu santuário, o lugar onde só existíamos Erik, eu e nossa música. E isso era simplesmente perfeito!

– Amanhã bem cedo, você diz... Acho que não precisam de mim por aqui, neste final de tarde.

POV Narrador

O Anjo da Música cumpriu sua promessa, de sorte que na manhã seguinte Christine já se encontrava de volta ao teatro. A priori, tudo parecia bastante calmo: Madame GIry e Meg não fizeram perguntas sobre o desaparecimento da jovem – sabiam muito bem onde ela estava, e com quem – tampouco alguém lhe perguntara o que fosse. Ela se juntou às bailarinas no aquecimento, mais calada do que de costume; a última coisa que queria era chamar atenção para si!

Mas era impossível não chamar a atenção: não apenas a técnica da moça era impecável, como naquela manhã sua alma parecia brilhar de tanta felicidade! Sua noite fora ocupada com música, histórias e pequenas brincadeiras, com carícias e beijos gentis junto à lareira... E cada simples lembrança aquecia a alma da dançarina, refletindo-se em sua dança como um novo vigor, uma vontade e uma graça que faziam-na se destacar. Foi esse brilho que a revelou de imediato aos olhos do inesperado visitante do dia, o Visconde de Chagny.

Ao ver a jovem pela qual nutria um misto de carinho e desejo, Raoul se desvencilhou do amigo que o acompanhava e seguiu em direção a Christine. Esta fingiu não vê-lo, mas o rapaz foi ao seu encontro mesmo assim; ainda zangada com o amigo, ela lhe deu as costas e tentou sair do palco. De Chagny, entretanto, segurou-lhe o pulso:

– Christine, por que está me evitando?

Voltando-se para ele, a bailarina fuzilou-o com o olhar:

– Tem alguma dúvida do motivo, de Chagny? – perguntou ela num tom baixo, aproximando-se dele - Sua pequena e indiscreta visita a sós manchou irremediavelmente minha reputação!

– Perdoe-me, Christine... Quando a reconheci, a alegria em revê-la fez-me esquecer o decoro. Corri para você como quando éramos pequenos, sem pensar ou medir as conseqüências de meus atos... Mas juro por tudo o que é sagrado: nunca tive a intenção de constrangê-la ou prejudicá-la.

– Eu sei disso, Raoul. – murmurou a jovem, séria – mas não vai mudar os boatos, e tampouco apagará a mácula de meu nome. Estou manchada, e por sua causa. – ela se afastou do moço – sinto sua falta: você é meu amigo... Mas não devemos ser vistos juntos, ou as fofocas serão alimentadas. Lamento muito que tenha de ser assim. – E antes que ele dissesse algo, executou uma elegante reverência – Tenha um bom dia, Visconde.

Ela deixou um atônito e envergonhado Raoul perto do palco, e foi se juntar ao restante das moças. O silêncio e a paz, contudo, não duraram muito... Em poucos minutos, a voz estridente de uma histérica Carlotta se fez ouvir:

– Eu nunca fui tão insultada em minha vida! – como um furacão, ela se dirigiu a Raoul de Chagny – Tentando proteger sua amante, milorde?

– Do que está falando? – perguntou o Visconde, confuso.

– Da carta anônima que enviou a meus aposentos, é claro!

– Madame, eu não lhe enviei carta alguma! – exclamou o jovem, indignado, enquanto os diretores do teatro vinham para a ribalta, alertados pelo escândalo da cantora.

Carlotta mediu Raoul de alto a baixo, desdenhosa, e estendeu-lhe uma carta aberta:

– Então, nega ter deixado isto em me quarto? – perguntou.

– Deixe-me ver! – o nobre tomou o papel e leu – “Seu desempenho como atriz e cantora é simplesmente patético; digo-lhe, portanto, que deixe este teatro e não volte. Christine Daae retomará o lugar de Prima Donna, ao qual você jamais deveria ter voltado. Se desobedecer, assumirá um grande risco. F.O.” – confuso, ele exclamou – eu não escrevi isso!

– Não está, por acaso, tentando favorecer sua amante?

