Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 29
Em Estocolmo


Notas iniciais do capítulo

Gente, aqui haverá um pouco de comédia; cenas inusitadas, que deixam nosso Fantasma sem-graça. Afinal, Christine o está levando totalmente para fora de sua zona de conforto... Isso tem de render algumas risadas, afinal! Espero que gostem!
PS - capítulo dedicado às minhas queridas leitoras que sempre comentam: marcela mota, la hermana, maisa cullen, lunatica (sumida, fofa!) e laynet, que também me ajudou com sugestões. Obrigada, meninas!



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A residência que haviam alugado – um sobrado de madeira, espaçoso sem exageros – situava-se em uma das principais ruas da cidade, de modo que se tornava muito fácil encontrar coches e cavalos para transitar por Estocolmo. Assim, ao cabo de uma semana, já haviam conhecido boa parte do centro da cidade; desde os cafés e praças até alguns dos teatros e, como pretendido, o Museu de Belas-Artes, que havia fascinado ambos os artistas. Para a surpresa de ambos, Christine pouco havia precisado servir como intérprete, uma vez que muitas das pessoas falavam francês, alemão ou italiano, alem do sueco; geralmente o casal deixava seus passeios para a tarde e, quando chegavam em casa ao cair da noite, a cantora relaxava na pequena piscina nos fundos da casa, enquanto seu esposo a observava da margem, numa distância que não permitisse a ela puxá-lo de súbito para a água gelada. E afinal, ao ir para o quarto, após sua filha ter adormecido, embalavam um ao outro com suaves canções até adormecerem juntos, abraçados.

Naquele dia, haviam se decidido por um passeio mais longo, saindo logo pela manhã; sua meta era o museu de história de Estocolmo, que continha artefatos datados de milhares de anos! E aquela cidade parecia estar fazendo muito bem a Erik, que agia como se estivessem na casa de campo: alegre e tão descontraído quanto podia ser, pouco se importando com os ocasionais olhares das pessoas sobre sua máscara. Pois ali ele não tinha de ser O Fantasma da Ópera; podia ser apenas Erik, o homem, o esposo, o artista. Hoje não seria diferente.

Depois de amamentar Vivienne, Christine se juntou a seu esposo para saírem. Tomaram um coche até o museu de história, cuja fachada já era impressionante, com sua horizontalidade, detalhes e adornos do beiral, paredes livres que davam a impressão de requintada simplicidade. Nos corredores, exibidas peças desde a pré-história da Suécia, como pontas de flechas, crânios, armas de pedra; objetos pertencentes aos Vikings, feitos em ferro e bronze – capacetes, escudos, peças e instrumentos de navegação – assim como reproduções em desenhos e miniaturas de navios e vilas em suas configurações originais. Seguia-se uma seção dedicada ao período da cristianização, e depois da reforma protestante, que instituíra o luteranismo no país. Eram coisas demais para ver numa única manhã, de modo que ainda não haviam terminado de ver a seção viking – Christine ia contando animadamente para o marido e a filha as histórias que ouvira de seu pai, falando sobre os deuses nórdicos, invasões vikings a outras terras, contatos com outros povos, navegações... Falava de drakkares e armas – como uma dama parisiense conhecia tanto sobre armas da idade do ferro, mesmo? – de expedições às Américas e invasões, de guerras sangrentas e odes épicas.

Erik via e ouvia tudo aquilo com maravilha e interesse; se antes ele fora o mentor e professor da garota, agora era ela quem lhe ensinava, quem o orientava num mundo novo e fascinante. Como ele um dia a guiara através da Música da Escuridão, ela agora o levava através da luz do dia que, se antes seria olhos acostumados apenas à noite, agora lhe iluminava um mundo de novas possibilidades. Se antes ele se via como uma criatura da noite, agora ficava satisfeito em caminhar na linha entre a luz e a sombra, absorvendo o que havia de mais magnífico em ambas.

Foi só quando o bebê começou a resmungar de fome que, afinal, decidiram fazer uma pausa; felizmente haviam contratado um coche fechado, de modo que a jovem mãe pôde fechar as cortinas e amamentar sua pequenina tranquilamente, enquanto seguiam para um dos vários restaurantes da cidade. Já alimentada, Vivienne foi aconchegada pelos braços de seu orgulhoso pai, e logo estava dormindo profundamente, sorrindo.

