Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 31
Hora de voltar


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer e dedicar este capítulo a todas as minhas queridas meninas que vêm comentando e me dando motivação para continuar essa história:
Lunática, Laynet, La Hermana, Maysa Cullen. E também a duas leitoras novas, que me encheram de alegria com sua chegada: JessYK e Charlotte Williams. Obrigada, meninas! Vocês têm lugar no fundo do meu coração!



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POV Narrador

Sentada no chão da sala, Christine brincava com Vivienne – que agora contava nove meses de vida. O bebê ria enquanto tentava andar segurando-se nas mãos da mãe, tropeçando nos próprios pezinhos vacilantes e caindo nos braços cuidadosos da jovem; do lado de fora, as primeiras chuvas da primavera derretiam a neve que caíra na noite anterior – o inverno se prolongara até o final de abril, e só agora acabavam as últimas nevascas. O cômodo era iluminado por velas e pelo bruxulear das chamas na lareira, que lançavam um agradável calor no aposento à porta do qual as malas da família aguardavam, prontas para a viagem de regresso à França.

Erik entrou na sala com um sorriso largo ao ver a esposa e a filha, e foi juntar-se às duas, perguntando:

– prontas para voltar a Paris? – Christine sorriu e, pegando a filha no colo, levantou-se radiante. Com gritinhos de alegria, Vivienne estendeu os braços para o mascarado e chamou, surpreendendo o casal:

– papai! – um sorriso cheio de amor e orgulho se fez presente no rosto do Anjo da Música, que mais do que depressa pegou a pequena no colo, abraçando-a carinhosamente; era a primeira palavra da pequenina! Cheio de alegria, o casal cobriu a pequena de beijos e festejos, enquanto uma feliz Vivienne se deliciava com os mimos e atenções que sua primeira palavra lhe rendera.

Passado o momento de euforia, o Fantasma se recompôs e declarou:

– Vou ver se nossa condução já chegou. – mas, mal virou as costas, o bebê tornou a chamá-lo, e foram-se os planos do Anjo de deixar a sala. Rindo enquanto seu marido cedia aos caprichos da filha, a soprano decidiu:

– Fique com ela, papai, e eu vou ver se o coche chegou! – e saiu correndo da sala, antes que um chamado da filha a demovesse. Coincidência ou não, a diligência encostava à frente da casa no instante em que a mulher abria a porta para verificar. Com uma mesura gentil, ela sinalizou ao condutor para que aguardasse e, voltando para a sala, avisou – meu amor, a carruagem está aqui.

Assentindo, o músico se esquivou aos braços da filha e a entregou à mãe, dando um beijo apaixonado na esposa antes de ir para o hall de entrada receber o cocheiro e ajudá-lo a levar as malas. Mal pôs os pés outra vez dentro de casa, o carro dos Karlson parou diante da porta; com um sorriso, Christine comentou com o esposo:

– Sempre pontuais.

– Achei que não viriam a tempo – devolveu o músico, também visivelmente satisfeito em ver os amigos. Haviam feito outras amizades na cidade e arredores, mas nenhuma como Emma e Viktor, que haviam se tornado praticamente parte da família.

O casal desceu do coche – sorrindo como sempre... Aqueles dois pareciam não saber o que era tristeza! – e seguiu direto para o hall, cumprimentando Erik, Christine e Vivienne. Cheia de um entusiasmo ainda maior que o normal, a moça loura puxou a amiga pela mão até a sala, exclamando:

– Preciso lhe contar uma coisa! – contagiada pela empolgação da outra, a soprano se deixou levar, enquanto sua filha ria e estendia os braços para a “tia”, que a pegou no colo com um enorme sorriso, antes de sussurrar – Ah, eu estou tão feliz! É... É maravilhoso!

