Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 32
Retorno


Notas iniciais do capítulo

É isso, meninas: volta a Paris, vida segue seu curso! Estamos na reta final, pois este é o penúltimo capítulo (antepenúltimo, se eu resolver fazer um epílogo). Estou me debulhando em lágrimas, porque realmente amo escrever essa história, mas tem que acabar em algum momento. Espero que gostem!



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Christine aguardava na plataforma, com Vivienne nos braços, enquanto seu esposo fora acompanhar o carregador para retirar a bagagem do trem. Cantarolava para seu bebê, que estava irritado com todo o barulho da plataforma, quando dedos gentis lhe tocaram o ombro, e uma voz de menina exclamou, cheia de alegria:

– Christine! – a cantora se voltou para encontrar Megan, sua melhor amiga, que tinha no rosto um sorriso radiante. As duas deixaram escapar uma exclamação de alegria e se abraçaram, compartilhando o abraço com Vivienne, que esqueceu o barulho irritante e começou a rir, pedindo colo para Meg.

– Eu senti tantas saudades! – exclamou a menina mais moça, pegando a pequena no colo – ah, conte tudo sobre o que aconteceu! O que vocês viram? O que fizeram? Quem conheceram?

Christine riu-se da empolgação da amiga: também estava indescritivelmente alegre com o reencontro, mas não queria contar as coisas sozinha. Rindo e abraçando a amiga outra vez, respondeu:

– Calma, sua curiosa inveterada! Tudo a seu tempo! Vou lhe contar TUDO quando estivermos no teatro!

– Ah, não! – protestou Meg, fingindo-se emburrada – Você ficou má que nem aquele seu Fantasma! Quer me matar de curiosidade! – mal disse aquelas palavras, o rosto da menina se abriu num sorriso ao ver Erik se aproximando, acompanhado por Madame Giry e pelo casal Sourie. A empolgação foi maior do que o medo que sentia dele, de modo que a jovem correu para Erik; qual não foi sua surpresa ao sentir os braços dele a envolverem num caloroso abraço, e a voz do homem soar feliz como ela nunca ouvira:

– É ótimo revê-la, pequena! – ele a soltou e bagunçou-lhe os cabelos – senti saudades.

As três francesas pareciam estupefatas com a mudança que viam naquele homem outrora tão sério e recluso: ele parecia cheio de vida e entusiasmo, e pouco ou nada se importava com os olhares lançados sobre si pelos transeuntes curiosos. Recebera às três com abraços apertados, e cumprimentara o Sr. Sourie com um amigável aperto de mão... Totalmente surpresas, Antoinette e Aneliese correram a enolver Christine em seus braços, perguntando então:

– Mas o que você fez com este homem? – Madame Giry continuou – Tem certeza de que este é, mesmo, Erik?

A soprano gargalhou enquanto as duas mulheres mais velhas se derretiam por Vivienne - que lhes sorria e estendia os bracinhos – fazendo comentários acerca do quanto o bebê crescera, e como estava bonita.

– Podem ter certeza que é o mesmo homem. Eu disse que conseguiria “consertá-lo”! Acho que só precisava de um pouco de ar puro, depois de tantos anos mofando no subsolo – e ante a careta que o Fantasma lhe dirigiu – Sem ofensas, amor! Você progrediu muito desde que nos conhecemos – para a completa confusão dos presentes, o Anjo da Música meneou a cabeça e riu baixinho. Mas o que a cantora havia feito com Erik, para transformá-lo daquele jeito?!

– Bem, os reencontros estão ótimos – começou o Sr. Sourie – mas os coches estão esperando.

Em meio a mais conversas e exclamações de júbilo, os seis se dirigiram aos dois coches; embora todos quisessem ir no mesmo carro de Erik e Christine, apenas Madame Giry o fez, enquanto Meg ia com o casal Sourie. Dentro da diligência, a conversa prosseguiu em meio aos balbucios e risadinhas de Vivienne, que parecia se lembrar de Madame Giry e estar esfuziante com o reencontro.

– Por Deus, Christine, o que você fez com nosso garoto? Ele parece outro homem! – exclamou a senhora, fascinada com o modo mais descontraído e alegre daquele que fora seu amigo desde a infância – Mal posso reconhecê-lo!