Desceram em frente a um estabelecimento particularmente agradável, amplo e aberto, cercado por varandas grandes onde se situavam as mesas. Acomodando sua filha no moisés, Christine e Erik entraram no lugar – não passava despercebido à soprano o modo como seu marido ainda mantinha os ombros enrijecidos, quando em público – e escolheram uma mesa. Foram atendidos por uma jovem de catorze ou quinze anos, gentil e delicada, cujo resplandecente sorriso jamais diminuía; ela os serviu com toda a cortesia, mas seus olhos mal conseguiam deixar o rosto do belo e misterioso mascarado. A soprano percebeu isso, e quando foram deixados sozinhos para fazer sua refeição – um perfumado salmão preparado à maneira sueca – provocou:

– Como se sente atraindo os olhares das jovens, senhor De Guise?

Erik corou e quase engasgou, fazendo sua esposa cobrir a boca com a mão para abafar o riso que escapou; o Fantasma da Ópera constrangido? Ela não duvidava de mais nada! Ainda rindo, brincou:

– Melhor se acostumar. Eu lhe digo que é um belo homem, mas você nunca acredita! Quando não têm medo de ser mortas por você, as jovens o acham irresistível! – o Anjo cobriu a boca de sua esposa com a mão:

– Já chega de me constranger, meu amor. Quietinha, e trate de comer. – a jovem beijou a palma de seu amado e, sorrindo, devolveu:

– Você ainda vai aprender. Mas digo sério quando falo que é melhor se acostumar – e indicou com os olhos uma mesa de onde duas moças lançavam olhares para o Fantasma, baixando o olhar quando perceberam ser vistas. Desconfortável e perturbado com algo tão inédito quanto ser admirado, Erik meneou a cabeça e voltou sua atenção à deliciosa refeição.

Cerca de uma hora depois o casal deixou o estabelecimento, feliz e satisfeito. Caminhavam juntos pela rua – cheia de pequenas lojas, praças, casas com jardins – apenas contemplando a cidade, quando uma voz conhecida saudou:

– Olá, Christine! Bom dia, Monsieur de Guise! – eles se voltaram para encontrar Emma Karlson, com um sorriso radiante, acompanhada por seu belo esposo, que também os cumprimentou:

– Madame e Monsieur de Guise, bom dia. – ele beijou a mão da cantora, e apertou a do homem. – Tendo uma boa estada em Estocolmo?

– Ah, sim! – responderam ambos, em uníssono – Com certeza!

– É tão linda! – exclamou a soprano, embalando seu bebê – tantas maravilhas e novidades! Museus, praças, teatros!

Emma sorriu ao ouvir, e fez expressão marota ao dizer:

– Pelo que me diz, então ainda não conheceu uma parte essencial de Estocolmo.

– Qual?

– As lojas, é claro! – respondeu a moça, rindo. Pelo revirar de olhos divertido que seu marido deu, Erik e Christine perceberam que isso devia ser um assunto de divergência entre ambos – Estou indo às compras de inverno. Gostaria de me acompanhar?

Christine mordeu o lábio e olhou para seu marido; queria ir, mas, ao mesmo tempo, não queria deixar seu esposo sozinho. Percebendo aquilo, o Anjo lhe disse:

– Vá, querida. Eu sobrevivo a uma tarde sem você. – um sorriso luminoso se abriu no rosto da garota, que beijou o rosto de seu marido em agradecimento. Viktor, por sua vez, apenas meneou a cabeça e, então, dirigiu-se ao Fantasma:

– Se as damas vão às compras, o mais sensato é ficar longe, antes que elas inventem de nos torturar fazendo com que as esperemos! – aquilo devia ser uma provocação, pois Emma pisou-lhe no pé discretamente, fazendo-o rir – gostaria de conhecer o clube de esportes, senhor De Guise?

O primeiro impulso de Erik foi recusar; uma leve onda de pânico tentou se apoderar dele: sem Christine, numa cidade estranha, em locais abertos com pessoas desconhecidas... Todos os seus instintos gritavam que era uma péssima idéia, mas ele forçou sua mente a sobrepujar aquele medo irracional e antigo, e respondeu:

– Seria um prazer, senhor Karlson.

– Viktor – respondeu o outro – prefiro que me chame por meu nome.

– Neste caso, chame-me apenas Erik – declarou o Fantasma, voltando-se então para Madame Karlson e beijando-lhe respeitosamente a mão – cuide bem de minha esposa, Madame.

– Ela está na melhor das companhias. – respondeu Emma, com uma elegante mesura. As damas se despediram de seus esposos, e a mais velha guiou a mais jovem até seu coche aberto; para a surpresa de Christine, a própria Emma guiava a condução, levando firmemente a parelha de belos cavalos cor de neve.

– Não imaginei que guiasse a própria condução – comentou a soprano para aquela que prometia se tornar uma nova amiga. Esta riu, e respondeu:

– Não tenho paciência com condutores. Prefiro eu mesma levar a carruagem, ou deixar que meu marido a leve... Assim garanto que as bocas de meus cavalos não serão feridas por mãos inábeis. – a dama de cabelos dourados levava a diligência com naturalidade e graça, e logo as moças travavam uma alegre e descontraída conversa acerca de tudo o que a cidade tinha a oferecer. Quem as visse pensaria tratar-se de velhas amigas.

