Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 33
Na casa de campo


Notas iniciais do capítulo

Aêêêê! Depois de um século, voltei a postar! Desculpem mesmo pela demora, mas como disse, estou na faculdade, e está sendo difícil arranjar tempo para escrever todas as minhas fics. Espero que gostem do que escrevi, e vejo vocês lá em baixo!



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Onze anos depois

Como não sentir orgulho de seus filhos? Erik e Christine sorriam a cada vez que os contemplavam, verdadeiramente radiantes: Vivienne, aos dezesseis anos, era a mais jovem pianista do teatro, e apresentava-se frequentemente em belíssimos solos, por vezes acompanhada da mãe – ainda a Prima Donna do Opera Populaire, a voz mais magnífica do que nunca em seus plenos trinta e quatro anos. A adolescente também herdara a belíssima voz de seus pais, sendo uma soprano-lírica de grande habilidade, treinada pela própria mãe com grande rigor técnico. Com a decisão de Christine de deixar os palcos ao fim daquela temporada – julgava ocupar o posto há tempo demais - a moça faria uma audição junto a outras onze garotas – todas cantoras secundárias ou do coro - que ambicionavam o posto de Primeira Dama. Já Michel, contando apenas onze anos, era um verdadeiro prodígio artístico: tocava piano, violino, harpa e órgão com maestria, e sua voz de tenorino prometia tornar-se um tenor dramático formado e límpido, quando adulto. Era silencioso e contemplativo, e muito inclinado à literatura, tendo já começado a rascunhar algumas peças, que apresentara à crítica do pai.

Cientes dos maravilhosos talentos de seus filhos, o Fantasma e sua esposa haviam feito o possível para desenvolver-lhes as habilidades – eram muito críticos, mas nunca o bastante para desmotivar as crianças – e garantir que alcançassem todo o seu potencial sem, contudo, impor-lhes a arte como modo de vida. Como resultado, tinham em seu lar dois artistas brilhantes, que de livre vontade escolhiam viver a adoração à música, ao teatro, à pintura... E enquanto suas crianças desabrochavam para a adolescência – Vivienne já entrando na idade adulta – o Anjo da Música e sua linda esposa descobriam cada dia mais seu amor, construindo-o diariamente, aprofundando-o e fortalecendo seus laços através da convivência e da música que tanto amavam. Já não eram mais os mesmos jovens que se haviam conhecido tantos anos atrás, e com a maturidade havia vindo uma compreensão da alma um do outro que, muitas vezes, fazia-os parecer um só. Sabiam o que o outro pensava, o que sentia, e muitas vezes travavam longas conversas apenas com o olhar; acima de tudo, amavam-se de um modo que ia muito além do que qualquer um poderia compreender.

Estando próximo o reinício dos ensaios para a temporada de óperas, a família resolvera passar alguns dias na casa de campo, onde residiam durante alguns meses do ano; ali, era como se o mundo se transformasse, e toda a agitação do teatro dava lugar a uma paz deliciosa, constantemente “perturbada” pelas brincadeiras e brigas dos mais jovens, que amavam o local tanto quanto seus pais. Na manhã seguinte à sua chegada, Erik e Christine fizeram algo que não lhes era usual: deixando que Michel fosse vigiado pela irmã e por Madame Sourie – ainda a fiel ama da família De Guise – permitiram a si mesmos uma bela manhã na companhia um do outro.

Deitada na cama, ao lado de seu amado Anjo, ofegante após terem feito amor, Christine deitou a cabeça em seu peito e, beijando-o, fitou aqueles olhos verdes magníficos que a contemplavam com adoração; ele não era mais tão jovem, mas seus cinquenta e cinco anos não haviam tirado em nada o charme e o vigor do músico que, para ela, permanecia tão lindo quanto sempre fora. Acariciando os cabelos negros do esposo – agora com várias mechas grisalhas – ela se sentou sobre os quadris dele e perguntou:

– Lembra-se da primeira vez que me trouxe aqui?

– Você era tão jovem... – sussurrou ele de volta, beijando a palma da esposa e fitando-a intensamente, bebendo com os olhos a beleza e exuberância daquela mulher de trinta e quatro anos que há tanto tempo vinha tornando sua vida cada vez mais bela. Os longos cabelos cacheados caíam-lhe sobre o ombro e espalhavam-se sobre o corpo do Fantasma numa carícia involuntária e deliciosa – Tão jovem, e tão perfeita. – ele a deitou na cama e ajoelhou-se para contemplá-la por inteiro – como pude ser agraciado com tamanho presente?