– Isso é uma ofensa e um absurdo, Madame! – o nobre se ofendeu – Tenho mais a fazer do que me preocupar com as disputas e intrigas deste lugar! - ignorando a cantora, voltou-se para Andre e Firmin – Tenham um bom dia, senhores – e deixou o lugar, visivelmente desagradado, enquanto a Primeira Dama continuava seu ataque de raiva.

POV Erik

Eu sabia que aquilo não terminara; maldito De Chagny! Sua presença fizera parecer que ele enviara a carta, o que apena manchava ainda mais o nome de Christine! Ainda por cima, a raiva de Carlotta se voltava contra minha amada. Maldição! Se não houvesse prometido a Christine não interferir, faria cair uma trave sobre aquela megera!

Controlando minha raiva, mantive-me oculto nas sombras acima do palco, em meio aos refletores; cheio de ódio contra Carlotta, apenas observei o que se seguia. Aquele sapo emplumado dirigia toda a sua raiva contra meu pequeno anjo:

– E então, menina do coro? Quem estaria tão interessado em seu destino? A quem você pediu que me ameaçasse, para tentar me tirar da Ópera?

– Ao contrário de você, Carlotta – começou minha amada – não preciso deste tipo de artifício. Quando conquistar algo, será por meu talento, como já o fiz, e não trapaceando com os demais por meio de chantagens e ameaças.

– Está me acusando de trapaceira?

– Não. Estou apenas constatando o que você fez. Não foi com suas habilidades de atuação que conseguiu retomar o lugar, com certeza – eu nunca havia visto tamanha ousadia na voz de Christine, mas aquilo estava enfurecendo a outra mulher. Andre e Firmin finalmente acharam melhor intervir, e tentaram acalmar a histérica:

– Signora... Acalme-se, signora!

– Como vou me acalmar?! Esta vadia me ofende, e os senhores não fazem qualquer menção de me defender! Não vão expulsá-la daqui?!

– Signora... Não podemos...

– Por quê? Por ela ser amante do Visconde? Eu a quero fora deste teatro!

Eu me agitei: seriam eles idiotas o bastante para tentar expulsar Christine? Se dessem um único passo na direção dela, eu me manifestaria! Entretanto, minha princesa soube se impor. Deu um passo à frente e encarou a italiana:

– cale a boca, Carlotta. – ela não gritou, não se alterou. Havia um tom ferino em sua voz – Isso é mentira, e você sabe muito bem. Eu não sou, nem jamais fui amante de Raoul de Chagny. Se me quer fora daqui, encontre um motivo verdadeiro, em vez de fofocas e boatos maldosos; está com raiva porque, por meses, eu fui a Primeira Dama em seu lugar... Mas foi você quem deixou a Ópera. Então, cale sua boca e deixe-me em paz.

Christine se havia virado de costas, mas a outra não parecia disposta a encerrar aquela conversa:

– Volte aqui, pequeno demônio! Como ousa me dar as costas? – e virou Christine para si – Você não é nada! É uma criança se passando por mulher, uma interesseira manipuladora que pôs todos no teatro contra mim! Sua prostituta!

Eu podia esperar tudo, menos o que se seguiu: o tapa de Christine acertou em cheio o rosto de Carlotta, derrubando-a no chão! Creio que foi só a total surpresa do momento que me impediu de gargalhar ao ver a cena. A mulher, atônita e enraivecida, não teve tempo de dizer o que fosse, pois minha amada fez-se ouvir:

– Dentre nós duas, não fui eu quem dormiu com metade dos homens da Ópera! Como ousa pôr em dúvida minha honra, quando você mesma não é menos do que uma cortesã?! Entenda uma coisa, Carlotta: pode ser a Primeira Dama devido a suas chantagens e manipulações, mas isso não lhe dá qualquer poder sobre mim. Não aturarei mais os seus insultos! Se está com medo de que eu tome novamente seu lugar, então esmere-se em melhorar suas técnicas vocais e de atuação, em vez de atormentar meus dias como tem feito!

– Como você se atreve a...

– Eu me atrevo porque sou inocente. Apenas um aviso, Carlotta: não me calunie novamente. E fique bem longe de mim; não sou sua criada, nem lhe devo coisa alguma. Deixe-me em paz. – e com essas palavras, minha estrela deixou as coxias e caminhou calmamente para os alojamentos. Eu nunca sentira tanto orgulho dela!


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam deste novo lado de Christine?



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