– Ela só me deu todo o amor que eu poderia pedir – respondeu o Anjo, aconchegando a esposa mais perto de si – Christine é um verdadeiro tesouro, Antoinette... Eu tive de fazer por merecê-la.

– Ele se adaptou bem à Suécia; fizemos amigos que o obrigaram a rir tantas vezes, que isso lhe virou habitual! – respondeu a soprano, ao que seu esposo rebateu:

– Não foi Emma quem caiu de uma rena.

– Mas foi Viktor quem te empurrou na água congelada. – riu-se ela.

– Rena? Você andou em uma rena? – perguntou a viúva, divertindo-se com a empolgação do casal.

– Na verdade, não. Eu tentei andar, mas não fiquei muito tempo em cima – explicou a jovem – E ele ainda fica rindo!

– Ela se vingou depois – contou o Fantasma – fez um complô com um amigo para me derrubar numa piscina congelada.

– Christine! Ele podia ter adoecido! – repreendeu Madame Giry, fazendo notas mentais para perguntar depois acerca dos mencionados amigos.

– Ah, não, Madame! Emma e eu nadávamos todos os dias! Só o que aconteceu foi ele revelar todo o seu repertório de imprecações – e assim dizendo, a moça caiu na risada outra vez. Erik não resistiu a abrir um lindo sorriso, e durante todo o percurso de volta para casa, houve apenas alegria.

POV Erik

Havíamos chegado a Paris há dois dias; minha querida esposa se viu cercada por carinhos, festejos e atenções de todos os amigos e conhecidos, enquanto contava animadamente tudo o que se passara. Voltar para casa foi bom – confesso que estava com saudades do lar – e fiquei muito feliz em rever nossos amigos; mas Paris, decididamente, não era como Estocolmo. Pois ali eu era o Fantasma da Ópera: muitos crimes pesavam em meus ombros, e a maior parte das pessoas me temia... E era importante que assim continuasse a ser, pois apenas o temor pode despertar o respeito naqueles cujas intenções seriam menos do que nobres, se tivessem chance. Contudo, temor e reverência podem ser incutidos nos demais por mais de uma forma diferente, e eu aprendera algumas coisas sobre seres humanos em nossa viagem... Coisas que estava disposto a usar.

Todo o teatro pareceu se regozijar com o retorno de Christine; o meu, por outro lado, causou emoções bastante diversas, e tratei de manter-me impassível, a imagem perfeita do Fantasma que governava a ópera como um rei em seus domínios. Sei que minha amada não ficou muito feliz com aquilo, mas depois eu lhe explicaria meus pensamentos. Quando ficamos a sós com Madame Giry, Meg e nossos poucos outros amigos, contudo, permiti a mim mesmo relaxar e sorrir outra vez, participando nas conversas e saboreando verdadeiramente o fato de estar outra vez em casa. Fomos para a Casa do Lago – mantida impecável pela senhoritas Desirée e De Guille, em nossa ausência – já tarde da noite, e respirei com saudades o ar de nosso refúgio. Minha amada também estava radiante, mas não resistiu a me provocar, quando já havíamos desfeito as malas e repousávamos em nossa sala, com Vivienne dormindo em meus braços:

– Saudades de se esconder em nossa casa?

– Saudades de me esconder com vocês em nossa casa – corrigi, e a abracei – é bom estar de volta.

– Não compreendi seu comportamento – dissera ela – pareceu tão frio e distante de todos...

– Aqui eu sou o Fantasma, meu amor – respondi, acariciando-lhe o rosto – se não fizer com que me receiem, ao menos um pouco, perderei o respeito de todos. O temor é um bom aliado, às vezes.

– Pensei que não queria mais usar o terror para... – eu a interrompi:

– Temor e terror são coisas diferentes. Posso fazer com que me receiem, sem precisar apavorá-las. – eu queria realmente tranqüilizá-la, pois pretendia cumprir minha promessa e nunca mais tornar a matar – deixe que o receio paire sobre todos, para que continuem em seu lugar. Mas quando estivermos a sós, ou entre amigos... Então, sim, poderei ser o homem em que você me transformou, meu amor. Poderei “tirar a máscara”.