*

Erik e Christine voltaram para casa já tarde da noite, após terem jantado com Emma e Viktor a convite destes; a primeira coisa que ocupou suas mentes foi cuidar de Vivienne, que nunca ia dormir tão tarde. A jovem mãe banhou a pequenina – que estava chorona e cansada – vestiu-a com uma camisolinha confortável e deixou-a dormir mamando, antes de colocá-la delicadamente no berço, que o músico balançava lentamente enquanto cantava baixinho. Cuidar de um bebê não era tão difícil assim, afinal!

Com a filha cuidada, era a vez de seus pais cuidarem um do outro; banharam-se juntos – algo que já se lhes tornara rotineiro – e, ainda enrolados em roupões felpudos, sentaram-se lado a lado sobre a cama, dividindo um com o outro o que havia acontecido naquela tarde. A pedido de seu esposo, a jovem começou a contar:

– Emma é a mulher mais divertida e inteligente que já conheci! Conversamos tanto... De assunto de senhoras a filosofia, música, história! Ela e o esposo têm o hábito de viajar, e já foram mesmo às Américas! Não é um continente muito desenvolvido, é verdade, mas disse que há mil maravilhas para se conhecer no Novo Mundo!

– Hey, calma! – brincou Erik, erguendo as mãos – calma! Uma coisa de cada vez, meu amor!

– Tem razão – riu-se a soprano – eu me empolguei. Bem, como estava contando, eles têm o hábito de viajar bastante, para conhecer o mundo; já estiveram em toda a Europa, de Portugal à Rússia, e tudo o que contou... Uau! Lugares maravilhosos de se conhecer, histórias fascinantes, fatos que vão do assombroso ao terrível, mas cada um incrivelmente excitante, à sua maneira. – ela se inclinou e deslizou manhosamente para o colo de seu amado, que a beijou – e em meio a tudo isso, nos perdíamos em debates de teor filosófico, acerca de costumes, valores... Ah, Erik, ela também conhece toda a mitologia grega!

– Hum, então minha esposa erudita encontrou outra viciada em conhecimento para discutir? – perguntou o músico, brincando, enquanto distribuía beijos pelo pescoço da garota – posso ficar com ciúmes, desse jeito!

– Ah, você tem ciúmes até da própria sombra, seu bobo! – ela o derrubou de costas na cama e deitou ao seu lado – mas falamos sobre assuntos menos formais; tivemos conversas que vou poupá-lo de ouvir acerca de família, maridos e filhos. Emma e Viktor estão tentando ter um filho desde que se casaram, quando ela tinha dezoito anos; isso já faz... cinco anos... Ela seria uma boa mãe! Precisa ver como Vivienne a adora!

O Anjo sorria e acariciava os cabelos de sua musa, que por sua vez lhe afagava o rosto sem máscara delicadamente, continuando a contar:

– Passeamos pelas principais ruas da cidade; ela me mostrou casas antigas, remanescentes da Idade Média, praças e monumentos. Tudo tão lindo... Quero ir com você, meu amor.

– E iremos. – respondeu o Anjo – fico feliz que tenha tido uma boa tarde, e mais ainda que tenha encontrado uma amiga, aqui.

– Sim. Mas e você? Como foi a sua tarde?

– No começo, confesso que tive vontade de dar meia-volta e me esconder em algum subterrâneo bem fundo! – Christine sorriu, mas sabia que seu marido falava aquilo em sentido literal – Mas Viktor é uma pessoa muito agradável. Acho que percebeu que eu estava desconfortável, e começou a falar animadamente, mostrando construções, contando histórias e, sobretudo, fazendo piadas. Ele tem um senso de humor às vezes cáustico, às vezes leve, e uma mente afiada; seria um bom advogado. – o Anjo se sentou outra vez e esfregou a nuca, lembrando – fomos ao clube de esportes, e ele me perguntou se eu praticava algo. Respondi que apenas esgrima, então acabamos duelando no pátio de esgrima; venci, é claro.

– Convencido. – censurou a moça, abraçando-o pelas costas – e depois?

– Fiquei surpreso: o clube não é apenas para homens. Existem instalações para as damas praticarem esportes, também, como a quadra de tênis, o pátio de esgrima feminino, e até mesmo um lago ao qual os homens não têm acesso. A pista de equitação é compartilhada, e também o estande de tiro com arco, embora não tenha visto nenhuma moça praticando.