Em resposta ela apenas sorriu e, entrelaçando os dedos aos dele, puxou-o sobre si; apaixonados, amaram-se outra vez. Foi só mais de uma hora depois, quando o Sol já ia à pino, que sua manhã de amor e prazer foi interrompida pelo som do piano, na sala. Vivienne era bastante metódica, e nem mesmo no chalé deixava de ensaiar suas peças – algumas das quais ela mesma compusera. Sorrindo um para o outro, eles se levantaram, banharam e vestiram, descendo então para o primeiro andar; ali, sentada ao piano em verdadeiro transe, estava a jovem mulher: com os cabelos negros e luzidios caindo em ondas soltas pelas costas, usando um vestido branco de alças, os olhos fechados e o rosto refletindo a mais pura paz, a adolescente tocava com grande sentimento, como se cada nota lhe ferisse e curasse o coração, como se morresse a cada acorde, apenas para renascer no próximo; o piano, para ela, era mais do que sua arte... Era sua paixão, seu amor... Seu amante. Uma última chave encerrou a melodia tocada, e os olhos verdes se abriram, acompanhados de um lindo sorriso nos lábios rubros:

– Bom dia! Pensei que não iam levantar hoje – brincou ela, ao seu modo provocador e travesso, enquanto se levantava para beijar os pais – está um lindo dia! Michel e eu saímos para cavalgar com Messieur Sourie, logo cedo. Cuidamos dos cavalos, e eu vim ensaiar. Ele deve estar lendo em cima de alguma árvore, como sempre.

Com um sorriso alegre e misterioso – incrível como a menina possuía os mesmos trejeitos do pai – a moça estendeu a mão para alcançar uma cesta de flores que deixara ao lado do piano, presenteando seus pais com ela:

– Colhidas há pouco, da poda das roseiras! – e beijou a bochecha da mãe e do pai – Madame Sourie mandou avisar que o almoço vai ser servido logo. – e assim dizendo, puxou-os para a varanda, onde passou a hora seguinte entretendo a ambos com belas músicas ao violino, intercaladas a conversas amenas.

– Suas composições são divinas, filha! – elogiou Christine, maravilhada com os sons que as mãos habilidosas da jovem produziam.

– Obrigada, mamãe, mas esta composição não foi minha... Foi de Adrien.

– Adrien, nosso maestro? – perguntou Erik, e ante a afirmativa da filha – Não sabia que também compunha. – o maestro tinha trinta anos, e costumava ensaiar com Vivienne por horas à fio. Eram bons amigos, e Christine e o Fantasma tinham grande apreço pelo talentoso músico, que tão jovem já se alçara a tão difícil posição no teatro.

– E é escritor, também... Escreve para o Jornal Parisiense, e publica crônicas, peças de teatro... – ela emudeceu por uns segundos – mãe, pai... – Vivienne hesitou por longos segundos antes de, enfim, revelar – Ele quer lhes pedir minha mão. Nós dois queremos nos casar.

– O quê?! – o tom do Fantasma era um misto de indignação, espanto e raiva – Como ele ousa?! Você é apenas uma criança!

– Tenho dezesseis anos, pai. – a jovem se sentou empertigada, cheia de dignidade e com firmeza no olhar e na voz – Mamãe tinha esta idade quando você a... Bem, a levou para a Casa do Lago pela primeira vez.

– Ele é quatorze anos mais velho que você! – o artista parecia furioso e ciumento, enquanto Christine estava radiante e ria-se da zanga do esposo.

– Você é vinte e um anos mais velho que mamãe! Que moral tem para dizer algo?! – perguntou ela – Além disso, é melhor desfazer essa cara de zanga: eu e ele nos amamos! Tenho ensaiado com ele desde que fiz doze anos! Eu me apaixonei! Ele tem o mesmo espírito que eu, amamos a música e a arte com a mesma intensidade, e é com Adrien que quero passar o resto de meus dias.