– Promete que não deixará o Fantasma voltar a consumir sua alegria, sua liberdade?

– Nunca mais. – jurei, dando-lhe um beijo – nunca mais permitirei que ele me afaste de todas as maravilhas que conheci ao seu lado, minha amada.

Ela se dera por satisfeita e encerrara o assunto com um beijo, encolhendo-se junto a mim com um livro de botânica nas mãos, tão relaxada e feliz que mais parecia uma gatinha manhosa, enquanto eu relia algumas obras que deixara por completar antes de nossa partida.

Era em tal diálogo – transcorrido no mesmo dia de nossa chegada – que eu pensava enquanto, sentado ao piano, passava para o papel a música que vinha compondo em minha cabeça desde que estávamos na Suécia. Havia algo de invernal naquela parte da composição, lenta, triste e fria como flocos de neve caindo pelo ar, delicada e bela, antes de se acelerar e alegrar como o canto de pássaros na primavera; aliás, disso mesmo se tratava a cena que compunha: o degelo, os primeiros brotos que rompiam a flor da neve enquanto um jovem caía em sono profundo, enfeitiçado.

A composição que iniciava seria uma ópera: Luzes do Norte – o título provisório que dera ao trabalho – contava a história de um jovem que, após ver-se atraído a dançar num círculo de fadas, deitava-se sob uma árvore e caía em sono encantado por cem anos, ao cabo dos quais despertava para encontrar todo o mundo diferente do que se lembrava. Eu baseava a composição nos mitos e lendas que ouvira na Escandinávia, bem como nas lindas paisagens e nas características da música folclórica. Mesclando tais elementos às tradições e formas tradicionais dos palcos franceses, eu conseguira obter algo bastante inovador, que talvez trouxesse uma nova concepção da arte nos palcos. Seria uma peça que uniria árias cantadas, atos instrumentais e coreografias de balé, aliadas a jogos de luzes e efeitos de palco que começava a idealizar. Quando finalizasse seria, com certeza, minha obra-prima... Mas estava apenas no começo, e prometia ser um trabalho que levaria anos para concluir.

Levei várias horas trabalhando até conseguir acordes que me deixassem satisfeito: não queria a harmonia tradicional de composições clássicas, mas, ainda assim, devia haver um som agradável ao ouvido, que hipnotizasse e atraísse. Contudo, minha mente parecia trabalhar muito mais rápido do que minhas mãos, e simplesmente não conseguia finalizar aquela frase musical numa resolução que fizesse sentido, de modo que resolvi subir ao teatro para buscar um pouco de ordem aos pensamentos.

Fiz meu caminho costumeiro para a superfície, contornando o lago pela estreita trilha iluminada por minha lanterna; gostava de apreciar o modo como a luz refletia na superfície espelhada e dourava a névoa que se desprendia da água... Luz e sombra criavam formas e ilusões que me inspiravam e aquietavam os agitados pensamentos. Meditava sobre isso quando, ainda no subsolo, ouvi a voz límpida de minha mulher... Ela havia acabado de deixar o ensaio, e vinha mais cedo para nosso lar; mas a música que cantava não era algo que já tivesse ouvido: compunha a melodia à medida que a cantava, e naquele ato tão simples, as notas límpidas que produzia com sua voz cristalina foram toda a minha inspiração, dando-me já pronta a finalização que eu buscava para o trecho da ópera em que trabalhava!

Acelerei o passo para ir ao encontro dela; Christine vinha pelo caminho, ensinando Vivienne a andar, segurando-lhe as mãozinhas roliças para dar-lhe apoio nos passos ainda vacilantes, que se tornavam cada vez mais firmes. Usava um vestido branco e longo, de cinto dourado – ela amava aqueles trajes gregos, por mais incomuns que fossem – que lhe fazia parecer ainda mais uma ninfa. Sorri ante tal cena, meu coração cheio de amor por elas quando as alcancei; ergui minha filha no colo e tomei minha esposa nos braços, beijando-a profundamente.