– Por Deus, conte logo! – pediu a artista, curiosa como era, querendo compartilhar logo da causa de tanta alegria. Emma mordeu o lábio inferior, marota, e finalmente anunciou:

– Estou grávida! – Christine levou as mãos à boca, rindo de pura alegria pela outra moça, e a abraçou:

– Isso é maravilhoso! Nossos bebês vão crescer juntos! – e ante essas palavras, a moça loura parou por um instante e indagou:

– Está falando de Vivienne, não é?

– Também – foi a vez da soprano ter uma expressão travessa no olhar, enquanto tocava o próprio ventre – Mas tenho planos para dar irmãos a minha filha. Erik ainda não sabe de minhas intenções... – Uma nova comemoração teria tido lugar, e a Srª Karlson teria deixado escapar perguntas e sonhos se os homens não houvessem entrado na sala. Com um sorrisinho, o Fantasma perguntou:

– Ainda não sei o que, meu amor?

– Assunto de senhoras! – exclamaram as duas – deixe de ser intrometido!

Seguiram-se despedidas e congratulação dos De Guise pela criança que os Karlson teriam em breve; houve também convites de ambas as partes para que o casal sueco fosse, enfim, a Paris, visitar o Ópera Populaire, assistir às performances da cantora e conhecer a Cidade-Luz – convite imediatamente aceito. Afinal, chegou o momento de partir, e com um beijo estalado na bochecha de Vivienne, Emma a devolveu à mãe, dizendo:

– Vamos nos ver em breve, pequenina!

Enfim o Anjo e suas amadas esposa e filha entraram na carruagem que os levaria até a estação de trem, de onde viajariam até o Estreito de Öresund, fazendo a travessia de barco e, daí, novamente viajando de trem até a França. Uma viagem longa, mas como poderia ser cansativa ou aborrecida, uma vez que estavam juntos?

*

Após uma travessia tranqüila pelo mar, e um embarque rápido no trem que os levaria para casa, o casal teve tempo de relembrar todas as maravilhas daqueles seis espetaculares meses que haviam passado na Suécia. Comodamente instalados no vagão privativo – disso Erik não abrira mão – sentaram-se na cama junto com a filha, que se entretinha com seus brinquedos, e relembraram animadamente de tudo o que se passara.

Não haviam ficado apenas em Estocolmo, mas também conhecido algumas vilas e cidades do interior; haviam tido a oportunidade de presenciar o modo de vida longe das grande cidades, onde o tempo parecia haver parado num passado longínquo enquanto as pessoas ainda criavam renas, pescavam o salmão e o arenque, secavam e salgavam a carne para sobreviver ao inverno... Tudo feito como há séculos atrás! Trajes típicos, modo de vida inalterado... Era como uma volta no tempo! Christine não resistira- apesar dos avisos de Emma - e chegara a tentar cavalgar uma rena... Sim, apenas tentar, pois não tardou para a moça escorregar comicamente do dorso do animal, cujo passo duro era bem diferente do de um cavalo. Isso rendera muitas risadas, tanto para o grupo, quanto para os que observavam a cena.

Outra experiência inesquecível – que o Fantasma e a soprano haviam feito sozinhos, acompanhados apenas da filha – havia sido visitar os fiordes. A visão incrível dos enormes penhascos já os assombrara à primeira visão, mas ficar à beira de um deles, parecendo que todo o mundo se descortinava ao seu redor... Um pulo poderia bastar para tocar o Sol, a Lua, as estrelas... O vento passava veloz e cortante, açoitando-lhes os rostos e cabelos, obrigando Erik – que insistira em carregar Vivienne na caminhada que levava da vila de pescadores ao alto da encosta – a esconder a filha sob sua capa. O mar parecia se estender para o infinito, indo além de onde os olhos podiam alcançar, as ondas rebentando com violência lá embaixo, poderosas demais ante os barquinhos de frágil aspecto dos pescadores que, ainda assim, iam para as águas e de lá traziam seu sustento. O céu – naquele dia incrivelmente azul, a despeito do frio enregelante – espelhava o oceano, e azul encontrava azul no firmamento, misturando-se os tons, confundindo a visão quanto ao que era acima e o que era abaixo, até a vertigem se tornar tão forte que os olhos eram obrigado a se desviar de tal hipnose. Fora um dia magnífico, que terminara com o casal hospedado na estalagem de uma senhora simpática e bonachona, que inclusive ajudara Christine nos cuidados com o bebê, e lhes servira uma generosa quantidade de Glögg – o vinho quente sueco, que levava vodka, açúcar e especiarias. Erik rira muito ao ver sua esposa engasgar com o sabor forte, e sabia que ela estaria de ressaca no dia seguinte, como de fato ocorrera.