– Passou por sua cabeça que eu posso muito bem não consentir em tal noivado? – Erik se ergueu, no que foi imitado por Vivienne, que o confrontou com o olhar – ela era a única que enfrentava o Fantasma daquele modo:

– Estou tentando fazer as coisas do modo correto, papai, com sua aprovação e seguindo as convenções; mas isso não significa que sua vontade vá mudar minha decisão. – com a mesma zanga que o pai demonstrava, ela decidiu contar tudo o que guardava – E não pense que sua negativa está me protegendo dele, porque somos amantes há mais de três meses! – ao ouvir aquilo, Christine decidiu se interpor à dupla, para impedir que a discussão se acirrasse, uma vez que o gênio de pai e filha era idêntico, e as brigas entre ambos costumavam ser tão terríveis quanto doces eram as palavras que trocavam em momentos de paz:

– Já chega, vocês dois! Não vão estragar a manhã com uma discussão tola; Erik, sabemos que Adrien é um bom homem, e se tiver qualquer objeção a este noivado, faça-a durante uma conversa racional, e não num momento de ciúme doentio. Já você, Vivienne... Oras, francamente! Isso lá é coisa que se mencione para seu pai?!

– Você sabia que eles eram amantes? – o Anjo se voltou para sua mulher, sentindo-se traído pela esposa e pela filha por ter permanecido alheio ao que ocorria entre a jovem e o maestro... Talvez estivesse passando tempo demais em suas composições... Christine assumiu aquele mesmo ar misto de culpa e travessura que adotava desde menina, quando pega em flagrante, expressão que passara a ambos os filhos. Foi toda a confirmação de que Erik precisava:

– Mas será possível que vocês...

– Ahn, mamãe, acho que vou dar uma volta – interrompeu Vivienne – volto quando meu pai tiver voltado a agir racionalmente. – e ia saindo, quando o músico bronqueou:

– Não me vire as costas, Vivienne de Guise! – ele estava mais do que zangado: estava furioso.

– Ah, claro! – respondeu ela. Encostando-se à quina da parede, falou – Você tem o seu Anjo da Música, pai. Não tente me privar do meu - e saiu andando de costas, fitando o pai, numa reverência sarcástica – com sua licença, majestade!

Para Christine, foi impossível não rir: a menina era tão irreverente, ousada, abusada e sarcástica quanto o pai, e quando eles discutiam, geralmente o Fantasma perdia, pois via-se confrontado com as próprias armas, e em verdade não tinha coragem de magoar a filha. Assim, geralmente era a adolescente quem saía vitoriosa das discussões... Mas isso não amenizava a fúria que preenchia o peito do artista. Sabendo o quão irado ele se encontrava – devia ter sido um choque descobrir que sua filhinha já não era mais uma criança, e muito menos uma donzela – a soprano acariciou suavemente os ombros dele e falou a única coisa que o acalmaria:

– Ela é exatamente igual a você. – Aquelas palavras desarmaram Erik, que teria se voltado contra Christine para discutir, se não as ouvisse. Deixando cair os ombros, ele cerrou o maxilar:

– Vou matar aquele bastardo filho de uma mãe. Ele frequenta nossa casa! Como se atreve a fazer isso quando...

– Quando pretende ficar noivo de nossa filha? – riu-se a mulher – oras, não seja tão severo! – puxando o esposo para dentro de casa, ela sorria e o cobria de beijos – ou já se esqueceu de nossa primeira noite, de nosso namoro, noivado. Madame Giry tinha todos os motivos para se opor, mas apenas aceitou minha escolha... Se nós tivemos isso, por que Vivienne não pode? – ela viu a angústia, o ciúme e a preocupação nos olhos de seu amado – Ela não é mais uma garotinha. Merece a chance de fazer suas escolhas.

– Se ele a magoar...

– Se ele a magoar, você pode quebrar cada osso de Adrien com um martelo, e eu vou ajudar. – declarou a mulher, e algo em sua voz dizia que ela não estava brincando – e nós estaremos lá para nossa filha, se ela precisar. – sentando Erik num dos sofás, sentou-se de lado no colo dele e acariciou o lado exposto de seu rosto - Agora, tire essa expressão enfezada do rosto, e vamos continuar nossa manhã tão bem quanto começamos, está bem?

Meneando negativamente a cabeça, vencido pela doçura da esposa, que sabia como dobrá-lo à sua vontade – Christine era a única que o fazia – sentiu sua raiva se desvanecendo, enquanto a esposa o abraçava pelas costas e beijava delicadamente seu rosto e pescoço, as mãos massageando-lhe os ombros tensos. Relaxando nas mãos daquela a quem tanto, amava, ele afinal sorriu e a puxou para seu colo, beijando-a suavemente nos lábios.