– Alguém parece feliz! – comentou ela, sorridente, quando nos separamos – conseguiu progredir em sua obra?

– Acabei de resolver os primeiros trechos do prelúdio, graças a você – respondi, sorrindo-lhe – a você, com sua linda voz, minha musa inspiradora.

– Por que não vamos procurar inspiração no jardim? – perguntou-me ela – tomar um pouco de sol e respirar ar fresco, antes que você volte a tomar gosto pela vida de vampiro que levava? – não pude deixar de rir ante o comentário dela; estar com Christine me fazia ter vontade de rir sem motivos, de cantar toda a alegria que ela me causava. Não é algo que eu possa explicar: ser feliz, alegre... Nunca fora parte de mim. Até conhecê-la, a melhor sensação que havia era o bem-estar e veneração que a música me trazia... Mas com ela... Christine trazia à tona o que havia de melhor em mim. Só com ela eu podia ser melhor do que jamais havia sido, pois só por ela valia à pena fazer isso... Bem, por ela, e por nossa filha, o meu mais precioso tesouro.

– Só por você eu deixaria minha “vida de vampiro”, como definiu. – disse afinal, vendo o contentamento no rosto de minha esposa. Com o seu costumeiro entusiasmo, agarrou-me o braço livre e começou a puxar-me pelos caminhos da Ópera, que agora conhecia tão bem quanto eu.

Passamos o final de tarde no jardim: um lugar pouco visitado no teatro e, talvez por isso mesmo, de beleza indizível, com suas roseiras antigas carregadas de botões, o caminho de pedras brancas, a fonte em forma de Vênus - cujas mãos sustentavam o cântaro de onde vertia água... Provavelmente o lugar mais bonito da Ópera Populaire. Em dado momento, Meg e Madame LaBlanc se juntaram a nós, e posso dizer que foi uma tarde perfeita.

Voltamos para casa ao primeiro anoitecer; Vivienne insistia em ir “caminhando”, suas mãos se agarrando com firmeza a meus dedos enquanto ela parecia muito satisfeita com suas tentativas de primeiros passos. Quando descemos ao subterrâneo, contudo, levei-a no colo: o caminho era irregular demais para uma criança que ainda nem andava sem apoio; já na Casa do Lago, minha musa ocupou-se da pequenina, enquanto eu me sentava ao órgão de foles com os esboços de Luzes do Norte em mãos: tivera uma súbita inspiração no jardim, e teria de reescrever o trecho, pois me ocorrera um arranjo muito mais belo, que o órgão executaria melhor que o piano. Com a música em minha mente, executei-a para ouvir como ficaria, e muito me satisfizeram os sons. Afinal eu tinha o prelúdio da obra – ou pelo menos o canto principal deste, pois necessitava criar o arranjo das cordas e das flautas, que ainda não era mais que uma idéia. Em pleno surto criativo – isso vinha me ocorrendo com cada vez mais freqüência – comecei a rascunhar o contracanto.

Debruçado sobre o papel, senti a mão delicada de Christine deslizar por meu braço direito, indo pousar sobre a minha mão; havia se banhado, e seu perfume de rosas era tão inebriante quanto o beijo que me deu, quando me virei. Momentaneamente distraído, senti a pena de escrever ser-me tirada, e quando voltei a olhar para o papel, minha amada traçara as notas que eu havia apenas imaginado; era inacreditável o poder que ela tinha de me compreender sem palavras, de saber do que eu precisava, o que ia em meus pensamentos e meu coração. Lancei-lhe apenas um olhar, ao que ela respondeu, sorrindo:

– Eu sei. – e tornou a me beijar – continue seu trabalho, meu amor. Vou ficar com Vivienne até que ela durma.

Assenti e beijei-lhe a mão; foi só um bom tempo depois que, ainda perdido em música, papel e tinta, ouvi o relógio soar onze horas; levantei-me, imaginando se estaria tudo bem com Vivienne, uma vez que minha querida não havia saído do quarto, e fui atrás de Christine, apenas para encontrá-la adormecida na poltrona ao lado do berço, sua mão pousando protetoramente nas costas do bebê. Sorri ante aquela cena e, tentando não acordá-la, passei os braços por sob suas costas e pernas, erguendo-a no colo; ela não chegou a despertar, apenas aconchegou-se a mim enquanto a levava para o quarto.