Haviam também adquirido alguns costumes do país, como a Fredagsmys, que consistia em reunir a família – no caso, as amizades mais próximas que haviam feito – nas tardes de sexta, para jantar e jogar, ou simplesmente conversar e ter momentos de lazer. Em algumas dessas ocasiões, no auge do inverno, Christine e Emma faziam a brincadeira de se aquecerem ao máximo diante do fogo para, logo em seguida, correrem para a piscina – cujo gelo haviam quebrado previamente – e pular de camisa e anáguas na água congelada. Viktor observava rindo – e participara uma vez – mas Erik sentia-se arrepiar de frio apenas em ver aquela loucura. Entretanto, nem ele escapara de cair na água congelada, quando sua esposa tentara puxá-lo e, sem conseguir, contara com um “empurrãozinho” de Viktor – literalmente, para derrubar o Fantasma. Foi a primeira e única vez que ela viu seu marido soltar imprecações dignas de um marinheiro, enquanto saía às pressas da água gélida.

Mas não haviam aprendido só brincadeiras com os Karlsson: Viktor e Erik compartilhavam um com o outro seus conhecimentos sobre a confecção de peças delicadas em madeira, enquanto Emma passara longas horas ensinando Christine a fazer as mais lindas velas, em variadas formas, cores e tamanhos, para alegrar o ambiente nos escuros meses de inverno. Música também era algo que compartilhavam freqüentemente, uma vez que todos ali tocavam instrumentos diversos, e o casal francês não hesitou em usar suas belas vozes em mais de uma ocasião festiva, quando lhes fora pedido.

Visitas ocasionais ao Real Teatro de Estocolmo haviam feito o coração de ambos doer de saudades de casa, enquanto Vivienne olhava muito atenta para tudo, silenciosa e curiosa, antes de ser vencida pelo sono. Eventualmente, eram convidados a passear pelas coxias – depois que Emma e Viktor, o qual costumava tocar com a orquestra do teatro – mencionaram serem os franceses membros de uma conceituada companhia de Paris. E o mundo dos bastidores, afinal, não era diferente! Ali sentiam-se em casa, à vontade e em sua zona de conforto. E exatamente por lhes ser algo tão habitual, procuraram reduzir as visitas ao teatro... Estavam ali para ver e fazer coisas diferente, e não para se acomodarem naquilo que sempre haviam vivido.

Viktor convidara Erik para caçar; o músico a princípio rejeitou, e quando indagado por que, começara a responder que não gostava de matar sem motivos. Foi calado por um olhar gozador de Christine, a qual lhe perguntara baixinho:

– Se não for humano, não tem graça? – afinal, o Fantasma concordara.

Num dos dias em que ele, Viktor e dois outros amigos passaram caçando, Emma arrastou Christine para uma despedida de solteira. Ficaria sendo um segredo entre as duas; a festa tinha apenas mulheres – solteiras e casadas – e fora os pequenos presentes dados à noiva, houve muitas brincadeiras e peças pregadas na jovem que ia se casar – uma menina de dezessete anos, que ria com genuína alegria e encarava com naturalidade até mesmo as piadas maliciosas que as mulheres mais velhas deixavam escapar. Fora divertido, com certeza, mas Vivienne fora quem mais gostara – mimada e paparicada que fora por todas ali - e encontrando outras crianças pequenas – também aos cuidados das amas - para brincar.

