Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 5
O Visconde de Chagny


Notas iniciais do capítulo

Certo, aqui surge o personagem mais odiado por toda fã de Erik: Raoul de Chagny. Não, meninas (e rapazes, se tiver algum que torça pelo Erik), não se desesperem! Eu já disse que não faço finais tristes, certo? E, como verão, até mesmo Christine se ressentirá aqui de seu outrora melhor amigo. Espero que curtam este capítulo!



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Eu despertei com os raios de Sol entrando pela janela de meu quarto; ao meu lado, na cama, meu amado Anjo ainda dormia profundamente. Mas que milagre! Geralmente, nas raras vezes em que passávamos a noite juntos em meu quarto, ele acordava de madrugada e descia para a Casa do Lago antes que alguém viesse me procurar e o encontrasse ali.

Já se passara mais de um mês desde que ele se revelara a mim, e nesse tempo eu não tivera mais chance de acompanhá-lo até seu lar, nos subterrâneos da Ópera; meus dias eram ocupados com os ensaios – especialmente agora, quando nos preparávamos para uma nova estréia – que só terminavam tarde da noite e, três vezes por semana, havia as apresentações das peças. Embora fosse um trabalho difícil, não podia chamá-lo de cansativo, simplesmente pelo fato de que adorava cada segundo! E, acima de tudo, havia a presença constante de Erik: como uma sombra, oculto dos olhares indiscretos, ele sempre estava lá, perto de mim, sua voz a me orientar e ensinar como sempre fizera.

Saindo de meus devaneios, voltei-me de frente para Erik e deixei meus olhos se deleitarem na visão que era seu rosto; intrigava-me a máscara sobre o lado direito de sua face – por que ele nunca a tirava? Uma possível resposta para essa pergunta talvez fossem as cicatrizes que meu Anjo portava: algumas pequenas nos braços e peito, o tipo de cicatriz que um espadachim teria, enquanto suas costas eram recobertas por inconfundíveis marcas de açoite. Em algum momento do passado ele fora impiedosamente chicoteado, e eu apostaria que por mais de uma vez. Talvez – apenas talvez – houvesse cicatrizes similares no lado direito de seu rosto, e máscara servisse para encobri-las. Mas era apenas uma teoria, pois ele nunca removera aquela peça diante de mim. E a verdade era que eu não me importava nem um pouco com o que ele ocultaria; amava-o intensamente, não por sua aparência, mas por quem ele era.

Em dúvida quanto a se deveria acordá-lo ou não, saí com cuidado de sob as cobertas e me levantei silenciosamente, fechando os botões de minha camisola e vestindo meu penhoar por cima. Sem querer acordá-lo – fora a primeira noite em que ele não tivera nenhum pesadelo – comecei a me arrumar. A estréia de Aníbal seria hoje, e o dia prometia ser muito agitado. Já estava vestida, e prendia os cabelos numa trança quando senti Erik me abraçar pelas costas. Como ele conseguia se mover tão silenciosamente?!

Virei-me em seus braços e o beijei, sussurrando:

– Bom dia, meu Anjo. – Ele já vestira a calça e a camisa, que estava parcialmente abotoada – Não o ouvi se levantar.

Ele sorriu – eu amava tanto aquele sorriso! – e, beijando-me novamente, falou:

– Tenho de ir, Christine. Alguém pode... – ele não chegou a concluir a frase, pois uma exclamação de surpresa vinda da porta o interrompeu.

Virando-nos rapidamente para a entrada, deparamo-nos com uma atônita Meg Giry, que cobria a boca com as mãos, surpresa. Tentando impedir que a próxima exclamação de minha amiga alertasse mais alguém da presença de Erik em meu quarto, puxei-a para dentro, empurrando-a contra a parede e tapando-lhe a boca com uma das mãos. Procurando manter a calma, sussurrei-lhe:

– Não grite, Meg. Olhe, eu vou soltá-la, mas tem de me prometer que não vai gritar. – e ante a anuência assustada dela, afastei-me um passo. Completamente surpresa, ela olhava de mim para Erik:

– Mas quem é esse homem, Christine Daae? E o que ele está fazendo no seu quarto?

Ciente de que Meg não sossegaria antes de obter respostas, ocupei-me primeiramente de meu amor:

– É melhor você ir, antes que mais alguém apareça; eu resolvo o problema.