Pousei-a na cama com cuidado e voltei-me para pegar um cobertor; ao olhar para ela, entretanto, encontrei-a de olhos bem abertos e tendo um lindo sorriso no rosto.

– Você mudou, sabia? – perguntou-me. Estranhei o comentário, e ela tratou de explicar – Ainda é o mesmo homem por quem me apaixonei, só que... Melhor. – Ela se ajoelhou na cama e passou os braços por meu pescoço, e só seu toque já era capaz de me arrepiar a pele e aquecer a alma – porque agora posso olhar em seus olhos, e ver seu coração, meu Anjo da Música, e ele está em paz.

Reconheci a verdade nas palavras dela: eu mudara. E embora sempre fosse manter limites de aproximação para todos os outros, para Christine eu era um livro aberto; não havia como ocultar algo dela, ou como impedi-la de adentrar minha alma... Ela era meu Anjo, minha deusa, e cada olhar seu derrubava todos os muros e defesas que eu construíra em toda uma vida. Ela fora minha graça, minha bênção, minha redenção... Conduzira-me para fora das trevas e da loucura em que eu estivera imerso por tanto tempo, e só por sua luz eu podia, afinal, ver as coisas como eram. Aconchegando-a em meus braços, cantei ao seu ouvido:

por ti seré - Il Divo

Cuando me vi desnudo y sin aliento (quando me vi despido e sem alento)

Parando al mar desierto y sin amor (Num mar parado, deserto e sem amor)

Cuando pensé que mi alma había muerto (Quando pensei que minha alma havia morrido)

Llegaste tú como la luz del sol (Você chegou como a luz do Sol)

Por ti seré más fuerte que el destino (Por você serei mais forte que o destino)

Por ti seré tu héroe ante el dolor (Por você serei seu herói ante a dor)

Yo sin ti estaba tan perdido (Sem você, eu estava tão perdido)

Por ti seré mejor de lo que soy (Por você, serei melhor do que sou)

Por ti seré más fuerte que el destino (Por você serei mais forte que o destino)

Por ti seré tu héroe ante el dolor (Por você serei seu herói ante a dor)

Yo sin ti estaba tan perdido (Sem você, eu estava tão perdido)

Por ti seré mejor de lo que soy (Por você, serei melhor do que sou) – ela me beijou, e senti o gosto de uma lágrima salgada em meus lábios; uma lágrima dela. Afastei-me alguns centímetros, e lhe sussurrei:

– Por você, sou melhor do que já fui.

Ela tentou falar algo, mas, pela primeira vez na vida, sua voz se recusava a soar, embargada. Poupei-lhe o esforço, selando nossos lábios com todo o meu amor; não havia outro lugar onde eu pudesse querer estar se não ali, naquela hora.

POV Narrador

Os meses se passaram, e a vida retomou seu curso; Christine retornou aos palcos, sua voz e sua beleza voltando a encantar a todos, enquanto Erik parecia preenchido por uma nova vida, uma chama ainda mais intensa do que jamais fora, suas obras tornando-se cada dia mais perfeitas e intensas. Sua genialidade incontestável punham abaixo qualquer eventual tentativa dos administradores quanto a tentar se livrar do Fantasma, pois estava bem claro que, sem ele, aquele teatro não teria nem uma pequena fração do prestígio de que gozava. Após muita resistência, Andrés e Firmin finalmente aceitaram a situação como ela era, e uma “reunião” com Erik definiu os limites de ação para ambos os lados; em suma, as coisas praticamente não mudariam: o Fantasma era o diretor artístico do lugar, e eles, os administradores financeiros.

À medida que o tempo passava, sem novos acidentes sangrentos, o terror que a maioria nutria pelo misterioso mascarado tornou-se um temor reverencial, um respeito profundo não totalmente desprovido de receio. Ele era perigoso, e só um tolo discordaria, mas não era a besta assassina que haviam julgado ser, contanto que sua família estivesse segura. E como poderia não estar, uma vez que Christine e Vivienne eram amadas por cada alma da Ópera Populaire?