Esses haviam sido apenas alguns dos acontecimentos – haviam feito passeios por florestas e parques, esquiado, patinado no gelo, participado de festas tradicionais. Erik assistia dia a dia o modo como sua esposa desabrochara com aquela viagem, após deixar a proteção eterna que o teatro lhe concedera. Mas ela não fora a única a mudar...

A soprano via seu marido abandonar aos poucos a redoma de vidro invisível que criara ao redor de si para se proteger; aos poucos, via-se livre do medo e da vergonha, e já não se referia a si mesmo como monstro ou gárgula; tirava a máscara com naturalidade, quando estavam em casa. Incomodava-se um pouco com os criados, a princípio, mas quando estes não tiveram qualquer reação negativa ao vê-lo de rosto descoberto – não haviam sequer comentado – todo o receio se esvaíra de vez. Usava a máscara em público, mas agora por pura vaidade, e não para se esconder, como antes. Em resumo, ele abandonara a crisálida que o envolvera por uma vida e, pela primeira vez, permitia-se viver realmente.

Eram estes os assuntos que dirigiam a conversa do casal, até que sua filha finalmente adormeceu em meio aos brinquedos. A jovem mãe, cuidadosa, pegou a pequena e a acomodou entre os travesseiros, enquanto o Anjo tirava os brinquedos de cima da cama; deitaram-se um de cada lado da pequenina, acariciando-se os rostos mutuamente, plenos em sua felicidade. Aqueles seis meses haviam sido muito importantes para ambos; importantes de um modo que não conseguiam pôr em palavras. Ao se tornarem mais livres, mais maduros, seu relacionamento se aprofundara, se estreitara, se tornara ainda mais intenso e próximo; como se tantas novas experiências houvessem consolidado o amor que já era tão intenso!

De repente a conversa se interrompeu, e a soprano apenas fitou seu marido por um longo tempo; afinal, sentou-se na beira da cama e perguntou:

– O que acha de darmos um irmão, ou irmã, para Vivienne?

– Parece-me ótimo, meu amor. Embora, confesse, não me agrade a idéia de vê-la sofrer as dores de um parto outra vez. – respondeu o Fantasma, levantando-se e indo envolver sua mulher nos braços. Ela sorriu:

– É um momento fugaz, meu amor. Não é nada, comparado à alegria que ela nos trouxe. – e aninhou o rosto contra o pescoço de seu esposo que, conhecendo bem sua mulher, sabia que havia algo não contado.

– Mas por que a pergunta, minha querida? – ele lhe levantou o rosto delicadamente e a beijou.

– Pensei estar grávida outra vez, no mês passado... – começou ela - Eu não estava, mas a idéia ficou em minha mente. Não gostaria que nossa pequenina crescesse sozinha. Não faço planos para agora, quando vou voltar a cantar, e Vivi ainda exige atenção constante, mas... Quem sabe em um ou dois anos...

O Anjo sorriu e beijou a fronte de sua mulher:

– Será maravilhoso, minha vida e meu amor. – e abraçando-a com força – eu amo você, minha Christine! Você é a luz de minha vida, a chama que derreteu o gelo em meu coração. Nunca me deixe, meu amor.

– Nunca – respondeu ela, fechando os olhos e deixando-se desfrutar daquele abraço quente e cheio de amor. Ela, decididamente, estava no paraíso.


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Notas finais do capítulo

Tudo o que é bom tem que acabar. Tudo o que é ruim não será eterno. A vida é uma sucessão de ciclos, onde as coisas se alternam: coisas boas, coisas ruins... Enfim, coisas da vida. Essa viagem foi importante para nosso casal, deu-lhe uma nova visão de mundo e fortaleceu seus laços, mas agora já é hora de voltar. Não voltarão, contudo, as mesmas pessoas; mudados e amadurecidos por suas experiências (quem disse que só sofrimento amadurece?!) estão prontos para reinventar a vida em Paris. Agora, todas as possibilidades estão ao seu alcance.
Espero que tenham curtido, e próximo cap, de volta a Paris!
kisses, flores do meu jardim!