O Anjo da Música assentiu e murmurou ao meu ouvido:

– Estarei lá para vê-la, à noite, minha bela estrela.

– Eu sei. Esperarei por você. – respondi, enquanto o via desaparecer pela passagem do espelho. Agora, precisava lidar com minha amiga, que tinha os braços cruzados e me encarava ameaçadoramente:

– O Fantasma da Ópera estava em seu quarto! – exclamou ela – Era ele o seu Anjo da Música, então?!

– Olhe, Meg... Eu não vou mentir para você, mas tem de jurar em nome de seus pais que não contará a ninguém!

– Eu juro.

Eu suspirei, sem saída, e comecei a explicar:

– Sim, ele é o Fantasma da Ópera. Vive neste teatro há vinte anos, e é o verdadeiro senhor da Ópera Populaire. São dele as composições que recebemos ocasionalmente, e é ele quem se corresponde com o diretor Petrus por meio daquelas cartas, dando-lhe as ordens quanto a como coordenar este lugar. E sim, foi ele quem me ensinou desde a infância.

– Mas ele... Ele estava no seu quarto! – exclamou Meg, e apontou para a cama desfeita – E raios me partam se vocês não dormiram juntos nesta cama! – acho que minha expressão foi toda a confirmação de que ela precisava – Christine! Isso é totalmente...

– Eu o amo, Meg. – eu respondi – Devo a ele tudo o que sou. E nós... Nós pretendemos nos casar, no outono do próximo ano.

– Casar-se com ele?! – havia espanto e horror na voz de minha melhor amiga – Você perdeu a razão? Já se esqueceu de tudo o que ouvimos a respeito do Fantasma da Ópera?! Se o que dizem for verdade, ele é um assassino!

– Se o que dizem fosse verdade, sua pele seria como um pergaminho amarelado, os olhos seriam fendas negras de íris alaranjadas, e as mãos teriam unhas como garras. Eu não sei você, mas eu não vejo qualquer similaridade entre os boatos e sua real aparência.

– Se ele não é um assassino, e tampouco é o monstro que contam, então por que se esconde? Qual é o passado deste homem, minha amiga? Quem é ele?

– Ele é o meu Anjo – respondi, já irritada com o que Meg dizia a respeito de meu amor – A pessoa que me confortou e consolou quando estava triste, que me ensinou tudo o que sei sobre música, que me fez acreditar em mim mesma. E, se isso não for o bastante para você, então entenda que sua mãe sabe de nosso relacionamento, e não se opõe.

– O quê?! – eu nunca vira tanto espanto no rosto de Meg, com certeza.

– Você me ouviu. Vamos, temos de descer! – e antes de sair pela porta, voltei-me uma última vez para ela – Lembre-se: jurou em nome de seus pais que não diria nada a quem quer que fosse!

– Eu vou me arrepender desta promessa, tenho certeza – resmungou ela, antes de descer em meu encalço.

*

Durante o último ensaio geral, ainda pela manhã, ficamos todos sabendo que haviam chegado ao teatro os novos administradores, que substituiriam o Sr. Petrus, que se demitira. Fomos apresentados aos Srs. Firmin e Andrés, dois senhores de certa idade, de aparência simpática e riso fácil. Pediram-me uma demonstração de minhas habilidades vocais, e cantei-lhes um trecho da terceira ária de Aníbal. Por suas expressões, estava evidente que haviam aprovado meu desempenho. Tudo corria muito bem, até que Madame Giry se juntou a nós, trazendo cartas nas mãos:

– Bom dia, meus senhores! Trago-lhes as mensagens de nosso coordenador – e abriu a primeira carta – ele lhes dá as boas vindas ao seu teatro, desejando que sua administração se mostre tão satisfatória quanto a do Sr. Petrus, e informa que a documentação deixada pelo antigo diretor se encontra guardada no cofre, sob a escrivaninha do escritório. Aqui está a chave – Madame Giry lhes entregou uma chave dourada.

– Como assim, o coordenador do teatro? – perguntou um surpreso Sr. Andrés – Nós somos os novos coordenadores!

– Ah, perdoem-me se me fiz entender mal – desculpou-se Madame Giry – Ele cuida da parte artística deste teatro, dirige tudo o que diz respeito às apresentações. – ela abriu a segunda carta – Ah, ele também avisa que o pagamento por sua última composição está atrasado, e pede que o débito seja quitado. – e leu – “Favor enviar o valor de vinte mil francos pelo correio, aos cuidados do Fantasma. Ademais, desejo-lhes boa sorte em seu novo trabalho. Irão precisar. O Fantasma da Ópera.”