Fora dos palcos, a vida do casal transcorria-se normalmente. Cartas regulares chegavam da Suécia, escritas pelos amigos que lá haviam feito – especialmente Viktor e Emma, exultantes com o nascimento de seu menino, Peter – e dos quais sentiam saudades. Christine propusera que os Karlsson viessem a Paris, quando seu bebê estivesse um pouco mais velho, e eles não hesitaram em aceitar. Já Vivienne crescia depressa: linda, inteligente – com pouco mais de um ano, já falava quase perfeitamente – e curiosa, procurando saber sobre tudo, aprender e mexer em tudo o que via pela frente, divertindo a todos, em especial Madame Giry.

Mas não apenas dos conhecidos da Suécia haviam tido notícia: Meg lhes contara que Raoul realmente se mudara com a família para Lyon, e que a senhora De Chagny cometera suicídio pouco depois, totalmente enlouquecida como ficara. Não escapara à menina o sorrisinho maldoso de Erik ao ouvir aquilo, mas ela preferira não dizer nada quanto a isso. Carlotta, por sua vez, estava vivendo com Piangi, recuperando-se aos poucos da loucura, e definitivamente não era mais uma ameaça; e com as acusações contra Erik indeferidas, parecia não haver coisa alguma que pudesse interferir na felicidade do Anjo e de sua musa.

Os meses se tornaram anos; de uma jovem cheia de vida, Christine passara a uma exuberante mulher, cada vez mais talentosa e reconhecida; o Fantasma, por sua vez, parecia sempre o mesmo gênio das artes, prodigioso e agora reconhecido por sua genialidade – embora pouco se deixasse ver, o que aumentava a aura de mistério que o cercava. Juntos, formavam um belo par, um completando o outro, completando a arte e a alma do outro.

Vivienne crescia como uma garotinha encantadora, herdeira dos talentos da mãe e do pai, e aos cinco anos já dominava vários instrumentos, bem como lia e escrevia em francês e sueco, estando a meio caminho de dominar o alemão. Conhecia o teatro como a palma de sua mão, e adorava roubar os materiais de palco – principalmente os de pirotecnia – do pai para pregar peças em todos. Fazia amigos com facilidade, e exultou quando, poucos dias após seu quinto aniversário, veio ao mundo seu irmãozinho, Michel, com os mesmo cabelos negros e olhos verdes do pai e da irmã, e os traços finos e delicados da mãe.

Se antes eram felizes, a chegada de Michel pareceu completar a família; orgulhosos de seus filhos, o Fantasma e a soprano não podiam nem mesmo sonhar com maior felicidade do que aquela experimentada. Não que a vida fosse sempre perfeita: desentendimentos, brigas e dias ruins aconteciam como em todo lar – especialmente em um onde todos têm gênio forte e língua solta; mas para os De Guise havia algo que não se encontra na maior parte das famílias: eles sempre se lembravam de que, por mais negra que fosse uma tempestade, o Sol sempre apareceria depois.

Ao contrário do que todos os outros diziam, Erik e Christine descobriram que o tempo não arrefecia o amor e a paixão: apenas os mudava, tornando-os sempre mais verdadeiros e intensos. Enfrentavam os problemas – pois eles sempre haveriam de existir – juntos, e estavam sempre lá um para o outro. A vida podia não ser perfeita, mas cada segundo era sentido com toda a intensidade... Construíam juntos uma vida que valia à pena viver, fosse nos bons ou nos maus momentos, na certeza de que, ao menos, sua passagem pelo mundo não seria em vão. E como haviam prometido um ao outro, anos atrás, faziam o possível para serem sempre melhores do que já haviam sido.


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Notas finais do capítulo

Quem gostou levanta a mão! o/
Buáááááááá! O próximo capítulo é o último, gente! (Se for demais pro meu core, escrevo um epílogo) Estou rezando para ter acertado este último, e mais ainda para acertar na finalização.
Agradeço de coração a quem me acompanhou, e mais ainda às fofas que comentam sempre, me incentivando, fazendo críticas, elogiando e chamando atenção para onde pequei. Obrigada a todas vocês!