– Vou aprender a atirar nem que seja só para mudar isso – brincou a garota, mudando sem parar de posição, como se fosse uma criança excessivamente empolgada – continue!

Erik se levantou e serviu uma taça de licor de amoras para si e para Christine, entregando-lhe uma antes de voltar a narrar:

– Depois fomos dar uma volta à cavalo no clube, para que eu visse as demais instalações. Há espaços para ler e simplesmente caminhar, fontes, praças arborizadas e também um campo de golfe... Um esporte estúpido, na minha opinião, mas vários senhores jogavam ali. E havia alguns idosos assistindo. Um deles se levantou e veio em nossa direção; Viktor desmontou e eu o imitei. Ele saudou o senhor com um abraço, chamando-o de avô, em seguida mo apresentou como Sr. Demian Karlson, seu avô paterno.

– Por que noto desconforto em sua voz? – provocou a soprano.

– Uma pessoa agradável, mas... Já sei de onde vem o senso de humor de Viktor. É sério, aquele senhor não tem travas na língua! Começamos conversando bem, com apresentações e coisas do tipo... E de repente ele me pergunta o porquê da máscara! Eu queria sumir, morrer, ser acertado por um raio... Qualquer coisa assim!

Christine cobria a boca com a mão para não mostrar que mal podia conter o riso ante o desespero de seu esposo, que continuou:

– Dei a resposta mais fácil e disse que havia queimado o rosto. Achei que isso encerraria a conversa, mas então o senhor Demian fez o seguinte comentário: “essa juventude de hoje é realmente muito fresca! Na minha época, cicatrizes e marcas de combate atraíam as mulheres, eram prova da força de um homem. Hoje, queimam um pouquinho e já põem máscaras chiques para esconder! Francamente!”. – a garota não conseguiu evitar uma gargalhada, imaginando a cara de seu marido ao ouvir aquilo!

– Você deve ter infartado!

– Passei bem perto disso – disse Erik, mordendo o lábio – achei melhor não prolongar o assunto e, por sorte, ele não insistiu na história da máscara. Achei que estava tudo bem, até Viktor me dizer para olhar para a enfermeira de seu avô... Uma moça de seus vinte anos. Não entendi o que havia de errado, até ele me falar que a menina não tirava os olhos de mim. E diga o que disser, eu sei que o filho-da-mãe só falou aquilo para me ver embaraçado! E adivinhe? Lá veio Sr. Karlson outra vez! – Erik estava vermelho como uma pimenta – “mas qual é o seu problema, garoto? Deixe a menina olhar e aproveite! Ela não é nem um pouco feia!”.

A soprano gargalhou outra vez, dessa vez até engasgar, antes de perguntar:

– E você?

– O que você acha, Christine? Disse que era casado! Mas devia ter sabido que não seria fácil, pois ele só respondeu: “deve ser muito apaixonado por ela. A maior parte dos homens estaria mais do que disposto a esquecer os votos matrimoniais por algumas horas, com uma beleza como Frida”. Ele disse mais alguma coisa, mas eu estava imaginando formas de me suicidar, então não prestei muita atenção. Felizmente, Viktor percebeu que eu estava a ponto de me afogar no lago, e cortou a empolgação de seu avô. Depois disso a conversa seguiu mais tranqüila, e logo deixamos o ancião com sua “bela enfermeira” – disse o Fantasma, agora rindo ao lembrar de todo o constrangimento que sentira.

– Bela enfermeira? – repetiu Christine – acho que estou com ciúmes.

– Ela era bonita, mesmo! O que posso fazer? – provocou o músico, para ver até onde aquela brincadeira os levaria. Fingindo zanga, a garota o empurrou e, ficando em pé ao lado da cama, perguntou:

– Mais bonita do que eu? – o Anjo riu e resolveu entrar no jogo. Sentando-se na beira da cama, desatou o cinto do roupão de sua esposa e o deslizou pelos ombros dela, deixando-a despida; observou-a como um lobo observa sua presa, longa, voraz e detalhadamente, e então respondeu:

– Não. Nem de longe tanto quanto você.

A mulher não agüentou ficar séria, e começou a rir outra vez quando seu amado a puxou para si. Abraçou-o com força e sussurrou:

– As coisas mudaram, meu amor. Nós mudamos, e fico muito feliz com isso.

– Eu também – respondeu ele, deitando-a na cama e beijando-a outra vez – mas algumas coisas não mudam, nem jamais mudarão... Como meu amor por você, meu Anjo da Música. – e naquela noite ele fez questão de provar isso a sua mulher.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Comentem!
Gente, eu sei que tem muitas de vocês que lêem e nunca comentam... Não custa! Por favor! Gosto de saber o que estão achando!
kisses