Não consegui conter um sorriso, que escondi com a mão: Erik tinha senso de humor, e aquele tipo de situação inusitada era exatamente o que ele consideraria uma brincadeira. Criados fiéis por todos os lados permitiam-lhe confundir e manipular as pessoas sem que estas jamais pudessem encontrá-lo ou conhecê-lo. Era realmente cômico ver a expressão de estupefação dos novos administradores ante as cartas a eles enviadas, e eu quase podia ver o sorrisinho malicioso no rosto de meu amado, que certamente observava a cena de algum lugar escondido.

– E quem viria a ser este... Este Fantasma da Ópera, Madame? – perguntou Monsieur Firmin.

– Ninguém sabe com certeza. Comunica-se conosco por meio de suas cartas, e envia-nos uma composição ou escrito a cada temporada. Não o conhecemos pessoalmente, mas é um verdadeiro gênio das artes. – respondeu a mãe de Meg - Fariam bem em seguir suas orientações. O antigo diretor não se arrependeu de fazê-lo.

– Muito bem – começou Firmin – Discutiremos sobre este assunto mais tarde. Agora, gostaríamos de conhecer o restante do teatro, antes de recebermos o novo Visconde de Chagny, um de nossos patrocinadores.

Ao ouvir aquele nome, tive uma enorme surpresa: De Chagny! Ou muito me enganava, ou estavam falando de uma família que costumava freqüentar a casa de meu pai, quando eu era pequena; o filho da família, Raoul de Chagny, era três anos mais velho do que eu, e éramos grandes amigos. Melhores amigos, para ser sincera. Ele fora o mais próximo de um irmão que eu tivera, antes de vir para o teatro, e, se ele estivesse prestes a visitar o teatro, bem... De repente descobri sentir mais saudades dele do que me lembrava, ainda que só tivesse sete anos na última vez em que nos vimos. E era melhor explicar isso a Erik, antes que ele tivesse um ataque de ciúmes.

Voltei ao ensaio com uma pontada de curiosidade em meu coração: seria mesmo meu amigo de infância? Bem, de um modo ou de outro, não podia me distrair: era minha primeira estréia como Primeira Dama da Opera Populaire, e meu Anjo estaria lá para me ver. A última coisa que eu queria era ser menos do que perfeita.

*

Sim, eu havia sido perfeita. Minha voz se elevara como um puro cristal a ressoar (perdoem-me a falta de modéstia), e sei que minha atuação fora irrepreensível; nem poderia deixar de sê-lo, após tantas e tantas horas de treinamento e preparo!

Como acontecia em toda estréia, a Prima Donna recebia cumprimentos e flores – mas, desta vez, eu era a Prima Donna. E embora tudo aquilo me comovesse e enchesse de orgulho e alegria, estava ansiosa para me desvencilhar da multidão que me congratulava e correr para junto de meu Anjo! Especialmente porque algo acontecera – não pude imaginar o que – e, em vez de permanecer reservado para meu amor, o camarote cinco fora ocupado por um cavalheiro desconhecido. Percebi aquilo ainda durante a apresentação, mas só agora, já desvencilhada das emoções de minha personagem, é que sentia a raiva me perturbar. Como nossos administradores haviam permitido tal afronta?!

Consegui afinal me livrar do assédio dos espectadores, e fugir para meu camarim com a ajuda de Madame Giry – abençoada Madame! – que os impediu de vir atrás de mim. Quando nos vimos sozinhas no aposento, anexo ao meu quarto atual, ela me abraçou com seu habitual ar maternal, e disse:

– Saiu-se maravilhosamente bem, minha querida. – E pegando uma rosa vermelha que fora deixada sobre a mesa – Ele está orgulhoso por você.

Peguei a rosa com delicadeza e trouxe-a para junto de meu coração: aquela rosa era, para mim, a mais bela dentre todas as flores que adornavam meus aposentos.

– Eu sei disso – suspirei – Madame, sabe me dizer quem era aquele cavalheiro que, de modo tão descortês, ocupou o camarote cinco?