– Como você consegue, Christine? Como consegue fazer isso comigo? Domar minhas emoções, me dobrar à sua vontade? Sou seu escravo, seu servo, e não quero a alforria. Estou preso, e não quero me libertar. Você é meu ópio, minha necessidade mais urgente!

– Eu sei – respondeu ela num sorriso, sua tez tocando a do esposo. Trocaram mais alguns beijos apaixonados, quando a voz de Michel os interrompeu:

– Interrompo algo, mamãe? – inacreditável! Erik conseguira fazer com que ambas as crianças herdassem sua ironia e hábito de chegar em silêncio, nos piores momentos! Levemente corada, a soprano se levantou do colo do esposo e ajeitou o vestido, abraçando então o filho.

– Bom dia, meu amor! – saudou ela, beijando a fronte do lindo menino de cabelos negros e olhos castanho-esverdeados, rosto similar ao seu e ar maroto no semblante, e tirando-lhe algumas folhas do cabelo. O pequeno tinha as roupas amarfanhadas e cheias de casca de árvore, e o rosto estava sujo com suco de amoras, que a dama limpou com a barra do vestido. Com uma reverência elegante, ele apresentou à mãe um ramalhete de violetas, fazendo-a sorrir.

– Apenas queria lhe dar um bom-dia de modo adequado, mamãe. – e após dar mais um beijo em Christine, pulou sem cerimônias no colo do pai, dando-lhe bom-dia. Bagunçando os cabelos do filho, que caíam em ondas perfeitas até os ombros, o músico perguntou:

– O que estava fazendo, até agora?

– Lendo em cima do velho carvalho. – respondeu o garoto – Então vi minha irmã passar em direção ao lago com cara de quem havia brigado, e resolvi vir para cá. O que aconteceu? Descobriram sobre ela e Adrien?

– Mas até você está sabendo disso, antes de mim?! – perguntou Erik, agora mais divertido do que bravo.

– Só fiquei sabendo porque peguei ele e Vivi se agarrando num dos camarotes. – e gargalhando – joguei uma bomba de fumaça vermelha no meio dos dois, e ela ficou em pânico, achando que era você, pai! Depois me ameaçou de morte, se eu contasse e, sendo Vivienne... Ela aprendeu a usar o cordão do Punjab, então não quis arriscar a sorte. – o menino parecia divertir-se muito com toda aquela situação, especialmente com o olhar ciumento e contrariado do pai.

– Oras, seu diabinho! – começou Christine, sentando ao lado de Erik e puxando levemente a orelha do filho – pare de incentivar os ciúmes de seu pai! Ah, por Deus! Eu tenho três assassinos psicopatas em casa, e dois nasceram de mim!

O homem e o menino riram da “zanga” de Christine, mas a conversa foi encerrada por uma alegre Madame Sourie – a qual agora trabalhava na companhia da neta mais velha, Caterine, de dezoito anos – que veio chama-los para o almoço. Michel disparou como um raio para buscar a irmã, que veio sem qualquer resquício de mágoa ou mau-humor no rosto. Sentaram-se juntos e conversaram como se nada houvesse acontecido – ninguém da família conseguia guardar mágoa dos demais por mais do que alguns minutos - e, pelo menos durante a refeição, não tocaram no assunto “noivado” ou no nome Adrien. Pelo menos por hora, estava tudo em paz, embora o Fantasma fizesse planos em sua mente para uma pequena visita ao pretenso noivo de sua filha.


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Notas finais do capítulo

Então, meninas (e rapazes)! Gostaram? Odiaram?
Erik como pai ciumento me pareceu bem... Bem Erik, então não pude deixar de mostrar isso aqui. Por outro lado, temos um vislumbre da personalidade de Vivienne - impulsiva, ousada, irreverente - e de Michel - mais quieto e tranquilo, mas não menos arteiro, tão maroto quanto o pai e a irmã. Espero que tenha ficado bom, até porque este é o penúltino capítulo. O próximo trará o fim dessa história, da qual me despeço com lágrimas nos olhos. Obrigada a todas vocês que comentaram, leram, curtiram e participaram de tudo; por terem estado comigo, com Erik, Christine e todas as outras personagens, têm um lugar em meu coração! Beijos, flores do meu jardim!



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