– É nosso patrocinador: o novo Visconde de Chagny, que assumiu o título e a fortuna da família após a morte do velho Visconde, alguns meses atrás. Até onde sei, acabou de concluir os estudos em Lyon, e retornou a Paris para administrar os bens da família.

Então, parecia que o misterioso senhor que eu vira era mesmo meu pequeno amigo Raoul... Quem diria! Eu nunca poderia ter reconhecido o menino que ele fora no homem que se tornara! Eu esperava realmente que seu ato descortês fosse fruto de ignorância quanto às exigências de meu Anjo – nesse caso, creio que Monsieur Andrés e Monsieur Firmin ganhariam a inimizade declarada de Erik – e não derivado da arrogância comum aos nobres.

– Obrigada, Madame. Por tudo.

– Não há pelo que me agradecer, criança – respondeu a única mãe que conheci, acariciando-me o rosto, orgulhosa, antes de se afastar e deixar o local. Sentei-me à penteadeira e comecei a folhear um livro: meu amado chegaria a qualquer momento, e queria que ele me visse naquele belo traje.

Não tardou para que eu ouvisse a porta abrir atrás de mim, e de imediato soube que não era meu amor. Ele nunca usava a porta principal, mas sim a passagem do espelho. Com um suspiro, virei-me para encontrar a figura de Raoul, que tinha um sorriso radiante e trazia um buquê de flores coloridas. Sua voz não parecia a do menino que eu conhecera quando falou:

– A Pequena Lotte deixou sua mente vagar: gosto mais de bonecas, duendes ou sapatos?

– Raoul – sussurrei seu nome, mal acreditando que nos reencontrávamos depois de tanto tempo. Levantei-me e corri para ele, abraçando-o: era, afinal, meu amigo querido, meu irmão, que eu não via há quase dez anos!

– De enigmas ou vestidos?

Eu ri, pois ele ainda se lembrava de nossas brincadeiras de crianças:

– Nossos piqueniques escondidos no sótão...

– Ou chocolates? – ele continuou.

– Papai tocava o violino...

– Enquanto contávamos um para o outro histórias sombrias do Norte. – ele sorriu e me entregou o buquê, que aceitei com ambas as mãos.

– Não, concluiu a pequena Lotte – ele prosseguiu – o que eu mais gosto é quando estou deitada em meu leito, e o Anjo da Música canta para mim.

– O Anjo da Música canta para mim – sussurrei de volta, sem saber se dizia aquilo para mim mesma, para Raoul ou para Erik, imaginando onde ele estaria.

Meu amigo me abraçou mais uma vez, elogiando-me:

– Cantou como um anjo, Christine! Como aprendeu a cantar desse modo?

Eu sorri, desviando meu olhos para a linda rosa vermelha sobre minha penteadeira:

– Meu pai me disse que enviaria para mim o Anjo da Música... E o Anjo veio, de fato, visitando-me todas as noites, ensinando-me seus segredos.

– Não tenho dúvidas disso, Pequena Lotte – ele disse, mas estava claro que não acreditara em mim – Agora, venha jantar comigo!

– Não Raoul! – exclamei – O Anjo não aprovaria... Ele é... Bastante rígido.

– Bem, eu não a trarei tarde – ele respondeu, quase zombando de mim, o que me fez ter vontade de socá-lo.

– Não, Raoul!

– Ande! Você precisa se trocar! – disse ele, encerrando o assunto e saindo de meus aposentos. Sua atitude condescendente e arrogante encheu-me de raiva, e bati a porta atrás dele, irritada: moleque arrogante e insolente! Como ele ousava pensar que poderia me dar ordens?! Entrava em meu quarto sem qualquer acompanhante (eu nem queria imaginar os boatos que surgiriam devido àquilo), intimava-me a acompanhá-lo a um jantar, escarnecia de minhas palavras! Nobrezinho mimado e atrevido!

Irritada, deixei o camarim e fui para meu quarto pela porta que os interligava, deixando-me cair na cama e voltando a minha leitura, a única coisa que poderia me acalmar até que Erik viesse. Eu apenas rezava para que ele não me houvesse visto com o Visconde e entendido errado o que vira.


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Notas finais do capítulo

Nossa... Será que Erik viu algo que não deveria? Sorry, queridos leitores, mas baixou um Fantasma da Ópera em mim: vou torturar vocês e só responder isso no próximo capítulo! HAHAHAHAHAHA!



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